sábado, 31 de janeiro de 2009

Caso Battisti - E que esperava o ministro Tarso?

De Mino Carta:

Consta que Cesare Battisti há anos escreve romances policiais. Arrisco que o melhor é sua própria história. Concluída pelo happy ending de filme hollywoodiano, graças ao governo brasileiro, disposto a atender aos apelos da gauche caviar, como se diz em Paris, a dos representantes do chique radical.

Recordo um programa do rádio brasileiro que me encantava a adolescência, contemporâneo da PRK 30 de Lauro Borges e Castro Barbosa, de uma graça hoje inconcebível. Era o contraponto de outro programa, grave e compenetrado, conduzido por um locutor chamado Gastão, a quem cabia entrevistar o doutor Leite de Barros para evocar casos remotos e próximos de crimes memoráveis. A conclusão vinha pela voz de barítono do doutor: “Sim, Gastão, o crime não compensa”. A história de Battisti teria de seguir pelo rumo oposto.

O APRENDIZADO. Há uma ficha detalhada da polícia italiana de um jovem cidadão nascido em Cisterna Latina, região do Lazio, em 1954. Aos 18 anos, a 13 de março de 1972, Cesare é preso pela primeira vez por furto agravado. Dois anos depois, a 19 de junho, preso novamente por lesões pessoais agravadas. Preso ainda a 2 de agosto de 1974, por rapina agravada e sequestro de pessoa. Denunciado a 25 de outubro do mesmo ano por desfrutamento de incapaz (por debilidade mental ou menoridade) para a prática de atos libidinosos. Preso em Udine, norte da Península, em 1977, por rapina. Admitamos, não é uma ficha enaltecedora do caráter e das tendências de qualquer um.

A CONVERSÃO. No cárcere de Udine, Battisti conhece Arrigo Cavallina, preso por eversão, que o doutrina a respeito dos objetivos da luta revolucionária. O nosso herói encontra uma grande motivação. Sai da prisão ainda em 1977 e passa a militar no PAC, Proletariados Armados para o Comunismo. Primeira ação revolucionária: a 6 de junho de 1978, Battisti e sua namorada da época, Enrica Migliorati, universitária de 20 anos, assassinam Antonio Santoro, carcereiro na prisão de Udine, na porta de sua casa. Atingido nas costas, quem atira é Battisti. Santoro deixa mulher e três filhos. Por ocasião de um interrogatório, ex-noiva de Battisti, Maria Cecilia B., atualmente professora universitária, declarou: “Na primavera de 1979, Battisti, ao descrever a sensação experimentada ao matar alguém e, sobretudo, ao ver sair o sangue de um homem baleado, referiu-se ao assassínio de Santoro para se declarar um dos seus autores”.

O ASSASSINO E O ARREPENDIDO. Seguem-se os demais assassínios que levam à condenação de Battisti, julgado à revelia. A 16 de fevereiro de 1979, do joalheiro Pierluigi Torreggiani (cuja joalheria foi assaltada e depenada em nome de uma “expropriação proletária”) e do açougueiro Lino Sabbadin, ambos réus por terem morto a tiros dois assaltantes. A 19 de abril, morre debaixo dos tiros do PAC o agente Andrea Campagna. Pouco mais de dois meses após, Battisti é preso em Milão. Mais dois anos. A 4 de outubro de 1981, um commando terrorista ataca o cárcere de Frosinone, onde Battisti se encontra, e ele evade, em companhia de um camorrista.

AS FUGAS. Battisti foge para a França, depois para o México, enfim volta a Paris em 1990, onde em novembro é preso ao preparar uma rapina. Libertado em abril de 1991, alega sua condição de refugiado político e se vale da chamada Doutrina Mitterrand, que oferece abrigo a este gênero de foragidos, ditos políticos. Caduca a Doutrina com o advento de Chirac, e em 2003 a Itália solicita novamente sua extradição. A 10 de fevereiro de 2004 é preso novamente, um ano após é destinado à prisão domiciliar. Em seguida, a Justiça francesa dá sinal verde para a extradição. É quando ele foge para o Rio de Janeiro, ponto final de criminosos verdadeiros e de ficção, a 21 de agosto de 2004. Para enfim cair nas malhas da polícia brasileira, a 18 de março de 2007. É material para um enredo de cortar o fôlego. Muito instrutiva para entrar nos detalhes a leitura de uma reportagem assinada por Giacomo Amadori na revista Panorama, edição 29/1.

A AFRONTA. De saída, uma pergunta: compete a um ministro da Justiça de um país democrático contestar a sentença passada em julgado do tribunal de outro país democrático? Esta pergunta aqui já foi formulada, mas vale repeti-la, a bem da razão e do direito internacional. Digamos que o processo que condenou Battisti sofra de vícios irreparáveis. Quem é, porém, o ministro da Justiça do Brasil, a não ser aos olhos dos patriotas de ocasião, para afrontar o Estado de um país amigo e democrático que ostenta uma tradição jurídica milenar?

Estabelecida a premissa, outras considerações se avolumam. Os argumentos da decisão brasileira são insustentáveis, em primeiro lugar porque provam a ignorância da história recente da Itália e peremptoriamente negam a capacidade do Estado italiano de proteger seus carcerados. Trata-se de ofensa gravíssima, e ao ser praticada demonstra, além da desinformação, a insensibilidade política e diplomática. Não vale a pena insistir na inconsistência das motivações. Vale, entretanto, registrar que um dos argumentos brandidos alude a um delator sumido debaixo de identidade falsa, que jogou lenha na fogueira para salvar a própria pele. Pois Pietro Mutti, o arrependido, não desapareceu depois de oito anos de cárcere, e hoje é um operário com identidade intacta, disposto a insistir na sua denúncia, como relata Amadori na Panorama.

Já Arrigo Cavallina, aquele que converteu Battisti à causa do PAC, recusou-se ao arrependimento, mas hoje afirma: “A meu respeito, Mutti disse coisas substancialmente verdadeiras, não entendo por que teria de denegrir Battisti. Quando ouço que o Cesare faz o papel de vítima do outro lado do mundo, tenho de sorrir”.

Outro argumento demolido pela reportagem de Panorama é o de que Battisti não teve assistência judicial correta. Muito pelo contrário, sempre teve em todas as ocasiões, na Itália e na França, sem contar a qualidade de promotores como Pietro Forno e Armando Spataro. Este define Battisti como “assassino puro”.

A REAÇÃO DA ITÁLIA. Aqui não há surpresas. A afronta não foi perpetrada contra um governo, contingente como todos os governos democráticos, e agora entregue a uma figura medíocre, caricata e, segundo CartaCapital, voltada exclusivamente para os seus interesses pessoais de homem mais rico da Itália. Não é por acaso que quem escreveu para o presidente Lula foi o presidente Giorgio Napolitano, ou seja, o representante do Estado em um país de regime parlamentarista. Como temíamos, a crise diplomática fermenta e Roma retira seu embaixador no Brasil, Michele Valensise. Em outros tempos uma decisão deste porte seria prenúncio de guerra, mas hoje é pelo menos muito grave.

De certa forma, um esclarecimento em relação ao revide italiano vem nas declarações do chanceler Franco Frattini, ao afirmar que “Battisti não merece o status de refugiado”. E acrescenta que o Brasil “é país amigo da Itália desde sempre”, donde o espanto e a repulsa. A Itália não esperava por esta atitude do Brasil, “daí a reação tão grave”, esclarece Frattini.

Aprovada, diga-se, de um lado a outro do cenário político italiano. Walter Veltroni, comunista histórico das levas mais recentes e líder do Partido Democrático, de oposição a Berlusconi e herdeiro do PCI, propõe uma “moção comum” do Parlamento “porque, neste caso, o país deve ficar unido”.

OS FINALMENTES. Nos próprios corredores do Planalto admite-se a possibilidade de que o Supremo venha a declarar inconstitucional a decisão do ministro da Justiça. Neste caso, a questão teria de ser administrada diretamente pelo presidente da República. Lula seria capaz de voltar atrás? A considerar os eventos que se seguiram ao anúncio da extradição negada, CartaCapital tem sérias dúvidas a respeito.

Um caminho a ser seguido pela Itália, o de recurso à Corte de Haia, já está a ser definido, e o tribunal internacional seria solicitado por “violação dos direitos humanos”, fórmula perigosa porque, se aceita, não deixaria de criar sérios embaraços para a política exterior brasileira. A Corte, faz dois anos, manifestou-se a favor da extradição.

Não nos tira o sono o cancelamento da viagem do premier Berlusconi ao Brasil, antes agendada para março próximo. Pesam mais as considerações da The Economist, na sua última edição. Diz o semanário mais influente do mundo que as razões apresentadas “para proteger Battisti” não convencem e define como “anacrônica” a tradição do País de dar asilo a figuras contraditórias como Alfredo Stroessner e Oliverio Medina.

Enfim, toca em um ponto que coincide com o pensamento de CartaCapital: como é possível que o governo abrigue um ex-terrorista, e tanto mais alguém que cometeu seus crimes à sombra de um disfarce ideológico, enquanto teme punir os torturadores do Terror de Estado gerado pela ditadura?

Permanece o mistério: por que o Brasil negou a extradição? Arriscamos um palpite: Battisti serve a uma manobra para recompactar o PT, estilhaçado por refregas internas, recentes e nem tanto, na perspectiva das eleições de 2010.

VENEZUELA Vs COLOMBIA; Hugo Chavez Vs Uribe (PARTE 6 de 10)

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Por que o espectro de Trotsky ronda o mundo?

Escrito por Mário Maestri
14-Jan-2009


Uma resposta a Miguel Urbano Rodrigues (1).

Em 21 de agosto de 1940, quando Trotsky morria assassinado, o movimento que organizara pela revolução mundial e contra a burocracia stalinista bordejava o imenso buraco negro que seus opositores lhe haviam aberto. Durante a Segunda Guerra e nos anos que a sucederam, as já desmilingüidas fileiras da apenas-fundada 4ª Internacional foram quase varridas da Europa pela repressão burguesa e stalinista.

A contribuição da população soviética e do operariado comunista europeu na vitória sobre o fascismo cobriu de prestígio a direção stalinista. Em março de 1953, quando Stálin morreu, as forças contra as quais Trotsky combatera viviam verdadeiro apogeu. Multidões de populares desfilaram diante do corpo do "Pai dos Povos" enquanto jorravam elogios mundiais de acólitos. As direções stalinistas dirigiam a URSS, a China, o Leste Europeu e milhões de trabalhadores no coração e na periferia do capitalismo.

Nesse então, os poucos milhares de militantes trotskistas que continuavam denunciando políticas que apontavam como suicidarias para os trabalhadores seguiriam sendo caluniados, reprimidos, assassinados. A construção de movimento revolucionário em momento de expansão do capitalismo, sem raízes orgânicas com o grande operariado, sob o tacão do prestígio stalinista, sem dirigentes fogueados nos confrontos da primeira metade do século, mostrava-se missão quase impossível.

O humilde túmulo com a foice, o martelo e o nome Trotsky, no jardim da pequena morada transformada em bunker na periferia da capital mexicana, era metáfora da agonia que vivia uma memória e um ideário que nas décadas seguintes interessariam talvez apenas a historiadores. Uma pregação que parecia destinada ao culto de grupinhos de sectários atraídos pelo calor decrescente obtido na adoração passiva de ideal que refulgira no passado.

