sexta-feira, 30 de abril de 2010

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Lula faz pronunciamento relativo ao Dia do Trabalho (29 de abril de 2010)

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quinta-feira, 29 de abril de 2010

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quarta-feira, 28 de abril de 2010

segunda-feira, 26 de abril de 2010

sexta-feira, 23 de abril de 2010

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Governo usa tragédia para obter crédito extraordinário

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva está usando a tragédia ambiental que alcançou as principais cidades do Estado do Rio de Janeiro para uma manobra escandalosa: conseguir, da Câmara e do Senado, aval para a concessão de créditos eleitoreiros em favor de órgãos do Executivo e empresas estatais através de Medida Provisória.

As receitas e despesas do governo federal para o ano civil cujo início se avizinha são calculadas e divididas, entre os diferentes braços da administração, através de uma lei que cuida disso, especificamente, e fixa o Orçamento Geral da União (OGU).

É comum, no entanto, com o passar do tempo, que certos órgãos do governo assumam compromissos que não foram totalmente previstos na peça orçamentária ou cujos custos ultrapassaram os cálculos iniciais.

Obviamente, não interessa, nem ao governo, nem à oposição que, em casos assim, uma obra ou programa seja paralisada ou abandonada. O Executivo tem, portanto, o direito de remeter ao Congresso projetos de lei que o autorizam a aumentar os repasses a este ou àquele Ministério ou a abrir créditos extraordinários em favor de uma ou de várias empresas estatais.

Tais matérias tramitam pela Câmara e pelo Senado e, convertidas em lei, permitem que os gastos da administração se ajustem às novas exigências da realidade.

O governo do presidente Lula, dispondo de folgada maioria no Legislativo, em tese não deveria encontrar dificuldades para, trilhando os caminhos da lei, ampliar as dotações dos órgãos governamentais que dela necessitem. Mas, seja porque os órgãos de gestão orçamentária do Executivo têm incorrido em sucessivas falhas, ou porque a maioria situacionista está mais para balaio de gatos do que para um time harmonioso, o Palácio do Planalto não consegue promover a complementação dos recursos, de que diz necessitar, pela via correta.

Então, utiliza, indevidamente, para tal finalidade, Medidas Provisórias que abrem créditos bilionários para um conjunto de órgãos do Poder Executivo e empresas estatais, subtraindo à oposição parlamentar possibilidade de examinar e discutir o cabimento das suplementações.

Foi o que ocorreu há poucos dias com a aprovação, pelo plenário da Câmara, de MP destinando, a diferentes ramos do Executivo, créditos extraordinários de R$ 18,1 bilhões.

Representando a liderança tucana no momento da votação, denunciei a MP como inconstitucional, pois desatende dois critérios essenciais a estas, os da urgência e da imprevisibilidade das despesas a serem custeadas. Equivale, pois, a um cheque em branco concedido ao governo – o que fica provado quando se constata que vários dos créditos extraordinários, abertos por aquela via, haviam sido anteriormente propostos por projetos de lei de iniciativa do presidente da República, que não chegaram a ser levados à votação.

Em casos muito excepcionais, entende-se que o governo use uma MP para obter recursos extraordinários. Esse seria o caso, na MP agora aprovada, de recursos destinados ao Ministério da Integração Nacional para encaminhar soluções para as catástrofes ambientais que atingiram o Estado do Rio de Janeiro.

Ainda nesse caso, entretanto, é indispensável lembrar que o Rio foi vítima, antes de tudo, dos critérios politiqueiros da administração. Aquele Ministério, na gestão do deputado Gedel Vieira Lima (PMDB/BA), concentrou verbas e recursos na Bahia, atendendo seus interesses naturais, fechando os olhos aos sérios problemas ambientais das principais cidades fluminenses.

Indiretamente, o presidente da República endossou essa política insensata, que tanto está custando em vidas humanas e patrimônios perdidos, pois nada fez no sentido de corrigi-la.

Agora, usa as lágrimas dos alcançados pela tragédia no Rio de Janeiro e em Niterói para aumentar o valor do cheque em branco que tenta arrancar do Congresso.

Antonio Carlos Pannunzio é deputado federal pelo PSDB-SP, vice-líder, membro da CCJ.

A questão do socialismo

Escrito por Wladimir Pomar
13-Abr-2010

O programa petista de governo, mesmo que inclua algumas reformas estruturais, ainda ficará nos limites do capitalismo de características brasileiras. Isto se deve, em grande parte, ao fato objetivo de que no Brasil as forças produtivas sociais ainda não se desenvolveram plenamente e a luta de classes ainda não ganhou contornos suficientemente definidos.

Embora seja um país continental, com possibilidades de desenvolver quase todas as cadeias produtivas industriais necessárias ao atendimento das suas necessidades sociais, o Brasil ainda tem lacunas consideráveis. Por exemplo, é fraco na produção de máquinas-ferramentas, máquinas pesadas, componentes eletrônicos e outros produtos de média e alta tecnologia. Basta passar em revista a pauta do comércio externo para verificar o quanto o Brasil depende da importação desses e de outros bens de capital.

O Brasil também está atrasado no desenvolvimento das ciências e tecnologias como principais forças produtivas. Ele possui alguns setores avançados, como os de softwares específicos e de tecnologias de sondagem e exploração petrolífera de grande profundidade. No entanto, basta comparar a quantidade de patentes registradas pelo Brasil com os números de registros dos demais países emergentes para verificar o quanto estamos atrasados nas áreas que decidem o futuro do desenvolvimento. Portanto, o Brasil ainda tem um caminho relativamente longo no desenvolvimento das forças produtivas, antes que elas entrem em conflito inconciliável com as relações assalariadas de produção.

Por outro lado, a luta de classes no Brasil enveredou por um caminho institucional que tem permitido realizar uma certa harmonização entre os interesses contrários das classes populares e das classes dominantes. Mesmo contra a vontade, a burguesia se viu constrangida a correr o risco de deixar que partidos populares, como o PT e os partidos socialistas e comunistas, se tornassem instituições capazes de disputar eleitoralmente parte do Estado e governar diversos níveis da federação, inclusive o central.

Esta é uma situação política completamente diferente de todas as demais situações históricas vividas pelo povo brasileiro até 1989. É verdade que, em 1928, os comunistas e socialistas tentaram participar do processo eleitoral. E que, em 1946, os comunistas apresentaram candidatos à presidência, governos de estados e prefeituras. Entretanto, seus poucos prefeitos eleitos foram impedidos de tomar posse. Logo depois, em 1947, o PCB teve o registro cassado, foi jogado na clandestinidade e seus senadores, deputados e vereadores também tiveram seus mandatos cassados.

Infelizmente, tem gente que desconhece que, durante um século de República, o Brasil viveu apenas alguns poucos suspiros democráticos. A maior parte do tempo viveu sob diferentes formas ditatoriais. Primeiro, as ditaduras militares e civis da oligarquia dos coronéis do sertão da República Velha. Depois, a ditadura de transição de Vargas e a ditadura aberta do Estado Novo. Em pouco mais de dois anos, a democracia da Constituinte de 1946 foi substituída pelas ditaduras disfarçadas de Dutra e Getúlio. Sob Juscelino, Jânio e Jango, o Brasil viveu momentos instáveis de democracia. E, entre 1964 e 1984, uma ditadura militar aberta, embora mantendo um parlamento de fachada.

Assim, se compararmos a situação atual com todos os demais períodos históricos brasileiros, por mais que achemos que a democracia hoje existente ainda é parcial, restrita e insuficiente, será difícil não reconhecer que o Brasil nunca antes viveu um período democrático tão amplo como o atual. Esta é uma conquista do povo brasileiro, mas ela também trouxe problemas e desafios que os revolucionários de todos os matizes não supunham possíveis.

Diante deles, alguns se fazem de cegos e atacam os defeitos da situação atual sem pensar no que representam de avanços da luta democrática e popular. Outros acham que conquistaram o paraíso e se contentam com os limites existentes. E os que sabem que a luta de classes, mais cedo ou mais tarde, vai levar a crises diversas na harmonização dos contrários, ainda se encontram nas preliminares para traçar uma estratégia e táticas mais claras para a nova situação.

De qualquer modo, a realidade reside em que quanto mais o governo democrático e popular desenvolver as forças produtivas, isto é, as ciências, tecnologias, cadeias industriais, infra-estrutura de transportes, energia e comunicações e a capacidade educacional e técnica da força de trabalho, e quanto mais ampliar a presença da propriedade estatal e pública na sociedade brasileira, mais estará criando condições para transformações socialistas, mesmo que não tenha plena consciência disso.

É evidente que isso não basta para implantar o socialismo. Nem significa necessariamente a passagem natural de uma formação econômico-social para outra. Nós vimos, na presente crise mundial do capitalismo, como os governos que representam o capital foram rápidos em adotar a propriedade estatal e a propriedade pública para salvar a propriedade privada. Portanto, a questão chave não está apenas na existência de formas "socializadas" de propriedade. Está, fundamentalmente, no caráter do poder político, e se este utiliza as formas socializadas em benefício dos trabalhadores e das camadas populares, ou em benefício dos capitalistas.

Isto deverá obrigar os socialistas, se quiserem ter mais clareza sobre a luta do futuro, a discutirem mais seriamente não apenas os problemas do desenvolvimento econômico e social, mas também os problemas relacionados com a democratização do poder político, ou do Estado. Talvez a disputa eleitoral de 2010 seja um momento privilegiado para dar início ao tratamento dessa questão.

