Reis e reis
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Eu estava olhando uma fotografia dos chefes de estado do continente, nessa recente reunião deles no Rio, e de repente pensei: quando é que nós vamos nos livrar dessa gente? Não, não foi um assomo anarquista, vontade de sair metralhando autoridades, nem um comentário sobre a capacidade e o caráter dos retratados e muito menos uma reação, assim, Bornhauseana ao fato da maioria na foto ser de esquerda, com ou sem aspas. Era simplesmente uma reflexão sobre a necessidade de se ter presidentes.
A persistência do presidencialismo nos países que seguiram o modelo americano mostra como a idéia republicana ainda não pegou por completo. Ainda precisamos de soberanos, alguém que incorpore e dê uma cara ao estado e pelo menos finja que o comanda. E com todas as limitações institucionais, temporais e etc., a seus poderes, os presidentes são reis. Reis com prazo de validade, mas reis. Os ditadores, ou os que ultrapassam o prazo e eliminam as limitações, só estão reivindicando o que falta, além das pompas e dos paramentos, para serem reis mesmo. Tudo é nostalgia.
Se resgataria o ideal republicano desse renitente infantilismo político com o parlamentarismo, que não dispensa simulacros de monarquia, com seus presidentes apenas cerimoniais (ou, como no caso da Inglaterra, com monarquias encarregadas de serem a sua própria paródia), mas dá o poder real a uma assembléia e a um primeiro-ministro teoricamente submisso a ela, nada que lembre um rei. Mas o parlamentarismo não seria a alternativa adulta para o presidencialismo neste continente, seria a alternativa irrealista, que só dá certo para quem já tinha a prática, ou só vingou onde seu antecedente histórico direto foi o absolutismo dos reis. No Brasil, a hora certa do parlamentarismo era logo depois dos Pedros. Só que o exemplo americano foi mais forte.
E parlamentarismo seria para país pronto. Na foto dos presidentes reunidos no Rio havia pelo menos três que não incorporavam estados estabelecidos ou significavam uma continuidade, como faziam os reis dinásticos, mas representavam o desejo de outros estados e novos começos. O continente diferente que eles propõem talvez só possa ser conquistado assim, com a presunção de que são ungidos para liderar por disposição divina. Ou seja, nada que lembre um primeiro-ministro.
Quer dizer: talvez só se chegue ao ponto de um dia merecer o parlamentarismo e o que ele representa de maturidade e estabilidade políticas se prolongarmos nossa infância republicana por mais algum tempo.
Eu estava olhando uma fotografia dos chefes de estado do continente, nessa recente reunião deles no Rio, e de repente pensei: quando é que nós vamos nos livrar dessa gente? Não, não foi um assomo anarquista, vontade de sair metralhando autoridades, nem um comentário sobre a capacidade e o caráter dos retratados e muito menos uma reação, assim, Bornhauseana ao fato da maioria na foto ser de esquerda, com ou sem aspas. Era simplesmente uma reflexão sobre a necessidade de se ter presidentes.
A persistência do presidencialismo nos países que seguiram o modelo americano mostra como a idéia republicana ainda não pegou por completo. Ainda precisamos de soberanos, alguém que incorpore e dê uma cara ao estado e pelo menos finja que o comanda. E com todas as limitações institucionais, temporais e etc., a seus poderes, os presidentes são reis. Reis com prazo de validade, mas reis. Os ditadores, ou os que ultrapassam o prazo e eliminam as limitações, só estão reivindicando o que falta, além das pompas e dos paramentos, para serem reis mesmo. Tudo é nostalgia.
Se resgataria o ideal republicano desse renitente infantilismo político com o parlamentarismo, que não dispensa simulacros de monarquia, com seus presidentes apenas cerimoniais (ou, como no caso da Inglaterra, com monarquias encarregadas de serem a sua própria paródia), mas dá o poder real a uma assembléia e a um primeiro-ministro teoricamente submisso a ela, nada que lembre um rei. Mas o parlamentarismo não seria a alternativa adulta para o presidencialismo neste continente, seria a alternativa irrealista, que só dá certo para quem já tinha a prática, ou só vingou onde seu antecedente histórico direto foi o absolutismo dos reis. No Brasil, a hora certa do parlamentarismo era logo depois dos Pedros. Só que o exemplo americano foi mais forte.
E parlamentarismo seria para país pronto. Na foto dos presidentes reunidos no Rio havia pelo menos três que não incorporavam estados estabelecidos ou significavam uma continuidade, como faziam os reis dinásticos, mas representavam o desejo de outros estados e novos começos. O continente diferente que eles propõem talvez só possa ser conquistado assim, com a presunção de que são ungidos para liderar por disposição divina. Ou seja, nada que lembre um primeiro-ministro.
Quer dizer: talvez só se chegue ao ponto de um dia merecer o parlamentarismo e o que ele representa de maturidade e estabilidade políticas se prolongarmos nossa infância republicana por mais algum tempo.
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Luis Fernando Veríssimo
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