O homem põe, a História dispõe

Às portas dos setenta anos da morte de Trotsky, a história arranjou-se para que seu ideário galvanize centenas de milhares de ativistas sociais, jovens e adultos, estudantes, intelectuais e trabalhadores, enquanto que o representante das práticas que combateu, desacredito, encontre apenas raros defensores oblíquos, disfarçados e envergonhados. Singular inversão que se materializou em menos de três dramáticas décadas. Na França, as organizações trotskistas já superam o antigo poderoso PCF, sob o perigo da extinção. Em 2007, seu candidato à presidência obteve 1,93% dos votos. Na Itália, militantes inspirados no ideário de Trotsky defendem em crescente número e destaque a herança liquidada por um PCI transformado em braço do capitalismo e imperialismo.

Em artigo recente, "Apontamentos sobre Trotsky – O mito e a realidade", Miguel Urbano Rodrigues registra a perplexidade da geração de comunistas educada sob a pesada sombra do PC Russo diante da incrivelmente "tenaz sobrevivência (...) do nome e de algumas teses" de Trotsky "no debate de idéias contemporâneo". Miguel Urbano é velho e brilhante intelectual do pequeno e combativo Partido Comunista Português que, com reais vínculos com a diminuta classe operária lusitana, resistiu com brio à degringolada colaboracionista eurocomunista, sem realizar, entretanto, a catarse de heranças e práticas que contribuem para mantê-lo no isolamento relativo. Fundado em 1921, nas eleições legislativas de 2005, o PCP obteve 7,60% dos sufrágios.

O ensaio de Miguel Urbano de explicação do crescente prestígio de Trotsky e da multiplicação de seus seguidores repete a tradicional pragmática stalinista, apenas depurada das suas mais esdrúxulas excrescências. A apologia de Trotsky seria obra, sobretudo, de "intelectuais burgueses" interessados em "combater a URSS" e a "herança da Revolução de Outubro". O combate que lhe deu o stalinismo contribuiria também a esse reconhecimento! Como pouco se lê, pouco se reedita, pouco se publica sobre Trotsky, seu prestígio seria simples mitificação, na qual incorreriam especialmente trotskistas em sua maioria "pequeno-burgueses enraivecidos" que, logo "voltam a integrar-se ao sistema após uma breve militância pseudo-revolucionária".

Se a calúnia e a repressão aos trotskistas resultassem em difusão e apoio, a Rússia seria hoje a pátria da 4ª Internacional, tamanha a sanha stalinista contra a memória do construtor do Exército Vermelho e seus seguidores na antiga URSS! Apenas no Brasil, onde são escassas as edições marxistas, entre outras obras, foram recentemente reeditadas a biografia de Isaac Deutscher (Civilização Brasileira), a Revolução Permanente (Expressão Popular), a História da Revolução Russa (Sandermann), Literatura & Revolução (Zahar). Movimento editorial substancialmente ainda mais dinâmico em países como a França, Itália, Espanha, Alemanha, Argentina.

A afirmação de Miguel Urbano que sobre "o homem e a (sua) obra não foram nas últimas décadas publicados livros importantes que acrescentem algo de significante aos produzidos pelos seus biógrafos, nomeadamente a trilogia do historiador Isaac Deutscher" (1907-1967), deve-se à ignorância do jornalista que, sintomaticamente, constrói seu artigo, sobretudo, apoiado na obra do historiador polonês dos anos 1950-60. E sem qualquer referência à monumental biografia do historiador marxista Pierre Broué (1926-2005), de 1988, autor igualmente de, entre outros, Communistes contre Staline: Massacre d'une génération (Comunistas contra Stalin: o massacre de uma geração), de 2003. Esta afirmação de Miguel Urbano, como a sobre a escassa reedição de obras de Trotsky, devem-se certamente a uma espécie de cegueira seletiva.

Pro outro lado da trincheira

Não há dúvidas que nos últimos anos alguns militantes de destaque se mudaram de mala e cuia para o outro lado da trincheira, após militâncias não tão breves em organizações trotskistas. Talvez o caso mais célebre seja o do ex-primeiro-ministro francês Lionel Jospin, antigo militante lambertista infiltrado no Partido Socialista. No Brasil temos também algumas dezenas de semelhantes trânsfugas, que pularam a cerca para se entregarem aos doces prazeres da gestão do poder, participando gostosamente nos governos neoliberais de Lula da Silva, com destaque para Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda, e Luís Gushiken, também lambertistas.
Igual trajetória percorreu a imensa maioria dos dirigentes dos partidos comunistas burocratizados do Oriente e do Ocidente, que abandonou a trincheira momentos antes e, sobretudo, durante a maré contrarrevolucionária vitoriosa dos anos 1980. Porém, nas filas stalinistas, a traição/deserção não foi fenômeno individual, mas movimento social de centenas de milhares de burocratas russos, ucranianos, poloneses, húngaros, iugoslavos, chineses etc., que participaram ativamente do processo de restauração capitalista e canibalização das riquezas sociais, passando a constituir um dos eixos centrais da nova classe proprietária. Nos partidos comunistas ocidentais não foi diferente. Apenas um exemplo excelente. Massimo D’Alema, o jovem ex-dirigente do PCI, participou à cabeça do governo italiano do ataque militar imperialista ao pouco que sobrava da antiga federação iugoslava. Hoje, com pouco mais de oitenta anos, Miguel Urbano certamente conheceu e conviveu com boa parte dessa direção vira-casaca, à qual negou-se a seguir, perseverando em seus compromissos.

Sempre segundo o articulista, o prestígio de Trotsky se deveria principalmente à mitificação sobre seu papel na Revolução Russa empreendida por ele mesmo e por autores e historiadores, sobretudo, trotskistas. "Duas obras do próprio Trotsky e a trilogia de Deutscher (...) funcionaram também como estímulos na fabricação do mito." Para comprovar sua tese, dedica a maior parte de seu artigo à demonstração de que Trotsky e Lênin divergiram fortemente antes de 1917 e diversas vezes após a Revolução, com destaque para a Paz de Brest-Litovski e as polêmicas sobre os sindicatos e a Gosplan (Comitê Estatal de Planejamento).

Para o jornalista português, seria igualmente despropositada não apenas naquela literatura a apresentação de Lênin e Trotsky como os dois principais dirigentes revolucionários russos. "(...) a tentativa dos seus epígonos e de historiadores burgueses de guindá-lo a ‘companheiro de Lênin’, colocando-o ao nível do líder da Revolução, falseia grosseiramente a história." Miguel Urbano denuncia, portanto, a "idealização de Trotsky" (revolucionário de segunda linha, em relação a Lênin), definindo-o, direta ou indiretamente, como homem "vaidoso", "arrogante", "orgulhoso", "autoritário" e, segundo Lênin, "canalha", "oportunista" e "conciliador".

Miguel Urbano impugna a "mitificação" de Trotsky e denuncia a "diabolização" de Stálin, para ele, dirigente revolucionário de alto coturno, ao qual literalmente canoniza: "(...) revolucionário cuja contribuição para a transição do capitalismo para o socialismo na União Soviética foi decisiva. Sem a sua ação à frente do Partido e do Estado, a URSS não teria sobrevivido à agressão bárbara do Reich nazi, sem ela a pátria de Lênin não se teria transformado em poucas décadas na segunda potência mundial, impulsionando um internacionalismo que apressou a descolonização, incentivou e defendeu revoluções no Terceiro Mundo e estimulou poderosamente a luta dos trabalhadores nos países desenvolvidos do Ocidente."

História e luta de classes

A compreensão das razões pelas quais o espólio de Trotsky segue galvanizando os que combatem a opressão capitalista não se encontra no exame pontilhista de sua trajetória antes e durante a Revolução Russa, tendo como padrão referencial absoluto um Lênin idealizado e mitificado. Lênin e Trotsky, os dois maiores dirigentes daqueles embates, divergiram forte e duramente em muitíssimas ocasiões, com destaque para os anos anteriores à Revolução. As desqualificações que voaram de um lado ao outro, entre os dois, e dos dois com boa parte dos dirigentes políticos de então, registram a dureza da discussão e vertente cultural não muito sadia da época. O prosseguimento da história terminou comprovando quem tinha razão, quem se enganara nos diversos embates e que o denominador comum entre ambos foi sempre a luta intransigente em defesa dos oprimidos.

Lênin destacou-se como o principal teórico do partido revolucionário, destacamento político e orgânico das classes trabalhadoras, em geral, e de seus segmentos industriais avançados, em especial, construído para o assalto ao poder burguês e consolidação da ordem socialista. Sua contribuição sobre o centralismo democrático e a ditadura do proletariado é fundamental à sociologia revolucionária. Lênin foi sempre, sobretudo, homem de partido e de organização. A sua compreensão tardia de que apenas a revolução socialista consolidaria as conquistas democráticas na Rússia czarista ensejou que boa parte de sua publicística anterior a 1917 seja de difícil leitura e compreensão, exigindo comumente uma complexa contextualização histórica.

A história demonstrou que Trotsky não avaliou corretamente a importância do partido no assalto ao poder. Sua convergência com os bolcheviques constituiu também autocrítica nesse relativo. A seguir, abraçaria explicitamente as contribuições de Lênin quanto à organização partidária. Sua incompreensão parece ter nascido igualmente da forma de entender a sociedade. Na sua ação e interpretação dos fenômenos sociais, enfatizou sempre o movimento das massas trabalhadoras. Para ele, a revolução foi sempre processo de construção das condições objetivas e subjetivos de poder no seio das massas exploradas. Visão que contribuiu poderosamente para sua definição precoce e pioneira do caráter socialista da revolução russa.

Na mais pura tradição marxista, Trotsky não via saúde social e política fora da materialidade das classes trabalhadoras em movimento. A visão leninista da revolução abraçava esse princípio, sem a mesma ênfase e a mesma sensibilidade. Porém, se a visão leninista da revolução enfatizava a organização partidária, a própria esquerda stalinista obliterou fortemente o caráter determinante do movimento vivo dos trabalhadores e a necessidade de sua expressão plena nos aparatos partidários e jamais substituição pelos mesmos. Na interpretação de Miguel Urbano não há aceno aos fluxos e refluxos da revolução mundial no século 20, que enquadraram/determinaram os fatos que analisa.

O princípio e o fim

Olvidando o movimento vivo das classes como o alfa & ômega da história, Miguel Urbano eleva Lênin – e com ele o partido – à figura de perfeição lapidar, transformando-o em verdadeiro deus ex-machina da história. Para ele, Vladimir Ulich era "genial", "excepcional", "habilidoso", a tal ponto possuidor das qualidades revolucionárias que seria impossível pensar a unidade partidária sem ele. "Essa unidade na ação e no pensamento, mesmo entre os membros da velha guarda bolchevique, desapareceu quando Lênin morreu. Sem ele, era impossível." Proposta de inexorável divisão dos bolcheviques, pois Lênin, ser humano, cedo ou tarde, morreria. Substituição dos trabalhadores na construção da história por protagonistas magníficos, registrada já na proposta de que sem Stálin a "URSS não teria sobrevivido à agressão" nazista e se transformado "em poucas décadas na segunda potência mundial".