Wladimir Pomar é escritor e analista político.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Bela


Cabo Anselmo: Traidor? 1/9

YouTube El Plan Marshall Guerra Fría Cap 3 Part 4 5

YouTube El Plan Marshall Guerra Fría Cap 3 Part 2 5

Entrevista de Ciro Gomes (PSB) ao UOL - 2 de 10

Entrevista de Ciro Gomes (PSB) ao UOL - 3 de 10

YouTube El Plan Marshall Guerra Fría Cap 3 Part 5 5

YouTube El Plan Marshall Guerra Fría Cap 3 Part 1 5

Discurso de posse de Jango 1961

Serra X Lula - Debate 2002 - Tema: Favela

Comício da Central do Brasil 1964

Serra X Lula - Debate 2002 - Tema: Educação

O “Processo Imbecilizador” da educação em SP (4)

Escrito por Wellington Fontes Menezes
19-Fev-2010

4. A emancipação humana contra a barbárie

"A liberdade não é mais que a afirmação de si mesmo". (George W. Friedrich Hegel)

A lógica do capital é a sistemática usurpação da condição humana. No amálgama do capitalismo, a vida nada mais é do que um usufruto da exploração do trabalho alheio por parte das imperativas forças de produção. A educação pública inserida na lógica do mercado condiciona no aparelhamento da escola o patético papel de campos de concentração educacional, onde professores e demais funcionários desenvolvem papéis de feitores desta engrenagem de moer indivíduos.

A premissa é simples: rico paga, pobre pasta. Traduzindo a sintética sordidez capitalista à brasileira no âmbito educacional: quem tem melhor recurso econômico paga escola privada para seus filhos (fixado no inconsciente social onde as "privadas" gozam de melhor qualidade – e necessariamente não se trata de um fato realístico); quem não tem recurso aventura seu filho na escola pública!

A lógica liberal trata a educação pública como um entulho social perdulário, servindo apenas para adestrar alguns trabalhadores "mais capacitados" e descartando o refugo humano desnecessário para as esteiras de produção. Todavia, nenhuma sociedade que aufere para si o rótulo de "humanidade" deve aprisionar seus filhos em cubículos de concreto e espaços estéreis de desenvolvimento numa inútil jornada de tempo. Nesta orquestração do "processo imbecilizador" resta pateticamente aos professores a tarefa de manterem minimamente a ordem e servirem como sentinelas para guardar a inspeção do "período escolar".

É possível fazer uma pertinente analogia. A diferença entre professores da escola pública e agentes carcerários do sistema penal é que os primeiros ainda procuram se sustentar na ilusão da "quintessência docente" e, como um messias pedagógico, alheio à devastação à sua volta, buscará salvar algumas almas mediante seu toque de Midas. Já quanto aos segundos, suas supostas ilusões cessariam desde os primeiros momentos em que adentram as agruras do recinto do sistema penitenciário.

Sendo repetitivo ao ponto de não temer cansar o leitor: a educação pública e de qualidade não é e nunca foi uma prioridade de governo no Brasil. O resultado são anos de inchaço, ineficiência, sucateamento e condições precárias nas escolas públicas. Simplesmente, grande parte das escolas sobrevive do ponto de vista de sua logística pela mendicância de alguns gestores e professores mais apaixonados pelo seu ofício; ou simplesmente a unidade escolar é abandonada à sua própria sorte (e geralmente adotada pelos traficantes de droga locais). O caso do estado de São Paulo é exemplar, uma vez que se trata do principal pólo econômico do Brasil e América Latina.

Apenas com o intuito de exemplificar a assimetria de recursos e prioridade governamentais, há algumas semanas atrás, através do BNDES, foi liberado um aporte de recursos de R$ 1,2 bilhão para investimento apenas para uma única empresa transnacional de capital majoritariamente alemão, a Mercedes-Benz, a ser aplicado na fábrica situada na cidade paulista de São Bernardo. Claro, sempre o mote "politicamente correto" é a geração de empregos. Então vamos lá: no caso específico dos recursos para a Mercedes-Benz, a projeção será de gerar menos de dois mil empregos diretos (numericamente, um pouco mais de indivíduos que uma única unidade escolar)!

Mais uma vez, a Educação não é uma prioridade de investimento e tampouco de governo. Exceto por algumas linhas de crédito para encher bolso de empresários, cujo mote é a rapinagem imediatista do campo do Ensino Superior, não há uma única linha de crédito para a promoção da Educação Básica. O "S" do BNDES é "social" apenas na retórica da cabeça de seus gestores. A lição das "vozes racionalistas" do mercado que ecoam no governo é simples: para a economia, tudo é investimento (com o capitalismo calcado no erário da nação, claro!); para o social, o mero pragmatismo. Resultado: o desenvolvimento disforme, concentrador de renda e fôlego curto - exceto para os que acreditam que viver a labutar crédito em financeiras se endividando rigidamente é renda do trabalhador.

O burocrata que passa a trabalhar dentro da administração pública é geralmente formado em faculdades moldadas com currículos mimetizados em universidades estadunidenses, arrotam "business to business" e não entendem o desenvolvimento econômico como um processo intrinsecamente social. Já a classe política é um emaranhado de interesses e tentáculos corporativistas cuja ação se baseia na letargia administrativa, na lascívia sedutora da corrupção e nas tentações para as mazelas contra o patrimônio público, que são quase uma prioridade. Infelizmente, grande parte do que restou da chamada "esquerda" também sofre de uma amnésia sistêmica no que tange as propostas para Educação.

Em geral, em muitos discursos de uma esquerda "rósea" não é possível ver alguma luz no túnel de suas propostas ou programas para o campo da Educação, além de algumas triviais e inócuas retóricas ou irônicas ações mimetizadas de programas neoliberais (exemplo disto são os sete anos da gestão petista no Ministério da Educação, cujos avanços foram exaustivamente muito tímidos)!

Diante do deserto fratricida e sem vigor ao combate da sanha assassina dos programas neoliberais, a Educação Básica vem sendo paulatinamente corroída por políticas neoliberais cujo objetivo é o lixo do processo social, formando gerações de seres humanos desvalidos, desesperançados e fadados a se aprisionar no acúmulo de fardo humano, entre guetos, favelas e palafitas.

Refletindo e fazendo uma leitura livre do filósofo alemão Jürgens Habermas, até mesmo dentro de uma democracia estabilizada são necessários fortes debates e até uso da força para garantir direitos básicos aos cidadãos a fim de continuar pulsando o ideal de cidadania dentro do modelo capitalista (ou seja, uma "caricatura de cidadania"). No caso da semi-democracia brasileira, a situação é de extrema preocupação. Nesta esteira, é fundamental a ruptura com o processo de endogeneização da benevolência messiânica da tarefa docente para reconstruir um caminho de restauração da dignidade da profissão.

Culpar as mazelas do Poder Público é uma tarefa razoavelmente fácil, porém, sob o ponto de vista da ética, não é possível servir como instrumento do processo de articulação da barbárie por parte de irresponsáveis políticas neoliberais.

O que dignifica o ser humano não é o acúmulo narcíseo de bens materiais, mas a capacidade de suplantar obstáculos e melhorar a sua condição de mundo. Como assinala István Mézáros (2005): "[...] é necessário romper com a lógica do capital se quisermos contemplar a criação de uma alternativa educacional significativamente diferente". Uma escola que não tem como proposta edificante a emancipação humana estará inevitavelmente a ser apenas mais um esboço de um tétrico campo de concentração.

Neste ínterim, o resgate da profissão docente vai muito além da mera luta por miúdos centavos no holerite. O processo de construção do sujeito histórico está na raiz da intervenção que o homem faz dentro de sua arquitetura de mundo. Aproxima-se o dia em que o acúmulo de derrotas cria estafa e somente uma vitória valorosa poderá saciar a vontade de continuar vivo dentro do processo. O chamado para a batalha é o clamor para a própria sobrevivência.

Referências bibliográficas (reunião das quatro partes):

BOTTON, Allain de. Desejo de status. São Paulo: Rocco, 2005.

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Textos sobre educação e ensino. São Paulo: Centauro, 2004.

MÉSZAROS, István. A educação para além do capital. São Paulo: Boitempo, 2005.

PLEKHANOV, Giorgui V. O papel do indivíduo na história. São Paulo: Expressão Popular, 2006.
Mais:

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Wellington Fontes Menezes é professor da rede pública.

terça-feira, 20 de abril de 2010

O “Processo Imbecilizador” da educação em SP (3)

Escrito por Wellington Fontes Menezes
11-Fev-2010

3. O chamado para a "jihad educacional"

Quando uma criatura humana desperta para um grande sonho e sobre ele lança toda a força de sua alma, todo o universo conspira a seu favor.
(Johann Goethe)

A situação da rede pública estadual de ensino só não é pior porque já se tornou impossível piorá-la! O fundo do interminável poço da Educação Básica em São Paulo já foi atingindo com méritos tucanos. Restam ao docente dois caminhos antagônicos, entre os quais deverá optar: continuar na servidão da via crúcis ou ser mais um "mujahid" para a "jihad educacional". Uma analogia com o Islã é pertinente dentro do atual quadro de desespero em que se encontra a Educação Básica, e aqui se fará um exercício de reflexão.

A palavra árabe jihad (literalmente se traduz por "luta") significa lingüisticamente "esforço" ou "empenho" (tal termo pode ser usado por muçulmanos ou não-muçulmanos) e não se trata de uma insana "guerra santa" (como preconceituosamente foi tachada pelos colonizadores europeus durante a Idade Média em batalhas religiosas contra os seguidores do Corão e do Profeta Maomé)

. Desta maneira, a Jihad seria uma luta por vontade pessoal da busca e conquista da fé. Logo, o mujahid é o seguidor da Jihad. De forma análoga, cada professor consciente de seu papel social será um mujahid neste processo de luta contra a terra arrasada imposta pelas seguidas políticas tucanas de destruição da educação pública.

