Coronelismo, concessão e voto
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Considerado por dez entre dez intelectuais uma das mais importantes contribuições para nosso pensamento político, Coronelismo, enxada e voto, de Vítor Nunes Leal, transformou-se num clássico desde sua publicação em 1949, como tese de concurso para a cátedra de Política na Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil (hoje UFRJ).
É daqueles livros que, quem tinha, não emprestava; quem podia, roubava e guardava como jóia.
O livro desvenda as estruturas do poder local e suas relações com a esfera estadual e federal. A partir da República, os estados passaram a ter enorme importância política. Governadores eleitos tornam-se intermediários entre o poder central (presidente da República e governo federal) e as instâncias municipais onde, afinal, reside o eleitorado.
Com isso, cresceu muito o poder dos “coronéis”, proprietários rurais assim chamados por portarem patentes de coronel da Guarda Nacional (criada em 1831, na Regência).
Fornecendo, muitas vezes, os recursos financeiros necessários ao candidato, o coronel credenciava-se a receber benefícios para seu município, transformando-se em advogado dos interesses locais.
Ficavam, assim, as elites políticas à mercê desses coronéis, que manipulavam um eleitorado rural semi-analfabeto e totalmente dependente de benesses: emprego, moradia, remédio, escola para os filhos. Ou seja, democracia formal somada ao arcaísmo econômico e social.
Pacto entre um poder público cada vez mais forte e senhores de terra de influência cada vez menor, o coronelismo deveria ter entrado em decadência conforme se modernizavam as estruturas econômicas do país, e na medida do avanço da urbanização.
Mas os velhos coronéis se atualizaram, e um dos instrumentos mais preciosos para a perpetuação de seu domínio sobre o curral eleitoral foi a penetração dos meios de comunicação no interior do Brasil.
Assim, em estados onde o mercado político sempre foi competitivo, a mídia também cresceu competitiva, não constituindo, portanto, instrumento de dominação política. Estados como Pernambuco, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, entre outros, consolidaram uma mídia pluralista exatamente porque possuem um ambiente político altamente competitivo.
Enquanto isso, estados que sempre viveram sob o controle coronelista construíram uma mídia quase monopolista, que funciona como poderoso instrumento a serviço das elites locais.
Assim, o coronel, que já era dono do jornal, passou também a ser proprietário da rádio e da repetidora de TV. Com a opinião controlada e a oposição sem condições mínimas de expressão, fecha-se o círculo do controle coronelista.
Estados como Pará, Maranhão, Alagoas, Rio Grande do Norte, Bahia, entre outros, consolidaram um coronelismo eletrônico, que alia formas arcaicas de dominação política a instrumentos modernos de controle da opinião pública.
Sabendo disso, o governo federal – qualquer governo – transformou as concessões de rádio e TV em moeda de troca para obter apoio político.
Por isso é que, no processo de perpetuação do poder dos coronéis, as concessões de rádio e TV ocupam lugar de destaque.
No Brasil do século XXI, as antenas de rádio e TV substituíram a enxada do título da obra-prima de Vítor Nunes Leal. E assim caminha o processo de perpetuação do poder dos coronéis.
É daqueles livros que, quem tinha, não emprestava; quem podia, roubava e guardava como jóia.
O livro desvenda as estruturas do poder local e suas relações com a esfera estadual e federal. A partir da República, os estados passaram a ter enorme importância política. Governadores eleitos tornam-se intermediários entre o poder central (presidente da República e governo federal) e as instâncias municipais onde, afinal, reside o eleitorado.
Com isso, cresceu muito o poder dos “coronéis”, proprietários rurais assim chamados por portarem patentes de coronel da Guarda Nacional (criada em 1831, na Regência).
Fornecendo, muitas vezes, os recursos financeiros necessários ao candidato, o coronel credenciava-se a receber benefícios para seu município, transformando-se em advogado dos interesses locais.
Ficavam, assim, as elites políticas à mercê desses coronéis, que manipulavam um eleitorado rural semi-analfabeto e totalmente dependente de benesses: emprego, moradia, remédio, escola para os filhos. Ou seja, democracia formal somada ao arcaísmo econômico e social.
Pacto entre um poder público cada vez mais forte e senhores de terra de influência cada vez menor, o coronelismo deveria ter entrado em decadência conforme se modernizavam as estruturas econômicas do país, e na medida do avanço da urbanização.
Mas os velhos coronéis se atualizaram, e um dos instrumentos mais preciosos para a perpetuação de seu domínio sobre o curral eleitoral foi a penetração dos meios de comunicação no interior do Brasil.
Assim, em estados onde o mercado político sempre foi competitivo, a mídia também cresceu competitiva, não constituindo, portanto, instrumento de dominação política. Estados como Pernambuco, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, entre outros, consolidaram uma mídia pluralista exatamente porque possuem um ambiente político altamente competitivo.
Enquanto isso, estados que sempre viveram sob o controle coronelista construíram uma mídia quase monopolista, que funciona como poderoso instrumento a serviço das elites locais.
Assim, o coronel, que já era dono do jornal, passou também a ser proprietário da rádio e da repetidora de TV. Com a opinião controlada e a oposição sem condições mínimas de expressão, fecha-se o círculo do controle coronelista.
Estados como Pará, Maranhão, Alagoas, Rio Grande do Norte, Bahia, entre outros, consolidaram um coronelismo eletrônico, que alia formas arcaicas de dominação política a instrumentos modernos de controle da opinião pública.
Sabendo disso, o governo federal – qualquer governo – transformou as concessões de rádio e TV em moeda de troca para obter apoio político.
Por isso é que, no processo de perpetuação do poder dos coronéis, as concessões de rádio e TV ocupam lugar de destaque.
No Brasil do século XXI, as antenas de rádio e TV substituíram a enxada do título da obra-prima de Vítor Nunes Leal. E assim caminha o processo de perpetuação do poder dos coronéis.
Lucia Hippolito
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