terça-feira, 31 de outubro de 2006

ENTENDENDO OS RESULTADOS


Os votos de Lula e Alckmin


"O desempenho de Lula no sudeste foi extremamente importante neste segundo turno para lhe assegurar a dianteira que ele terminou apresentando."

Trecho do bate-papo de ontem na BandNews FM entre o jornalista Ricardo Boechat e o sociólogo e analista de pesquisas Antônio Lavareda.

Ouça aqui

RESULTADOS POR ESTADOS

segunda-feira, 30 de outubro de 2006



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"Ó eu aí de novo. Eu disse pra vocês, o povo ta sabendo: Lula é o cara! Ganhei. Tem melhor presente de aniversário feito esse? Mandei o Chuchu pra casa, aposentei o véio ACM, fechei o bocão de babado do FHC... Cadê as futrica, ô véio?" Ouça
aqui
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Blog do Noblat

domingo, 29 de outubro de 2006

OS VOTOS DE LULA, OS VOTOS DE ALCKMIN


Em vermelho, os Estados onde Lula venceu. Em azul, onde venceu Alckmin.

O MAPA DOS RESULTADOS POR REGIÃO

BOCA DE URNA IBOPE
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PARA PRESIDENTE:
Lula 62
Alckmin 38

8000 VÍSITAS, MUITO OBRIGADO

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Memórias de campanha - Lula x Collor - 1989 (2)
1. No seu primeiro programa de tv do segundo turno, Lula recebe os apoios de Miguel Arraes (PSB), Mário Covas (PSDB) e Leonel Brizola (PDT). E se posiciona em relação a seu adversário, Collor. Veja
aqui

2. O programa de Lula se vale de propaganda negativa contra Collor. Veja
aqui

3. Lula defende a suspensão do pagamento da dívida externa e viaja a Belo Horizonte para receber o apoio do prefeito Pimenta da Veiga (PSDB). Veja
aqui

4. Lula recebe o apoio do deputado Francisco Kuster (PSDB-SC). Coro que celebra Collor desafina. Coro de artistas canta Lula-lá. Veja
aqui

5. Programa de Lula denuncia que Collor esconde os apoios que recebe. O ator Antônio Fagundes diz um texto de Brecht sobre o analfabeto político. Veja
aqui
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Fonte do Blog do Noblat

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Memórias de campanha - Collor x Lula em 1989 (1)
Fernando Collor de Melo e Luiz Inácio Lula da Silva travaram um duelo de morte em novembro e dezembro de 1989 no segundo turno da primeira eleição presidencial pelo voto direto depois de 21 anos de ditadura militar. Seguem em vídeo alguns momentos da campanha.

1. Collor se apresenta como o candidato dos pobres e critica as alianças políticas feitas por Lula. Veja
aqui

2. A atriz Cláudia Raia pede votos para Collor. Veja
aqui

3. A atriz Marília Pera diz que votará em Collor. Veja
aqui

4. Collor se diz moderno, acusa o PT de planejar o confisco da caderneta de poupança e pega carona na popularidade de JK. Veja
aqui

5. Em entrevista ao jornalista Ferreira Neto, Collor tenta identificar o PT e Lula com o comunismo e a baderna. Veja
aqui
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Fonte Blog do Noblat

MIOJO CICA

BOA AÇÃO

DICA DE FILME
Instinto Selvagem II

IBOPE E DATAFOLHA

PLANTÃO
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Fazendo um plantão pela internet nesta madrugada do dia da eleição só se pode constatar uma noticia, todos os sites, blogs, e tudo o mais só dizem uma coisa Lula será reeleito com uma grande vantagem sobre Alckmin.

sábado, 28 de outubro de 2006


PARA VOCÊ!



Borboletas
"Aprenda a gostar de você, a cuidar de você e,
principalmente, a gostar de quem também gosta de você.
A idade vai chegando e,
com o passar do tempo,
nossas prioridades na vida vão mudando...
Mas uma coisa parece estar sempre presente:
A busca pela felicidade com o amor da sua vida...
Com o tempo,
você vai percebendo quepara ser feliz com uma outra pessoa,
você precisa, em primeiro lugar,
não precisar dela.
Percebe também que aquele cara que você gosta(ou acha q gosta),
e que não quer nada com você,
definitivamente não é o homem da sua vida.
Você aprende a gostar de você,
a cuidar de você e,
principalmente,
a gostar de quem também gosta de você.
O segredo é não correr atrás das borboletas e simcuidar do jardim para que elas venham até você.
No final das contas,
você vai achar não quem você estava procurando,
mas quem estava Procurando por você!!!!"
Mário Quintana

E ASSIM FOI II

E ASSIM FOI

"PATO MANCO"
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Depois de um ano e meio de bombardeio da grande imprensa e da oposição, "o pato manto", como a oposição se referia a Lula tende a se reeleger amanhã com um votação consagradora. A candidatura do PSDB entrou em curto no segundo turno não conseguiu produzir nada de novo só a famosa pergunta sobre o dinheiro e denúncias requentadas, o resultado saberemos dentro de poucas horas, mas já é bastante previsível neste momento.
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O pior para a oposição é que Lula pode ainda colher vitórias importantes nos estados, a conferir amanhã. O método agressivo, desrespeitoso e por que não dizer preconceituoso, como os debates foram conduzidos pela oposição, nesses dois anos certamente em muito colaboraram para esse resultado.
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Os especialistas em pesquisa tem sinalizado, que só um milagre, seguido de um erro monumental das pesquisas reverte o resultado esperado até o momento

BOICOTE
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Véspera de eleição e os Blogs do Blogger não conseguem postar nada, só pode ser alguma conspiração, não pode ser outra coisa.

A culpa é do Lula
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Se amanhã as urnas confirmarem os números divulgados por todas as pesquisas, o candidato tucano terá menos votos do que no primeiro turno. E não é pouca coisa não: alguns milhões de votos de Alckmin sumiram entre um turno e outro. Dizem que ontem, no debate da Globo, em um dos intervalos, Alckmin teria se aproximado de Lula e feito a pergunta:
- Candidato Lula, onde estão os meus votos?
- O dado concreto é que eles estão comigo.

quinta-feira, 26 de outubro de 2006

Saída Taboão
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A menos que o PT apronte mais uma bem cabeluda, Luiz Inácio Lula da Silva deverá ser reeleito presidente da República no próximo domingo com uma votação consagradora. Faço então a pergunta que não quer calar: como é possível que Lula e o PT vençam de forma tão clara --61% a 39% pela última pesquisa Datafolha-- mesmo depois do festival de escândalos que se abateu sobre o país?
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Comecemos identificando algumas falsas respostas. Não me parece correto afirmar, como vêm fazendo alguns setores das --desculpem-me, mas não resisto-- "elites", que se trate de um problema de desinformação dos menos instruídos. As sondagens mostram que a maioria dos eleitores afirma existir corrupção no governo e atribui ao presidente responsabilidade nos casos. Ainda assim, avalia bem a administração e está disposta a conceder mais quatro anos a Lula.
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Uma interpretação possível é concluir que a população aderiu em massa ao "rouba, mas faz". Em algum grau, isso é verdade, mas não necessariamente porque os brasileiros sejamos todos um bando de maus-caracteres que não ligam para a ética na administração pública.Definir o voto é uma operação complexa que mobiliza as mais diversas faculdades. Estão em jogo aspectos emocionais, como a relação afetiva com o partido de preferência, e racionais, a exemplo de considerações sobre as vantagens ou desvantagens pessoais que determinada proposta implica.
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O peso que a questão ética vai ter no cálculo de cada eleitor depende da posição relativa que cada um de vários critérios ocupa na hierarquia mental. Nesse contexto, não me parece absurdo desculpar os "deslizes" do PT --que em maior ou menor grau são cometidos por todas as agremiações-- por achar que o atual governo vem fazendo um bom trabalho na redução da desigualdade social, por exemplo.
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Não é evidentemente o meu caso. Não discordo de que outras administrações também tenham incorrido em desmandos. Como não dispomos de um corruptômetro, parece-me bobagem tentar estabelecer se foi o PT ou o PSDB quem aprontou mais. O fato é que, no meu mapa mental, é bastante grave o fato de a legenda situacionista ter passado por cima de 20 anos de pregação ética na qual inadvertidamente acreditei. O partido que tentava conquistar simpatias afirmando, com alguma credibilidade, ser diferente de todos os outros hoje se defende de acusações graves dizendo ser igualzinho aos demais.
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Outra decepção é com o fato de o governo petista ter-se revelado, pelo menos para mim, um engodo. Talvez ingenuamente eu esperava que, após 20 anos na oposição e contando com um quadro de militantes e simpatizantes qualificados nas mais diversas áreas, o PT tivesse projetos consistentes e "de esquerda" para a educação, a saúde, a ciência. Se os tinha, nem tentou implementá-los. Os integrantes do governo parecem limitar-se a comemorar os "sucessos" obtidos pela política econômica elaborada, aliás, por seus antecessores. Diga-se, de passagem, que o principal esporte dos economistas do PT nas duas décadas anteriores havia sido criticar essa política.
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De resto, embora não me considere exatamente um legalista, acho que existe um núcleo de normas fundamentais para cujo cumprimento devemos envidar esforços máximos. Incluo aí as regras que visam a estabelecer uma relação republicana e transparente entre Executivo e Legislativo e a preservar o patrimônio público. Se queremos que essas leis sejam respeitadas, precisamos aplicar as sanções previstas para os que as violam, não importando quem sejam. Deixar de fazê-lo significa não apenas autorizar aquilo que pretendíamos proibir como ainda, num plano mais geral, dizer para toda a sociedade que as normas não precisam ser respeitadas. É a vitória da impunidade, com todos os efeitos que produz não apenas sobre a política mas também sobre a própria criminalidade.
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Essas críticas que faço ao PT não me tornam automaticamente um tucano. Na verdade, boa parte de minhas objeções às atitudes petistas valem também para os tucanos. Devo reconhecer-lhes, entretanto, maior capacidade para livrar-se de investigações.Em respeito à linha apartidária da Folha, abstenho-me de declarar meu voto. Admito, porém, que, neste segundo turno, venho flertando com o que chamo de saída Taboão. Para escapar ao dilema de optar entre duas candidaturas às quais faço fortes restrições, penso em dirigir-me a uma seção eleitoral qualquer de um município próximo --no caso, Taboão da Serra--, de onde posso justificar o não comparecimento. É uma forma legal e legítima de burlar à absurda e antidemocrática imposição do voto obrigatório.
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Reitero que não pretendo que essas minhas reflexões valham para todos. Elas fazem sentido à luz da minha hierarquia de valores, que pouco ou nada tem de universal. Quem recebe o benefício do Bolsa Família tem todas as razões para votar em Lula, assim como os rentistas que se fartam nos juros do governo.Como esta campanha bem evidenciou, a democracia encerra muitas e graves imperfeições. Um exemplo: o receio de descontentar os eleitores leva todos os candidatos a prudentemente deixar de dizer quais setores perderiam em seu governo. E arbitrar perdas é a primeira e mais inescapável das tarefas de um político. No fundo, é Platão quem tinha razão. Ele condenava a democracia por entregar ao maleável populacho ("hoì pollói"), tão facilmente manipulado pelas palavras melífluas dos demagogos, a responsabilidade de decidir os destinos da nação independentemente de considerações técnicas. Platão, porém, dispunha de uma idéia muito clara do que fosse a Verdade. Podia criticar tudo o que dela se afastasse. Não é o nosso caso.
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Até podemos discutir se determinado juízo descreve com precisão um fato, hipótese em que pode ser chamado de verdadeiro. Não temos, entretanto, a mais remota idéia do que possa ser uma verdade política universal. Esse é um terreno em que é melhor deixar a cada um a prerrogativa de estabelecer suas próprias prioridades. Nesse contexto o que Platão via como vícios da democracia converte-se em virtudes. Ao permitir que cada um vote livremente sem justificar-se ante à Verdade, a Deus ou à Técnica, criamos um jogo onde todos são iguais. O resultado até pode ser um monstrengo político, a soma de todas as demagogias, mas é um jogo que nos garante a paz social. Em vez de conspirar e matar para chegar ao poder, postulantes aos cargos de comando limitam-se a tentar ludibriar o eleitorado. É o melhor que pudemos alcançar até agora.
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Hélio Schwartsman,