Agora, no mês de janeiro, em plenas férias do quadro docente, o governo implanta seu processo seletivo onde apenas 25% dos melhores colocados adicionarão alguns trocados ao seu provento mensal (isto é, para quem eventualmente conseguir atingir as megalômanas metas impostas no projeto). O primeiro passo para o eleitoral ano de 2010 seria o boicote às débeis provinhas de promoção. Nenhum professor poderia dar aval para este descalabro neurótico promovido pela PLC 29/09 sob pena de estar contribuindo para a insanidade da dupla Serra/Paulo Renato. Cada professor que busque dignificar sua profissão não poderá sucumbir ao processo de submissão voluntária em trocas de algumas supostas migalhas. É pura ilusão acreditar que irão conseguir superar as mirabolantes condicionantes exigidos pela PLC 29/09 para conquistar algum naco de salário pela via estúpida de provinhas. Ressaltando, aqui se trata de aplicação do processo de provas para a classe docente em pleno período de suas férias! Para alertar aos conservadores de plantão, isto não significa que os professores não são capazes de fazerem provas ou bobagens similares, mas sim que o projeto foi elaborado propositadamente para que os docentes de fato não consigam passar pelo processo seletivo.

Seria o projeto um emaranhado de imposições nefastas cujo objetivo é apenas humilhar os professores? Sim, sem dúvida! Bastaria uma simples leitura do projeto para entender seu caráter ordinário e inverossímil! Ademais, não se pode imputar aos docentes uma prova para ganhar nacos de aumento, uma vez que fere de antemão a isonomia salarial da categoria. Cabe aos sindicatos, em particular a APEOESP, boicotar jurídica, política e fisicamente este processo de provinhas e buscar criar condições mínimas para o docente observar reflexivamente no espelho suas condições de trabalho e sobrevida. A simples acomodação a tal processo será a lápide que ornará o fim da categoria docente como norteadores e propulsores de lampejos de esperança social. Notadamente, o mero apelo ao desconhecimento dos fatos não servirá como alívio para a prostrada acomodação, como observa Guiorgui V. Plekhanov: "[...] os homens adquirem consciência de sua situação com um atraso maior ou menor em relação ao desenvolvimento das novas relações que modificam essa situação".

Tal situação não se trata mais do como se chegou ao fundo do poço, mas como a classe docente sairá deste lamaçal histórico promovido pelas mentes disformes da SEE-SP e a ninhada tucana. Dizer "NÃO" para as benditas "provinhas" também é dizer um grande "SIM" para a dignidade do professor. Dizer "NÃO" para o processo imbecilizador da carreira docente é também dizer um fértil "SIM" para o olhar responsável do docente perante sua categoria e ambiente de trabalho. Dizer "NÃO" ao processo de destruição fascista da educação pública pela administração tucana é dizer um enfático "SIM" para a construção de um novo modelo de dignidade para a educação pública.

A luta pela dignidade e melhores condições de vida é a própria luta pela emancipação humana. Logo, cabe a todos os professores da rede pública a adoção do boicote sistemático e a não contribuição que avaliza as tais "provinhas" do processo seletivo do governo Serra. O boicote é uma forma de resistência e luta em favor da escola pública e da dignidade da carreira docente.

Contra a opressão é necessária a sublevação. Destaca-se pertinentemente que, para transformar a condição humana de sua passividade sistêmica, é necessário fazer uma revolução. As palavras de Karl Marx endossam a argumentação: "a coincidência da mudança das circunstâncias com a atividade humana, ou mudança dos próprios homens, pode ser concebida e entendida racionalmente como prática revolucionária". Portanto, a jihad educacional proposta é o único caminho para buscar a dignidade usurpada por anos de destruição do sistema educacional pela ordinária política tucana.

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Wellington Fontes Menezes é professor da rede pública.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

O “Processo Imbecilizador” da Educação em SP (1)

Escrito por Wellington Fontes Menezes
30-Jan-2010

1. Políticas neoliberais de punição e humilhação

"Humilhar é mais que odiar. A humilhação consiste em expor ao ridículo tanto quanto possível." (Herbert Nier Koughron)

Se não bastasse a hecatombe educacional promovida pelas seguidas gestões tucanas à frente da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (SEE-SP), o que mais poderia vir das cabeças esquizofrênicas de seus irresponsáveis gestores? O primeiro passo foi empurrar a culpa no passado (responsabilizar outras gestões é coisa desta bela natureza eleitoreira). Depois, responsabilizar escancaradamente o professor pelo estágio de metástase em que se encontra o fosso educacional. Agora, a próxima etapa é unir a pirotecnia marqueteira e a humilhação total do profissional da educação. Bravo!

A política tucana de humilhação do funcionalismo público não é gratuita. No seu cerne busca sustentar uma ideologia de desmonte do Estado e tem grande suporte na mídia neoliberal. Logo, o governo Serra, por via do seu amigo e secretário de educação, Paulo Renato de Souza, tira do bico tucano um magistral e midiático "Plano de Carreira do Magistério". Possivelmente é o projeto mais ordinário dos últimos tempos feito pelo poder público para desmobilizar, estrangular e, por fim, destruir uma categoria de trabalhadores. E não se trata de apenas eclodir meros jargões políticos. Este processo merece muita atenção diante da condição de "assédio moral" que vem sofrendo a categoria docente.

Em que consiste mais esta nova maldição imposta pelo governo tucano de José Serra? Há uma estratégia bem definida e razoavelmente amarrada que consiste na falácia do discurso da meritocracia, impregnado de políticas neoliberais. Para seus defensores, a meritocracia separa de forma bem simplificada o "joio" do "trigo". Logo, os "bons" seriam premiados e as "maçãs podres", punidas. A meritocracia é o elogio ao "status" e somente as pessoas outorgadas com a "condição superior" que, exclusivamente, serão dignas dos louros e holofotes. Como assinala um aforismo de Allain de Boton, sobre o caráter da estratificação na sociedade meritocrática: "os ricos é que são úteis e não os pobres". Ou de outra maneira mais sintética e popularmente narcísea, "se eu consegui com meu ‘esforço’, por que o outro também não conseguiu?". A meritocracia dentro de uma categoria profissional, além de fazer uma clivagem corrosiva dentro dos seus quadros, alicerça uma condição avassaladora de hostil competição entre seus membros. Inevitavelmente, os resultados são desastrosos para quem emprega a política do código babilônico de Hamurabi, sinalizado pelo clássico aforismo "olho por olho, dente por dente".

Pelo PLC 29/09 lançado pelo governo Serra e aprovado pela Assembléia Legislativa de São Paulo (Alesp) no final de outubro passado, os professores efetivos e estáveis serão submetidos a diversas provinhas mediante uma rocambolesca quinquilharia de regras e pré-condições básicas intercaladas por "faixas de promoção". Para fazer propaganda em épocas pré-eleitoreiras, o governo Serra, em conjunto com a grande mídia, estampou nos quatro cantos que "um professor com curso superior poderá chegar a um salário final de R$ 6.270 (242% acima do piso), se conseguir atingir a quinta faixa. Se não conseguir as boas colocações nos exames, chegará a R$ 3.181 (73% acima do valor inicial)" (Folha de S. Paulo, 21/10/2009).

Logo, não seria difícil para a população concluir de forma abrupta que a classe dos professores dos seus filhos é bem afortunada e ao mesmo tempo "vagabunda" e responsável pela péssima qualidade de educação. Iludidos pela campanha midiática do governo Serra, não é estranho que alguns grupos de pais que se dizem "preocupados com a educação dos filhos" se manifestem de forma agressiva e alienada contra os professores. Vale lembrar que o piso nacional é menos de dois salários mínimos mensais para uma jornada de quarenta horas semanais. E no caso dos professores da rede pública da SEE-SP, o valor do salário-base (sobre o qual que incide cálculos previdenciários) é aproximadamente o mesmo para uma jornada básica pouco inferior a 30 horas semanais.

Na ocasião, esta fábula salarial prometida pelo governo foi estampada e anunciada em primeira página em todos os jornais de grande circulação de São Paulo, sem o menor questionamento das "regrinhas" no mágico plano da dupla Serra/Paulo Renato. Infelizmente, o senso crítico nem sempre é regra da prática docente, e sim o estéril mimetismo do "dador de aulas" (resultado de anos da massiva política do aneurisma fascista tucano para a Educação Básica). Muitos professores aplaudiram entusiasticamente o plano, como sendo a mítica "pedra da roseta" de sua convalescida profissão.

Todavia, com a timidez e indiferença omissa dos sindicatos da categoria (notadamente a APEOESP, uma vez que o CPP é apenas um sindicato patronal de fachada e administrador de "colônias de férias"), que não se mobilizaram ferrenhamente contra o projeto, grande parte dos professores não entendeu que, para ganharem os supostos miraculosos salários para quitarem seus carnês das Casas Bahia, precisam estar dentro de um rol de 25% dos supostos "bem avaliados da rede estadual" dentre os professores que se sujeitarem servilmente a fazerem a tal provinha.

Wellington Fontes Menezes é professor da rede pública.

“Brasil, um país de todos”

Escrito por Gilvan Rocha
09-Abr-2010


Estávamos diante da televisão quando se repetiu, pela milésima vez, o slogan do governo Lula: "Brasil, um país de todos".

A compositora e sambista Adelitta Monteiro não conseguiu conter a sua indignação. Disse ela na ocasião: "é muito descaramento, é muito cinismo dizer que o Brasil é de todos. Ora, de quem são as terras do Brasil? De quem são os bancos endinheirados? De quem é o agronegócio? De quem é o grande comércio? De quem são as minas e os minérios senão da burguesia fartamente enriquecida? Para a grande maioria, mais das vezes, não resta nada além de uns palmos de terra que um dia lhe servirão de removível sepultura e ainda têm a desfaçatez de proclamar que esse Brasil, cantado em prosa e versos, nos pertence".

Isso é fazer a massa de trabalhadores, estudantes e donas de casa de idiota. Isso mesmo. Desde cedo a velha burguesia, usando os mais diversos instrumentos, trata de nos transformar em idiotas políticos para assim poder perpetuar seus privilégios.

Sendo assim, cabe-nos um só caminho: desfazermo-nos das ilusões, das mentiras tão bem plantadas em nossas cabeças. Temos que abrir os olhos e nos tornar gente consciente. E isso significa enxergar que esse imenso Brasil, "a pátria amada", tem seus donos e que não passamos de despossuídos.

É bem verdade que alguns milhões de deserdados recebem migalhas através de campanhas compensatórias, tipo "Bolsa Família", que serve muito bem para evitar tensões sociais e comprar o apoio dos desvalidos.