Trotsky foi dirigente revolucionário de destaque, como Lênin, sendo até a conclusão da revolução de 1917 mais conhecido do que o último no exterior. Não foi por azares da sorte que presidiu o soviet de Petrogrado na Revolução de 1905 e de 1917. Apesar dos ataques incessantes stalinistas, sua posição referencial deve-se também a outros fenômenos, entre eles a sua indiscutível habilidade como teórico, orador e escritor, que lhe permitiu socializar maciçamente, sob a forma de obras teóricas e históricas magistrais, a memória da Revolução Russa. A excelência de seu ‘1905: balanço e perspectivas’, escrito inicialmente em 1906, quando tinha 26 anos, registrava já as qualidades que lhe permitiram produzir trabalhos da dimensão de ‘A história da Revolução Russa’ (1930-32), obra referencial sobre 1917, na tradição das monumentais histórias da Revolução Francesa de Jules Michelet (1798-1874) e Kropotkine (1842-1921). Devido a sua morte prematura e características individuais, Lênin não deixou obras semelhante, capazes de serem lidas à margem de esforço militante ou acadêmico.

A atualidade de León Trotsky deveu-se especialmente à sua compreensão precoce dos perigos e das raízes sociais da burocracia na URSS, vetor da expropriação da direção política da URSS aos trabalhadores. Realidade intuída tardiamente por Lênin, nos meses e semanas anteriores ao seu falecimento. A carta de Lênin de dezembro de 1922 é incorretamente apresentada como "testamento", pois ele jamais deixou documento de tal caráter, ao possivelmente não acreditar-se tão próximo do fim. Seu rompimento final com Stálin deu-se devido ao modo inaceitável com que tratara Natália Krupskaya (1869-1939), importante dirigente bolchevique e sua esposa. Lênin possivelmente acreditava que continuaria ainda por algum tempo arbitrando as fricções no partido, das quais não avaliou plenamente a gravidade e o sentido social.

Grande parte da produção teórica de Trotsky deu-se no contexto do combate à burocratização da URSS, sobretudo após a morte de Lênin. É dolorosa a leitura atual do ensaio ‘Novo Curso’, de 1923, devido à sua extrema lucidez sobre as raízes e os malefícios da perda da direção da URSS pelo proletariado, deslocado pelo aparato burocrático. Fenômeno que passou a exigir revolução política que devolvesse o poder aos trabalhadores em Estado em que a propriedade já fora expropriada. Um ensaio que ampliava a visão de Lênin do partido, ao reafirmar que sua essência dependia da capacidade de organizar e expressar as grandes massas trabalhadoras em geral e o moderno proletariado industrial em especial. Entre outros trabalhos, a crítica de Trotsky à burocratização da URSS foi ampliada em ‘A revolução traída’, de 1935, reeditada em português em 2008 pela Centauro, que acaba de publicar igualmente ‘A revolução desfigurada’.

A cola da burguesia

A longa pregação sobre a necessária revolução social no Ocidente e política no Oriente constitui certamente a grande razão do crescente renascimento do interesse sobre Trotsky, quando da dolorosa concretização de seus terríveis prognósticos sobre a destruição dos Estados de economia nacionalizada e planejada, enfraquecidos pela ditadura de burocracias parasitárias. Devido à atualidade desse ideário, a burocracia soviética da era Gorbatchev reabilitou praticamente todos os bolcheviques perseguidos e assassinados pela direção stalinista, à exceção de León Trotsky e seus mais próximos seguidores, pois seguiam apontando para a necessidade da devolução plena do poder aos órgãos soviéticos como única forma de barrar o caminho à vitória da contrarrevolução e do restabelecimento do capitalismo.

Uma terceira grande razão da atualidade de Trotsky foi sua mobilização permanente pela independência do mundo operário; sua denúncia da submissão dos trabalhadores aos setores ditos progressistas da burguesia (frente popular); sua oposição visceral à proposta de superação gradual da ordem burguesa sem a destruição de seu Estado. Políticas transformadas em práticas oficiais dos partidos comunistas, devido às necessidades diplomáticas egoístas e imediatistas da direção soviética burocratizada. Propostas que ensejaram derrotas históricas ao movimento revolucionário na Alemanha, França, Espanha, Itália, Brasil etc. e, nas últimas décadas, a dissolução e metamorfose dos partidos comunistas em agentes do grande capital e do imperialismo. Uma pregação e um ideário plenamente vigentes nos atuais e difíceis dias que vivemos.

A recuperação do stalinismo e de Stálin realizada por Miguel Urbano sequer necessita resposta. O literal massacre físico de praticamente toda a geração bolchevique dirigente de 1917, com destaque para o Comitê Central de Lênin; o descrédito em que lançou a idéia do socialismo e do comunismo; o descalabro a que a URSS foi exposta, no início da II Guerra, pela purga de dezenas de milhares de oficiais soviéticos e confiança depositada na paz pactuada com o nazismo; os malefícios da coletivização forçada dos campos; a traição à revolução espanhola, balcânica, européia etc.; a redução do movimento comunista a simples cola das burguesias ditas democráticas; a expropriação do poder aos trabalhadores nos países operários etc.. Foram todas políticas que levaram à destruição das conquistas de 1917, quando o dinamismo da nacionalização e planejamento da produção não conseguiu mais se sobrepor ao peso do parasitismo nacional-burocrático, como já sugerira Trotsky desde 1923!

O trotskismo constitui apenas a última extensão orgânica de um grande teórico e dirigente revolucionário dos ensinamentos acumulados na primeira metade do século 20. Nesse sentido, o ideário de León Trotsky constitui essencialmente uma valiosa ampliação das ideias e lutas de Marx, Engels, Rosa Luxemburgo, Karl Liebknecht, Lênin, Gramsci etc., em uma nova e difícil conjuntura histórica. Sobretudo com a crise e dissolução das propostas políticas stalinistas, maoístas, titoístas, foquistas, torna-se de certo modo desnecessário o qualificativo trotskista - inventado originalmente pelos stalinistas - ao constituir um certo entrave à necessária reunificação dos comunistas revolucionários em um movimento mundial pela reconstrução da sociedade centrada nos valores, práticas e ações revolucionárias e democráticas do mundo do trabalho.

Mário Maestri é historiador.

E-mail:
maestri@via-rs.net

Titica de galinha

Escrito por Osiris Lopes Filho
28-Jan-2009

Meus amigos, neste início de ano estou impregnado do sentimento de paz e amor. Realmente, a nossa realidade injusta, muitas vezes cruel, desumana, tem de mudar. Pacificamente, sem derramamento de sangue, sem violência. Fazer a revolução que o país necessita, para a libertação da espoliação do povo, sem grandes sacrifícios. Sem paredón.

País dotado de tremendas contradições, a revolução aqui pode ser diferente. Será a de cumprir a Constituição, principalmente quando ela estabelece princípios e regras direcionadas à libertação do povo da espoliação a que tem sido historicamente submetido.

Há na Constituição a previsão de orientações e diretrizes, que representam conquistas da cidadania e de proteção dos explorados contribuintes, melhor designados como padecentes tributários. Infelizmente, não têm tido eficácia. Foram inseridas no corpo constitucional, configuram inegável conquista civilizatória, mas não têm funcionado. Lá estão quase como letra morta, faltam-lhe aplicação, concretude e executoriedade.

É o caso do princípio da personalização do imposto, inserido no art. 145, parágrafo primeiro, da Constituição. É fundamental e consta do início da disciplinação do sistema tributário, e falta-lhe vitalidade e pujança para influenciar a disciplinação dos impostos.

A incorporação da personalização a um determinado imposto significa que a lei que o disciplina deve consagrar critérios que estabeleçam como relevantes para o seu cálculo e determinação peculiaridades ou características aplicáveis e pertinentes ao seu universo de contribuintes.

O imposto por excelência suscetível de ser influenciado por tal princípio é o imposto de renda, em especial o que incide sobre as pessoas físicas. Daí as diversificadas formas de fatores a serem utilizadas para o seu cálculo.

Há nele uma pluralidade de isenções e não-incidências, mas é nas deduções que se materializam as hipóteses que representam concretamente a personalização desse imposto. Há deduções que são necessárias à produção dos rendimentos, caso da contribuição previdenciária, em relação aos empregados e aos servidores públicos; e as que consagram despesas consideradas socialmente úteis e relevantes, como a de dependentes, de despesas médicas e de instrução. Infelizmente, a tendência histórica tem sido a de amputá-las, e não a de ampliá-las. Já foram sepultadas ao longo da trajetória do imposto de renda as deduções de juros de despesas pessoais, seguro de vida e de acidentes pessoais, despesas com a compra da casa própria, gastos com o pagamento de aluguel, aquisições de livros técnicos e material científico para profissionais liberais e autônomos.

Tem predominado uma cupidez arrecadatória no Executivo federal. Tão exacerbado tem sido esse apetite arrecadatório que o seu símbolo, que o identificava ao rei dos animais – o leão –, tem sido esmaecido, de tal modo que, ainda se concentrando no reino animal, a galinha o representa com mais propriedade. Paulatinamente, de grão em grão, vai se enchendo o papo; seu vôo é curto, pega apenas a classe média e trabalhadora, a sua base de operação é o poleiro, com todos os sedimentos que o compõem.

A dedução com base em despesas de educação minguou tanto - ao excluir os gastos com material didático e livros escolares, e as despesas com transporte e uniforme escolar -, submetida a mesquinho e irreal limite, que a reduziu a faz-de-conta, em face da peculiaridade da nossa vida social. Dificuldades salariais forçaram a migração da classe média para a escola pública, que é gratuita. As citadas exclusões retiraram a importância dessa dedução, sem objeto para imensa maioria dos contribuintes. Essa dedução tornou-se um eunuco tributário. Inadequada às necessidades da vida moderna, que exige especialização e conhecimento para enfrentar os desafios do mercado de trabalho. Foram retirados também os cursos de especialização em línguas e em outras áreas. Adotou-se como exigência para configurar tais gastos despesas com os cursos de 1º, 2º e 3º graus, ditos formais pelas autoridades.

Neste início de ano, com vultosas despesas nesse campo educacional, o contribuinte do imposto de renda poderá avaliar a inadequação dessa dedução à sua realidade existencial e tributária.

Algum leitor poderá contradizer-me lembrando que a lei nº. 11.324, de 2006, instituiu a dedução da contribuição patronal, paga à previdência pelo empregador doméstico, incidente sobre o valor da remuneração do empregado. Tantas são as limitações que seu resultado é inexpressivo para reduzir o imposto. Começa que sua vigência dar-se-á até o ano-calendário de 2011, abrange apenas um empregado e será calculada sobre o valor de um salário mínimo mensal e do adicional de férias, também referido a um salário mínimo.

Não há grandeza nessa dedução, mas predomínio do apetite arrecadador, medida instituída por fisco-galinha que, evidentemente, fornece titica para os contribuintes.

Osiris de Azevedo Lopes Filho é advogado, professor de Direito na Universidade de Brasília (UnB) e ex-secretário da Receita Federal.