quarta-feira, 25 de outubro de 2006

A VOZ DO POVO
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Uma aluna me disse: -professor o senhor tem que votar no Lula, achei interessante a opinião dela e perguntei o por quê?
Resposta: "O Alckmin quer aumentar para cinco horas o tempo de escola, já imaginou nós mais uma hora na escola?"
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E aí, as nossas escolas são tão precárias que os jovens a rejeitam, e dai vamos para qual lado. Continuemos penso andando em direção ao incerto.

terça-feira, 24 de outubro de 2006

SEM MALDADE
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Está no final da campanha eleitoral do segundo turno, e ficou claro até o momento as propostas dos candidatos para a área da educação.
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LULA: Manter e ampliar o PROUNI
ALCKMIN: Aumentar de 4 para 5 horas a permanência das crianças na escola.
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Você vai perguntar é só isso? Foi o que eles deram destaque nos debates e nos programas eleitorais.
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E é pouco, pouco, é uma porcaria de visão de educação. Não falaram mais nada, orientados por "competentes" publicitários fecharam a boca para não serem cobrados e não perderem votos.
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O que o futuro nos reserva, a perpetuação do descaso. É isso, se estou enganado comente abaixo. Deus queira que eu esteja escrevendo uma grande bobagem.

Sabedoria
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Esperamos que a população tenha sabedoria para votar com consciência, separando a verdade e a mentira, este é o nosso grande desafio no dia 29 de outubro.

segunda-feira, 23 de outubro de 2006

AMIN APÓIA LULA
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AMIM EM OUTROS TEMPOS:
"O LULA É O VAGABUNDO MAIS BEM SUCEDIDO DO BRASIL"
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“O meu voto para presidente é o mesmo do Hugo Biehl. É Lula”, declarou o candidato da Coligação Salve Santa Catarina, Esperidião Amin, acompanhado do candidato a vice, Hugo Biehl e do ex-vereador do PC do B, Nildomar Freire Santos, o Nildão, a uma platéia de mais de 500 jovens de todos os partidos reunidos na sede da ASDERLIC (Associação dos Servidores do Deinfra – Litoral Centro) neste domingo (22/10).

Uma Câmara de milionários
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THIAGO REISJOÃO CARLOS MAGALHÃES

da Agência Folha
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Um em cada três deputados federais eleitos é milionário. Levantamento feito pela Folha mostra que, dos 513 parlamentares que assumem o cargo em 2007, 165 declararam ter patrimônio superior a R$ 1 milhão.
São 49 milionários eleitos a mais do que em 2002 (quando foram eleitos 116 milionários). Dos 165 deputados com mais de R$ 1 milhão, 74 são novatos e 91 estão na atual legislatura.

O patrimônio médio do parlamentar eleito também aumentou: foi de R$ 2,2 milhões para R$ 2,5 milhões. No total, os 513 parlamentares têm juntos R$ 1,2 bilhão --R$ 128 milhões a mais que os eleitos para a Câmara há quatro anos.Levando em conta o rendimento médio mensal do brasileiro (R$ 527, de acordo com o IBGE), seria preciso trabalhar mais de 392 anos para acumular R$ 2,5 milhões.

Camilo Cola (PMDB-ES), 83, dono da viação Itapemirim, é disparado o mais rico dos deputados, com um patrimônio declarado de R$ 259 milhões. O segundo é Odílio Balbinotti (PMDB-PR), que declarou ter R$ 123 milhões.Para o cientista político Fernando Abrucio, da FGV-SP, é impossível saber se as declarações são realmente compatíveis com a realidade.

Apesar dos números, segundo ele, muitos podem ter declarado menos do que têm. "No Brasil, não pega bem ser rico. É um país com alto índice de desigualdade. As pessoas não querem se declarar ricas. Mas não acho que seja algo singular dos políticos."A bancada que terá o maior número de milionários é a do PFL: 38. Depois, vem o PMDB, com 37. O PSDB terá 21. As três legendas têm também o maior patrimônio declarado --total e médio. O PT terá seis milionários e é, pela média, o 16º partido em patrimônio.

Apesar do aumento do patrimônio dos deputados, Abrucio acredita que a minirreforma eleitoral --que proibiu showmícios e outdoors-- coibiu o abuso econômico e diminuiu a influência do dinheiro nestas eleições. "O que favoreceu mais foi ser conhecido pelo grande público e ter forte base social."Devido à crise ética gerada pelo escândalo do mensalão e pela máfia dos sanguessugas, o cientista político coloca em dúvida o aumento de milionários. "Talvez haja mais gente [que já tinha mais de R$ 1 milhão] declarando suas contas agora."

A maior parte dos deputados federais milionários é do Sudeste (62). São Paulo está em primeiro na lista, com 29. Minas Gerais vem logo atrás, com 25. O Rio tem seis e Espírito Santo, dois.O Amapá é o único Estado que não possui nenhum deputado com mais de R$ 1 milhão em patrimônio declarado.

Sem patrimônioDos 513 deputados eleitos, sete declararam não ter nenhum bem. À Folha, quatro desses deputados justificaram o patrimônio nulo dizendo que são seus parentes quem detêm os bens. Só três dizem não ter nenhum bem em seus nomes.

A deputada eleita Iris Machado (PMDB-GO), 63, não é titular de nenhum bem, mas o marido --o prefeito de Goiânia (GO), Iris Rezende (PMDB)-- tem R$ 6,3 milhões. O casamento dos dois políticos é baseado no regime de comunhão de bens.

É o caso também do deputado cearense Raimundo Gomes de Matos (PSDB), 55, que diz que seus bens estão todos no nome da mulher. "Foi uma decisão de foro íntimo", afirma. Os bens da mulher, segundo ele, estão avaliados em cerca de R$ 500 mil.Já Fernando Bezerra Coelho Filho (PSB-PE), 22, diz que ainda mora na casa do pai, o atual prefeito de Petrolina, Fernando Bezerra Coelho (PSB). Por isso, afirma ser dependente dele. "Esse é meu primeiro emprego. O carro que dirijo, por exemplo, é do meu pai", disse o parlamentar.