Não tínhamos como discordar da nossa querida compositora e sambista, cuja indignação a motivava a compor mais uma de suas peças de samba, que havemos de vê-la cantar para afugentar a desinformação e o deboche que eles não têm nenhum pejo em exercitar.

Somente e tão somente, quando o povo trabalhador, o letrado ou iletrado, quebrar as amarras da alienação e se transformar em uma massa de gente consciente é que podemos dar uma virada histórica e proclamar: "Brasil, um país de quem trabalha" inserido num mundo de iguais, de justiça e paz.  

Gilvan Rocha é presidente do Centro de Atividades e Estudos Políticos - CAEP.

Blog: http://www.gilvanrocha.blogspot.com/

sábado, 17 de abril de 2010

Se depender dos sonhos dos tucanos

Se depender dos sonhos dos tucanos, José serra já está eleito presidente, tamanha é o desejo dos aliados do governador para voltarem ao comando do palácio do planalto.
Mas para lá chegarem é bom que os tucanos manifestam um pouco mais de competência do que eles tem manifestado nos últimos meses.
Se continuarem no padrão que vem ostentando podem curtir mais um longo período de oposição, o que alias não parece ser um preocupação de muitos tucanos, bastante conformados, com o banco de reservas.
Os tucanos andaram convencidos de que um dos problemas da candidatura José serra era devido as enchentes em SP.
Será que eles acreditam mesmo que o grande problema da candidatura serra era mesmo as enchentes.
Meu deus será que não aprenderam nada com as últimas derrotas, valha me Deus não podem serem tão tapados.

Globo News Painel analisa declarações de Lula sobre presos de Cuba e bandidos de SP

http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM1228857-7823-GLOBO+NEWS+PAINEL+ANALISA+DECLARACOES+DE+LULA+SOBRE+PRESOS+DE+CUBA+E+BANDIDOS+DE+SP,00.html

Turismo sexual

"Apesar de uma inicativa aqui, outra ali, nosso país ainda é conhecido no exterior como um paraíso do turismo sexual"
Leila Cordeiro

Telhado de vidro

Não são poucos os saudosos do regime militar. A direita brasileira ao atacar a esquerda de antidemocrática, deve estar atento ao seu próprio passado e ao presente.

General Newton Cruz falando merda

http://globonews.globo.com/Jornalismo/GN/0,,MUL1556374-17665-337,00.html

Charge


Flores




General Newton Cruz

General Newton Cruz saiu da tumba e deitou a falar falação sobre o governo militar. Defendeu tudo que foi feito e disse muito mais. Tudo isso ao vivo para a Globonews.

CANAL LIVRE CIRO GOMES P-1

http://www.youtube.com/watch?v=9NsQiE0uqD8&feature=related

Clarinha em 2047

Desde 2005, quando nasceu a minha única filha, Maria Clara, comecei a pensar mais seriamente sobre o planeta que a minha geração está construindo para os nossos filhos e filhas. Não faço a menor idéia de como será o mundo em 2047, quando a Clarinha tiver os mesmos 42 anos que tenho hoje, mas tudo indica que vamos deixar para essas crianças uma Terra muito distinta daquela que encontramos quando nascemos. E não fazemos tudo que é possível para que seja uma Terra melhor.

Assim, a cada ano no Dia do Meio Ambiente, vem uma culpa enorme pelo fato de a minha geração não ter conseguido sequer encaminhar a solução para problemas chave para o planeta. De mudanças no clima à introdução de seres transgênicos na agricultura e na alimentação, passando pela perda acelerada e irreparável de diversidade biológica e a contaminação irreversível da maioria dos recursos hídricos de superfície. Tudo nos leva a dimensões da existência que nunca experimentamos antes.

Aqui no Brasil também colaboramos forte para a incógnita ambiental. Radicalizamos um padrão de crescimento econômico baseado na ultraexploração da natureza e anualmente seguimos perdendo milhares de quilômetros de florestas – vide os índices que o Inpe acabou de mostrar nesta semana. Tudo para garantir o superávit fiscal de cada dia, independentemente dos brutais efeitos sobre a terra, a água e o ar e as pessoas.

Há muito eu estimo que os seres humanos haviam intervido no ambiente além de nossa capacidade de reverter as intervenções, mas preferia não enfrentar esse fato em toda sua gravidade. Essa fatalidade histórica era demais para mim Infelizmente, terminei por confirmar minha intuição em um final de tarde de janeiro de 2003.

Naquele dia, eu entrevistei para o falecido O Pasquim o físico austríaco Fritjof Capra, autor dos best sellers "Tao da Física" (1975) e "O Ponto de Mutação" (1982). Capra é um visionário que alia sensibilidade pessoal a um profundo conhecimento científico de física quântica. Em seus livros, que se tornaram referência para o movimento ambientalista ocidental, ele anteviu macrotendências ecológicas dramáticas para o futuro da humanidade. É uma espécie de Julio Verne ambiental a enxergar décadas antes aquilo que a maioria constata muito tempo depois.

Lá pelas tantas na entrevista, Capra deixou escapar algo que me surpreendeu: ele acredita que o ponto de mutação da Terra, o ponto a partir do qual não há retorno, já passou.

"Eu decidi não ficar paralisado pelo medo de reconhecer que é muito tarde", deixou escapar. Fisguei a isca e perguntei: "O que o senhor quer dizer com "muito tarde"?`. "Que podemos chegar a um ponto crítico entre 10 e 20 anos. Podemos chegar a uma situação sem volta. Eu me refiro aos danos causados pelas mudanças do clima, pelo aquecimento global, pela extinção de espécies, que tem sido tão grande que o planeta pode simplesmente nunca se recuperar". E mais não disse, talvez receoso pelos efeitos que tal declaração, com o peso da autoria de quem a fez, alcançasse mundo afora.

Por isso escrevo este artigo ácido como uma chuva sulfurosa. Não me sinto mais no direito de passar outro Dia do Meio Ambiente criando para mim e para quem me lê a impressão falsa de que está tudo mal, mas há uma saída logo ali na frente. Que a qualquer momento um redentor descerá à Terra e consertará as opções civilizatórias erradas que a espécie humana fez.

Criar a Clarinha nesse contexto é um enorme desafio, por não saber exatamente em que direção o mundo caminha. Assim, como o Capra, para não me sentir emparedado recorro ao raciocínio do filósofo italiano Antonio Gramsci: podemos ser pessimistas na avaliação, mas precisamos ser otimistas na ação. Aliás, também a Anistia Internacional vai nesse sentido. Recentemente, avaliou como "fracasso" a implementação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, embora demande de todos os governos a urgência de colocá-la em prática.

É certo que a minha geração não tem culpa sozinha pelas opções que se vêm construindo ao longo da História, mais especificamente a partir da Revolução Industrial. Ali a humanidade optou pelos combustíveis fósseis para fornecer energia às máquinas que então começavam a modelar o sistema produtivo. Nossos antepassados sequer imaginaram que a queima da madeira, do carvão, do gás e dos óleos combustíveis produziriam os gases causadores das mudanças no clima que se mantêm ativos por séculos.

Mas, a minha geração – em verdade, a nossa geração, caro leitor - tem a obrigação ética e moral de deixar para a Clarinha e todas as crianças (todas mesmo, inclusive as crianças não brancas e pobres de todos os cantos do planeta) uma Terra equilibrada. No mínimo porque será uma tremenda covardia se os nossos filhos crescerem e perceberem que deixamos sem rumo nem direção o enorme avião Terra em que os embarcamos.

Carlos Tautz é jornalista.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

MAIS PAC NO POVO

Mais PAC no povo- publicada na Folha de LONDRINA

Ao Lançar o PAC 1 sem ao menos concluir a metade do projeto, Lula inaugura o PAC2 deixando ao eleitor a sensação de sempre. Rm épocas de eleições as promessas são muitas, mas cumpri-las que é bom vai ficando para depois. Quando passarem as eleições, veremos cidadãos querendo suas casas. Se ganhar a candidata do governo, o projeto vai sendo adiando com a desculpa de que os investimentos estão vindo. Se ganhar a oposição, a culpa será dela por não saírem as casas prometidas. Nesse particular Lula não inova nada, usa os mesmos artifícios de seus antecessores. Culpar o outro sempre foi a melhor saída na política. O dia em que o eleitor acordar, esse tipo de discurso não terá repercussão.

Izabel Avalone

Esperança tucana

Pois os tucanos continuam apostando na possibilidade de Aécio Neves aceitar concorrer a vice na chapa de José Serra.

Os Dez Mandamentos

Os Dez Mandamentos

Os Mandamentos abaixo elencados têm um denominador comum: todos já foram experimentados e estão sendo aplicados em diversas regiões do mundo, setores ou instâncias de atividade. São iniciativas que deram certo, e cuja generalização, com as devidas adaptações e flexibilidade em função da diversidade planetária, é hoje viável. O artigo é de Ladislau Dowbor.

Ladislau Dowbor

Como sociedade, desejamos não somente sobreviver, mas viver com qualidade de vida, e porque não, com felicidade. E isto implica elencarmos de forma ordenada os resultados mínimos a serem atingidos, com os processos decisórios correspondentes. Os Mandamentos abaixo elencados têm um denominador comum: todos já foram experimentados e estão sendo aplicados em diversas regiões do mundo, setores ou instâncias de atividade. São iniciativas que deram certo, e cuja generalização, com as devidas adaptações e flexibilidade em função da diversidade planetária, é hoje viável. Não temos a ilusão relativamente à distância entre a realidade política de hoje e as medidas sistematizadas abaixo. Mas pareceu-nos essencial, de toda forma, elencar de forma organizada as medidas necessárias, pois ter um norte mais claro ajuda na construção de uma outra governança planetária. Não estão ordenadas por ordem de importância, pois a maioria tem implicações simultâneas e dimensões interativas. Mas todos os mandamentos deverão ser obedecidos, pois a ira dos elementos nos atingirá a todos, sem precisar esperar a outra vida.