Carlos Alberto Montaner - 13/03/08

Jango em 3 atos

Discurso de João Goulart aos chineses 1961

Darcy 9 - Roda Viva - Final

Darcy Ribeiro - Roda Viva - 8ª Parte

Darcy Ribeiro - Roda Viva - 7ª Parte

Darcy Ribeiro - Roda Viva - 6 ª Parte

Darcy Ribeiro - Roda Viva - 5ª Parte

Darcy Ribeiro - Roda Viva - 5ª Parte

Darcy Ribeiro - Roda Viva - 2ª Parte

Darcy Ribeiro - Roda Viva - 4ª Parte

Darcy Ribeiro - Roda Viva - 3ª Parte

Darcy Ribeiro - Roda Viva - 1 ª Parte

Legados da democracia

Houve dois momentos marcantes da minha atuação política de estudante universitário durante o regime militar: o movimento vitorioso da Anistia em 1979 e a campanha das Diretas, Já! em 1984. O primeiro acontecimento, justamente o que permitiu o retorno das esquerdas à atividade política e ensejou a criação do próprio PT, agora os lulistas tentam desconstruir. Quanto ao segundo, destinaram indiferença às comemorações dos 25 anos da maior e mais apaixonante mobilização política nacional do século passado.
O objetivo certamente foi o de tentar apagar da memória histórica os nomes que lideraram o retorno do Brasil à democracia quando o presidente da República era um radical coadjuvante. Isso é ciúme político retroativo de quem imagina ter começado a história brasileira com a Era Lula e não admite que o movimento liderado por Ulisses Guimarães, Franco Montoro, Teotônio Vilela, FHC, Brizola e José Serra, entre outros, permitiu que os petistas ascendessem ao poder menos de duas décadas depois.
Foi absolutamente frustrante o momento em que a Emenda Dante de Oliveira não conseguiu os votos suficientes na primeira votação na Câmara dos Deputados. A rejeição das Diretas, Já! foi a última vitória política dos militares. Por outro lado também os desmoralizou e significou pá de cal nas pretensões de esticar o regime por intermédio de um presidente civil escolhido pelo Congresso Nacional. O movimento das Diretas não passou no Parlamento, no entanto empurrou o País definitivamente para um regime de liberdade.
A democracia fez um bem extraordinário ao Brasil. Temos uma Constituição relativamente rígida que, apesar dos inomináveis excessos e bobagens, garante a plenitude do Estado de Direito. No plano econômico, a estabilidade da moeda e o controle da inflação são um patrimônio destes tempos livres. As privatizações foram extremamente positivas e criaram um novo padrão nas relações de consumo de bens e serviços no País. De alguma maneira nos profissionalizou e semeou a necessidade de gerenciamento de resultados.
O Estado ainda é aquele ser perdulário e ineficiente para gastar; ganancioso e burocrático ao tributar, mas já se evoluiu em alguma coisa a se considerar a obrigações de responsabilidade fiscal. O Sistema Único de Saúde mesmo ineficaz conseguiu cunhar o conceito de acesso universal. É como na educação, incluiu e agora é hora de primar pela qualidade. Podíamos ter uma infra-estrutura melhor e até uma merenda escolar mais nutritiva não fosse a carga pesada na corrupção.
Muitos argumentam que a transparência democrática causa a sensação de que hoje se rouba mais do que no período de obscuridade institucional porque a liberdade de imprensa e o acesso à informação escancaram a atividade política. Isso não é verdade. Nunca na história deste País houve um ambiente tão favorável à criminalidade. Ocasião, certamente, proporcionada pela atração fatal dos lulistas às práticas não-contabilizadas. A falta geral de segurança é o principal fator que trama contra a democracia brasileira.

Demóstenes Torres é procurador de Justiça e senador (DEM-GO)

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

OLHA A MARINA!

DO BLOG DO NOBLAT:
"De Soraya Aggege e Maiá Menezes em O Globo:
A notícia do corte preventivo de 79% no orçamento do Ministério do Meio Ambiente teve forte repercussão no Fórum Social Mundial, que ontem centralizou os debates em torno da Amazônia e do aquecimento global.
A senadora e ex-ministra Marina Silva (PT-AC), que tem evitado críticas ao governo, se mostrou indignada. Disse que a medida é incoerente e contraditória.
A cúpula petista, concentrada no Fórum, evitou declarações formais, mas, nos bastidores, líderes se diziam constrangidos com a medida, que arrancou críticas de ativistas.
- Trata-se de uma incoerência com o nosso projeto. O orçamento do Meio Ambiente já é muito pequeno. Além disso, há uma falsa idéia de se cortar custeios do ministério, mas, nesse caso, as verbas são para a fiscalização do Ibama e para unidades de conservação criadas pelo próprio presidente Lula. O que faremos? Vista grossa?- disse Marina.
Leia mais em Marina acusa governo de incoerência por corte de verba do Meio Ambiente no Orçamento
O bloqueio de R$ 37,2 bilhões do Orçamento da União foi interpretado pela oposição como um indicativo claro de que a crise econômica é grave e, pela primeira vez, o governo estaria admitindo essa gravidade. Leia mais em Orçamento: oposição critica redução de investimento"

O que houve com os intelectuais bem falantes?

Quantos grandes intelectuais bem falantes do passado acabaram silenciando na Era Lula. O que houve gente o cérebro congelou ou será a tese de Luis Fernando Verissímo, de que se deve calar para não ser confundido com os Democratas, o partido.

De Varsóvia a Gaza

Escrito por Fritz Utzeri
15-Jan-2009



Sempre me senti constrangido para criticar Israel devido ao fato de ter nascido na Alemanha e ser filho de um soldado da Vermacht (o exército alemão) morto na Segunda Guerra. Passei minha infância tentando entender o nazismo e como aquilo podia ter acontecido num país civilizado como a Alemanha, onde os judeus participavam ativamente da cultura e a condição de judeu era uma religião herdada (não muito seguida pela maioria secularizada). Os judeus alemães faziam parte inseparável e preciosa da cultura germânica.

Embora nunca tenha sido cidadão alemão (não sou "ariano" o suficiente), nasci na Alemanha nazista, sob um regime no qual minha mãe teve que provar à Gestapo que não tinha ascendentes judeus até a quinta geração e sujeita a medidas antropomórficas dos "especialistas" em "raça" para determinar se não tinha características semitas.

Ou não funcionou ou os "especialistas" nessa "ciência" se enganaram, mas se houvesse a menor suspeita de judaísmo eu teria acabado num forno antes mesmo de nascer, condenado desde o óvulo e o espermatozóide, nessa singularidade diabólica que caracteriza e diferencia o nazismo de todos os demais totalitarismos como o mal absoluto. Passei muito tempo olhando para os alemães com idade acima de 18 anos durante a Segunda Guerra para me perguntar sempre o que eu e o que eles teriam feito. Muita gente acha que sou judeu e não teria o menor problema ou preconceito em sê-lo, mas se considerar o preço que teria que pagar se o fosse, foi melhor para mim que os nazistas considerassem minha mãe aceitável, embora não de "raça pura".

Dito isto, faço outra reflexão. Para mim, a pátria judaica deveria ter sido estabelecida na Baviera, em 1948. Os alemães, os carrascos e os indiferentes é que deveriam ter pagado a conta com suas terras e bens e não os palestinos, que nada tiveram a ver com o Holocausto e que acabaram pagando o pato (e o estão pagando até hoje), por serem vistos pelo Ocidente como um povo de segunda categoria, daquele tipo cujos mortos valem pouco ou nada. O conceito de "sub-homem" (untermënschen) que os nazistas alemães levaram ao extremo do extermínio industrial, persiste entre os povos ricos em geral, todos de boa consciência, mas que não dão a mínima para os mortos palestinos, latino-americanos ou africanos e que em geral fornecem as armas com as quais esses excluídos se matam.

Os sionistas reivindicam a terra da Palestina de onde os judeus haviam sido expulsos no ano 70 pelos romanos, originando a diáspora. Alguns anos mais tarde, em 138, depois de uma segunda revolta judaica, o imperador Adriano expulsou de vez todos os judeus de Jerusalém. Adriano também alterou o nome Judéia para Síria Palestina. Apesar disso, nunca deixou de haver judeus na Palestina e durante o domínio árabe e muçulmano os filhos de Abraão foram tratados com muito mais benevolência do que o foram no ocidente cristão (afinal os árabes reivindicam o mesmo antepassado comum e veneram exatamente o mesmo deus).

Quando o Estado de Israel foi fundado, haviam se passado 1878 anos da diáspora. Os palestinos foram expulsos de suas terras manu militari e sucessivas ações terroristas de grupos sionistas radicais, como o Hagannah e Irgum, contra árabes e mesmo contra os ingleses que dominavam a região foram praticadas. Os árabes não fizeram melhor e expulsaram 800 mil judeus de vários países após a fundação de Israel, além de invadir a região e sofrer sua primeira derrota militar. O problema é que se a humanidade tivesse que resolver suas pendências territoriais com reivindicações de quase dois mil anos, o mapa do mundo seria um caos; nós, por exemplo, teríamos simplesmente que ir embora e pedir desculpas aos índios.

Mas não é só isso, se recuarmos mais no tempo veremos que a chamada "terra prometida" foi conquistada pelos judeus depois do êxodo do Egito. E não foi uma terra fácil, virgem, zero quilômetro, preparada pelo deus de Israel para o seu povo, uma terra sem ninguém. Nada disso, foi uma conquista sangrenta, guerra de extermínio. Os povos que lá habitavam, como os cananeus, foram impiedosamente massacrados. Não restou nada de sua cultura, de suas gentes, nem de suas cidades. Em muitos casos, nem os animais foram poupados. Foi um Holocausto. Não imagino quem sejam (ou se existem) seus descendentes, mas se há direito tão antigo, os cananeus e os demais povos que lá estavam antes dos hebreus, têm prioridade sobre os filhos de Israel.

A terra de Canaã é um campo de lutas e extermínios desde o começo da civilização e a suposta doação do território por parte de um pai eterno é algo difícil de engolir para quem não for crente ou tiver o mínimo de bom senso, mas vamos ver como a Bíblia narra a história da chegada do "povo eleito" à "terra prometida".

Lemos pouco a Bíblia, mas nela há histórias de arrepiar os cabelos, a ponto de em certas passagens acharmos difícil crer que estamos diante de um livro sagrado, inspirado por um deus. Vejam esta passagem de Números, quarto livro do Pentateuco (os cinco livros de Moisés: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio). No capítulo 31, versículos 13-18 narra-se o desfecho da luta dos judeus contra os madanitas. Os filhos de Israel ganharam, e retornam a Moisés para ouvir o seguinte:

"E saíram a recebê-los fora dos acampamentos, Moisés, o sacerdote Eleazar e todos os príncipes da Assembleia. Moisés irado contra os chefes do exército, contra os tribunos e centuriões que voltavam da batalha (curiosamente na edição católica da Bíblia usam-se graus militares romanos) disse: ‘Por que poupaste as mulheres? Não são elas que por sugestão de Balãao seduziram os filhos de Israel e vos fizeram prevaricar contra o Senhor pelo pecado de Fregor, pelo qual também o povo foi castigado? Matai pois todos os varões, mesmo os de tenra idade, e degolai as mulheres que tiveram comércio com homens, mas reservai para vós todas as donzelas e mulheres virgens".

