quarta-feira, 29 de novembro de 2006

INOCÊNCIA LATINA
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por Márcio C. Coimbra, de Brasília
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A América Latina passa por um período sombrio. Candidaturas que não se alinham com os valores democráticos têm sido sistematicamente eleitas e reeleitas nos últimos meses. As recentes vitórias de Daniel Ortega na Nicarágua e Rafael Correa no Equador são os exemplos mais recentes deste perigo coletivista. Aqueles que ainda não sucumbiram a tentação populista ou livraram-se por pouco deste novo socialismo mascarado, enganam-se quando pensam estar imunizados quanto ao mal que paira desde o México até a Argentina. No Brasil, em especial, me pareceu triste a vitória de Lula, depois de meses de exposição de uma espécie de corrupção rasteira nascida dentro do Palácio do Planalto que segue corroendo a democracia. A vitória de Lula me fez questionar nossa dignidade e nossa capacidade de gerar um País melhor. Passei definitivamente a questionar nossa qualidade como nação ou povo, submisso, passivo, que beira a ignorância. Avalizamos a corrupção, autorizamos o desvio de nossos impostos, encaminhando o principal beneficiário da organização criminosa petista para um segundo mandato. Definitivamente parece claro que o brasileiro não gosta de seu próprio País. Como muitos, desisti do Brasil, deixei meu País. Se antes de Lula já pensava no Brasil como um lugar duvidoso e quase inviável, depois de sua eleição e agora recondução, estou certo que não vamos a lugar algum. Entretanto, vale lembrar que a derrota moral brasileira, amparada pelo populismo rasteiro, não é uma exclusividade tupiniquim. Ela se espalha por toda a América Latina. Lula, Morales, Chávez, Correa, Kirchner, Ortega, Castro seguidos de seus amigos, por enquanto derrotados pelas urnas, Obrador e Humala, representam o maior perigo já vivido neste continente. O que mais assusta neste momento é o grau de ingenuidade das oposições latino-americanas. Em Madri, onde mantenho contato com diversos membros da oposição a esses regimes populistas, percebo um certo grau inocência em diversas análises. Os únicos que realmente já perceberam o tamanho do perigo são os cubanos, que há décadas sofrem nas mãos do ditador Castro e os venezuelanos, que enxergam pouco a pouco suas liberdades sendo limitadas e cortadas pelo regime “bolivariano” autoritário de Hugo Chávez. Não nos iludamos, o futuro não é sombrio apenas para Cuba e Venezuela.Morales, que humilhou a Petrobrás a mando de Hugo Chávez, colocando o Brasil de joelhos perante a Bolívia com a complacência de Lula, incitou o povo boliviano ao extremo, rompendo com a institucionalidade democrática e levando diversos presidentes a renúncia, até chegar ao poder. Enganam-se os peruanos que acreditam em um governo tranqüilo de Alan Garcia. Ollanta Humala não dará trégua ao presidente do Peru. Da mesma forma, López Obrador não descansará enquanto não desestabilizar o governo de Felipe Calderón no México, como já tem demonstrado desde a eleição. Quem acredita, como ouvi em Madri, que “o México é diferente da Bolívia e resistirá” não conhece a engenharia e o financiamento com que contam os populistas de Chávez na América Latina. A estratégia é corroer a democracia e desestabilizar as instituições. Uma vez no poder, a tática é manter as pessoas na miséria e na pobreza, dependentes da ajuda do Estado, para que estes governos sigam se reelegendo, como aconteceu com Lula e ocorrerá tranquilamente com Kirchner. A única forma capaz de preservar as liberdades e a democracia é alavancar os instrumentos de livre-comércio, acelerar a abertura comercial, tornando a população destes países mais rica e próspera, com acesso claro a informação, para que possuam maior discernimento. Não é uma vacina contra o populismo, mas o melhor remédio conhecido até os dias de hoje. Foi assim que o México terminou com um reinado “democrático” de mais de 70 anos do PRI e o Chile encontrou sua estabilidade. A eleição apertada de Calderón contra o candidato chavista é a prova de que é possível lutar contra este mal esquerdista e paternalista que destrói a capacidade das pessoas de pensar. Portanto, Alan García e Felipe Calderón devem estabelecer e ampliar seus acordos de livre-comércio com nações prósperas se desejam terminar seus mandatos. De outra forma, o avanço chavista patrocinado pelo petróleo continuará a se espalhar. Um destino negro se avizinha para a América Latina. As oposições precisam perder a ingenuidade e começar a trabalhar de forma decente, inclusive no Brasil.

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