Considerando que a obediência à versão original dos Dez Mandamentos foi apenas aleatória, desta vez o Autor teve a prudência de acrescentar a cada Mandamento uma nota de explicação, destinada em particular aos impenitentes.

I – Não comprarás os Representantes do Povo
Resgatar a dimensão pública do Estado: Como podemos ter mecanismos reguladores que funcionem se é o dinheiro das corporações a regular que elege os reguladores? Se as agências que avaliam risco são pagas por quem cria o risco? Se é aceitável que os responsáveis de um banco central venham das empresas que precisam ser reguladas, e voltem para nelas encontrar emprego?

Uma das propostas mais evidentes da última crise financeira, e que encontramos mencionada em quase todo o espectro político, é a necessidade de se reduzir a capacidade das corporações privadas ditarem as regras do jogo. A quantidade de leis aprovadas no sentido de reduzir impostos sobre transações financeiras, de reduzir a regulação de banco central, de autorizar os bancos a fazerem toda e qualquer operação, somado com o poder dos lobbies financeiros tornam evidente a necessidade de se resgatar o poder regulador do estado, e para isto os políticos devem ser eleitos por pessoas de verdade, e não por pessoas jurídicas, que constituem ficções em termos de direitos humanos. Enquanto não tivermos financiamento público das campanhas, políticas que representem os interesses dos cidadãos, prevalecerão os interesses econômicos de curto prazo, os desastres ambientais e a corrupção.

II – Não Farás Contas erradas
As contas têm de refletir os objetivos que visamos. O PIB indica a intensidade do uso do aparelho produtivo, mas não nos indica a utilidade do que se produz, para quem, e com que custos para o estoque de bens naturais de que o planeta dispõe. Conta como aumento do PIB um desastre ambiental, o aumento de doenças, o cerceamento de acesso a bens livres. O IDH já foi um imenso avanço, mas temos de evoluir para uma contabilidade integrada dos resultados efetivos dos nossos esforços, e particularmente da alocação de recursos financeiros, em função de um desenvolvimento que não seja apenas economicamente viável, mas também socialmente justo e ambientalmente sustentável. As metodologias existem, aplicadas parcialmente em diversos países, setores ou pesquisas.

A ampliação dos indicadores internacionais como o IDH, a generalização de indicadores nacionais como os Calvert-Henderson Quality of Life Indicators nos Estados Unidos, as propostas da Comissão Stiglitz/Sen/Fitoussi, o movimento FIB – Felicidade Interna Bruta – todos apontam para uma reformulação das contas. A adoção em todas as cidades de indicadores locais de qualidade de vida – veja-se os Jacksonville Quality of Life Progress Indicators – tornou-se hoje indispensável para que seja medido o que efetivamente interessa: o desenvolvimento sustentável, o resultado em termos de qualidade de vida da população. Muito mais do que o produto (output), trata-se de medir o resultado (outcome).

III – Não Reduzirás o Próximo à Miséria
Algumas coisas não podem faltar a ninguém. A pobreza crítica é o drama maior, tanto pelo sofrimento que causa em si, como pela articulação com os dramas ambientais, o não acesso ao conhecimento, a deformação do perfil de produção que se desinteressa das necessidades dos que não têm capacidade aquisitiva. A ONU calcula que custaria 300 bilhões de dólares (no valor do ano 2000) tirar da miséria um bilhão de pessoas que vivem com menos de um dólar por dia. São custos ridículos quando se considera os trilhões transferidos para grupos econômicos financeiros no quadro da última crise financeira. O benefício ético é imenso, pois é inaceitável morrerem de causas ridículas 10 milhões de crianças por ano. O benefício de curto e médio prazo é grande, na medida em que os recursos direcionados à base da pirâmide dinamizam imediatamente a micro e pequena produção, agindo como processo anticíclico, como se tem constatado nas políticas sociais de muitos países. No mais longo prazo, será uma geração de crianças que terão sido alimentadas decentemente, o que se transforma em melhor aproveitamento escolar e maior produtividade na vida adulta. Em termos de estabilidade política e de segurança geral, os impactos são óbvios. Trata-se do dinheiro mais bem investido que se possa imaginar, e as experiências brasileira, mexicana e de outros países já nos forneceram todo o know-how correspondente. A teoria tão popular de que o pobre se acomoda se receber ajuda, é simplesmente desmentida pelos fatos: sair da miséria estimula, e o dinheiro é simplesmente mais útil onde é mais necessário.

IV – Não Privarás Ninguém do Direito de Ganhar o seu Pão
Universalizar a garantia do emprego é viável. Toda pessoa que queira ganhar o pão da sua família deve poder ter acesso ao trabalho. Num planeta onde há um mundo de coisas a fazer, inclusive para resgatar o meio ambiente, é absurdo o número de pessoas sem acesso a formas organizadas de produzir e gerar renda. Temos os recursos e os conhecimentos técnicos e organizacionais para assegurar, em cada vila ou cidade, acesso a um trabalho decente e socialmente útil. As experiências de Maharashtra na Índia demonstraram a sua viabilidade, como o mostram as numerosas experiências brasileiras, sem falar no New Deal da crise dos anos 1930. São opções onde todos ganham: o município melhora o saneamento básico, a moradia, a manutenção urbana, a policultura alimentar. As famílias passam a poder viver decentemente, e a sociedade passa a ser melhor estruturada e menos tensionada. Os gastos com seguro-desemprego se reduzem. No caso indiano, cada vila ou cidade é obrigada a ter um cadastro de iniciativas intensivas em mão de obra.

Dinheiro emprestado ou criado desta forma representa investimento, melhoria de qualidade de vida, e dá excelente retorno. E argumento fundamental: assegura que todos tenham o seu lugar para participar na construção de um desenvolvimento sustentável. Na organização econômica, além do resultado produtivo, é essencial pensar no processo estruturador ou desestruturador gerado. A pesca oceânica industrial pode ser mais produtiva em volume de peixe, mas o processo é desastroso, tanto para a vida no mar como para centenas de milhões de pessoas que viviam da pesca tradicional. A dimensão de geração de emprego de todas as iniciativas econômicas tem de se tornar central. Assegurar a contribuição produtiva de todos, ao mesmo tempo que se augmenta gradualmente o salário mínimo e se reduz a jornada, leva simplesmente a uma prosperidade mais democrática.

V – Não Trabalharás Mais de Quarenta Horas
Podemos trabalhar menos, e trabalharemos todos, com tempo para fazermos mais coisas interessantes na vida. A sub-utilização da força de trabalho é um problema planetário, ainda que desigual na sua gravidade. No Brasil, conforme vimos, com 100 milhões de pessoas na PEA, temos 31 milhões formalmente empregadas no setor privado, e 9 milhões de empregados públicos. A conta não fecha. O setor informal situa-se na ordem de 50% da PEA. Uma imensa parte da nação “se vira” para sobreviver. No lado dos empregos de ponta, as pessoas não vivem por excesso de carga de trabalho. Não se trata aqui de uma exigência de luxo: são incontáveis os suicídios nas empresas onde a corrida pela eficiência se tornou simplesmente desumana. O stress profissional está se tornando uma doença planetária, e a questão da qualidade de vida no trabalho passa a ocupar um espaço central. A redistribuição social da carga de trabalho torna-se hoje uma necessidade. As resistências são compreensíveis, mas a realidade é que com os avanços da tecnologia os processos produtivos tornam-se cada vez menos intensivos em mão de obra, e reduzir a jornada é uma questão de tempo. Não podemos continuar a basear o nosso desenvolvimento em ilhas tecnológicas ultramodernas enquanto se gera uma massa de excluídos, inclusive porque se trata de equilibrar a remuneração e, consequentemente, a demanda. A redução da jornada não reduzirá o bem estar ou a riqueza da população, e sim a deslocará para novos setores mais centrados no uso do tempo livre, com mais atividades de cultura e lazer. Não precisamos necessariamente de mais carros e de mais bonecas Barbie, precisamos sim de mais qualidade de vida.

VI – Não Viverás para o Dinheiro
A mudança de comportamento, de estilo de vida, não constitui um sacrifício, e sim um resgate do bom senso. Neste planeta de 7 bilhões de habitantes, com um aumento anual da ordem de 75 milhões, toda política envolve também uma mudança de comportamento individual e da cultura do consumo. O respeito às normas ambientais, a moderação do consumo, o cuidado no endividamento, o uso inteligente dos meios de transporte, a generalização da reciclagem, a redução do desperdício – há um conjunto de formas de organização do nosso cotidiano que passa por uma mudança de valores e de atitudes frente aos desafios econômicos, sociais e ambientais.

No apagão energético do final dos anos 90 no Brasil, constatou-se como uma boa campanha informativa, o papel colaborativo da mídia, e a punição sistemática dos excessos permitiu uma racionalização generalizada do uso doméstico da energia. Esta dimensão da solução dos problemas é essencial, e envolve tanto uma legislação adequada, como sobretudo uma participação ativa da mídia.

Hoje 95% dos domicílios no Brasil têm televisão, e o uso informativo inteligente deste e de outros meios de comunicação tornou-se fundamental. Frente aos esforços necessários para reequilibrar o planeta, não basta reduzir o martelamento publicitário que apela para o consumismo desenfreado, é preciso generalizar as dimensões informativas dos meios de comunicação. A mídia científica praticamente desapareceu, os noticiários navegam no atrativo da criminalidade, quando precisamos vitalmente de uma população informada sobre os desafios reais que enfrentamos. A pergunta a se fazer a cada ato de conusmo, não é só se “é bom para mim”, mas se é bem para o planeta e o bem comum, e buscar um equilíbrio razoável. A opção individual é essencial, mas não suficiente.

Grande parte da mudança do comportamento individual depende de ações públicas: as pessoas não deixarão o carro em casa (ou deixarão de tê-lo) se não houver transporte público, não farão reciclagem se não houver sistemas adequados de coleta. Precisamos de uma política pública de mudança do comportamento individual.