Edificante ao extremo. Sei perfeitamente que estamos falando de sociedades há milhares de anos, mas a reivindicação atual se baseia num direito que foi estabelecido naquele tempo e para os judeus religiosos vale até hoje, embora os mais ortodoxos considerem a existência atual do Estado de Israel um crime, um pecado, já que o mesmo só poderia voltar a existir com a chegada do messias. Há judeus religiosos radicais que chegam a atribuir o Holocausto a uma pretensa culpa pelo sionismo.

No livro seguinte, Deuteronômio, é narrada a preparação para a conquista da Terra de Canaã por Josué, que vem a ser irmão de Moisés. Logo no capítulo 3 podemos ler um episódio da luta dos hebreus contra Og, rei de Basan. Leiam: "O rei de Basan e todo o seu povo ferimo-los até o extermínio, destruindo ao mesmo tempo todas as suas cidades, não houve cidade que nos escapasse: 60 em todo o país".

No capítulo cinco desse mesmo livro, Moisés recebe e transmite os dez mandamentos (o primeiro dos quais, listado no texto é: "não matarás"). Mas no capítulo 7, sob o título "Destruir os cananeus e os seus ídolos", a "inspiração divina" escreve e ordena o seguinte: "Quando o senhor teu Deus te tiver introduzido na terra da qual vais tomar posse, e tiver exterminado diante de ti muitas nações - o heteu, o gergeseu, o amorreu, o cananaeu, o ferozeu, o heveu e o jebuseu, sete nações muito mais numerosas e fortes do que tu - e o senhor teu Deus as tiver entregado a ti, tu as combaterás até o extermínio. Não farás aliança com ela, nem as tratarás com compaixão".

No livro a seguir, de Josué (o primeiro dos livros ditos Históricos), são relatados a conquista, massacres e extermínio dos povos que viviam na "terra prometida". É só ler.

Voltando à era moderna, os cristãos, ao perseguirem e oprimirem os judeus, criaram os guetos. O termo nasceu em Veneza, onde havia uma ilha com uma fundição (ghetto em italiano antigo), onde os judeus foram concentrados e obrigados a viver. Havia portões que fechavam o bairro à noite (retirados por Napoleão quando conquistou a cidade, mas cujos gonzos podem ser vistos ainda hoje). Os alemães estabeleceram vários guetos na Europa entre 1939 e 1944, que chamavam de Judengasse (Bairro judeu), onde os judeus eram concentrados e aprisionados antes de serem enviados para os campos de trabalho e de extermínio. No Gueto de Varsóvia chegaram a ser confinadas 380 mil pessoas. A fome, as doenças e o envio para campos de extermínio reduziram a população para 70 mil. A revolta do gueto, em 1943, levou a seu arrasamento e ao extermínio dos sobreviventes.

Faixa de Gaza

Claro que as atrocidades cometidas pelos alemães são mais bárbaras do que a atitude dos judeus ante os palestinos (tente explicar isso aos palestinos), mas a Faixa de Gaza é inquestionavelmente um gueto, o maior gueto já criado. É um dos territórios mais densamente povoados do planeta, com 1,4 milhão de habitantes para uma área de 360 km². As condições sanitárias são assustadoras. A área depende de Israel para receber água, eletricidade e suprimentos. É cercada por muros e com portões de entrada por onde só transita quem tenha um passe. E isso não apenas do lado judeu, mas também do egípcio. Grande parte da população vive numa das maiores, talvez a maior, favela do mundo.

Nas últimas eleições realizadas na Palestina, o Hamas, um movimento radical islâmico sunita, ganhou derrotando o Fatah, o partido do falecido Yasser Arafat, que era percebido pelos palestinos como corrupto ao extremo. As eleições foram limpas, mas para o Ocidente a democracia passa quase sempre a ter um valor relativo quando o resultado não agrada, seja na Palestina, na Argélia ou no Chile. O resultado foi uma pressão, com sanções internacionais que levaram a uma luta interna e à divisão dos palestinos. A Cisjordânia ficou sob gestão do Fatah (com o apoio de Israel e do Ocidente), enquanto o Hamas ficava com o controle da Faixa de Gaza, onde a situação humanitária precária favorecia o radicalismo.

Houve uma trégua de seis meses entre o Hamas e Israel, mas ao mesmo tempo o bloqueio de Israel ao território foi apertado por terra, mar e ar e a situação da população de Gaza piorou. Hoje o desemprego chega a 50%, dois terços dos refugiados passam fome, não há fornecimento regular de luz e água ou remédio nos hospitais. Além disso, o acesso de ajuda humanitária sempre foi controlado e inferior ao necessário para aliviar a situação. O gueto começa a desesperar-se e é nesse contexto que o atual conflito recomeçou. Os palestinos que se amontoam em Gaza não estão lá porque queiram viver na praia, mas porque foram expulsos de suas terras a partir da formação do Estado de Israel e jamais se falou em sequer indenizá-los.

Agora os velhos princípios de retaliação e extermínio já fundamentados no Velho Testamento estão de volta, uma triste repetição sem fim. Os nazistas alemães o fizeram várias vezes, a começar pela Noite de Cristal (Kristallnacht), em 9 de novembro de 1938, quando em resposta à morte de um diplomata alemão em Paris por um judeu polonês mataram 91 judeus, prenderam e levaram para campos de concentração entre 25.000 e 30.000 e destruíram 7.500 lojas e 1.600 sinagogas.

Vinte dias de bombas e o total de mortos palestinos já passa de 1000, dos quais dezenas de crianças, e quase três mil feridos, como represália a foguetes que até então não haviam matado um só israelense (e quando mataram um, no primeiro dia da ofensiva de Israel, acertaram um beduíno, um trabalhador árabe). Isso é uma resposta desmesurada sim, ainda mais porque já vem sendo feita há séculos, milênios, e só tem levado a novas guerras e mais massacres.

Até no dia sagrado para os muçulmanos tanques israelenses, canhões e imensas retroescavadeiras blindadas se concentraram na fronteira entre Gaza e Israel. Se esse dispositivo for acionado (e tudo indica que o será), o massacre e a desproporção de forças aumentarão. Será um banho de sangue e os civis palestinos serão – mais uma vez – as maiores vítimas.

Os árabes, por seu lado, se indignam, mas seus governos, em geral pusilânimes e corruptos, não movem uma palha para ajudar os palestinos. Não digo militarmente, pois essa solução só levará ao extermínio, inaceitável em qualquer hipótese, sejam quem forem os exterminados. Tais episódios e tal modo de pensar e agir já deveriam ter sido banidos da memória humana. Mas é verdade que os árabes podiam fazer muito mais do que fazem para melhorar as condições de vida de seus irmãos palestinos.

Não se deve negar a Israel o direito a existir, mas o fato é que qualquer república baseada em religião e exclusão só gerará violência. O pior de tudo é que me sinto como um estúpido naïf, um idiota, ao achar que todos devem desarmar seus espíritos.

Reporto-me a Ghandi, que dizia que a política de retaliação, o olho por olho, só terá como resultado a cegueira geral. A impressão que tenho é que Israel busca uma posição de força para tentar enfraquecer o Hamas, aproveitando os estertores do apoio incondicional da era Bush. Mas será que Obama vai transformar essa realidade? Se o fizer será uma espécie de messias, o que duvido...

PS: os leitores que me perdoem pelo texto imenso, pessimista e inconcluso, mas realmente não me sinto confortável com esse assunto.

Fritz Utzeri é jornalista.

Os fatos empurram o PMDB para a candidatura própria

Murillo Aragão - Cientista Político
Do Blog do Noblat


Uma grande incógnita no que se refere à sucessão de 2010 é caminho, dos três possíveis, que o PMDB seguirá: candidatura própria, coligação com o PT e aliança com o PSDB. Dois fatos políticos importantes ocorridos na semana passada levam o barco do PMDB na direção da primeira opção. O primeiro é o anúncio da decisão do ex-presidente José Sarney (PMDB-AM) de concorrer à presidência do Senado, o que causou incômodo no PT.

A líder do partido no Senado, Ideli Salvatti (SC), disse aos jornalistas que “não há possibilidade” de o PMDB presidir Senado e Câmara simultaneamente. Em represália, parte da bancada petista sinaliza com um boicote à eleição de Michel Temer para a presidência da Câmara. A idéia partiu do ex-ministro José Dirceu, interessado em tirar do caminho um aliado político que fortaleceria a candidata do presidente Lula à Presidência, Dilma Rousseff, nome que enfrenta resistência no PT.

Ou seja, é possível que o relacionamento entre as duas legendas fique tumultuado, dependendo do resultado da eleição para o comando das duas Casas.

O outro fato determinante para a sucessão de Lula foi a decisão de José Serra de nomear Geraldo Alckmin para a Secretaria de Desenvolvimento do Estado, causando desconforto em Aécio Neves, seu adversário direto pela indicação do PSDB em 2010, que apoiou o novo secretário nas suas duas últimas campanhas (Presidência e Prefeitura de São Paulo). Com o gesto, Serra mantém o controle do partido no Estado e se cacifa ainda mais na legenda.

Aécio também se incomodou com as declarações do presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), e do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, de que o destino da legenda em 2010 seria conduzido por Serra.

Isso sem falar que Serra foi considerado o grande vitorioso nas eleições municipais, das quais Aécio saiu desgastado, depois que não conseguiu eleger Márcio Lacerda prefeito de Belo Horizonte no primeiro turno e foi um dos maiores defensores da candidatura de Alckmin à prefeitura de São Paulo.

O namoro entre PMDB e o governador mineiro é conhecido. O partido sonha em ter um nome forte para disputar o Planalto. O abalo no relacionamento entre PT e PMDB e o fortalecimento de Serra dentro do PMDB podem aproximar ainda mais o PMDB de Aécio.

Para essas três candidaturas já postas (Dilma, Serra e Aécio), no entanto, a confirmação de que Sarney disputará a presidência do Senado significa o pré-lançamento da quarta força eleitoral com potencial para sonhar com o Planalto.

O PMDB é a única grande legenda sem um grande nome – o PT tem uma candidata que o partido não perfilha; e PSDB têm dois nomes com poder equivalente, um excesso para a atual safra política. A presidência do Senado dará a Sarney, despejado do comando político do Maranhão, a condição de eleitor privilegiado em 2010, a razão mais forte pela qual ele concorre, apesar de haver negado ao presidente Lula seu interesse no cargo. A outra é uma forte pressão de Renan Calheiros, também em busca de recuperação de prestígio.

Segundo as contas do senador, ele teria 58 votos, número suficiente para eleger-se. A chance de vitória de Sarney é elevadíssima. Além do próprio PMDB (22 senadores), ele já tem o apoio do DEM (13). Nesta semana, o PSDB decidirá quem apoiará, definindo a eleição. Qualquer que seja o resultado no Senado, o governo não pode se descuidar da Câmara.

Os deputados do PMDB não engolirão uma derrota de Michel Temer. Para o governo, essa hipótese trágica exigiria extraordinária habilidade do presidente Lula, a um custo político elevadíssimo, para recompor o diálogo com a legenda. O partido do atual momento político, no Congresso e na mídia, é o PMDB.

