sábado, 17 de março de 2007

LUZ DE NEON NO FIM DO TÚNEL
.
Sei que meu texto da semana passada causou espanto e indignação a muitos leitores, afinal, não estamos acostumados a ouvir ou ler certas verdades desagradáveis sobre os estudantes. É muito mais fácil culpar as autoridades, que por sua vez também têm grande parcela de culpa “sim senhor”, e de maneira nenhuma esta trégua significa que estamos furtando delas esta responsabilidade. Aqueles “excelentíssimos” eleitos pelo povo têm, acima de qualquer outro cidadão, a responsabilidade e o compromisso de buscar, com todas as forças uma melhor educação pública para nosso país, o que parece não acontecer na prática, pois dificilmente encontramos um político que pense no povo acima de seus interesses partidários, financeiros,ou profissionais.
No que tange a prática da leitura e do estudo entre nossos alunos, duas coisas me chamaram a atenção nos últimos dias:
Uma delas, foi há duas semanas atrás, com meu amigo, compadre e colega de página no Jornal Informe de Caçador, quando ele disponibilizava aos leitores a oportunidade de contemplar uma grande obra de Carlos Drummond de Andrade, falando justamente sobre mentira e verdade, mesmo tema da minha coluna naquela edição. O que o Mário Caschinski fez foi um grão de areia na construção do conhecimento da nossa Língua e nossa Literatura, que julgo ser uma das mais ricas e diversificadas do mundo. Se todos buscassem inspiração na Literatura, compreenderíamos melhor nosso mundo, porque os olhos de um escritor são sensíveis a ponto de expor a verdade sem máscaras ou meias palavras.
Mas a maior surpresa, tive esta semana, quando questionava meus alunos sobre as obras que leram durante as férias... Em todas as turmas eu fazia uma pergunta simples: Quem leu um livro inteiro nestas férias?... Pouquíssimos levantavam a mão, em algumas turmas, não ví um único braço erguido.
Desanimado, quase rasgando meu diploma, eis que chego numa sala de primeiro ano de ensino médio e faço a mesma pergunta... Uma única e solitária menina ergue a mão, no meio da sala, declarando meio sem jeito:
“Normalmente, leio um livro por semana, professor.”
“O quê?” - Perguntei arregalando os olhos, quase não acreditando no que ouvia. Ela prosseguiu com seu relato que me fez acreditar novamente no meu trabalho:
“Verdade! Leio todas as noites antes de dormir, mas minha mãe reclama que eu fico muito tempo com a luz do quarto acesa...”
“E o que você faz?” - Indaguei curioso, como se estivesse descobrindo algo sobrenatural (e na verdade, estava)...
“Eu apago a luz do quarto e leio com a luz de neon do celular...”
Meu Deus! Neste momento, “me caiu os butiá do borso”, pois às vezes, nem eu alcanço a marca de um livro por semana, ainda mais com a família dando contra... Tive vontade de pegar aquela menina no colo, beijar-lhe a testa e sair carregando-a como se fosse um troféu pelos corredores do Wanda... Tive ímpetos de sair na janela e gritar para todo o “Martellão”: -“Eu tenho uma aluna que lê!... Isso é incrível! Vamos chamar a imprensa falada, escrita e televisionada para relatar este fato, que merece ser capa de todos os jornais e revistas, manchete do Jornal Nacional, precisa virar fofoca do TV Fama e destaque do Fantástico.”
É incrível, mas este fato me deu uma injeção de ânimo, sabendo que uma menina de quinze anos não se rende a falta de estrutura de nossas escolas públicas, nem a contrariedade de sua mãe. Então, quem sou eu para não tentar dar também meu grão de areia para salvar a educação?
Márcio Roberto Goes
Com licença, preciso ler

Nenhum comentário: