terça-feira, 27 de março de 2007

OS GÊNIOS DE ÓCULOS
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Quando necessitei de óculos pela primeira vez, há dez anos, alguém me disse, certamente para me consolar, que as pessoas que usam óculos são mais inteligentes... Ora!... Eu não queria parecer mais inteligente que ninguém. Só queria ter uma qualidade de visão igual a dos outros...
Parecia, na minha cabeça, que a inteligência não tinha nada a ver com a visão, e sim com a massa encefálica de cada indivíduo e com a periodicidade com que ela é usada... Afinal, tudo que cai em desuso, atrofia.
Não sou psicólogo, nem neurologista, entendo pouco dessas coisas da mente, apesar de me esforçar para aprender... Mas há algum tempo recebi um e-mail que me fez mudar de idéia. Nele dizia que para sermos “mais inteligentes”, é necessário exercitarmos o cérebro, oportunizando a ele o máximo de situações novas todos os dias, desafiando sua incrível capacidade de adaptação: algo como, mudar a disposição dos móveis da casa, escritório, ou qualquer outro local de trabalho; andar por caminhos diferentes, trocar o relógio do pulso esquerdo para o direito, caminhar de costas, memorizar placas na rua, usar o mouse com a mão contrária à costumeira, ou frear o automóvel com o pé esquerdo (Ôpa! Isso é perigoso... melhor não tentar!)... e o melhor exercício para a mente, na minha opinião, que é a leitura de bons livros e textos, enriquecendo nosso vocabulário e excitando nossa criatividade.
Provas da incrível e incontestável capacidade de adaptação do cérebro humano, não faltam, haja visto muitos deficientes físicos, mentais e sensoriais que não se renderam aos obstáculos impostos pela vida e conseguem interagir com este mundo globalizado e desumano à altura daqueles considerados “normais”... Como conseguem levar uma vida normal?... Exercitando as partes do cérebro atrofiadas por nossa preguiça e vencendo barreiras limítrofes impostas pelo preconceito fétido dos (a)normais.
Seguindo este raciocínio, as pessoas que dependem de lentes corretivas para a visão, também exercitam mais o cérebro, pois periodicamente precisam atualizar o grau de seus óculos, necessitando, para isso de uma adaptação e um exercício mental que é tanto maior quanto a diferença do grau de deficiência em relação aos mortais que usufruem de uma visão perfeita.
Isso muito me consola e me faz lembrar de muitos “míopes” ou deficientes visuais famosos: O grande poeta Carlos Drummond de Andrade, O cronista catarinense Maicon Tenfen que é cego de um olho, mesma deficiência de Luiz Vaz De Camões, que há mais de quinhentos anos atrás, apesar de perder um olho na guerra, nos presenteou com sua obra incomparável e de um valor incalculável para a Literatura, não só Portuguesa, mas universal, além de tantos outros contemporâneos, como Jô Soares, o cantor e compositor Silvio Brito, etc...etc...etc...
Se exercitar mais o cérebro é sinal de inteligência, então eu sou inteligente, pelo fato de há cada seis meses precisar trocar as lentes dos meus óculos e desafiar a capacidade de meu cérebro adaptar-se com novas situações, fato que ocorre com qualquer “quatro zóio” , provando que este mito é verdadeiro: Quem usa óculos é mais inteligente que os outros (Isso deve deixar meu oftamologista e as óticas muito contentes...).
Mas não precisa ser míope, ou estrábico para ampliar a inteligência. Basta jogar brasa na massa cinzenta e fazê-la funcionar diariamente, submetendo o cérebro aos desafios do dia-a dia, encarando-os como uma situação nova que ativa o pensamento, mantendo-o reciclado e fortalecido a cada momento. Feito isso, estaremos vencendo a preguiça mental, tão presente no nosso cotidiano e por conseqüência, tornando-nos mais “inteligentes”.
Márcio Roberto GoesMais um gênio míope...

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