Charges


audiência acaba assistindo porque é tudo gratuito

As guerras no chamado oriente médio continuam, e o mundo assiste a tudo como se fosse um daqueles filmes de terror em que a audiência acaba assistindo porque é tudo gratuito e a oferta é grande

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Ira! e Samuel Rosa - Tarde Vazia (Acustico MTV)

Reforma no currículo escolar já

Marcelo Mirisola*
“Já acompanhei vários alunos que entraram para o tráfico. A gente percebe que fica mais agressivo, tem roupas caras. Uma vez, num tiroteio, ouvi o som de uma granada. Os alunos riam.”
Declaração dada ao Jornal do Brasil por Carlos Eduardo Freire Maciel, professor de história
Claro que eles riram, riram da sua cara, professor. Riram do descompasso entre o que o senhor era obrigado a ensinar e o que eles queriam aprender. Provavelmente riram do sistema de aprovação automática, e dos Ministérios da Educação e Cultura, e riram da pompa e da circunstância e dos coquetéis em homenagem ao centenário da morte do Machadão, riram da Lei Rouanet,e riram do cabelo pintado dos velhinhos da “acadimia”, e riram das mentiras que contaram para eles, e também riram da carinha de espanto da Fátima Bernardes quando anunciou mais um diretor de presídio assassinado no Rio de Janeiro, riram da palavra “chacina” pronunciada pela mesma Fátima, e riram da cara dos playboys que cantam barquinhos a deslizar no macio azul do oceano blue, eles riram do tratamento que a Fátima fez para engravidar, e do condomínio fechado onde ela vai criar os três filhotes, isso tudo, professor, é muito engraçado, o senhor não acha? Os garotos se divertem. Qual o espanto? Seus alunos riram do Presidente da República dizendo que sem educação o sujeito não chega a lugar algum. Nesse ponto, eles não agüentaram de tanto rir, e então BUUMM! a granada explodiu.
O que será que o professor Carlos Eduardo Freire Maciel ensinava na hora da explosão? A Conjuração dos Alfaiates?
Diante disso, voltei aos meus dezesseis anos, 1982.
Pensei nos tempos de escola: lembrei das “aulas” que tive no bilhar que ficava no bar da esquina. Foi lá que conheci a Leninha, a professora que cobrava por hora, mulata deliciosa. Lembrei das coisas que aprendi ao longo da vida, e cheguei a um termo mais do que óbvio: guardo comigo os livros que li, meus amigos e meus amores. Isto é: apenas aquilo que me interessa. O resto foi exasperação, encheção de saco de professor, suspensão, advertências, violência, nota vermelha, tédio, humilhação, dinheiro jogado fora.
Acho até que vale a pena reproduzir alguns trechos (longos...) da crônica que publiquei aqui no Congresso em Foco, no dia 3 de março deste ano. Eu dizia que, aos dezesseis anos, Luiza Brunet era uma necessidade premente. Ela me “inspirava” mais do que Machado de Assis. E tinha de ser assim e, aliás, deve ou devia ser assim até hoje.
O quê, para um adolescente miolo-mole, é mais instigante? Um professor discorrendo sobre mitocôndrias, ou uma granada explodindo na quadra da escola?
O adolescente-delinqüente de hoje prefere depredar a ter de encarar um Machado de Assis. E – pasmem – tem lá sua razão.
Bem, vou ter de reproduzir, ou melhor, sou obrigado a reproduzir trechos dessa crônica ipsis litteris, para provar que a depredação, o desdém, e a violência contra os professores – ainda – não são nada perto do que está por vir. Presta atenção, professor Carlos Eduardo:
Nem vou falar na tabela periódica. Vou me ater mesmo ao velho Machadão.
Em 1984, Machado já era um desperdício, hoje – pensando bem – com as opções que o “mão peluda” tem na internet, e com a concorrência dos traficantes de drogas, a leitura de Machado de Assis é um atentado contra o próprio Machado de Assis. Uma condenação à revelia.
Impossibilitado de comparecer ao baile funk, Bentinho, além dos vários chifres e dribles que levaria de antemão, nem sequer teria uma chance de suspeitar do seu melhor amigo. Numa hora dessas – na melhor das hipóteses –, Escobar deve estar depilando o buço no salão de beleza do traficante boliviano. Nelson Rodrigues, sim, faz sentido. Questão de tecnologia.
Há muito tempo os garotos desistiram de colecionar selos. E as meninas, por sua vez, deixaram de ser oblíquas Capitus para se transformarem em ostensivas biscates, elas colecionam abortos em vez de bonecas. O dilema de Bentinho e a biscatice de Capitu são quimeras perto de um jurássico Mario Bross da vida. Eu penso que é quase um crime obrigar um adolescente a ler um livro de Machado de Assis. Isso para ficar no óbvio. Nem vou falar em mitocôndrias. O sujeitinho(a) – obrigado a ler o resumo de Dom Casmurro – vai acabar mesmo é misturando literatura com a Tabela Periódica. Para ele (a), Machado de Assis e a massa molecular de um polímero têm o mesmo significado: cairão no vestibular. Só isso.
Aos dezesseis, dezessete anos, o(a) garoto(a) simplesmente não têm os instrumentos cognitivos, morais e psicológicos para chegar a qualquer lugar diferente da cantina da escola, ou da própria genitália. Será que é tão difícil de entender? Nessa idade, lembro, eu não sabia nem sequer dizer bom-dia. Não digo que devia ser proibido ler Machado de Assis aos dezesseis anos, porque sempre existirão os Nerds e as exceções de praxe, mas facultativo.
A vida do lado de fora não é facultativa. E a concorrência – convenhamos – é desleal,explosiva e muito mais interessante. Por isso, sugiro o sepultamento definitivo de Brás Cubas, fantasminha de merda. Que as escolas adotem Bukowski contra o crime. Reforma no currículo escolar já!
E, no embalo, vamos banir de vez Tomás Antônio Gonzaga e cia ltda, ah, não lembro de nada tão broxante quanto Marília de Dirceu, do supracitado árcade. Os românticos, aliás, e a mania deles de idealizar mulheres branquelas e fantasmáticas não eram menos modorrentos, a turminha de Casimiro de Abreu, provocava-me – como diria Marcos Rey – “aversões glandulares”. E os simbolistas então? Não eram muitos, se bem me lembro, eram dois os pentelhos, que valiam por todo um exército: Alphonsus de Guimarães e Cruz e Sousa, esse último autor do pegajoso Broquéis, ah, esse cara era – e continua sendo... como pode? – um verdadeiro castigo para um garoto de dezesseis anos. Depois vinham os parnasianos, ah, Fagundes Varela, como você encheu meu saco! Ah, Olavo Bilac, eu o entendo... e até já ouvi estrelas.
"Amai para entendê-las:
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".
O problema é que o céu anda meio embaçado pro lado de quem tenta ouvir astros e estrelas, e o amor só se cogita se for expresso, bem-remunerado, limpinho e longe daqui. O Funk atropela. No Complexo do Alemão, por exemplo, debaixo de uma Via Láctea cravejada de balas, é impossível ouvir qualquer coisa diferente dos “bondes” locais. Coitado do Bilac. Ele vem capengando desde o tempo em que se ensinava Educação Moral e Cívica nas salas de aula. Isso vale para todo um currículo xarope e equivocado que as escolas – ainda hoje! – insistem em atulhar nos hormônios da garotada. Cazzo!
Em 1986, me meti numa bosta de uma faculdade de agronomia para nunca mais ter de ouvir falar em Alphonsus de Guimarães e Cruz e Sousa. Se, naquela época, alguém tivesse me avisado que Cesare Pavese existia, e que havia escrito um livro lindo, cujo título é O diabo nas colinas... bem, aí as coisas teriam sido muito diferentes. Talvez eu fosse um engenheiro agrônomo.
E provavelmente não teria de republicar a crônica que escrevi há oito meses, a mesma crônica que publicarei nos próximos anos, porque a época cuja a eternidade era feita de broquéis – Porco Dio! – já passou!
Professor Carlos Eduardo, lamento dizer, mas o senhor é dispensável na vida dos seus alunos. Eles é que são a bala perdida.
Ou fazemos uma revolução no currículo escolar, ou a molecada vai aprender “matérias” mais interessantes com a concorrência. Alguém tem que dar a ficha pra garotada: he nets to know that.
“Iracema, a virgem dos lábios de mel” nunca foi exatamente um tesão de leitura. Quem é que não sabe que o autor de “Crônica de um amor louco” é – no mínimo – “mais indicado” que um José de Alencar aos dezesseis anos? Bukowski contra o crime.
O primeiro livro da minha grade curricular seria Factótum, dele mesmo, do velho Buk. Quando ele, aos 16 anos, enfia um uppercut (direto no queixo) no Pai e sai de casa. É isso, em suma, o que está faltando, meu caro professor Carlos Eduardo, para que seus alunos prestem atenção em você. Anota aí:
Dias em Clichy,do Henry Miller, pra garotada entender o que é solidão e amizade. Depois as crônicas de Nelson Rodrigues, A menina sem estrela, A cabra vadia, O reacionário, todos os volumes de crônicas, e seu romance, O casamento (o teatro, não – de jeito nenhum). Um único livro de John Fante, Pergunte ao pó, e muito Carlinhos Oliveira, para desopilar. Ana Cristina César para as putinhas ilustradas. Caio Fernando Abreu pras bichinhas esotéricas. E Hilda Hilst pras bichinhas inteligentes. Diana caçadora, de Márcia Denser, para os vampiros em geral.
Tem as biografias. Não é um gênero que eu aprecio, inclusive acho um desrespeito com o falecido, uma interferência desnecessária, mesmo assim biografias seriam legais pra garotada, a começar pela biografia de Ana C., escrita por Ítalo Moriconi, e a biografia de Carlinhos Oliveira, escrita por Jason Tércio, por exemplo. Até Ruy Castro, que é um jornalista convincente (jamais vai ser escritor...), quebraria um grande galho com seus livros que tratam de Bossa Nova. Um pouco de Bataille junto com Cioran faria um estrago legal e irreversível no espírito da garotada... mas só um pouco, é bom não abusar demais aos dezesseis. Digamos A história do olho, de Bataille, e o Breviário da decomposição, do escritor do romeno (será? acho que não...) Esqueçam Cioran, esse autor só depois dos quarenta. Vamos em frente: Marquês de Sade poderia ser uma boa distração. Cortázar, sim. Jorge Luis Borges, não. Borges somente depois dos trinta. Machado idem. Kafka ibidem. Ah, lembrei do George Orwell, nada de A revolução dos bichos... isso já encheu o saco. Talvez o instigante Ensaio dentro da baleia e Na pior em Paris e Londres, esses dois livros seriam mais do que o suficiente aos dezesseis. Graciliano Ramos, não. Ou melhor, somente Angústia do Graciliano, penso que Vidas Secas é um livro meio chato pra molecada.
Raquel de Queiroz me deixa indeciso, mas ela escreveu ótimas crônicas no Estadão: portanto, as crônicas da Raquel, os romances, não. O ventre, do Cony. De Dostoiévski apenas Memórias do subsolo... que é fininho e tem quase tudo lá dentro, nesse livro o leitor encontra os Irmãos Karamazov, Crime e Castigo e O jogador também, está tudo lá. O que mais? Um autor uruguaio palatável e comovente ao mesmo tempo, que é o Mario Benedetti, e um húngaro essencial aos dezesseis: Sandór Marai, com o seu As brasas.
Claro, que não devemos esquecer os grandes lugares-comuns: The catcher in the rye e On the road essa dupla é impagável, Salinger & Kerouac são inevitáveis e absolutamente necessários aos dezesseis, e em qualquer idade... Jorge Amado nem com onze anos: é muito ruim, escreve feio, e escreve mal. Mas os adolescentes não poderiam deixar de ler Kawabata, A casa das belas adormecidas e Tanizaki também. Desse segundo japa, sugiro A chave e Diário de um velho louco. Dos contemporâneos, os meus amigos Marcio Américo, e seu Meninos de Kichute, que é imprescindível, as crônicas do Gutemberg Blues, do Marião Bortolotto, e Juliano Garcia Pessanha que, igualmente, escreveu um livro fundamental, Certeza do agora... acredito que a molecada se interessaria por Thomas Bernhardt e Hermann Brock depois de ler o livro do Juliano Pessanha (embora Bernhadt e Brock sejam muita areia pro caminhãozinho aos dezesseis...) mas que se dane, que esse interesse despertasse vinte anos depois, porque um livro leva a outro, e isso não tem fim. Apenas não podemos substituir Luiza Brunet por Machado de Assis, aos dezesseis não, e... pensando bem, muito menos no meu caso, às vésperas de completar 43 anos. Luiza Brunet continua linda, apesar das granadas que explodem no pátio da escola.
Se não for isso, Prof. Carlos Eduardo, “a concorrência” estará logo ali, salivando, pronta a cooptar seus alunos. Basta um tênis Nike. Uma rima, um grito de ordem. Se o garoto não tomar gosto por Bukowski, é capaz de virar mensageiro de Deus, e pastor da comunidade, isto é, vai virar bandido mesmo, e não vai sobrar nenhum carinho para dedicar ao mestre. Sidney Poitier dançou. Portanto, meu caro professor, relaxe, tome muito cuidado e – se possível – ria com seus alunos, antes de chorar.
*Marcelo Mirisola, 42, é paulistano, autor de Proibidão (Editora Demônio Negro), O herói devolvido, Bangalô, O azul do filho morto (os três pela Editora 34), Joana a contragosto (Record), entre outros.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Crianças crescem