O Veneno
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É natural que candidatos e partidos em campanha tentem pintar os adversários com as piores cores. É normal também que se empenhem em embaraçar os movimentos do inimigo. Porém, há na atual cruzada eleitoral algo que foge aos padrões. Arma-se um clima de fim do mundo para depois da disputa presidencial.
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Envenenou-se demais a atmosfera. Um lado, o de Alckmin, afirma que um novo governo petista acabaria antes mesmo de começar. O outro lado, o de Lula, confunde o noticiário legítimo sobre corrupção e perversões com uma aliança imaginária da mídia com setores da “direita”, para prejudicar o “pai dos pobres”.
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PT e PSDB, as duas legendas que enxergam no horizonte a perspectiva de poder, precisam levar a mão à consciência. O discurso aguerrido, próprio de toda campanha, está a um passo de ultrapassar a fronteira que leva à retórica insana. O país não merece que os dois frutos mais viçosos que sua democracia foi capaz de cultivar entreguem-se agora a um flerte irresponsável com a ruptura institucional.
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Aliados no combate à ditadura, petistas e tucanos não têm –ou não deveriam ter— o perfil de uma gente que o marechal Castello Branco, há mais de 40 anos, chamava de "vivandeiras alvoroçadas”. Gente que ia "aos bivaques bulir com os granadeiros e provocar extravagâncias do poder militar".
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Mas as últimas semanas demonstram que o Brasil, embora já não tenha mais militares dispostos a extravagâncias, ainda não se livrou dos acessos de histeria política. Foram-se as aventuras fardadas, mas remanesce a idéia de “derrubar”, de “inviabilizar” governos legitimamente eleitos.
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Considere-se, por mais provável, a hipótese de vitória de Lula. Foi escolhido em 2002 por 52 milhões de brasileiros. Prometera uma prosperidade de 10 milhões de empregos e uma moralidade de mosteiro. Noves fora os êxitos de uma administração por avaliar, entregou a estagnação do PIB e a corrupção.
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A despeito disso, um número ainda maior de eleitores parece disposto a confiar-lhe um novo mandato. O que fazer? Respeitar a vontade popular. Permitir que Lula governe. Exatamente como aconteceu em 98, quando FHC foi reeleito. O “príncipe” conduzira um governo que também não foi nem imaculado nem próspero. Lula cansou de avisar que o dólar a R$ 1,20 era piada, que resultaria em recessão e desemprego. O eleitor não lhe deu ouvidos.
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Agora, Alckmin e seus aliados estão roucos de avisar: a perversão que assola o governo e o PT não é culpa nem de José Dirceu nem de Delúbio Soares nem de Ricardo Berzoini. O culpado é Lula. Tendo se acercado da turma dos 40 e da súcia de aloprados, o presidente não teve pulso para limpar a área no primeiro desastre. Confraternizou com malfeitores, estimulando a reiteração dos malfeitos.
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O eleitor está na bica de engolir a tese do “não sabia”. Paciência. É do jogo. O PSDB tem em seus quadros dois dos mais vistosos presidenciáveis de 2010: Serra e Aécio. Se insistir em jogar lenha na fogueira da histeria pós-eleitoral, o tucanato compromete o próprio futuro. Aviva um fogo que amanhã pode queimar os seus. Há denúncias apresentadas e investigações em curso. O STF e o TSE acompanham tudo. Para encrencas assim, não há melhor remédio do que o bom funcionamento das instituições. Deixe-se que as leis funcionem.
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Blog do Josias

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Eliane Cantanhêde
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"O "slogan" de Lula no segundo turno é direto, claro, decisivo. "Não troque o certo pelo duvidoso" é perfeito numa campanha pela reeleição.
"Certo" não significa certo, correto, mas sim o conhecido. Refere-se a qualidades e defeitos. Nesse caso, a um balanço entre três fatores do governo Lula: a chocante produção de escândalos, a prudência em não bagunçar a economia e a ousadia na conquista de algo que faltou a FHC -a marca social.
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"Duvidoso" é o que não se conhece, mas resvala sorrateiramente para o terreno do que não é certo, não é correto. No caso de Alckmin, um balanço entre o cara que se vende como "certinho", que cumpriu etapas e leva tudo a sério, mas não mostra a que, exatamente, veio."
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Blog do Noblat


O jacaré abriu a boca
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Imagine um gráfico com duas linhas que correm mais ou menos paralelamente.

A de cima registra a evolução das intenções de voto em Lula. A de baixo, a evolução das intenções de voto em Alckmin.

Há duas semanas, a linha de cima empinou para o alto. E a de baixo despencou.

O jacaré começou a abrir a boca.

A expressão é usada por analistas de pesquisas para designar o momento em que fica clara a tendência de vitória de um candidato sobre outro.

O jacaré abriu a boca para engolir Alckmin.

Lula tomou de Alckmin até aqui pouco mais de 3,6 milhões de votos. E atraiu cerca de mais 9 milhões conferidos a Heloísa Helena, Cristovam Buarque e demais candidatos no primeiro turno.

Alckmin é favorito a sair da eleição presidencial com um título inédito - o de candidato que teve no segundo turno menos votos do que no primeiro.

A postura dele no debate de amanhã à noite na Rede Record de Televisão será importante para decifrar suas expectativas.

Se tentar morder Lula para valer como fez no debate da Rede Bandeirantes é porque ainda acredita que poderá se recuperar.

Se preferir o modelito moderado do debate do SBT é porque jogou a toalha e só está preocupado em lustrar sua biografia.
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Blog do Noblat

domingo, 22 de outubro de 2006

O Segredo
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O grande mérito da campanha petista neste segundo turno advém menos de seu candidato, Lula, e mais de seu departamento de marketing. Numa manobra competente, os marqueteiros petistas conseguiram tirar a campanha da delegacia de polícia (onde a haviam colocado os companheiros aloprados do presidente) e dar-lhe contornos ideológicos (se consistentes ou não, é outra história).

Ruy Fabiano

Sobre o crescimento de Lula
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"Muita gente acha que nem é tão diferente assim, mas parece que o povão está preferindo acreditar nas palavras de um dos seus. Enquanto isto, Alckmin vestiu o salto alto, despreza as pesquisas e se diz o novo presidente brasileiro"
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Luiz Antônio Magalhães

Por que Lula subiu e Alckmin caiu?
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Luiz Antonio MagalhãesAntes de analisar a situação do presidente-candidato nas últimas pesquisas de intenção de voto, é preciso lembrar o velho ditado futebolístico: o jogo só acaba quando termina. Lula está com a mão na faixa, mas o fato de ter conseguido uma dianteira de 20 pontos sobre Geraldo Alckmin não lhe garante, ainda, mais quatro anos no Palácio do Planalto. O que vale mesmo é bola na rede, ou seja, voto na urna. Até porque os cronistas tucanos avisam que vem mais artilharia contra o PT e os "meninos" de Lula nesta reta final da campanha.Dito isto, vamos à resposta da questão formulada acima: esta coluna vê as coisas com simplicidade e acredita que Lula está na frente porque, desde 1° de outubro, acertou mais do que errou, ao mesmo tempo em que seu adversário errou mais do que acertou. É possível esboçar três hipóteses básicas para explicar os movimentos de alta para Lula e baixa para Alckmin. Vamos a elas:
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Apoio de Garotinho tira mais voto do que agrega
Alckmin parece ter dado um tiro no pé ao aceitar uma aliança com o ex-governador do Rio. Se Alckmin tivesse ficado ao lado da juíza Denise Frossard e recusasse as fotos ao lado de Garotinho, estaria melhor no Rio. Ademais, a aliança com Anthony Garotinho tirou de Alckmin, logo no início da campanha para o segundo turno, o discurso ético que o tucano vinha imprimindo em seus pronunciamentos. Para um eleitor de Cristóvam e Heloísa Helena, o tucano no mínimo se igualou a Lula neste quesito.
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Privatização e comparação entre Lula e FHC são os temas do 2° turno
Aparentemente, o fôlego do escândalo do dossiê está terminando. Os eleitores decidiram pelo segundo turno porque quiseram ver Lula explicando melhor o que vem acontecendo em seu governo. Pois Lula foi para as rádios e televisões e... pareceu convincente. Agora, o assunto da vez é a comparação das duas obras – são 8 anos de tucanato contra 4 de petismo. O povão é mais inteligente do que parece e sabe que Geraldo Alckmin é do time dos tucanos, embora ele tente desesperadamente se desvencilhar da herança de Fernando Henrique Cardoso. Talvez Alckmin tenha se perdido muito neste ponto, pois ficou demasiadamente na defensiva, sem explicar se vê algo de positivo nas privatizações e na gestão de Cardoso. Além de não conseguir para si o que de bom FHC tenha eventualmente cometido, Alckmin, a cada dia que passa, fica mais ligado à parte ruim da obra do ex-presidente. Tudo somado, a pior saída para Geraldo foi a escolhida pela campanha: negar com veemência que vá privatizar as estatais. Além de soar falso, passa a idéia de que privatizar é mesmo uma coisa terrível. Muita gente acha que é, mas os eleitores indecisos que poderiam ser convencidos caso o tucano defendesse pelo menos as privatizações feitas pelo PSDB ficaram a ver navios e, provavelmente, caíram no colo de Lula.
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Lula arregaçou as mangas e foi à luta
Pode parecer uma hipótese até simplória, mas a verdade é que, quando Alckmin ainda comemorava a passagem para o segundo turno, o presidente Lula já estava trabalhando para não perder o trono. Das alianças à tática empregada no debate da TV Bandeirantes, tudo foi melhor para o presidente. Ele percebeu que não poderia continuar andando de salto alto pelo país, passando uma imagem de arrogante, e agora faz na televisão o que sempre fez nas quatro campanhas anteriores: pede votos e explica por que o seu projeto é diferente "de tudo que já se fez neste país". Muita gente acha que nem é tão diferente assim, mas parece que o povão está preferindo acreditar nas palavras de um dos seus. Enquanto isto, Alckmin vestiu o salto alto, despreza as pesquisas e se diz o novo presidente brasileiro. Falta alguém na aliança tucano-pefelista para lembrá-lo que, quanto maior o coqueiro, maior é o tombo...
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Luiz Antônio Magalhães é editor de Política do DCI e editor-assistente do Observatório da Imprensa (www.observatoriodaimprensa.com.br).
Blog do autor: www.blogentrelinhas.blogspot.com