VII – Não Ganharás Dinheiro com o Dinheiro dos Outros
Racionalizar os sistemas de intermediação financeira é viável. A alocação final dos recursos financeiros deixou de ser organizada em função dos usos finais de estímulo e orientação de atividades econômicas e sociais, para obedecer às finalidades dos próprios intermediários financeiros. A atividade de crédito é sempre uma atividade pública, seja no quadro das instituições públicas, seja no quadro dos bancos privados que trabalham com dinheiro do público, e que para tanto precisam de uma carta-patente que os autorize a ganhar dinheiro com dinheiro dos outros. A recente crise financeira de 2008 demonstrou com clareza o caos que gera a ausência de mecanismos confiáveis de regulação no setor. Nas últimas duas décadas, temos saltado de bolha em bolha, de crise em crise, sem que a relação de forças permita a reformulação do sistema de regulação em função da produtividade sistêmica dos recursos. Enquanto não se gera uma relação de forças mais favorável, precisamos batalhar os sistemas nacionais de regulação financeira. O dinheiro não é mais produtivo onde rende mais para o intermediário: devemos buscar a produtividade sistêmica de um recurso que é público.

A Coréia do Sul abriu recentemente um financiamento de 36 bilhões de dólares para financiar transporte coletivo e alternativas energéticas, gerando com isto 960 mil empregos. O impacto positivo é ambiental pela redução de emissões, é anti-cíclico pela dinamização da demanda, é social pela redução do desemprego e pela renda gerada, é tecnológico pelas inovações que gera nos processos produtivos mais limpos. Tem inclusive um impacto raramente considerado, que é a redução do tempo vida que as pessoas desperdiçam no transporte. Trata-se aqui, evidentemente, de financiamento público, pois os bancos comerciais não teriam esta preocupação, nem esta visão sistêmica. (UNEP,Global Green New Deal, 2009). Em última instância, os recursos devem ser tornados mais acessíveis segundo que os objetivos do seu uso sejam mais produtivos em termos sistêmicos, visando um desenvolvimento mais inclusivo e mais sustentável. A intermediação financeira é um meio, não é um fim.

Particular atenção precisa ser dada aos intermediários que ganham apenas nos fluxos entre outros intermediários – com papéis que representam direitos sobre outros papéis – e que têm tudo a ganhar com a maximização dos fluxos, pois são remunerados por comissões sobre o volume e ganhos, e geram portanto volatilidade e pro-ciclicidade, com os monumentais volumes que nos levaram por exemplo a valores em derivativos da ordem de 863 trilhões de dólares em junho de 2008, 15 vezes o PIB mundial. A intermediação especulativa – diferentemente das intermediação de compras e vendas entre produtores e utilizadores finais – apenas gera uma pirâmide especulativa e insegurança, além de desorganizar os mercados e as políticas econômicas (1).

VIII – Não Tributarás Boas Iniciativas
A filosofia do imposto, de quem se cobra, e a quem se aloca, precisa ser revista. Uma política tributária equilibrada na cobrança, e reorientada na aplicação dos recursos, constitui um dos instrumentos fundamentais de que dispomos, sobretudo porque pode ser promovida por mecanismos democráticos. O eixo central não está na redução dos impostos, e sim na cobrança socialmente mais justa e na alocação mais produtiva em termos sociais e ambientais. A taxação das transações especulativas (nacionais ou internacionais) deverá gerar fundos para financiar uma série de políticas essenciais para o reequilíbrio social e ambiental. O imposto sobre grandes fortunas é hoje essencial para reduzir o poder político das dinastias econômicas (10% das famílias do planeta é dono de 90% do patrimônio familiar acumulado no planeta). O imposto sobre a herança é fundamental para dar chances a partilhas mais equilibradas para as sucessivas gerações. O imposto sobre a renda deve adquirir mais peso relativamente aos impostos indiretos, com alíquotas que permitam efetivamente redistribuir a renda. É importante lembrar que as grandes fortunas do planeta em geral estão vinculadas não a um acréscimo de capacidades produtivas do planeta, e sim à aquisição maior de empresas por um só grupo, gerando uma pirâmide cada vez mais instável e menos governável de propriedades cruzadas, impérios onde a grande luta é pelo controle do poder financeiro, político e midiático, e a apropriação de recursos naturais.

O sistema tributário tem de ser reformulado no sentido anti-cíclico, privilegiando atividades produtivas e penalizando as especulativas; no sentido do maior equilíbrio social ao ser fortemente progressivo; e no sentido de proteção ambiental ao taxar emissões tóxicas ou geradoras de mudança climática, bem como o uso de recursos naturais não renováveis (2).

O poder redistributivo do Estado é grande, tanto pelas políticas que executa – por exemplo as políticas de saúde, lazer, saneamento e outras infra-estruturas sociais que melhoram o nível de consumo coletivo – como pelas que pode fomentar, como opções energéticas, inclusão digital e assim por diante. Fundamental também é a política redistributiva que envolve política salarial, de previdência, de crédito, de preços, de emprego.

A forte presença das corporações junto ao poder político constitui um dos entraves principais ao equilíbrio na alocação de recursos. O essencial é assegurar que todas as propostas de alocação de recursos sejam analisadas pelo triplo enfoque econômico, social e ambiental. No caso brasileiro, constatou-se com as recentes políticas sociais (“Bolsa-Família”, políticas de previdência etc.) que volumes relativamente limitados de recursos, quando chegam à “base da pirâmide”, são incomparavelmente mais produtivos, tanto em termos de redução de situações críticas e consequente aumento de qualidade de vida, como pela dinamização de atividades econômicas induzidas pela demanda local. A democratização aqui é fundamental. A apropriação dos mecanismos decisórios sobre a alocação de recursos públicos está no centro dos processos de corrupção, envolvendo as grandes bancadas corporativas, por sua vez ancoradas no financiamento privado das campanhas.

IX – Não Privarás o Próximo do Direito ao Conhecimento
Travar o acesso ao conhecimento e às tecnologias sustentáveis não faz o mínimo sentido. A participação efetiva das populações nos processos de desenvolvimento sustentável envolve um denso sistema de acesso público e gratuito à informação necessária. A conectividade planetária que as novas tecnologias permitem constitui uma ampla via de acesso direto. O custo-benefício da inclusão digital generalizada é simplesmente imbatível, pois é um programa que desonera as instâncias administrativas superiores, na medida em que as comunidades com acesso à informação se tornam sujeitos do seu próprio desenvolvimento. A rapidez da apropriação deste tipo de tecnologia até nas regiões mais pobres se constata na propagação do celular, das lan houses mais modestas. O impacto produtivo é imenso para os pequenos produtores que passam a ter acesso direto a diversos mercados tanto de insumos como de venda, escapando aos diversos sistemas de atravessadores comerciais e financeiros. A inclusão digital generalizada é um destravador potente do conjunto do processo de mudança que hoje se torna indispensável.

O mundo frequentemente esquece que 2 bilhões de pessoas ainda cozinham com lenha, área em que há inovações significativas no aproveitamento calórico por meio de fogões melhorados. Tecnologias como o sistema de cisternas do Nordeste, de aproveitamento da biomassa, de sistemas menos agressivos de proteção dos cultivos etc., constituem um vetor de mudança da cultura dos processos produtivos. A criação de redes de núcleos de fomento tecnológico online, com ampla capilaridade, pode se inspirar da experiência da Índia, onde foram criados núcleos em praticamente todas as vilas do país. O World Economic and Social Survey 2009 é particularmente eloquente ao defender a flexibilização de patentes no sentido de assegurar ao conjunto da população mundial o acesso às informações indispensáveis para as mudanças tecnológicas exigidas por um desenvolvimento sustentável.

X – Não Controlarás a Palavra do Próximo
Democratizar a comunicação tornou-se essencial. A comunicação é uma das áreas que mais explodiu em termos de peso relativo nas transformações da sociedade. Estamos em permanência cercados de mensagens. As nossas crianças passam horas submetidas à publicidade ostensiva ou disfarçada. A indústria da comunicação, com sua fantástica concentração internacional e nacional - e a sua crescente interação entre os dois níveis - gerou uma máquina de fabricar estilos de vida, um consumismo obsessivo que reforça o elitismo, as desigualdades, o desperdício de recursos como símbolo de sucesso. O sistema circular permite que os custos sejam embutidos nos preços dos produtos que nos incitam a comprar, e ficamos envoltos em um cacarejo permanente de mensagens idiotas pagas do nosso bolso. Mais recentemente, a corporação utiliza este caminho para falar bem de si, para se apresentar como sustentável e, de forma mais ampla, como boa pessoa. O espectro eletromagnético em que estas mensagens navegam é público, e o acesso a uma informação inteligente e gratuita para todo o planeta, é simplesmente viável. Expandindo gradualmente as inúmeras formas alternativas de mídia que surgem por toda parte, há como introduzir uma cultura nova, outras visões de mundo, cultura diversificada e não pasteurizada, pluralismo em vez de fundamentalismos religiosos ou comerciais.

O fato que mais inspira esperança é a multiplicação impressionante de iniciativas nos planos da tecnologia, dos sistemas de gestão local, do uso da internet para democratizar o conhecimento, da descoberta de novas formas de produção menos agressivas, de formas mais equilibradas de acesso aos recursos. O Brasil neste plano tem mostrado que começar a construir uma vida mais digna para o “andar de baixo”, para os dois terços de excluídos, não gera tragédias para os ricos. Inclusive, numa sociedade mais equilibrada, todos passarão a viver melhor. Tolerar um mundo onde um bilhão de pessoas passam fome, onde 10 milhões de crianças morrem anualmente de causas ridículas, e onde se dilapidam os recursos naturais das próximas gerações, em proveito de fortunas irresponsáveis, já não é possível.

