domingo, 14 de janeiro de 2007

Imprevisões para 2007
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Olhar para o futuro é experimentar um misto de esperança e dúvida, curiosidade e medo. Por um lado, desejos utópicos. Por outro, sensação de que nada mudará substancialmente. Apostamos no melhor, sabendo que o pior não é fruto do acaso.
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Por isso minhas imprevisões para o imprevisível ano de 2007.
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Do primeiro ano do segundo mandato de Lula (mais do que nunca abençoado pela aprovação popular), esperamos, afinal, a superação do passado. Lula é o brasileiro na presidência. Finge que não viu nada... para sobreviver. Ri dos adversários e acaba levando rasteira. Levanta, sacode a poeira. Teremos surpresas positivas? Torçamos, ao menos, para que as negativas não se repitam.
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Neste ano prevê-se que lotarão as cadeias do Brasil cerca de 500 mil presidiários. Uma panela de pressão cada vez mais assustadora. O que faremos com essa energia humana acumulada, reprimida? Seres humanos com os quais não sabemos conversar (e eles desaprendem conosco). Seres humanos nos quais não aprendemos (quem nos ensinaria?) a descobrir as melhores possibilidades. Tenho receio das conseqüências de nossa incompetência. Outro dia assisti pela segunda vez ao “Cabo do medo”. Quem se lembra do filme entenderá do que falo.
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Neste ano, o papa Bento XVI visitará o país. Haverá, como nos tempos de João Paulo II, aquele entusiasmo, aquela vibração? Esse papa é menos simpático. Outra diferença é com relação ao quadro religioso brasileiro: nas últimas duas décadas, o catolicismo refluiu bastante. Encontrará multidões o papa mais teólogo do que midiático?
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Confesso meu ceticismo com relação aos números futurísticos. Em 2007, o Brasil deverá crescer 5%, diz um ministro. Crescerá apenas 3%, diz um senador da oposição. Não crescerá, afirma o pessimista. Eu e milhões de brasileiros olhamos para o Brasil e não vemos alterações em sua altura...
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E o que parece crescer mesmo é a vontade de reajustar (generosamente) o salário dos parlamentares...Ah, sim, crescerá o número de habitantes. Disso tenho certeza. Embora as famílias tenham, em média, menos filhos do que em outras épocas, a tendência ainda é de crescimento demográfico. Mais brasileiros virão ao mundo, e o compromisso de educá-los, orientá-los, recairá, mais cedo ou mais tarde, sobre os professores, que continuarão (deveria eu predizer o contrário?) sofrendo terrível processo de desvalorização profissional.
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Previsões ou imprevisões, estejamos sempre bem prevenidos: o imprevisto é a única coisa certa.
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Gabriel Perissé é doutor em educação pela USP e escritor.Web Site: www.perisse.com.br

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