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A menos de uma semana do segundo turno das eleições presidenciais, as opiniões de setores legitimamente representativos da esquerda e dos interesses sociais permanecem ainda mais divididas: caso um estrangeiro minimamente informado de nossa situação política chegasse hoje ao Brasil e se deparasse com as análises desses setores ficaria atônito diante de tão profunda divergência. Nesse último número antes do pleito, procurando reverberar e aprofundar esse debate, o Correio entrevistou o historiador Mário Maestri e o Bispo Emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia (MT), Dom Pedro Casaldáliga – com suas sofisticadas e, sem dúvida alguma, profundamente humanitárias avaliações da conjuntura política, enxergam a atual realidade eleitoral a partir de diferentes recortes, conducentes a uma opinião também diversa quanto à decisão final do voto do eleitor. Para Maestri, apesar de Lula e Alckmin não serem a mesma coisa - Alckmin representa, para o historiador, a direita mais conservadora do Brasil, sem mediações, ao contrário de Lula, que é o representante de partido social-democrata, com raízes populares e eleitorado plebeu –, “sua diversidade não significa que um ou outro governo será mais ou menos nefasto ao país. Significa, sobretudo, que a forma de implementar o projeto neoliberal será distinta”. Maestri compartilha também da opinião das correntes à esquerda que consideram que a permanência de Lula no poder desmobilizaria ainda mais a população e os movimentos sociais, uma vez tendo conduzido um governo em rota de colisão com seu prestígio histórico na esquerda, diluindo o potencial contestatório dos laços de classe: caso se reeleja, Lula atacará mais fortemente as conquistas sociais, uma vez diante de uma resistência trabalhista desorganizada pela corrupção e cooptação das direções populares; com Alckmin, apesar de o ataque ao mundo do trabalho tender a ser bem mais frontal, deparar-se-á com uma frente popular e social mais ampla opondo-se à ofensiva, como ocorreu no governo FHC. O voto nulo é, para Maestri, a opção correta diante de cenário tão esquizofrênico. “A esquerda precisa deixar de ser imediatista e triunfalista, e precisa manter a utopia e a esperança, honrando a memória de nossos heróis e mártires”. Essa é, por sua vez, a avaliação de Dom Pedro Casaldáliga, para quem estaríamos diante de dois projetos distintos, o neoliberalismo puro versus um espaço popular, o qual, mesmo que ambíguo e confuso, está ainda aberto para as reivindicações do campo popular. “Passar para o segundo turno também significa ser um pouco mais humilde, e se deter com maior vontade de mudança nos pontos considerados falhos”, diz Dom Pedro.O expressivo número de votos populares recebidos pelo presidente Lula no primeiro turno conforma uma conjuntura política que não autoriza uma declaração de voto nulo sem um debate autêntico com esse candidato. Mas essa mesma conjuntura não constitui, de modo algum, salvo conduto para o apoio da esquerda e dos movimentos sociais, uma vez diante de um governo que esteve longe de representar autenticamente os direitos dos trabalhadores. Somente a emissão de mensagens claras relativamente às promessas que Lula vem fazendo de realizar a reforma agrária, manter intocados os direitos trabalhistas, abolir as privatizações e executar políticas de emprego justificaria o voto nele nessa reta final, pois deflagraria imediatamente um confronto com os interesses que se opõem à solução dos problemas do povo.

Expectativa de vida do brasileiro sobe para 71,7

Em relação aos países ou áreas da América Latina e do Caribe, o Brasil só fica a frente de países como Paraguai, El Salvador, Jamaica, Trinidad y Tobago, Peru, Bahamas, Nicarágua, Suriname, Honduras, República Dominicana, Guatemala, Bolívia, Guiana e Haiti.A lista de países ou áreas com expectativa de vida superior a do Brasil reúne Costa Rica, Chile, Cuba, Porto Rico, Uruguai, Guiana Francesa, Barbados, México, Panamá, Argentina, Equador Venezuela, Santa Lúcia, Colômbia e Belize.
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Veja o ranking da expectativa de vida por unidade da federação para ambos os sexos:
1º Distrito Federal - 74,6 anos
2º Santa Catarina -74,5 anos
3º Rio Grande do Sul - 74,2 anos
4º Minas Gerais - 73,8 anos
5º São Paulo - 73,4 anos
6º Paraná - 73,2 anos
7º Mato Grosso do Sul - 72,9 anos
8º Espírito Santo - 72,9 anos
9º Goiás - 72,5 anos
10º Mato Grosso - 72,3 anos
11º Rio de Janeiro - 72,1 anos
12º Bahia - 71,2 anos
13º Pará - 71,1 anos
14º Amazonas - 70,7 anos
15º Acre - 70,5 anos
16º Tocantins - 70,4 anos
17º Rondônia - 70,3 anos
18º Sergipe - 69,9 anos
19º Amapá - 69,4 anos
20º Rio Grande do Norte - 69,4 anos
21º Ceará - 69,2 anos
22º Roraima - 69,0 anos
23º Paraíba - 67,9 anos
24º Piauí - 67,8 anos
25º Pernambuco - 67,1 anos
26º Maranhão - 66,4 anos
27º Alagoas - 65,5 anos


De André Petry na Veja deste fim de semana:

"Alckmin, sem o dossiê ou uma provocaçãoterrorista do PT, parece incapaz de alçar-seacima de dolorosas platitudes"

A melhor coisa que aconteceu na campanha de Geraldo Alckmin foi o escândalo do dossiê – e não porque o catapultou para a disputa no segundo turno, ao refrescar a memória do eleitorado sobre o alcance do banditismo petista, mas simplesmente porque lhe deu um assunto. Examinando-se sua campanha no segundo turno, percebe-se que, quando o dossiê sai do foco central do noticiário, Alckmin precisa que o próprio PT se encarregue de colocar alguma coisa no lugar – as mentiras sobre privatização, a falsa divisão entre ricos e pobres, o que for. Se isso não acontece, Alckmin parece ficar desorientado quanto ao que dizer.

Parece que tudo o que lhe ocorre é pedir ao eleitorado um cheque em branco para os próximos quatro anos, pois não diz nada que seja esclarecedor – e não deixa os outros dizerem. Alckmin, sem o dossiê ou uma provocação terrorista do PT, parece incapaz de alçar-se acima de dolorosas platitudes. Coisas assim:
Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, Alckmin disse que "o Brasil pode ir melhor, pode ir mais rápido, pode avançar mais". Também disse que, se eleito, vai "fazer um bom mandato de quatro anos" e que vai "trabalhar para melhorar a vida do povo". No debate no SBT, fez o seguinte raciocínio: "O Brasil está com a receita errada. Nós vamos trabalhar para pôr a receita certa. O governo não pode ser caro, pesado, mas tem de ter ativismo econômico. Estabilidade não é plano econômico. Plano econômico é crescimento. O Brasil pode mais e merece mais". Entendeu agora como seria um governo Alckmin?

Dias antes, em seu programa eleitoral, o tucano disse que "o novo presidente tem de ter a coragem de mudar o que está errado, tem de ter capacidade para atrair investimento para cá, trazer os empregos aqui para o nosso país. É assim que eu vou agir como presidente". Entendeu agora?
Na quarta-feira, a jornalista Míriam Leitão, do jornal O Globo, escreveu em sua coluna um comentário sobre a entrevista que fizera com Alckmin no dia anterior. Ela conta que, diante das críticas do tucano à política macroeconômica, perguntou o que ele faria diferente. Alckmin respondeu que faria uma política de "câmbio flutuante administrado". A jornalista escreveu: "Quis saber o que era isso e ele disse que é como o atual; que, quando fala em 'administração do câmbio', está falando em compra de reservas, como é feito atualmente". Entendeu agora?"

sábado, 21 de outubro de 2006

E SE LULA VENCER?

