Lula e as Coletivas
.
Lula foge da coletiva como menino da palmatória
Durante toda a sua vida sindical e política, Lula foi paparicado por jornalistas. Viam-no como um líder genuíno, purificado na origem humilde. Endeusavam-no. Poupavam-no de inquirições. Havia mesmo, no meio jornalístico, uma atmosfera de torcida.
Torcia-se, primeiro, pelo triunfo do retirante encarnado no sindicalista. Depois, pelo político que compensava a falta de educação formal com uma memória prodigiosa e uma intuição incomum. Tanta condescendência produziu um Lula avesso a questionamentos e ao debate franco de pontos de vista.
Lula não gosta de dar entrevistas coletivas, eis o ponto que se pretende realçar. Ao longo de todo o primeiro mandato, concedeu uma mísera coletiva. Deu-se em abril de 2005, depois de 28 meses de governo. Limitou-se a 14 o número de perguntas. Proibiram-se as réplicas. Lula saiu-se, diga-se, muito bem. Depois disso, babau.
Em 29 de outubro de 2006, dia em que foi reeleito, Lula prometeu: Vou “mudar o meu comportamento com a imprensa no segundo mandato.” De saída, acenou com a hipótese de falar aos jornalistas, coletivamente, na semana seguinte. Não falou. O segundo reinado já consumiu 63 dias da folhinha. E nada de uma boa coletiva.
Na última quinta-feira (1), Lula convidou ao Alvorada um grupo de 11 jornalistas. Ofereceu-lhes café da manhã e conversa. Falou por uma hora e meia. Proibiram-se gravações. Nem som nem imagem. Repetiu-se o riscado do primeiro reinado. Conversas de Lula com a imprensa, só de raro em raro. E em ambientes fechados, com platéia selecionada.
É como se o presidente buscasse proteger-se do risco de gafes. É como se receasse as respostas atravessadas. Um medo que não combina com a trajetória do político treinado no embate sindical e curtido em cinco disputas presidenciais. Tudo pareceria folclórico não fosse por um detalhe: está-se malbaratando uma ferramenta cara à democracia.
A entrevista coletiva tornou-se a forma mais simples e eficaz de um gestor público prestar contas de seus atos à sociedade. Quanto mais arejado e democrático é o país, mais freqüentes são as sessões de argüição pública. O costume das coletivas presidenciais nasceu nos EUA, sob Woodrow Wilson. Concedeu sua primeira entrevista em 19 de março de 1913. A partir daí, a sociedade norte-americana como que impôs a repetição do gesto a todos os sucessores.
Na Casa Branca, as coletivas ocorrem com periodicidade mensal. O mesmo se dá no Reino Unido do primeiro-ministro Tony Blair. Na véspera da primeira e única coletiva de Lula, em 2005, George Bush, também avesso ao contato com jornalistas, concedera sua 21a entrevista. Bill Clinton deu, em oito anos, 117 coletivas. No Brasil, FHC concedeu uma coletiva, com direito a réplicas, para cada ano de seus dois mandatos.
Ao fugir do contato aberto com repórteres, Lula desrespeita a sociedade, não a “imprensa burguesa.” É certo que a política moderna oferece aos seus protagonistas um aparato que facilita a administração de símbolos e a manipulação da opinião pública. Vão da propaganda às pesquisas de opinião. Mas o uso desmedido desse ferramental conduz ao mais puro engodo. Algo que não parece incomodar nem a Lula nem ao PT, mais preocupados em ministrar aulas de bom jornalismo e tramar a construção de utópicos meios alternativos de comunicação.
Lula foge da coletiva como menino da palmatória
Durante toda a sua vida sindical e política, Lula foi paparicado por jornalistas. Viam-no como um líder genuíno, purificado na origem humilde. Endeusavam-no. Poupavam-no de inquirições. Havia mesmo, no meio jornalístico, uma atmosfera de torcida.
Torcia-se, primeiro, pelo triunfo do retirante encarnado no sindicalista. Depois, pelo político que compensava a falta de educação formal com uma memória prodigiosa e uma intuição incomum. Tanta condescendência produziu um Lula avesso a questionamentos e ao debate franco de pontos de vista.
Lula não gosta de dar entrevistas coletivas, eis o ponto que se pretende realçar. Ao longo de todo o primeiro mandato, concedeu uma mísera coletiva. Deu-se em abril de 2005, depois de 28 meses de governo. Limitou-se a 14 o número de perguntas. Proibiram-se as réplicas. Lula saiu-se, diga-se, muito bem. Depois disso, babau.
Em 29 de outubro de 2006, dia em que foi reeleito, Lula prometeu: Vou “mudar o meu comportamento com a imprensa no segundo mandato.” De saída, acenou com a hipótese de falar aos jornalistas, coletivamente, na semana seguinte. Não falou. O segundo reinado já consumiu 63 dias da folhinha. E nada de uma boa coletiva.
Na última quinta-feira (1), Lula convidou ao Alvorada um grupo de 11 jornalistas. Ofereceu-lhes café da manhã e conversa. Falou por uma hora e meia. Proibiram-se gravações. Nem som nem imagem. Repetiu-se o riscado do primeiro reinado. Conversas de Lula com a imprensa, só de raro em raro. E em ambientes fechados, com platéia selecionada.
É como se o presidente buscasse proteger-se do risco de gafes. É como se receasse as respostas atravessadas. Um medo que não combina com a trajetória do político treinado no embate sindical e curtido em cinco disputas presidenciais. Tudo pareceria folclórico não fosse por um detalhe: está-se malbaratando uma ferramenta cara à democracia.
A entrevista coletiva tornou-se a forma mais simples e eficaz de um gestor público prestar contas de seus atos à sociedade. Quanto mais arejado e democrático é o país, mais freqüentes são as sessões de argüição pública. O costume das coletivas presidenciais nasceu nos EUA, sob Woodrow Wilson. Concedeu sua primeira entrevista em 19 de março de 1913. A partir daí, a sociedade norte-americana como que impôs a repetição do gesto a todos os sucessores.
Na Casa Branca, as coletivas ocorrem com periodicidade mensal. O mesmo se dá no Reino Unido do primeiro-ministro Tony Blair. Na véspera da primeira e única coletiva de Lula, em 2005, George Bush, também avesso ao contato com jornalistas, concedera sua 21a entrevista. Bill Clinton deu, em oito anos, 117 coletivas. No Brasil, FHC concedeu uma coletiva, com direito a réplicas, para cada ano de seus dois mandatos.
Ao fugir do contato aberto com repórteres, Lula desrespeita a sociedade, não a “imprensa burguesa.” É certo que a política moderna oferece aos seus protagonistas um aparato que facilita a administração de símbolos e a manipulação da opinião pública. Vão da propaganda às pesquisas de opinião. Mas o uso desmedido desse ferramental conduz ao mais puro engodo. Algo que não parece incomodar nem a Lula nem ao PT, mais preocupados em ministrar aulas de bom jornalismo e tramar a construção de utópicos meios alternativos de comunicação.
Blog do Josias de Souza
Nenhum comentário:
Postar um comentário