É incrível a facilidade com que, por conveniência, o presidente Lula e o PT descartam idéias que defenderam como um dogma no passado e adotam a bandeira que mais condenaram. Não estou falando da política econômica, pois isso já virou lugar comum, a ponto de PT ter se apropriado do Plano Real.
Estou falando do debate sobre a construção das hidrelétricas do Rio Madeira que deverão gerar 6,4 mil megawattes em cinco anos, mas enfrentam forte oposição da burocracia do Ministério do Meio Ambiente.
Impaciente com a demora no licenciamento da obra, um dos principais entraves do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), o grande eleitor de 2010, o presidente Lula mandou destravar a qualquer custo o ritmo com que o Ibama avaliava o impacto ambiental de um investimento gigantesco, como as usinas de Jirau e Santo Antônio.
Isso foi feito à luz do dia e sem anestesia. Com sua enorme capacidade de se comunicar com a população por meio de símbolos fortes, escolhidos por seus marqueteiros, Lula pôs a culpa no bagre, um peixinho à toa, que estaria atrapalhando a vontade do governo de trabalhar.
Todos sabem que não é assim. Que o presidente pegou pesado em mais um assunto que não domina, como de costume. Como ainda controla a maioria dos empregos e remanejou os demitidos da diretoria do Ibama, a comunidade ecológica do governo não reclama, não denuncia, não faz passeata.
O que não é novidade. Nas áreas críticas, onde os problemas permanecem, como na educação e na saúde, por exemplo, quem vai embora por pressão política ou para não fazer aquilo do qual discorda, muita gente vai embora em silêncio, desde o primeiro mandato, do contrário sai difamado pelo PT.
Segundo reportagem de O Globo, que em vez de ficar palpitando foi até Rondônia para contar aos seus leitores como é mesmo a história, existem 463 espécies diferentes de peixe que correm o risco de desaparecer. O bagre é apenas o mais popular.
A razão é aquela que mereceu a ironia do presidente: esses peixes se reproduzem fecundando os ovos das fêmeas nas cabeceiras do rio, onde chegam nadando contra a corrente, o que pode ser impedido pela construção de uma usina no meio do caminho.
Especialistas citados pelo Ministério de Minas e Energia alegam que basta construir um canal ou uma “escada” para ajudar os peixes a superar tal dificuldade. Mas não há garantia de que vai dar certo.
Além do mais, o que o PT havia combinado antes de chegar ao Planalto é que a economia não mandaria mais com exclusividade nos projetos. Que a voz do meio ambiente seria ouvida com muita atenção. Porque quando não funciona assim, em vez do peixe, é o homem que corre riscos. Homem/Mulher, o governo não sabe soletra essas palavras.
José Negreiros é jornalista (josenegreiros@terra.com.br)
Estou falando do debate sobre a construção das hidrelétricas do Rio Madeira que deverão gerar 6,4 mil megawattes em cinco anos, mas enfrentam forte oposição da burocracia do Ministério do Meio Ambiente.
Impaciente com a demora no licenciamento da obra, um dos principais entraves do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), o grande eleitor de 2010, o presidente Lula mandou destravar a qualquer custo o ritmo com que o Ibama avaliava o impacto ambiental de um investimento gigantesco, como as usinas de Jirau e Santo Antônio.
Isso foi feito à luz do dia e sem anestesia. Com sua enorme capacidade de se comunicar com a população por meio de símbolos fortes, escolhidos por seus marqueteiros, Lula pôs a culpa no bagre, um peixinho à toa, que estaria atrapalhando a vontade do governo de trabalhar.
Todos sabem que não é assim. Que o presidente pegou pesado em mais um assunto que não domina, como de costume. Como ainda controla a maioria dos empregos e remanejou os demitidos da diretoria do Ibama, a comunidade ecológica do governo não reclama, não denuncia, não faz passeata.
O que não é novidade. Nas áreas críticas, onde os problemas permanecem, como na educação e na saúde, por exemplo, quem vai embora por pressão política ou para não fazer aquilo do qual discorda, muita gente vai embora em silêncio, desde o primeiro mandato, do contrário sai difamado pelo PT.
Segundo reportagem de O Globo, que em vez de ficar palpitando foi até Rondônia para contar aos seus leitores como é mesmo a história, existem 463 espécies diferentes de peixe que correm o risco de desaparecer. O bagre é apenas o mais popular.
A razão é aquela que mereceu a ironia do presidente: esses peixes se reproduzem fecundando os ovos das fêmeas nas cabeceiras do rio, onde chegam nadando contra a corrente, o que pode ser impedido pela construção de uma usina no meio do caminho.
Especialistas citados pelo Ministério de Minas e Energia alegam que basta construir um canal ou uma “escada” para ajudar os peixes a superar tal dificuldade. Mas não há garantia de que vai dar certo.
Além do mais, o que o PT havia combinado antes de chegar ao Planalto é que a economia não mandaria mais com exclusividade nos projetos. Que a voz do meio ambiente seria ouvida com muita atenção. Porque quando não funciona assim, em vez do peixe, é o homem que corre riscos. Homem/Mulher, o governo não sabe soletra essas palavras.
José Negreiros é jornalista (josenegreiros@terra.com.br)

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