Paulo Moura, cientista político
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Se a última pesquisa Datafolha for confirmada pelo Ibope (Vox Populi confirma dianteira de 20 pontos de Lula), será muito difícil para Alckmin reverter a situação que se criou no segundo turno. A lógica da tendência que as pesquisas apontavam na reta final do primeiro turno caminhava em sentido oposto ao que as pesquisas apontam agora. O segundo turno não oferece espaço para erros dado o tempo curto de sua duração. Lula acertou seu foco e estratégia; Alckmin cometeu os erros que já comentei no artigo anterior. A última esperança de Alckmin está num eventual deslize de Lula nos debates.
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O único fato previsível capaz de afetar o curso natural da disputa é a revelação da origem ilícita do dinheiro que financiou o dossiê tabajara. Essa informação disparada contra Lula num debate talvez surta algum efeito. Como notícia e assunto da propaganda eleitoral, não me parece que esse fato seja capaz de produzir impacto maior do que a foto da dinheirama que empurrou Lula ao segundo turno. Assim, apenas outra surpresa da magnitude desse escândalo que vai sendo abafado pelo governo poderia reverter a tendência apontada pelo Datafolha.
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A única explicação plausível para a inversão da tendência que as pesquisas apontavam no fim do primeiro turno é o sucesso do marketing terrorista do PT. O povo parece preferir um governo que rouba a um governo que ela acha que poderia privatizar estatais.A se confirmar, portanto, a reeleição de Lula, que cenário espera o Brasil no próximo período? Mais do mesmo. Não há como nem porque ocorrer alguma alteração significativa no que o petismo já mostrou ser capaz de fazer no governo. O que entendo por mais do mesmo?
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No cenário econômico com virtuais melhorias circunstanciais, alternadas por eventuais cenários de baixo crescimento, talvez sofrendo algum solavanco negativo provocado pelo prenunciado fim do ciclo virtuoso da economia mundial que o governo Lula não soube aproveitar. O discurso contra as privatizações que Lula usa contra Alckmin em todo o país será um fator limitador de possíveis soluções estruturais para a crise financeira de vários Estados. Em casos como o do Rio Grande do Sul, por exemplo, mesmo perdendo a eleição, o PT terá imposto sua agenda como fator limitador da latitude de ação ao virtual governo de Yeda Crusius (PSDB).
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O grande problema virá no cenário político e institucional. A se comprovar a origem ilícita do dinheiro que financiou a tentativa dos membros do comitê eleitoral de Lula para forjar uma prova capaz de garantir-lhes a derrota de Alckmin no primeiro turno e a ocorrência de um segundo turno em São Paulo, Lula assume sob o fantasma de um impeachment. Segundo o advogado eleitoralista Antônio Augusto Meyer dos Santos, no caso da efetiva comprovação judicial da irregularidade dos valores determinados para compra ou elaboração do dossiê tabajara, o PT poderá ter seu registro cancelado, na forma da Lei 9.096/95 - Lei dos Partidos Políticos. Se ficar comprovado que, além de crimes eleitorais, crimes de sonegação, lavagem de dinheiro, ingresso ilegal de recursos no país para financiamento de atividade partidária e lavagem de dinheiro estão por trás do financiamento dessa desastrada operação política que servia aos interesses de Lula, a abertura de um processo de impeachment se imporá.
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Estamos no Brasil e já aprendemos que a aplicação da lei é relativa quando se deve aplicá-la contra corruptos que têm apoio popular. Mas a simples abertura de um processo de impeachment, por si só, é capaz de provocar, já no início do segundo mandato de Lula, a paralisia institucional e decisória de um governo que já não vinha aprovando nada de relevante no Congresso, desde o escândalo Waldomiro Diniz.
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Agentes econômicos locais e investidores internacionais esperam que Lula aprove reformas estruturais de conteúdo liberalizante. Podem esperar sentados. Fora a taxação dos aposentados no início do governo, nenhuma reforma estrutural foi aprovada pelo governo Lula. O PT não vai afrontar os sindicatos com a reforma trabalhista. Lula não tem força para aprovar essa reforma tributária pífia que se encontra parada no Congresso. Fora o banco do Maranhão, Lula não privatizou e não vai privatizar nada. Pelo contrário, a tendência é o inchaço ainda maior do Estado e o aumento deliberado dos gastos públicos e da carga tributária necessária para financiá-los.
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Depois de toda a roubalheira que aconteceu, se Lula se reeleger, os ladrões do dinheiro público sentir-se-ão autorizados a ampliar a roubalheira e as crises e escândalos marcarão mais fortemente o virtual segundo mandato de Lula. Alguns auxiliares de Lula mandados para casa por força das circunstâncias que eles mesmos produziram poderão voltar ao governo. Com eles ou sem eles, Lula será cercado por Jader Barbalho, José Sarney e Renan Calheiros, e outros políticos das legendas fisiológicas que deveriam deixar de existir com a cláusula de barreira, mas se movimentam para contorná-la mediante artifícios políticos e jurídicos.
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A disputa eleitoral foi para o segundo turno e isso é um fator de enfraquecimento de Lula e do PT. O poder de barganha da base fisiológica que o governo precisará montar no Congresso cresceu muito, e Lula precisará se envolver ainda mais do que no primeiro mandato com a política suja para conseguir maioria parlamentar na Câmara dos Deputados. No Senado o governo será minoria, a menos que compre a peso de ouro o apoio de uma minoria fisiológica.
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A radicalização dos ataques entre o PT e seus adversários na reta final da eleição é outro fator a jogar água no moinho da crise institucional. Os adversários do PT não esquecerão a tentativa fraudulenta de mudar o destino da eleição presidencial e paulista e já sabem do que o PT é capaz para conquistar e preservar-se no poder. A oposição não tem saída se não radicalizar o enfrentamento democrático à escalada autoritária e populista de Lula, avalizado pelas urnas.PFL e PSDB terão de ir ao divã reavaliar seus erros políticos que vão desde seus rabos presos na mão do inimigo até a subestimação do petismo, visto por eles como um adversário como qualquer outro. Não é. Lula vai preparar um quadro do PT para sucedê-lo. Ilude-se quem pensa que a sucessão de Lula cairá no colo de um aliado-adversário do PT. Nem Ciro Gomes nem Aécio Neves serão abençoados pelo escorpião, por mais que sonhem com isso. É a mesma ilusão daqueles que achavam que não seria necessário submeter Lula ao impeachment, pois essa eleição estaria ganha mesmo antes de começar. O PT luta pelo poder como luta pelo controle de um sindicato, isto é, na base da canelada. E, como no futebol de várzea, o PT considera que a canela do adversário começa logo abaixo do queixo. Mas a crise de identidade da oposição é assunto para outro artigo.

"OS GRANDES ACERTOS DA VEJA"

MAIS UMA BOCA DE URNA DA VEJA

Como já era esperado a revista Veja foi para a família de Lula agora é o vale tudo, sem cometer nenhuma injustiça tá rolando denúncia e boato de todo lado, esperamos que a população tenha sabedoria para votar com consciência, separando a verdade e a mentira, este é o nosso grande desafio no dia 29 de outubro.

Marcos Coimbra: Mídia levou a eleição para o 2º turno
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O cientista político e diretor do instituto de pesquisa Vox Populi, Marcos Coimbra, disse em entrevista a Paulo Henrique Amorim nesta sexta-feira, dia 20, que a atuação da mídia ajudou a levar a eleição presidencial para o segundo turno (clique aqui para ouvir).

PF aponta Lorenzetti como responsável por operação
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A informação é do Jornal Nacional desta sexta, com base em relatório da PF
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SÃO PAULO - Jorge Lorenzetti, ex-coordenador de inteligência da campanha eleitoral de Luiz Inácio Lula da Silva e ex-churrasqueiro do presidente, foi acusado de ser o responsável pela operação de compra do dossiê Vedoin, elaborado para prejudicar a candidatura tucana no governo de São Paulo.
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A informação, revelada nesta sexta-feira pelo Jornal Nacional, da Rede Globo, está no relatório parcial do inquérito sobre o caso, preparado pelo delegado Diógenes Curado Filho, da Polícia Federal (PF), que preside as investigações.
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Curado Filho entregou nesta sexta-feira o parecer de dez páginas à Justiça com os dados sobre a investigação. No documento, o delegado afirma estranhar o fato de o churrasqueiro ter declarado, em depoimento, que tinha conhecimento do dossiê, mas não do R$ 1,75 milhão apreendido com o advogado Gedimar Passos e o empresário Valdebran Padilha em 15 de setembro, num hotel da capital paulista.
Esse dinheiro, ainda segundo a PF, foi levado até o hotel pelo ex-coordenador de Comunicação da campanha do senador Aloizio Mercadante (PT-SP), Hamilton Lacerda.
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O relatório foi uma exigência do juiz Jefferson Scheinneder, da Justiça de Mato Grosso, para conceder mais prazo para a investigação. Scheinneder queria saber o que foi feito até agora.
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Curado Filho pediu 30 dias adicionais para continuar o trabalho. Ele diz ter passado noites em claro examinando com um analista da PF os resultados do rastreamento de 800 linhas telefônicas, fixas e móveis.

sexta-feira, 20 de outubro de 2006

Concurso Público
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Inscrição para concurso público abre no final de novembro
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A Prefeitura de Caçador deverá lançar nos próximos dias o edital para o concurso público de admissão de funcionários. Não serão criadas novas vagas, mas preenchidas vagas já existentes na estrutura administrativa. Todo o concurso é administrado pelo Instituto Brasileiro de Administração Pública (Ibam), do Rio de Janeiro, cujos técnicos estiveram em Caçador na quarta e nesta quinta-feira.
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A comissão nomeada pelo prefeito Saulo Sperotto vai publicar nos próximos dias o edital para o concurso público de admissão de funcionários. Não serão criadas novas vagas, mas preenchidas vagas já existentes na estrutura administrativa. Todo o concurso é administrado pelo Instituto Brasileiro de Administração Pública (Ibam), do Rio de Janeiro, cujos técnicos estiveram em Caçador na quarta e nesta quinta-feira.
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De acordo com a advogada Joice Flores de Mathias Wagner, assessora jurídica da Prefeitura e coordenadora da comissão de concurso, o edital com a data da inscrição, valor a ser pago pelos interessados, data das provas e disposições gerais, como conteúdos e normas, estarão no edital, que será publicado na imprensa local e no mural da Prefeitura nos próximos dias.
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As provas, de acordo com a advogada, serão feitas apenas no mês de fevereiro. “Estamos fazendo tudo com os prazos esticados e com toda a supervisão do Ibam, que tem mais de 50 anos de experiência em administração pública, para que o concurso seja feito dentro da maior transparência possível”, explica Joice, salientando que as vagas colocadas a disposição não deverão necessariamente ser preenchidas logo após o concurso.
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Ao todo, serão colocadas em torno de 160 vagas para o concurso público, distribuídos em 27 cargos, para profissionais de nível superior, médio e primeiro grau. As vagas são distribuídas em todas as secretarias que fazem parte da administração municipal.

