segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

Amor pela condição humana
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Sempre que vejo pessoas trabalhando em projetos humanitários atendendo a pobres, dependentes químicos e a portadores de problemas mentais como no Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Petrópolis no qual participo, me vêm à mente duas interpelações: por que tanto sofrimento no mundo visível e invisível? A segunda interrogação é: de onde as pessoas que se dispõem a conviver com aquelas, tiram energias assistindo-as quais simãos-cirineus, tentando fazer seu sofrimento mais leve? De que fonte secreta bebem?
Primeiramente há de se admitir que tais pessoas fazem muita falta, pois o sentimento humanitário não é o que prevalece no mundo. A cultura dominante é materialista, exalta o individualismo e o prazer, favorecendo a indiferença face à dor dos outros. Assim aumenta o desamparo humano, pois o terrível não é tanto o sofrimento em si mas a solidão no sofrimento, o fato de ninguém se mostrar bom samaritano e se curvar sobre o caido em tantas estradas da vida.
As pessoas que, contrariamente à tendência dominante, optam pela com-paixão e por servir aos outros necessitados, precisam continuamente beber de alguma fonte secreta e alimentar uma visão espiritual da vida. Caso contrário, podem sucumbir face à dureza daquela opção em si tão generosa.
Antes de mais nada, importa ter uma visão diria, filosófica, da condição humana. Esta é composta de alegria e de dor, de realização e de frustração, de sonho e realidade. Somos seres de sabedoria (sapiens), de racionalidade e de propósito e ao mesmo tempo seres de demência (demens), de agressividade e de violência.
O desafio da vida é fazer com que o pólo positivo prevaleça sobre o negativo, embora ambos sempre coexistam. Constatamos, entretanto, que em muitos domina o pólo negativo, gente que se perdeu por aí e que não deu certo na vida. Precisamos crer que neles também se esconda o outro pólo, o positivo. que deve ser ativado e alimentado.
Assumida esta perspectiva de base, há de se viver uma atitude de com-paixão. Ter compaixão não significa ter dó. É a capacidade de sair de si, de transferir-se para o lugar do outro e compartilhar de seu sofrimento. Pertence à compaixão acolher o outro como ele é, não querer interferir sabendo que cada qual tem o seu caminho. É importante estar junto dele, não obstante o sentimento de impotência, mas sempre com respeito face ao destino de sua vida, às vezes trágica.
Por fim, há que se ver nos "caidos na estrada" filhos e filhas crucificados de Deus. Eles gritam por ressurreição. Cada pequeno gesto de acolhida e de compreensão pode significar para eles um sinal de ressurreição. Como negar-lhes esta esperança?
Para se manter este tipo de humanismo é importante alimentá-lo mediante um aparelho de conversa sobre problemas humanos. Destarte entendemos melhor a condição humana e como podemos suavizar as constradições. Mais que tudo a oração e a meditação são fontes alimentadoras de uma visão espiritual da vida. É beber da fonte inesgotável do Ser.
Quantas vezes não nos sentimos obrigados a suplicar forças para continuar, pois a situação dos pobres não raro é infernal e sem solução. Outras vezes temos vontade de gritar: "Ó Pai, não esqueças que todos estes são também teus filhos e filhas. Não os deixes assim desgarrados. Cuida, por favor, deles pois são tantos e nós tão poucos".
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Leonardo Boff
09/12/2005

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