Nesta época interativa, o Altíssimo declarou-se disposto a considerar outros Mandamentos. Sendo o Secretariado do Altíssimo hoje bem equipado, os que por acaso tenham sugestões ou necessitem consultar documentos mais completos, poderão se instruir com outros Assessores, em linha direta sob www.criseoportunidade.wordpress.com. Críticas, naturalmente, deverão ser endereçadas a Instâncias Superiores. Apreciações positivas e sugestões de outros Mandamentos poderão ser enviadas ao blog acima citado, ou no e-mail ladislau@dowbor.org

NOTAS

(1) BIS Quarterly Review, December 2008, Naohiko Baba et al., www.bis.org/publ/qtrpdf/r_qt0812b.pdf p. 26: “In November, the BIS released the latest statistics based on positions as at end-june 2008 in the global over-the-counter (OTC) derivatives markets. The notional amounts outstanding of OTC derivatives continued to expand in the first half of 2008. Notional amounts of all types of OTC contracts stood at $863 trillion at the end of June, 21% higher than six months before”. São 863 trilhões de dólares de derivativos emitidos, frente a um PÌB mundial de cerca de 60 trilhões.

(2) Susan George traz uma ilustração convincente: um bilionário que aplica o seu dinheiro com uma conservadora remuneração de 5% ao ano, aumenta a sua fortuna em 137 mil dólares por dia. Taxar este tipo de ganhos não é “aumentar os impostos”, é corrigir absurdos.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Charg


Serra é o candidato da direita

Fracassado Collor – em cujo governo os tucanos se preparavam para entrar -, FHC assumiu a heranca do projeto neoliberal no Brasil. Norteou-se por seus mentores, Mitterrand e Felipe Gonzalez, e achou que se daria bem sendo seu continuador no Brasil, que era a a via que lhe restava para realizar seu sonho de ser presidente.

Assumiu com todo o ímpeto, achando que ia se consagrar. A ponto de ter proferido um conjunto de besteiras, como, entre outras, a de que ”A globalização é o novo Renascimento da humanidade”. E lá foi ser “droit” na vida.

Vestiu a carapuça que Roberto Marinho procurava. Se atribui a ele a frase, diante da queda tão chorada do Collor: “Foi o último presidente de direita que conseguimos eleger”. Se supunha que tinham de buscar em outras hostes o continuador de Collor. E acharam FHC.

Que teve a audácia de chamar o PFL, partido nascido da ditadura, com ACM, Marco Maciel, Jorge Bornhausen, como seus dirigentes pára- representativos, que tentavam se reciclar para a democracia, buscando apagar seu passado. Tucanos e pefelistas foram a base de sustentação firme do governo, que agregou o PMDB (governista, como sempre) e outros partidos menores.

Esse foi o eixo partidário do projeto neoliberal de FHC. Que pretendia ser para o Collor o que o Toni Blair foi para a Thatcher: deixar que Collor fizesse o trabalho mais sujo do neoliberalismo – privatizações, abertura da economia, enfraquecimento substancial do Estado, precarização das relações de trabalho -, para que ele aparecesse como a “terceira via”. Como Collor fracassou, FHC teve que vestir o tailler da Thatcher e implementar a ortodoxia neoliberal.

Serra nunca se deu bem com FHC – como, aliás, com ninguém, com seu gênio de turrão, de mal humorado, que nunca sorri, que atropela a tudo e a todos que vê como obstáculos. Serra sempre disputou com FHC dentro dos tucanos, era seu rival. Perdeu e teve que aceitar o Ministério do Planejamento do governo, sem poder algum, mas tendo que referendar o Plano Real. Depois foi para a Saúde, para tentar preparar sua candidatura à presidência. Tentou manter distância do governo de FHC, sabendo que quem se identificasse com o governo, perderia. Não consegui e foi derrotado fragorosamente no segundo turno.

Em 2006, temeu por uma nova e definitiva derrota, além do que, pessoa com péssimas relações com todo mundo, perdeu para Alckmin o foro interno dos tucanos e teve que se contentar com esperar. Volta agora como o candidato do bloco que passou a ocupar o espaço da direita no campo político brasileiro.

A oposição aceita Serra não de bom grado, em primeiro lugar porque ele tem relações ruins com todos. Em segundo, porque ele não quer assumir o figurino – vestido com desenvoltura por FHC, por Sergio Guerra, por todo o DEM – de bater duro no governo Lula, de assumir claramente o papel de oposição ao governo. Porque Serra sabe que o sucesso do governo Lula demonstra que esse é um caminho seguro de derrota.

É um casamento de conveniência, mas não havia outro lugar se Serra ainda tem alguma esperança de ser presidente. Às vezes, pela fisionomia e pelas palavras dá a impressão que ele sai candidato com resignação, consciente que é sua ultima oportunidade, mas que sabe que vai para o matadouro, para a derrota inevitável.

O campo político não é definido pela vontade das pessoas. Ele tem uma objetividade, resultado dos enfrentamentos e das construções de força e de aliança de cada bloco. A bipolaridade não é um desejo, é uma realidade. São dois grandes blocos que se enfrentam, com programas, forças sociais, quadros, objetivos e estratégias contrapostas.

Dilma representa o aprofundamento do projeto de 8 anos do governo Lula, ocupa o espaço da esquerda no campo político. Serra representa as mesmas forças que protagonizaram os 8 anos do governo FHC, que implementou o neoliberalismo no Brasil, governo de que o próprio Serra foi ministro todo o tempo. São dois projetos, dois países distintos, dois futuros diferenciados, para que o povo brasileiro os compare de decida.

Emir Sader

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Previsões

Charges


Chora Cabral


E o jornal tem moral para dizer tais coisas?

Leio no site do jornal o Estado de São Paulo que o governo Serra foi obrigado a agir com violência contra a greve dos professores. Entendi, o governo foi obrigado. O jornal também informa que o sindicato dos professores saiu desmoralizado da greve. E o jornal tem moral para dizer tais coisas?

Ranking nacional de salários de professores

Fonte Folha de São Paulo:

Perguntando e ofendendo

José Serra tratou de forma ditatorial e violenta o funcionalismo quando este recorreu à greve em SP. Na presidência fará o mesmo?

terça-feira, 13 de abril de 2010

Perguntando e ofendendo

Será que os petistas gaúchos vão suar a camisa pela candidata do governo, caso esta venha a contar com o apoio do PMDB no RS.

FHC está preocupado com os rumos do Brasil

Ex-presidente FHC está preocupado com os rumos do Brasil. Ora, ora, meus Deus, o homem teve oito anos para colocar em prática essas preocupações. Pouco tardia a preocupação não?

Socorro, Pinel

As salas de espera andam lotadas. Psicólogos não têm horário livre. As filas chegam às calçadas… O mundo está doente. As pessoas não sabem mais o que querem, lutam por valores vazios, materialidades que não lhes dão prazer, mas que as afundam em silenciosos desespero, isso sim.
O que acabo de ler nos jornais deixa-me pensativo, não digo surpreso. Não é de hoje que testemunhamos o desatino coletivo das pessoas, pessoas que não trabalham por amor, por gosto à profissão, trabalham só pelo dinheiro de que precisam para pagar as contas. As pessoas trabalham para pagar as contas do vício do consumismo estéril.
Antes de dizer do assunto de hoje, é bom lembrar que dia desses contei aqui sobre uma pesquisa feita em colégios na Argentina.
Perguntadas sobre o que desejariam ser no futuro, as garotas repetiam um mantra: magras. Elas querem ser magras. Santo Deus, ser magra não é objetivo de vida, não é profissão, não é nada, é apenas resposta ao mercado da moda, das exigências dos homens por mulheres bonecas…
Mulher tem que ser boneca, manequim, cabeluda, os homens não querem mulheres que estudam, trabalham por idealismo, cortam o cabelo, mulheres que não sejam frívolas e submissas. Eles querem mulherzinhas. E elas concordam. Regra geral.
Pois bem, terminou o Big Brother, o maior laboratório de psicologia humana do Brasil. Se algum psicólogo quiser fazer pós-graduação em psicologia que procure pelos vídeos do BBB. Vê-los pós-gradua e doutora.
Pois acabo de ler sobre declarações de personagens do recém-terminado BBB 10. O Cadu, que foi finalista junto com a Fernanda e o Dourado, perguntado se tem namorada, disse que não.
Disse exatamente assim: “Estou solteiro, não tenho namorada, tenho apenas um relacionamento…” Sacrossanto, o que é ter um relacionamento e não ter namorada ou ser casado? Agora é assim, a moda são os ajuntamentos, viver como casados sem ser casados. Vergonha? Ah, deixe isso pra lá.
E a Fernanda, a loirinha dentista do BBB, perguntada sobre o futuro, disse que pretende botar silicone nos seios e, quem sabe, posar nua.
Meu Deus, o futuro da moça é silicone e nudez, é isso, Fê? E o Cadu está solteiro, sem namorada, mas com um relacionamento.
Vou ligar para a Pinel. Que venham me buscar, estou mordendo os cotovelos.
Luiz Carlos Prates

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Perguntando e ofendendo

Porque apenas 2% dos estudantes do ensino médio querem ser professores?

domingo, 11 de abril de 2010

Paixão conservadora pelo obscurantismo

Paixão conservadora pelo obscurantismo
A grande mídia sente uma atração fatal pelas forças do atraso, pelo endeusamento do mercado, pela negligência dos direitos dos oprimidos. O conservadorismo chega a ser um estilo de vida, uma forma de lutar contra qualquer forma de inclusão, seja social, cultural, digital.

Washington Araújo

Jornais e revistas de grande circulação, redes de TV e rádio com os maiores índices de audiência continuam se alinhando com as forças do atraso, mesmo em seu momento de maior refluxo. Em um tempo em que o mercado demonstra ser incapaz de prover solução aos graves problemas que afligem a maior parte da população, esses veículos parecem inteiramente desnorteados ao ver seu prestígio, poder de influência e capacidade de influenciar opiniões em franco declínio.