quarta-feira, 18 de outubro de 2006

ENTREVISTA - CHICO DE OLIVEIRA
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“Agora voto em Lula”
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Para sociólogo filiado ao PSOL, campanha pelo voto nulo é um equívoco. Um futuro governo Alckmin representaria um aprofundamento das privatizações de FHC. No caso de Lula, “apesar de não esperar alterações na política econômica, há espaço para mudanças”, diz ele.
Flavio Aguiar e Gilberto Maringoni - Carta Maior
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SÃO PAULO – Chico de Oliveira, 72 anos, é um dos mais respeitados sociólogos brasileiros. Pernambucano de Recife, ele é professor titular aposentado do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da USP e coordenador do Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania da mesma faculdade. É autor, entre outros, do hoje clássico “Crítica à Razão Dualista/O ornitorrinco” (Boitempo). Co-fundador do PSOL depois de ter deixado o PT no ano passado, Chico fala nesta entrevista dos impasses do governo Lula, das diferenças de projetos entre as candidaturas do PSDB e do PT e explica porque, depois de votar na senadora Heloísa Helena, agora vai de Lula. A seguir, os principais trechos de sua entrevista.
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C M – O que está em jogo nestas eleições?
CO – Há duas coisas em disputa. Há uma corrida feroz em direção aos fundos que o Estado ainda controla, como os recursos do BNDES e do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador). O BNDES é o maior banco de investimentos do mundo e deixa bem para trás o Banco Mundial. O Estado orienta os fundos de pensão. E há disputa pelos benefícios gerados a partir da dívida pública, que beneficiam cerca de 20 mil famílias, segundo pesquisa do professor Márcio Pochmann, da Unicamp. Essas 20 mil famílias lucram com a dívida pública, mas não a gerem. Que gere é o Estado. A diferença maior entre as orientações de Lula e de Alckmin, em termos amplos, é que o segundo promoveria uma privatização acelerada do que resta de ativos em mãos do estado. Lembremo-nos que, segundo os levantamentos de Aloysio Biondi, em dez anos, entre os governos Collor e FHC, privatizou-se cerca de 15% do PIB.
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CM – Mas não há uma continuidade do projeto do governo FHC na gestão Lula? Qual a disputa real?
CO – A continuidade faz parte da disputa pela hegemonia na sociedade. Se nos lembrarmos da lição gramsciana, hegemonia é 80% consenso e 20% violência. Há um projeto em andamento na sociedade, que atrai os setores do topo e os setores miseráveis e o povão. Se Lula tem esse projeto político na cabeça, trata-se de um gênio político. Eu acho que ele não tem, pois age muito mais por intuição do que por planos pré-definidos. Ele atua levando as práticas do movimento sindical para uma esfera maior. Como se trata de disputa de hegemonia e não de uma revolução, é natural que ele não queira acirrar os ânimos em muitas situações de conflito. Ambos – PT e PSDB - têm projetos capitalistas, mas diferentes em sua forma.
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CM – A elite não tem como suportar a chegada do povo sequer aos jardins da casa grande, não?
CO – Não, porque construímos um país de desigualdade abissal. Com uma situação dessas, só é possível exercer a dominação de classe sem mediações. Por isso nós tivemos, na média, durante o período republicano, um golpe ou tentativa de golpe a cada três anos. As próprias classes burguesas estão a uma distância muito grande do povo. Nessa situação, o sistema político e os partidos perdem totalmente seu sentido. Isso explica muito a aliança de Lula com Jader Barbalho, os elogios feitos a Delfim Neto e outros. É claro que os movimentos circunstanciais explicam esse tipo de aliança. Mas ela está construída num projeto mais amplo. Talvez o projeto não esteja pré-definido e venha sendo construído pelo Lula intuitivamente. Quando ele afirma ficar chateado pelo fato de os ricos não gostarem dele, está expressando esse projeto de hegemonia, de ligar dois extremos sociais. A aproximação com o Jader está dentro disso.
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CM - Como o sr. vê a mudança tática que o Lula fez nas duas últimas semanas de campanha? Ele conseguiu sair do terreno que o Alckmin queria colocar o embate – o do moralismo – e passou para o da política, através do debate das privatizações.
CO – Sem dúvida ele é um tático muito bom, não sei se é um estrategista. Não sei se ele tem, alguma coisa mais consistente por trás. Se tiver, repito, trata-se de um gênio político. Mas acho que tudo funciona através da intuição.
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CM – Com tudo isso, por que considerar a possibilidade de se votar em Lula no segundo turno?
CO – Acho que a reeleição é uma nova eleição. Os espaços que tínhamos em 2002, de outra forma, voltam a se apresentar, como a questão das privatizações. Esse era um tema proibido durante o governo Lula e ainda mais na era de FHC. Os que dissentiram foram marginalizados. Por que esse tema volta agora a ser central? Por que se abre uma nova disputa. Por isso, eu considero a possibilidade de se votar em Lula. Várias forças que atuaram dentro do PT voltam a ter chance de disputar esse governo. Estou disposto a voltar a correr esse risco, embora o governo não me agrade, seja capitalista e poderia ter avançado muito mais.
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CM – Como o sr. vê a campanha pelo voto nulo?
CO - Acho um equívoco e não por questões morais. Há um espaço que pode se alargar. Há diferenças entre o governo Lula e um possível governo Alckmin. Não espero mudanças na política econômica, ela continuará mesma. Mas há uma pequena chance de mudança. Por isso voto em Lula agora. E devemos usar oportunisticamente o fato de Lula precisar de votos agora, para colocar reivindicações que seu governo soterrou. Temos de atacar pelo lado social.
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CM - O sr. filiou-se ao PSOL e seu partido tem outra posição...
CO - Há um equívoco no PSOL neste caso. Votei no primeiro turno em Heloísa Helena. Mas logo ela começou a desandar. Ela perdeu o voto de minha mulher quando, numa entrevista para a Globo disse, sobre o tema do PCC, que multiplicaria por dez o número de prisões. Minha mulher virou-se para mim e disse: “Aqui acabou meu apoio”.
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CM – Que mudanças o sr. Espera de um futuro governo Lula?
CO - Se depender apenas das forças que apóiam Lula e da dinâmica que ele ganhou em quatro anos, não haverá mudança. Dependerá de nós, de um impulso vindo de fora.Há uma crença arraigada no Brasil de que é nos manches do estado que as coisas se solucionam. Em parte é verdade. Mas para se realizarem mudanças reais é necessário ativar a sociedade civil. Temos de incentivar muita coisa para influir. Não gosto muito de usar a expressão “movimentos sociais”, porque, fora o MST, não sei onde eles estão. Temos literalmente de encher o saco de um segundo mandato de Lula. Não podemos deixar em paz um próximo governo Lula. Se ele conseguir realizar seu projeto hegemônico com as orientações atuais, o futuro será sombrio. Teríamos de construir uma plataforma mínima, com alguns pontos básicos, como dar ao Bolsa-família o status de emenda constitucional e entrega-la à Previdência social, um dos órgãos públicos mais sérios deste país. Nas privatizações, há que se auditar e reestatizar algumas atividades. Mas eu não quero colocar condicionalidades para a votar em Lula, porque ele não vai ligar para isso. Precisamos é de uma pauta para orientar nossa ação.

Do direito de não votar
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O voto deve ser obrigatório? Dois presidenciáveis, Luiz Inácio Lula da Silva e José Serra, mais o presidente do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio de Mello, disseram na semana passada que são favoráveis ao fim da obrigatoriedade. Eu acompanho a opinião desses ilustres cidadãos, embora não necessariamente pelas mesmas razões que eles.
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Para começar, o voto compulsório tem cheiro de anacronismo. No Primeiro Mundo, apenas Austrália, Bélgica e Luxemburgo o adotam. Holanda e Áustria, cujas legislações também determinavam o comparecimento do eleitor às urnas, mudaram de idéia algumas décadas atrás.
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É claro que é complicado recorrer a exemplos externos. Em princípio, não é impossível que algo ocorra no mundo inteiro de um determinado modo, no Brasil da maneira exatamente inversa, e que o Brasil, e não o mundo inteiro, esteja certo. Precisamos, porém, reconhecer que essa hipótese tende a ser bastante improvável.
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Outra tese cara aos adversários da obrigatoriedade reza que ela favorece o voto de cabresto. Isso me parece a mais rematada bobagem. Para o coronel que manda seus peões sufragarem o candidato de seu agrado, a obrigatoriedade nada acrescenta. O trabalhador comparece ao colégio eleitoral porque o coronel assim determinou, e não a lei. Normalmente, a peãozada vive numa situação de tanta marginalidade que as sanções previstas para quem deixa de votar (multa e perda de alguns direitos, como prestar concursos públicos) não lhe dizem respeito. Isso sem falar no fato de que o Congresso invariavelmente anistia os eleitores _e de quebra também (ou principalmente) os eleitos_ em débito com a Justiça Eleitoral.
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Um pouco mais razoável me parece a idéia de que a obrigatoriedade beneficia os partidos do establishment. Como o cidadão tem de ir à urna de qualquer jeito, acaba votando nos candidatos que têm maior visibilidade, isto é, os de agremiações mais tradicionais. Seria um mecanismo que tenderia a brecar o voto inconsequente, extremista.
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Acho que o raciocínio faz sentido, mas não o compro integralmente. O que ocorreu em um ou mesmo em uma série de pleitos pode não valer para o próximo. Nada impede que, numa determinada eleição, o povo esteja tão descontente com os políticos de um modo geral que a votação compulsória acabe favorecendo um completo "outsider", um Cacareco.
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Se o contexto político é o de voto de protesto, o establishment tem muito a perder com a obrigatoriedade. É certo que a exigência legal do voto cria uma espécie de viés, mas é um viés que pode operar em diversos sentidos, dependendo de conjunções imprevisíveis dos mais variados fatores. É um fenômeno da mesma natureza da abstenção nos países em que só vai a urna quem assim o desejar só que com sinal invertido. Os australianos até cunharam uma expressão para designar o voto apático do cidadão que vai às urnas apenas para evitar complicações burocráticas: "donkey vote" (voto burro).
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Em minha opinião, o voto livre deve ser defendido por razões filosóficas e não táticas ou estratégicas. Antes de mais nada, precisamos recusar a ambiguidade direito-dever. Ou o voto é um direito ou um dever, não podendo partilhar dessas duas naturezas simultaneamente.
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Tomemos o caso de outra liberdade fundamental do Estado democrático, a liberdade de expressão. A ninguém ocorreria conceder-lhe o caráter ambíguo de direito-dever que se dá ao voto, pois fazê-lo implicaria obrigar todos os 170 milhões de cidadãos brasileiros a fazer uso da livre expressão do pensamento, queiram eles ou não, pensem eles ou não. Aqui, o disparate fica evidente.
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Poderíamos, por certo, negar ao voto a idéia de direito, classificando-o como um dever puro e simples, com o mesmo estatuto da obrigatoriedade de pagar tributos, por exemplo. Nesse caso, evitaríamos a armadilha lógica do direito-dever, mas poríamos a perder a noção de liberdade que subjaz ao conceito de direito. É uma contaminação problemática, pois, no limite, nosso voto se tornaria menos livre e, como consequência, a democracia, menos democrática.
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A distinção fundamental foi proposta, como quase sempre, por Immanuel Kant. Numa versão muito simplificada do que afirmou o filósofo de Königsberg, há duas formas de cumprir um dever. Podemos estar agindo "de acordo com o dever", ou "pelo sentido do dever". Quando respeitamos a velocidade máxima de uma estrada por medo de receber uma multa, estamos agindo "de acordo com o dever". Mas podemos também observar o limite de velocidade por acreditar que ele está de acordo com a racionalidade humana, que proporciona segurança e promove a paz no trânsito, por exemplo. Nesse caso, agimos "pelo sentido do dever". (Kant aqui seguiria até demonstrar o imperativo categórico, o princípio moral supremo, que, simplificando mais uma vez, diz "faze aos outros o que gostarias que te fizessem", mas eu paro um pouco antes).
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Quando eu deixo de correr mais por acreditar na norma do que pelo medo da multa (nem para Kant nós somos inteiramente racionais) sou mais livre do que na hipótese inversa. Estou agindo menos por interesse próprio e mais porque decidi exercer minha racionalidade. Estou atuando moralmente, o que, para Kant, é um fim em si mesmo. Mais até, é aí que reside a base da dignidade humana. Animais, diferentemente de homens, não podem escolher seguir a lei.
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Ao tornar o voto obrigatório, nós de algum modo reduzimos o grau de liberdade que existe por trás da decisão espontânea do cidadão de ir à seção eleitoral e escolher um candidato. Podemos afirmar que o voto obrigatório, constrangido pela lei, é menos moral do que o sufrágio livre, resultado da deliberação de um sujeito autônomo. E, para Kant, há uma identidade entre ser livre e ser moral.Aceitando-se a noção de que a democracia é a mais racional das formas de organização política já experimentada pela humanidade (não sei se isso é assim tão óbvio), nenhum ser racional deveria ser lembrado pela lei da necessidade de votar em seus representantes. Comparecer às urnas deveria ser, nesse cenário, uma simples consequência de carregarmos o nome Homo sapiens. Podemos dizer que a obrigatoriedade do voto nos toma, a nós eleitores, como seres não tão racionais, que precisam de um empurrãozinho da lei para fazer o que é certo. Suspeito até de que existe uma sabedoria kantiana por trás da expressão australiana "donkey vote".
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No plano filosófico, defender a obrigatoriedade do voto significa admitir que a escolha dos representantes será confiada a um bando de cidadãos não muito racionais. Se a idéia por trás do sufrágio compulsório era reforçar a democracia, não me parece que afirmar a irracionalidade do eleitor seja a melhor forma de fazê-lo. Pelo menos na teoria, a racionalidade do eleitor tem de ser um pressuposto da democracia, ou nem valeria a pena começar a jogar o jogo democrático.
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Hélio Schwartsman, 41, é editorialista da Folha. Bacharel em filosofia, publicou "Aquilae Titicans - O Segredo de Avicena - Uma Aventura no Afeganistão" em 2001.

