sábado, 10 de março de 2007

Lula faz de 2010 uma obsessão
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Helena Chagas, JB
Brasília. Projeto Pernambuco. Esse codinome, criado pelo presidente Lula, tem freqüentado as conversas com aliados no gabinete presidencial e se refere a uma das alternativas para sua sucessão em 2010 - a de que, na falta de um acordo entre todos os partidos aliados, a base governista saia com dois candidatos e se una no segundo turno para ganhar a eleição, como ocorreu na eleição ao governo de Pernambuco em 2006, com Humberto Costa e Eduardo Campos. Pela lógica, os concorrentes seriam um petista e um candidato das outras forças de esquerda, provavelmente o ex-ministro Ciro Gomes.
Parlamentares e ministros que andaram pelo Planalto nos últimos dias atestam: por iniciativa ou não do presidente da República, a sucessão de Lula tem estado na pauta de quase todas as conversas políticas. Ainda que restem três anos a percorrer até lá, a eleição de 2010 tem pairado como uma sombra sobre as negociações da reforma ministerial e é responsável por boa parte dos desentendimentos e disputas travadas entre os partidos e dentro deles nos últimos dias.
O PMDB do Senado, por exemplo, está convencido de que tem o dedo do PT na decisão presidencial de prestigiar o deputado Michel Temer e a bancada na Câmara.
- Esse pessoal do PT só pensa em 2010. E sabe que o nosso grupo (PMDB do Senado) dificilmente apoiará um petista na sucessão de Lula. Então, quer fortalecer o PMDB da Câmara, que é caudatário do PT - diz um importante senador, pedindo para não ser identificado.
O quase ex-ministro das Relações Institucionais e futuro titular da Justiça, Tarso Genro, é o alvo das queixas desses peemedebistas. Segundo eles, Tarso - que seria um dos nomes considerados por Lula para a candidatura do PT - agiu mais como petista do que como aliado e convenceu o presidente de que o ex-ministro Nelson Jobim não tinha qualquer chance de vitória na convenção peemedebista de hoje. Com isso, estaria querendo fortalecer a ala de Michel Temer e Geddel Vieira Lima, que tendem a compor com o PT em 2010. E daí a insatisfação de Renan Calheiros, José Sarney e outros, que tendem a apoiar um candidato não petista e sonham até com a filiação de Aécio Neves ao PMDB para ocupar esse espaço.
Se o jogo é esse, Lula vai ter muito trabalho com este setor do PMDB e diversos aliados. O PSB, o PCdoB e outras forças à esquerda já estão se aglutinando em torno da candidatura Ciro Gomes, hoje o nome de presidenciável mais forte dentro da coalizão governista.
Para não correr o risco de ver sua base estraçalhada, Lula, nas conversas de bastidores, tenta convencer os aliados de que o PT poderá, sim, apoiar um nome de outro partido - no caso, Ciro - em 2010. Mas todos sabem que é muito difícil:
- Nós vamos de Ciro. Mas é possível que o governo tenha dois candidatos. No segundo turno, um deles se confrontaria com Serra, por exemplo - diz o líder do PSB na Câmara, Márcio França.
Lula tenta mostrar que está administrando as ambições dentro do PT. Seu reduzido entusiasmo com a possibilidade de levar Marta Suplicy para o ministério é atribuído ao temor de que, feita ministra, a ex-prefeita entraria já no dia seguinte em campanha para sua sucessão em 2010, despertando a ira dos demais aliados e colocando em risco a coalizão e a estabilidade política do governo. Até porque Ciro Gomes ficou de fora e haveria uma clara diferença de tratamento entre os dois principais candidatos do Planalto.
No caso do PT, a fórmula para neutralizar candidaturas fortes demais é estimular outros nomes. Alguns interlocutores do presidente, por exemplo, deixaram o Planalto convencidos, na semana passada, de que o nome preferido de Lula no PT é o do ministro Tarso Genro. Mas também correm por fora Dilma Rousseff e Jaques Wagner.
Não é que Tarso (ou Dilma, ou Wagner) seja o preferido de Lula. Mas ele quer passar a idéia de que não há em seu partido nenhuma candidatura "natural" ou consolidada - e quem vai dar as cartas é ele próprio.
- Durmo e acordo pensando em eleger meu sucessor -- disse Lula recentemente a um grupo de deputados, dando tinturas mais fortes ao que já dissera a um grupo de jornalistas em café da manhã há dez dias, quando manifestou a intenção de influir em sua sucessão.

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