Os filhos crescem, as crianças em geral crescem, prudente é reconhecermos esse crescimento e não tratá-los como infinitos bebês.

Por que brigam os ministros? Não tinha terra sobrando?

DO BLOG DO ALON:
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"Por que brigam os ministros? Não tinha terra sobrando?
Os ministros da Agricultura e do Meio Ambiente estão brigando. O primeiro quer liberar o plantio de cana-de-açúcar em certas áreas (segundo ele já degradadas) em Mato Grosso do Sul e no Mato Grosso. O segundo não quer. É estranho os ministros brigarem. O Brasil tem terra sobrando para plantar cana e produzir etanol, conforme vêm assegurando as nossas autoridades (leia Governo vegetariano e terras finitas, post de quase dois anos atrás). É verdade que até agora o governo não disse onde está a terra ociosa (no dia em que disser, talvez precise explicar por que não usa essas áreas improdutivas para acelerar a reforma agrária). Então, alguém precisa alertar os dois ministros: eles estão brigando sem motivo. E o melhor a fazer talvez seja irem juntos ao Palácio do Planalto pedir ao presidente da República o mapa com todo o monte de terra sobrando que existe no Brasil. Não acham uma ótima idéia?

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Uma realidade virtual

No dia 8 de janeiro de 2009, de férias, sentei a frente do computador e acessei o site oficial de Caçador (www.cacador.sc.gov) e comecei a visualizar uma a uma as fotos aéreas na galeria presente no site. Confesso que estão muito bem enquadradas cada uma das 330 fotos e para os olhares comuns, tudo é maravilhoso.

Nesta desforra que me peguei, um fato curioso me fez balançar na cadeira confortável e com regulagem de altura e percebi que algo faltava e não precisei de muito tempo para deduzir o quê?... Era a nossa periferia. Sinceramente, eu “não sei” porque só havia fotos das partes onde os bairros estão melhor “estruturados”, fotos do centro, das empresas e da imensidão verde que nos cerca, e cadê os retratos de onde vivem as massas oprimidas, excluídas, sem teto, sem água, etc?

Cá pra nós!!!!! As fotos aéreas são uma bela ferramenta de comparação para mostrar a evidente realidade em que vivemos, ou seja, reflete a distância em que governo e cidadãos compactuam com relação a falta de uma visão da necessidade de estarmos mais próximos na união de forças para resolver os problemas mais sérios que nos afligem, cujos exemplos são o desemprego, a opressão nas diferentes roupagens, a desigualdade nas condições de vida, a falta de políticas reais que atendam efetivamente as nossas necessidades básicas.

Por outro lado, uma situação assim somente justifica o pensamento de quem até hoje governa para poucos e esquece que a constituição garante direitos fundamentais isonômicos para o cidadão. Em nosso país, é raro o município que atende esses direitos fundamentais dignamente, e na minha humilde opinião, se a maioria dos “grupos” que governaram e governam ao longo da história cuidassem bem de cada ferida nos idos de quase 509 anos, e não se preocupassem meramente em adquirir fortunas, sem sombra de dúvida, administrar uma cidade seria muito mais tranqüilo.

Aqui em Caçador especificamente, não é diferente e se nos decorridos 74 anos de emancipação fosse governada com uma visão no mínimo humanizada e com atenção aos mais desafortunados, com toda certeza todos nós caçadorenses de nascimento ou não, estaríamos muito mais satisfeitos em viver aqui e não haveria tantas mazelas sociais e sem perspectivas sobre o dia de amanhã.

Contudo, essas constatações e observações acabam reforçando o meu pensamento de que esta terra contestada ainda é de coronéis e alguns pequenos grupos economicamente poderosos que trabalham na defesa de interesses próprios e não da maioria que detém a força do trabalho na sua essência e é extremamente desvalorizado.

Prova disso, conforme o TSE, foram as doações para os candidatos nas eleições 2008 e outras também, onde você observa o que está “declarado” e as empresas que as fazem. Aí, é de se questionar as prioridades de uma administração, retribui-se os “favores” de campanha ou governa-se para todos baseado constitucionalmente no princípio da isonomia.

Que isso sirva para reflexão, e nesta terra contestada, a partir do momento em que alguém que verdadeiramente represente a maioria destes nobres e lutadores cidadãos assuma o poder legítimo de governar Caçador, que o voto de “cabresto” usado contra quem precisa do emprego para sobreviver milagrosamente seja coisa do passado, que não seja necessário “lacrar” as bombas de combustível, que as pessoas não sejam obrigadas a fazer campanha para manter ou ganhar uma “vaguinha” no serviço público, certamente mudanças significativas acontecerão em nossa cidade da mesma forma que ocorreu em nível nacional com a eleição do presidente Lula, mesmo que muitas pessoas relutem em admitir que não só para os mais necessitados, mas de uma maneira geral, todos conseguiram ser beneficiados pelas políticas públicas da equipe que trabalha com Luis Inácio.

Que assim seja em Caçador, e embora as forças representativas da maioria tenham saído enfraquecidas do embate em 2008 há um caminho aberto para 2012 e um tempo magnífico de 36 meses para a construção de um projeto sério e com prioridades que atendam realmente o anseio da maioria dos cidadãos caçadorenses de nascimento ou não.

Assim, se quisermos assistir indiferentes à realização de grandes obras em detrimento da cura das nossas mais profundas feridas que nos deixam vulneráveis e sem opções que aumentem a nossa auto-estima, Caçador continuará eternamente sendo uma terra contestada que nunca saiu das mãos de coronéis e pequenos grupos. Por favor, cidadão!!! Se você compartilha e acredita que é possível construir um projeto que solucione os problemas de primeira necessidade, fique atento e participe da vida política municipal, pois, é através dela que as decisões e ações vão determinar a nossa vida em sociedade, sempre com respeito ao direito de expressão e crenças de cada um.

Paulinho Moraes (pmoreca@bol.com.br)

Filminho já visto

E o referendo na Bolivia, Evo Morales ganhou agora é só esperar os boicotes e greves que a posição vai chamar. É um filminho já visto.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Procede a sua preocupação senador!

Vergonhosamente no Brasil estamos discutindo a situação dos aposentados, infelizmente o PT, enquanto oposição, bradou muito a favor dos aposentado, hoje no governo vira as costas para os aposentados. Resta saber os petistas também não se aposentarão? O senador Paím , PT/RS, tem expressado a sua preocupação em andar nas ruas após concluir o seu mandato, caso o governo não venha olhar os aposentados com um mínimo de dignidade. Procede a sua preocupação senador!

`Um povo ignorante é um instrumento cego de sua própria destruição.` Simón Bolívar

Eleições 2008

Fernando Collor muito louco (1997)

Curioso é querer que a lei seca funcione

Curioso é queremos que a lei seca funcione e continuar incentivando nossos jovens a começarem a beber cada vez mais cedo. O que teremos na frente? Ora aquilo que já temos, trinta mil mortes no trânsito por ano. Alguém dirá já melhorou eram cinquenta mil. Então como ficamos?

sábado, 24 de janeiro de 2009

O esforço

Tudo o que fazemos exige o esforço, sem ele pouco alcançamos. Não faltará quem diga que com ele nem sempre prosperamos. Então perguntemos e sem ele?

DEBATE SOBRE ANISTIA - TV FUTURA - 26/08/2008 - PARTE 5

Opinião Nacional - Rumos do Brasil

Opinião Nacional - Lei da Anistia

Obama:mais diplomacia e menos força

Jurandir Soares

Barack Obama assume, nesta terça-feira, a Presidência dos EUA sob a expectativa do mundo inteiro. Herda de imediato dois problemas com que não contava quando estava em campanha eleitoral: a crise financeira e a guerra em Gaza. Obama fizera um longo planejamento para atacar o que era o maior problema dos EUA, a guerra no Iraque. Não chegou a se habilitar para colocar em prática sua estratégia e já surgiram outras prioridades.
Nessa semana já deu para perceber o que será a política externa de Obama. Para ser aprovada como chefe da diplomacia americana, Hilary Clinton precisava passar pelo crivo do Senado. Fez isso, na terça-feira, expondo o que pretende desenvolver como secretária de Estado. E dentre as muitas colocações que fez, duas chamaram mais a atenção. Uma delas é que, com o novo governo, os EUA serão mais diplomacia e menos força. E a outra, até na extensão da primeira, foi uma colocação quase impensável no momento atual. Disse que os EUA buscarão uma nova estratégia para o Irã, que poderá incluir uma presença diplomática no país.
Agir com diplomacia em detrimento da força é tudo o que se espera da maior potência do mundo. Especialmente, depois das besteiras que fez o governo Bush. E, justamente, para tentar reparar os estragos que Bush fez, Hilary disse que as ações militares se deslocarão do Iraque para o Afeganistão e o Paquistão, com a finalidade de acabar com a Al-Qaeda. Que é mais do que certo. Mas surgiu Gaza. E ao ser questionada sobre o conflito em Gaza, Hilary disse que os Estados Unidos farão 'de tudo' para conseguir uma paz 'justa e duradoura' entre israelenses e palestinos. Ressaltou que a estratégia do país no Oriente Médio deve responder às necessidades de segurança de Israel e às 'legítimas aspirações econômicas e políticas dos palestinos'. Embora ela não tenha falado, já transpirou que a estratégia dos EUA para o conflito israelo-palestino será traçada num âmbito mais amplo, envolvendo uma área que vai de Israel até a Índia, passando por Líbano, Síria, Iraque, Irã, Afeganistão e Paquistão. Ou seja, envolve todos os países onde há fundamentalistas islâmicos e, em consequência, o terror.
O que é mais significativo é a questão do Irã, país com o qual Bush só bateu de frente, alimentando o radicalismo. Hilary deixou claro que pode haver até a presença diplomática americana em Teerã. Ou o uso da força, caso o país siga com o seu propósito de alimentar o radicalismo e buscar a bomba atômica. Tudo depende dos aiatolás. E não se pode esquecer que envolver diplomaticamente o Irã significa cortar o abastecimento bélico do Hamas. Em sua suma, a largada de Hilary foi extremamente animadora.