O voto nulo
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A pedido de leitores, faço hoje algumas considerações sobre o voto nulo. Ao contrário do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que desestimula até onde pode essa prática, não vejo nenhum problema em invalidar o voto, se essa for a vontade do sufragante. Não faz nenhum sentido dar ao eleitor o poder de decidir quais serão nossos governantes e, ao mesmo tempo, querer dizer como ele deve votar. Ou ele é um cidadão pleno, capaz de tomar suas próprias decisões, inclusive a de não participar do processo político --direito, aliás, que lhe é constitucionalmente negado--, ou deveríamos desistir da democracia.
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Receio, entretanto, que já esteja me perdendo. Não pretendo discutir a obrigatoriedade do voto, o que já fiz numa coluna antiga, mas apenas sua anulação. Embora as pessoas estejam desistindo de invalidar seus sufrágios na corrida presidencial --segundo o Datafolha, a propensão a escolher o nulo ou o branco caiu de 10% em agosto de 2005 para 5% agora--, porção bastante expressiva dos eleitores pretende fazê-lo nas proporcionais. A pesquisa que foi a campo nos dias 21 e 22 de agosto mostrou que 18% dos eleitores pretendem anular seu voto para deputado federal. Em relação aos legisladores estaduais, essa proporção é de 16%.
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São cifras impressionantes quando contrastadas com a taxa de votos nulos verificada em 2002, que foi de 2,9% em cada um desses pleitos. Tal comparação, é preciso dizê-lo, coloca um problema metodológico. Não existem pesquisas semelhantes relativas a eleições anteriores. Não se sabe, portanto, se essa intenção de votar nulo para cargos do Legislativo ocorreu em outros pleitos nesta fase da campanha. De resto, ignora-se também quanto da disposição para anular o voto de fato se materializa. A urna eletrônica não tem a tecla "nulo", e o TSE jamais explica ao eleitor como ele deve proceder para invalidar seu sufrágio. (Precisa digitar um número que não corresponda a nenhum candidato, como 99, e apertar o botão "confirma").
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Embora a pesquisa não o demonstre, parece claro que tamanho desalento em relação ao Legislativo está relacionado à sucessão de escândalos envolvendo parlamentares a que assistimos nos últimos anos: anões do Orçamento, compra de votos para a reeleição, mensalão, sanguessugas, para mencionar apenas os grandes. A situação é de fato exasperante e reforça a vontade de mandar todas as "suas excelências" a um lugar cujo nome não convém escrever numa página nobre como esta.
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Não creio, entretanto, que o destempero verbal e a invalidação sejam a melhor forma de insurgir-se contra o "statu quo". Já se foram os tempos em que eu defendia o voto nulo "pela anulação do Estado".Outro ponto que exige esclarecimento é o que acontece na remotíssima possibilidade de os nulos excederem os 50%. A questão é polêmica. O que o Código Eleitoral (lei nº 4.737/65) afirma em seu artigo 224 é que "se a nulidade atingir a mais de metade dos votos do país nas eleições presidenciais, do Estado nas eleições federais e estaduais ou do município nas eleições municipais, julgar-se-ão prejudicadas as demais votações e o Tribunal marcará dia para nova eleição dentro do prazo de 20 (vinte) a 40 (quarenta) dias".
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A primeira dificuldade é tentar compreender o que significa "nulidade". Em minha modesta interpretação "nulidade" e "votos nulos" não são exatamente sinônimos. Como sabe qualquer criança que já tenha aberto um vade-mécum, nulidade é a ineficácia de um ato jurídico. No caso do voto, precisa ser pronunciada por um juiz eleitoral, como dá a entender o artigo 219 do mesmo Código Eleitoral. Ela ocorre em hipóteses como irregularidadades na mesa, no material e no horário da votação, entre outras previstas nos artigos 220 a 223 do diploma. Minha interpretação, entretanto, não tem a menor importância. Quem manda em eleições é o TSE, que tem jurisprudência firmada sobre o assunto. O problema é que há precedentes para os dois lados. O acórdão nº 3.005/2001 não só equipara nulidades a votos nulos como ainda manda que os dois sejam somados para efeitos de anulação de pleito. Já o julgamento do mandado de segurança nº 3.438, de 2006, mandou distinguir as nulidades proferidas por juiz das "manifestações apolíticas" do eleitor só considerar as primeiras. Caberia ao TSE esclarecer o quanto antes qual a regra que vale.
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O eleitor tem o direito de conhecer todas as implicações de seu voto antes de digitá-lo na urna eletrônica.Seja como for, parece-me que as chances de os nulos atingirem 50% dos votos no plano nacional ou mesmo nos Estados são mais ou menos as mesmas de o candidato presidencial do PSTU --contra burguês, vote 16-- sair vitorioso. Com o advento das urnas eletrônicas, é cadente a proporção dos votos inválidos. Em pleitos passados, o nulo chegou a representar 12% do universo; hoje está na casa dos 2%. Mesmo que generosas camadas da classe média insatisfeitas com "tudo que aí está" decidam anular seu voto, dificilmente teríamos 10% de sufrágios inválidos. Cada ponto percentual representa, no Brasil, cerca de 1,2 milhão de eleitores.
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Como já disse, cada um é dono de seu voto, e o nulo é tão legítimo como escolher representantes ou votar em branco ou mesmo faltar ao pleito e pagar a multa prevista em lei. Quem, entretanto, fizer alguns cálculos mentais rapidamente perceberá que votar nulo é a pior resposta que podem dar aqueles que estão interessados em melhorar a qualidade da representação. Se, por temer eleger picaretas, justamente os que estão mais preocupados com a ética no Congresso deixassem de votar, teríamos uma legislatura ainda menos selecionada no que diz respeito a esse critério. Em suma, como diz o adágio popular, se ficar o bicho come, se correr o bicho pega.
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Infelizmente, não existem soluções mágicas para mudar o triste panorama político do Brasil. O caminho é penoso. Precisamos insistir na democracia, cujos resultados são mesmo lentos e ainda dependem de outras iniciativas, como a punição das pessoas envolvidas nos vários escândalos a que assistimos. É bobagem falar em reforma política e outras panacéias. Embora ganhos incrementais sejam possíveis --eu não pestanejaria em acabar com o voto obrigatório, por exemplo--, não são novas leis que vão mudar a natureza de nossos governantes e parlamentares.
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Eles se tornarão melhores à medida que o eleitor os escolha melhor, o que dá trabalho e exige um longo aprendizado. Até podemos nos revoltar e anular o voto, mas isso, tampouco, resolve nada.
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Hélio Schwartsman, 41, é editorialista da Folha. Bacharel em filosofia, publicou "Aquilae Titicans - O Segredo de Avicena - Uma Aventura no Afeganistão" em 2001.

