terça-feira, 16 de janeiro de 2007

A coalizão de Lula
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Sem participação dos movimentos sociais a coalizão resulta em neopopulismo — a linha direta entre o presidente e os mais pobres
Frei Betto

Respaldado por 58 milhões de votos. o presidente Lula propõe coalizão entre partidos. Até o PSDB se mostra disposto a apoiar Chinaglia à presidéncia da Câmara. arrefecendo seus arroubos oposicionistas. E o PV e o PDT já aderiram ao bloco lulista. Quais as bases da coalizão? Há um projeto de nação? Um outro Brasil possível? Ou é mero arranjo. não de governabilidade. mas de empregabilidade dos correligionários dos partidos envolvidos?
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Não se pode excluir da coalizão a outra perna da governabilidade petista: os movimentos populares. Em dezembro, foram chamados a dialogar com o presidente. Lula e sua gestão resultam da luta dos movimentos sociais que, após derrubar a ditadura. promoveram o mobilização que resultou na Constituição de 1988.
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Em dezembro, Lula recebeu dos movimentos reivindicações: mudanças na politica económica: cancelar as reformas previdenciária e trabalhista: promover o desenvolvimento com distribuição de renda e respeito ao meio ambiente: democratizar os meios de comunicação: efetivar a reforma agrária: respeitar os povos indígenas. quilombolas e ambientalistas que defendem o desenvolvimento sustentável: regulamentar a liberação dos transgênicos com medidas de respeito aos direitos do consumidor.
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Sem participação dos movimentos sociais a coalizão resulta em neopopulismo — a linha direta entre o presidente e os mais pobres. Assim, o PT terá trocado seu propósito originário de 'organizar a classe trabalhadora' por um clientelismo que rende votos. mas não altera as estruturas arcaicas que impedem o Brasil de ser um pais justo e humanamente desenvolvido.

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