Correio do Povo, página 3 de 18 de janeiro de 2009.

Conselhos de mãe

Aqueles conselhos que as nossas mães nos dão com tanto carinho e sabedoria não deveriam ser jogados fora por aqueles que valorizam a sabedoria popular e o instinto materno.

Escritores e dores

Escrever é bom, e os médicos deveriam receitar isso para algumas pessoas, poderia ajudar muita gente a se ver livre de algumas dores, que teimam em persistir em muitos corações.

Quantas coisas

Quantas coisas nos colocam em conflito com o mundo. Como vencer esses ardidos conflitos que as vezes tanto nos incomodam?

Coragem

Coragem para proclamarmos que nossos desejos não precisam ficar dentro da gaveta, ou armazenados em nosso cérebro.

Aquecimento Global

Charge


João Goulart

O ex-presidente João Goulart até hoje é laureado por seus seguidores. A tanta razão para lembrar do ex-presidente? Suas omissões, foram o melhor aliado daqueles que planejaram e executaram o golpe de 64.

Política indigenista

Os militares sempre ditaram a política indigenista no Brasil. Hoje lutam para continuarem tendo grande influência nesse assunto. Nossos chefes militares tem dificuldade de conviver em um ambiente democrático.

Mídia Sem Máscara ENTREVISTA Moisés Rabinovici Parte I

Mídia Sem Máscara ENTREVISTA Moisés Rabinovici Parte II

Mídia Sem Máscara ENTREVISTA Moisés Rabinovici Parte III

Cobertura completa: Conflito em Gaza

2- CONFLITOS EM GAZA JORNAL DA RECORD

4- CONFLITOS EM GAZA BAND NEWS

1-CONFLITOS EM GAZA JORNAL DA BAND

Editorial - A moradia como problema social

Um estudo elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), baseado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), de 2007, revela que cerca de 54 milhões de pessoas, um percentual equivalente a 34,5% da população das cidades, moram de forma precária. Esses números indicam que um em cada três brasileiros não tem um lugar digno para morar, apesar de o direito à moradia ser um dos direitos sociais garantidos pela Constituição federal.O levantamento foi divulgado nesta terça-feira e revela que o país continua a ter uma pesada dívida social a resgatar com sua população mais carente. Foram constatadas algumas melhorias pontuais, como na quantidade de banheiros nas residências, luz elétrica, cobertura das habitações e conexões telefônicas. Todavia, a situação continua bastante grave em relação ao número de pessoas por moradia, com muitos habitantes em espaços reduzidos. Esses problemas foram observados com mais intensidade nas regiões metropolitanas de São Paulo e Rio de Janeiro, totalizando, em números absolutos, mais de 3 milhões de pessoas nessa situação.Quando se observam os percentuais dessa superlotação doméstica, os casos mais críticos estão localizados nas regiões metropolitanas de Belém, de São Paulo e de Salvador. A média nacional é de 7,8% da população urbana dividindo com duas ou mais pessoas um cômodo. Nesses lugares, essa média está em 16,6%, 11,7% e 10,6%, respectivamente. Também as cifras da população que mora em cortiços ou casas coletivas improvisadas continuam bastante altas, embora tenha havido uma diminuição entre 1992 e 2007. O documento revela que esse número hoje já ultrapassa os 400 mil brasileiros. Quanto à população que habita as favelas, a revelação é que esse montante já engloba atualmente 7 milhões de pessoas nas áreas urbanas do Rio de Janeiro e de São Paulo.As questões relativas à moradia indicam antecedentes históricos de exclusão. Com a péssima distribuição de renda, esse problema se agrava, repercutindo na qualidade de vida da população. Investimentos maciços nesse setor, pelos benefícios diretos e indiretos que trazem, como a geração de empregos, são necessários sem tempo a perder.

Correio do Povo

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

O racismo de Lula, 2

Alguns leitores ficaram indignados com o post "O racismo de Lula". Alguns acusaram o blogueiro de preconceito contra Lula e sua origem pobre, sua mão sem um dedo (sic), sua indisposição para a leitura. Acusaram o blogueiro de coisas ainda piores, mas passemos. Mas poucos ficaram indignados que Lula tenha dito a seguinte tolice, um coquetel bem batido de racismo enraizado na ignorância com populismo malandro: "Por que o brasileiro tem mais criatividade? Esta mistura do europeu, índio, negro, sabe, permitiu que nascesse um povo mais criativo, mais esperto do que a média, daqueles que são tudo assim, tudo a mesma coisa...".

Lula ajuda a degradar o debate público. É a autoridade pública mais exposta em televisão, rádio e imprensa. Mas em quase todas aparições transforma discursos presidenciais em baixa falação de palanque. Na precariedade da sua palestra, nisso se assemelha a Bush. Não se importa em transmitir uma visão mais racional e elaborada sobre as questões públicas. Em parte, é incapaz de fazê-lo, como muitos de seus colegas de movimento sindical que subiram de vida na política. Trata-de uma desonra para a história e a memória do movimento operário, daqui e do resto do mundo.

Desonra para a memória da política operária

Na história do sindicalismo e dos partidos operários tantas vezes é possível encontrar exemplos de indivíduos que não combatiam as adversidades da vida apenas pela sua atuação social e política. Muitos e muitos superaram a ausência total de oportunidades de instrução na escola formal. Estudaram sozinhos, em escolas de sindicatos e partidos, ilustraram-se, buscaram compreender a história de seus países e os problemas de políticas públicas. Alguns se tornaram escritores.

Não se trata aqui de preconceito ou desconsideração pelas condições horrorosas e deploráveis em que Lula e a maioria dos brasileiros viveram suas infâncias e juventudes (quando não a vida inteira). Nem se trata de elogio de acadêmicos, universitários ou o que seja dessa natureza. Trata-se do elogio da superação pessoal, da curiosidade intelectual, do desejo de compreender melhor a política e as questões públicas do país, o que não requer necessariamente escola superior ou pós-graduação e quejandos. Requer apenas que o cidadão tenha inclinação pelo esclarecimento, pela conversa civil, pelas luzes, pelo debate informado.

Lula não apenas é avesso a tais coisas como as despreza, com o que ajuda a degradar o ambiente do debate político: faz de modo subliminar (ou até direto) o elogio da ignorância. E ignorância não significa não saber tal ou qual coisa (sempre e para sempre vamos desconhecer esse ou aquele assunto). Ignorância significa não querer saber.

Escrito por Vinicius Torres Freire

Documento Especial - Transamazônica (Parte 1 de 3)

Documento Especial - Transamazônica (Parte 2 de 3)

Estradas goianas

TRUCKING SCANIA 580

Jarbas critica ataques de Lula à Imprensa

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

O racismo de Lula

O racismo de Lula
Lula, o boquirroto incontrolável, temperou sua logorréia com racismo num discurso de ontem, quando falava para jovens, entre outros. "Por que o brasileiro tem mais criatividade? Esta mistura do europeu, índio, negro, sabe, permitiu que nascesse um povo mais criativo, mais esperto do que a média, daqueles que são tudo assim, tudo a mesma coisa...".

Pois é. Os japoneses, que estão entre os povos mais "tudo assim, tudo a mesma coisa", devem ser menos criativos. Os alemães também. Assim como os chineses han, várias nações africanas, índios isolados etc, devem, pois, ser menos criativos do que os brasileiros e, também, que os americanos, segundo a ciência de Lula. Os americanos, apesar de suas discriminações negativas, misturaram italianos, judeus, alemães, irlandeses, suecos, gregos, ingleses, mexicanos, porto-riquenhos etc etc. Aliás, afora esses exemplos, sendo o brasileiro o mais "exemplar", a humanidade, segundo Lula, nunca se misturou desde o início dos tempos. Ou valem apenas misturas recentes?

Criatividade, aliás, tem tudo a ver com "raça", esse conceito tão "científico", é claro, nos diz o Gobineau do racismo criativo _Lula.

"Preguiça desgramada" de ler

Lula talvez devesse se impedir de falar diante de crianças e jovens, ao menos. Em 2004, discursando para crianças disse que ler é como começar a fazer exercícios: "dá uma preguiça ‘desgramada’". Um trecho de coluna deste blogueiro a respeito, também de 2004:

"Para as crianças, ler é tão desanimador como as caminhadas para os adultos sedentários: "dá uma preguiça 'desgramada'", disse o presidente Lula da Silva ao inaugurar a Bienal do Livro de São Paulo.

Lula não lê mais de duas páginas de relatórios, dizem assessores, gosta de piscina, churrasquinho, pelada e música sertaneja, samba, suor e cerveja. Não deixa, pois, de ter razão o realismo pedestre de Lula sobre a leitura. Preconceito? Não é o caso.

O presidente não é deus, como alertou, mas gosta de ser a voz do povo, um megafone de hábitos, trejeitos, preconceitos, utopias e até sabedorias populares. Tanto faz, a princípio, que Lula seja assim. O problema é que ele não consegue transcender seu realismo pedestre a fim de desempenhar o papel público de presidente, de transmitir uma visão mais racional e elaborada sobre as questões públicas. Limita-se às metáforas chãs, tem amor pelas mezinhas, pelas alegorias da vida de peão, sobre o companheiro que leva bronca da patroa por ter parado no botequim para a cervejinha.

Esse bestiário da vida operária não dá conta do debate democrático, o metaforismo popular não é capaz de traduzir questões de governo para o povo pobre. É apenas demagogia, talvez não intencional: Lula é o que parece ser. Transmite seus preconceitos sem pejo ou mesmo consciência do que faz, como no caso da gafe sobre a leitura e tantas outras."

Escrito por Vinicius Torres Freire
COMENTÁRIO DO FÁBIO:
"Fábio disse...
"O bestiário da vida operária" como cita o texto é o exemplo do pior preconceito de todos, o de classe social ou cultural. É na dura realidade do operário que o pais acontece e é levado nas costas, que que adianda o debate democrático se vivemos numa ditadura economica [Saramago] onde só tem vez e vós quem tem dinheiro? De que adianta chamar fome de desnutrição, seca de estresse hídrico, preguiça de piazada em dificuldade de aprendizado? "...visão mais racional e elabora..." podemos chamar de embromação."