PSTU DEFENDE O VOTO NULO

Por que votar nulo
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Lula e Alckmin vão para uma disputa acirradíssima. Uma eleição que estava praticamente ganha por Lula no primeiro turno transformou-se em uma disputa apertada por dois erros grosseiros do presidente e do PT. A montagem do dossiê contra José Serra e a ausência no debate na Globo causaram um terremoto na campanha. Neste momento, mesmo os trabalhadores mais conscientes ficam na dúvida se não deveríamos apoiar Lula contra Alckmin. “Apesar de tudo, Lula era operário, e Alckmin representa a burguesia”. Ou ainda: “Lula é ruim, mas é de esquerda, enquanto Alckmin é de direita”.
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Respeitamos muito a opinião e o sentimento desses trabalhadores, mas queremos explicar por que opinamos que a classe trabalhadora não deve apoiar nem Alckmin, nem Lula, e por que defendemos o voto nulo no segundo turno.Alckmin é o candidato da direita tradicional, corrupta e antioperária...Temos em comum com muitos trabalhadores a rejeição aos banqueiros, à direita, a Alckmin e ao PSDB-PFL. Alckmin é um candidato burguês, apoiado por uma parte dos banqueiros e da direita tradicional.
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Quem se lembra do que foi o governo Fernando Henrique não pode deixar de repudiar sua nova versão com Alckmin. O tucano tem a cara de pau de se dizer “contra a corrupção” e pelo “desenvolvimento econômico”, mas é a continuidade do governo FHC, o responsável por um dos maiores (talvez o maior) escândalos de corrupção de todos os tempos. Só com as privatizações da Vale do Rio Doce e da Telebrás, o país foi roubado em cerca de 220 bilhões de reais, metade da atual dívida externa. Esse dinheiro foi enriquecer as multinacionais e os políticos do PSDB e do PFL.O “desenvolvimento” defendido por Alckmin é o modelo neoliberal do FMI, imposto pelos governos Collor e FHC e também, infelizmente, por Lula. Um projeto que destrói a soberania do país, privatiza estatais, a educação e a saúde, dá bilhões a banqueiros e grandes empresários e retira direitos e renda dos trabalhadores. ...mas Lula não representa os interesses dos trabalhadores
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A polarização entre Lula e Alckmin não é entre os trabalhadores, de um lado, e o capital, do outro. O governo de Lula, infelizmente, não governou para os trabalhadores e a maioria do povo, mas sim para banqueiros e grandes empresas. As migalhas distribuídas no Bolsa Família têm a mesma explicação e o mesmo objetivo dos programas “sociais” dos governos de direita em todo o mundo: garantir uma base eleitoral e a aceitação do modelo neoliberal.
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Querem que o povo se iluda com pouquíssima coisa e aceite um plano econômico a serviço de banqueiros, empresários e latifundiários.Não é por acaso que os banqueiros e a burguesia estão divididos neste segundo turno. Nas eleições de 2004, os banqueiros e grandes empresários financiaram tanto PT como PSDB, e agora estão apostando em Lula e Alckmin. Até Olavo Setúbal, dono do Itaú, reconheceu que ``tanto faz`` quem ganhe.Bush, o maior representante do imperialismo, segue apoiando Lula.
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No próprio governo, existem grandes representantes da burguesia e da direita, como José Alencar (dono da maior empresa têxtil do país) e Henrique Meirelles (BankBoston).Alckmin é de direita e Lula não é de “esquerda”No passado, Lula foi de esquerda, mas hoje faz um governo de direita. Como podemos definir um governo que seguiu o mesmo plano neoliberal de FHC? É de esquerda? Como definir um governo que manda tropas para o Haiti, a serviço de Bush? De esquerda? Como definir quem tem aliados como José Sarney, Maluf e Jader Barbalho? E a corrupção espantosa do governo Lula, não é a mesma da direita?
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A realidade é que tanto Lula como Alckmin são representantes da grande burguesia e da direita neste país. Apesar de Lula ter uma origem operária e de esquerda, defende os mesmos planos de Alckmin. O voto em Lula é um voto em quem vai atacar duramente os trabalhadores com as reformas trabalhista e da Previdência.Lula e Alckmin vão atacar os trabalhadores. organizar a luta!A Câmara dos Deputados já aprovou, por proposta de Lula, o decreto do Supersimples, que retira dos trabalhadores das microempresas o direito ao 13º salário e a férias. Os donos dessas empresas podem, alegando dificuldades financeiras, retirar estes direitos históricos dos trabalhadores.
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Tanto Lula como Alckmin já se comprometeram a ampliar esta reforma a todos os trabalhadores. O argumento é o mesmo usado por governos de direita em todo o mundo: “retirar estes direitos estimula os investimentos”. Uma mentira, confirmada em todos os países em que a reforma trabalhista ocorreu. Os donos das empresas embolsam um lucro maior, e não existe “desenvolvimento” a mais.
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A outra reforma, já definida tanto por Lula como por Alckmin, é da Previdência. O objetivo é elevar a idade mínima da aposentadoria para 65 anos.Há uma enorme disputa eleitoral entre Lula e Alckmin. Mas não existe nenhuma diferença em seus projetos contra os trabalhadores, porque ambos defendem as mesmas propostas exigidas pelas grandes empresas. Se Lula representasse os trabalhadores e Alckmin a burguesia, teriam diferenças em seus programas. Mas não têm.
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O voto nulo é a alternativa real Afirmamos que votar em Alckmin é aceitar a volta da direita tradicional, que está tentando se aproveitar da falta de memória do povo em relação ao governo FHC. Afirmamos que o voto em Lula é um cheque em branco para quem já demonstrou servir aos interesses dos banqueiros e está preparando um grande ataque contra os trabalhadores, caso reeleito.
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O voto nulo não indica somente a falta de alternativas eleitorais para os trabalhadores neste segundo turno. Uma grande soma de votos nulos enfraqueceria as duas candidaturas e o futuro governo eleito. Estivemos juntos com o PSOL e o PCB na Frente de Esquerda no primeiro turno das eleições, com a candidatura de Heloísa Helena. Chamamos esses partidos, assim como os militantes independentes, a afirmarem conosco a defesa do voto nulo no segundo turno.

terça-feira, 17 de outubro de 2006

Pesquisa do Instituto Datafolha:
Votos válidos
Lula - 60%
Alckmin - 40%

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De Clóvis Rossi na Folha de S.Paulo, hoje:
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"Os noticiários on-line atribuem a seguinte frase ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante o programa "Roda Viva", que foi ao ar ontem mesmo, a propósito do afastamento de Ricardo Berzoini da coordenação de sua campanha:
"Chamei o presidente do partido lá em casa e falei: eu quero saber quem fez essa burrice para não usar a palavra que estou pensando agora. Você, como presidente do partido, tem obrigação de dar uma resposta à sociedade. Ele não deu [a resposta], eu o afastei da coordenação da campanha".
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Quer dizer então que o presidente de um partido tem obrigação de saber quem fez "essa burrice" (mais que "burrice", tem toda a pinta de ser crime eleitoral) e o presidente da República (também presidente de honra do partido) não tem a obrigação de saber de nada?
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Lula usou à exaustão o argumento de que nem em família o pai, se está na sala, pode saber o que se passa na cozinha (ou qualquer outra dependência). Aí, de duas uma: ou o argumento vale também para Berzoini ou, se não vale, não serve para proteger Lula."
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Blog do Noblat

Lula, de onde é que veio o dinheiro?
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Elio Gaspari*
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Lula não deve reclamar de Geraldo Alckmin. Precisa calçar as sandálias da humildade para o próximo debate, pois afogou-se na poça de platitudes de um adversário previsível, frio como papa-defunto.
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Alckmin tem razão: "De onde é que veio o dinheiro?". O companheiro ainda não entendeu que a falta de uma resposta a essa pergunta pode lhe custar a reeleição e um pedaço da biografia.
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Lula passou os últimos quatro anos sem ouvir o contraditório. Diante dele, olho no olho, ao vivo e a cores, desconcertou-se. O peso da banda áulica no Palácio do Planalto de Nosso Guia só tem paralelo no governo do general João Figueiredo (1979-1985). A linguagem chula e a maneira destemperada como Lula trata seus colaboradores fazem de Figueiredo uma carmelita. Diz o que quer e só ouve o que quer.
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O entorno dos governantes isola-os das adversidades e das contraditas.
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O café vem como ele gosta. O assessor que carrega a toalha para enxugar o suor está sempre por perto. (Lembrai-vos do curador de almofadas para as pernas curtas do imperador etíope Hailé Selassiê.) Pode-se contar nos dedos quantas vezes um presidente é obrigado a teclar uma chamada telefônica. (Harold Wilson, primeiro-ministro inglês durante oito anos, confessou que, ao voltar à vida real, o que mais estranhou foi discar telefone.)
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Alguns, como Fernando Henrique Cardoso, têm senso de humor para rir das portas que se abrem sozinhas. Outros acreditam que porta fechada é desaforo. O livro "Viagens com o presidente", dos jornalistas Leonencio Nossa e Eduardo Scolese mostra que Lula está nessa categoria.
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O companheiro vive nesse mundo encantado e, numa bela noite de domingo, vê-se diante de Geraldo Alckmin: "De onde veio o dinheiro?".
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Lula parecia um boxeador insultado porque o adversário o atacava.
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Chegou a perder uma ficha. Para quem gosta de velharia, lembrava Muhammad Ali fazendo pouco de Joe Frazier na memorável luta de 1971.
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Frazier acertava-lhe o baço, o fígado e os rins. ("De onde veio o dinheiro?") Ali ria. Frazier batia. ("De onde veio o dinheiro?") A certa altura, Ali tomou um daqueles socos que derrubam cavalo.
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Conseguiu levantar-se, mas não havia dúvida: acontecera o impossível, Ali perdera. O jogo não terminou: anos mais tarde, com a mesma tática, Ali nocauteou George Foreman.
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Lula não fez o dever de casa. Alckmin não concluiu a venda do avião do governo de São Paulo. Fechar ministérios pode ser boa idéia, mas não equilibra orçamento. É como cortar cabelo para perder peso. Falar em aumentar os investimentos cortando a corrupção avaliada pelo FMI em 3,5 bilhões de dólares é retomar uma ladainha petista. Era esse o remédio que Marta Suplicy oferecia para sanear as finanças de Maluf. O bordão prometia "fechar as torneiras da corrupção".
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Nosso Guia confundiu-se ao contar que barateou o preço dos computadores de consumo popular. Não conseguiu sequer falar bem de si além dos limites do "nunca neste país". O estilo "deixa comigo" revelou-se desastroso. Não foi Alckmin quem bateu demais, foi Lula que não soube fazer outra coisa senão apanhar.
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Faltam menos de duas semanas para a eleição: "De onde veio o dinheiro?".
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Uma coisa é reeleger um presidente que não sabe de onde veio o ervanário que mercadejava o dossiê Vedoin. Muito outra é reeleger um candidato que se aborrece quando alguém lhe faz essa pergunta.
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*Jornalista, Correio do Povo, 11/10/2006