Se há dez ou quinze anos um escândalo tinha sempre sobrevida para freqüentar as capas das revistas semanais, primeiras páginas dos jornalões e lugar de destaque na escalada dos maiores telejornais da noite, hoje os escândalos têm vida curta, começam como pequenas ondas e, como elas, terminam sem nunca alcançarem o apogeu. Acontece que escândalos fabricados nascem com prazo de validade vencido. E se conseguem repercutir por três dias, uma ou duas semanas, já é um feito e tanto. O expediente, de tão usado, perdeu o impacto; as pessoas comuns torcem a boca, esboçam sorriso maroto e nem se dão mais ao trabalho de acompanhar a história.

Tema vital
O conservadorismo mostra sua cara quando insiste em menosprezar a legitimidade de, por exemplo, o Bolsa Família. E o rotula como Bolsa Esmola, Bolsa Mendicância e Bolsa Vagabundagem. E apresenta-se de corpo inteiro quando rechaça políticas de ação afirmativa como a de garantir aos afrodescendentes, aos índios, aos ciganos, facilidades para o acesso à educação universitária.

Como muitos medicamentos, o conservadorismo tem como princípio ativo o olhar de soberba, de cima para baixo, a não aceitação que o pessoal do andar de baixo tem os mesmos direitos que os do andar de cima, que a lei é soberana para todos e que a esta todos devem se submeter. O conservadorismo chega a ser um estilo de vida, uma forma de lutar contra qualquer forma de inclusão, seja social, cultural, digital.

A mídia potencializa o conservadorismo quando criminaliza movimentos sociais e interdita o debate sobre liberdade de expressão criando cortinas de fumaça em torno do que deseja, realmente, preservar. E o que ela anseia com todas as suas forças e meios nada mais é que perpetuar a concentração da propriedade dos meios de comunicação, mantendo como cláusula pétrea de sua atividade a compreensão de que, ao contrário do que reza a Constituição federal, não compete ao Estado lançar seus olhos sobre os meios de comunicação que atuam no segmento do rádio e da televisão.

Em outras palavras, pode-se afirmar que qualquer mudança no modus operandi do Estado em relação a este tema vital para a sociedade seria visto como crime de lesa-pátria. Há que se manter aquele conceito de propriedade vigente por tanto tempo à época do Brasil Colônia – o das sesmarias.

Interesses ocultos
Não podemos esquecer que a grande mídia sente uma atração fatal pelas forças do atraso, pelo endeusamento do mercado, pela negligência dos direitos dos oprimidos. No caso do Brasil, estou bem convencido que a grande mídia brasileira é...

** ... a mesma mídia que foi contra o governo de Getúlio Vargas e seu projeto nacionalista e popular, levando-o ao suicídio;

**... a mesma mídia que se posicionou fortemente contra o governo de Juscelino Kubitschek;

**... a mesma mídia que apoiou o golpe militar de 1964;

**... a mesma mídia que apoiou a ditadura (e hoje tenta reescrever a história dizendo que foi contra a ditadura ou ocultando que lhe foi favorável);

**... a mesma mídia que abafou a inspiradora campanha das "Diretas já!", engolfando o Brasil de norte a sul;

**... a mesma mídia que na eleição de 1989 tentou convencer a população que o Lula e o PT eram responsáveis pelo seqüestro do empresário Abílio Diniz;

**... a mesma mídia que apoiou Fernando Collor e editou o debate final naquela eleição em favor dele;

**... a mesma mídia que abafou a crise econômica e o fato de que o Brasil estava quebrado durante a eleição de 1998, favorecendo decisivamente a reeleição do presidente;

**... a mesma mídia que publicou ficha apócrifa de Dilma Rousseff como se fosse original dos arquivos da ditadura;

**... a mesma mídia que assacou de forma impiedosa contra a honra e os valores morais do presidente da República no sórdido episódio protagonizado por Cesar Benjamin;

**... a mesma mídia que boicotou solenemente (e desmereceu) a 1ª Conferência Nacional da Comunicação, e que apoiou de maneira irrestrita e apaixonada o 1º Fórum Democracia & Liberdade de Expressão, patrocinado por seu Instituto Millenium;

**... a mesma mídia que se aproveita da liberdade democrática para servir a interesses ocultos, geralmente manipulando as informações e o conhecimento, visando produzir apenas indivíduos dotados de opiniões, não de conhecimento, nem de sabedoria.

Estrago irremediável
O debate que interessa às massas da humanidade mudou de eixo há mais de 20 anos. Enquanto corpos editoriais foram conservados no formol do falso intelectualismo, o mundo girou e a Lusitana – aquela famosa empresa carioca de mudanças – rodou muito. Só a mídia não viu. Ou não quis ver. Ou se fez de rogada.

O leitor escolhe a situação. A grande imprensa divulgou o momento mesmo em que foi derrubado o muro de Berlim, mas não captou o evento em sua inteireza, em sua magnitude. Com a queda do reboco do infausto muro o mundo se libertou da opressão ideológica e mesmo que o capitalismo tenha se autodeclarado vencedor, a verdade é que não houve vencedores, apenas vencidos. Há muito que o capitalismo deixou de prover soluções duradouras para a manutenção da paz no mundo, há muito que o sistema renunciou à missão de saciar a fome que aprisiona 2/3 da espécie humana, há muito que se esvaziou o papel da Organização das Nações Unidas como símbolo de equilíbrio da ordem mundial.

Nada disso foi manchete porque nada disso foi notícia para um jornalismo ávido por sensação e alheio a percepções; para uma mídia ciosa por manter seu próprio muro de Berlim, tão bem simbolizado por seu extremo partidarismo, por sua cruel parcialidade na hora de decidir o que pode e o que não pode ser tratado como notícia.

Essa mídia, que tantas vezes avocou para si a missão de tribunal plenipotenciário e que deveria ter por obrigação informar a população, assume a missão de julgar e condenar desafetos políticos, lançando na fogueira da cobertura jornalística precária e tendenciosa pessoas que deram o melhor de si para construir um país mais justo. Do mesmo jeito como atuaram no escabroso caso da Escola de Base, em São Paulo. Ali tudo teve início, é bom recordar, para não esquecermos do quão abusiva pode ser a mídia, quando "duas mães de alunos dessa escola deram queixa na delegacia de que seus filhos de quatro e cinco anos estariam sendo molestados sexualmente na escola, e talvez, levados numa Kombi para orgias num motel, onde seriam fotografados e filmados". O delegado de plantão, não apenas acolheu a denúncia como teve a iniciativa de alardear junto à imprensa o teor da denúncia demolidora, antecipando uma condenação dos donos da Escola Base, Maria Aparecida Shimada e seu marido, Icushiro Shimada.

Resumo da história: só no final do inquérito, dez anos depois, os proprietários foram declarados inocentes.

Neste caso específico com exceção do jornal Diário Popular, fizeram parte da onda acusatória contra os proprietários e funcionários da Escola Base a Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo, SBT, TV Globo, Veja, TV Record, Rádio e TV Bandeirantes e IstoÉ. Escrevendo sobre o caso, o psicanalista Raimundo de Lima destacou que "as indenizações obtidas por danos psicológicos, morais e materiais não conseguirão reverter o que eles perderam de saúde, de dignidade, de imagem pessoal e profissional limpa perante a sociedade. Não conseguirão reaproximar casais, pais e filhos e amigos, todos afastados pela contaminação do veneno da delação e da acusação vazia".

Lições de Reich
A execração pública dos proprietários da Escola Base foi um dos episódios mais perversos protagonizados pela grande imprensa brasileira. O caso mostrou à larga quão insidiosa pode ser a imprensa quando descuida de seu dever básico – a busca da verdade. Guardando-se as proporções, o sofrimento causado aos donos da Escola Base guarda paralelos com aquele sofrido pelo capitão Alfred Dreyffus, na França, no limiar do século 19. Neste episódio as honras da justiça foram feitas por um cidadão extraordinário, o escritor Émile Zola. A ele, tão somente, coube a missão de reconstruir os pilares da justiça e seu libelo "J´Accuse!" (Eu acuso!) é uma das mais instigantes peças jamais escritas em defesa da justiça e da liberdade humana. Conta-se que, ao insurgir-se contra a imprensa francesa e contra as forças armadas da França, Zola dedicou o melhor dos seus talentos, seu tempo, suas finanças, sua saúde. E é fato que enquanto na fria madrugada parisiense uma luz bruxuleava (sempre quis usar esta palavra!) no andar térreo da casa do notável escritor, isso era sinal de que a consciência da França estava acesa.

Deixemos São Paulo e Paris de lado e voltemos ao tema. Pois bem, não se trata de ser de direita ou de esquerda porque essa discussão há muito passou a se assemelhar àquelas infindáveis discussões para saber qual era o sexo dos anjos. O debate atual – e aquele que realmente importa – é o existente entre os que têm (educação superior, cargos, títulos, riqueza) e os que não têm (saneamento básico, educação formal, emprego). Neste debate o papel da imprensa é crucial. Porque precisamos tratar mais do mundo que queremos do que do mundo que temos. Pensar hoje nas gerações futuras. Mas como fazer isso se, lamentavelmente, sabemos quão conservadora é a nossa grande imprensa, quão imediatista, quão dissociada da defesa dos valores humanos ela vem se mostrando?

O austríaco Wilhelm Reich (1897-1957), considerado gênio por alguns e louco por outros, foi o maior revolucionário da Psicologia do século 20. Pioneiro da revolução sexual, precursor dos movimentos ecológicos e da psiquiatria biossocial, Reich desenvolveu também artefatos usados na cura do câncer e na diminuição dos efeitos negativos da energia nuclear. É dele uma frase que tem me incendiado a imaginação sempre que me ponho a pensar sobre a mídia que temos e aquela que gostaríamos de ter. Eis a frase:

"Cada ato mesquinho nosso faz retroceder mil passos qualquer esperança que possa restar quanto ao nosso futuro".


Washington Araújo é jornalista e escritor. Mestre em Comunicação pela
UNB, tem livros sobre mídia, direitos humanos e ética publicados no Brasil,
Argentina, Espanha, México. Tem o blog http://www.cidadaodomundo.org
Email - wlaraujo9@gmail.com