segunda-feira, 14 de maio de 2007

Crônica do Márcio

MEUS RABISCOS
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Há muito tempo venho tentando despertar em meus alunos o gosto pela leitura. Mas na maioria das vezes, o resultado não é exatamente aquele que eu e tantos outros companheiros de profissão esperávamos... Para mim a dor parece dupla, pois além de ser professor, sou escritor, ao passo que a cada reclamação que ouço dos meus alunos em se tratando da prática da leitura, soa como uma cobrança sórdida do meu dever não cumprido.
Escuto reclamações das mais diversas possíveis e imagináveis, do tipo: “Nossa escola não tem biblioteca”... (essa até que tem algum fundamento), ou “Não tenho tempo de ir à biblioteca pública”, ou ainda “A biblioteca pública fica muito longe de casa”... e a pior de todas, que derruba qualquer professor de Língua Portuguesa e Literatura : “Não tenho "saco" pra ler... ou... tenho preguiça de ler”. Infelizmente, a maioria das pessoas ainda não despertou para a importância da leitura (infelizmente!)... E aí, meu trabalho torna-se quase impossível, desafiando a cada dia minha criatividade e minha capacidade de persuasão.
Numa tentativa quase desesperada de fazer de meus alunos “jovens leitores”, resolvi, dia desses, disponibilizar algumas crônicas e contos de um “determinado escritor”, para que todos pudessem ler, analisar os elementos da narrativa e comentar o conteúdo dos textos... Bingo!!!... Naquele momento, me senti como se estivesse descobrindo a roda. Pude perceber seus olhinhos brilhando... ora rindo de alguma situação engraçada ou de algum erro de digitação, ora querendo saber o significado de algum verbete difícil que aquele escritor por vezes usava só para “matar a pau”...
No passado, acreditei muito naquele ditado: “Santo de casa não faz milagre”... Mas parece que o caminho está em casa mesmo, afinal, não consegui muitos resultados com os grandes clássicos , que para muitos alunos soam como autores abstratos e lendários, muito distantes de sua realidade (Não estou, de maneira nenhuma, querendo dizer que devemos deixar de ensinar as escolas literárias, pelo contrário, devemos usar de meios criativos para isso...). No entanto, quando contemplam uma obra de um escritor “de carne e osso” (como acontece há dois anos no encontro marcado, promovido pela UNIMED e a 10ª GEECT, que trouxe à Caçador dois grandes escritores catarinenses: Maicon Tenfen e Silveira de Souza), o conceito de literatura muda consideravelmente, tornando-se mais agradável e transformando a leitura num dos prazeres da humanidade.
Voltando à minha técnica alternativa de leitura em sala: Poucas vezes pude observar tanta dedicação em um trabalho por parte dos alunos... um silêncio ensurdecedor, descomunal dentro de uma sala-de aula (a não ser em dia de prova)... os olhos atentos nas folhas impressas em preto no modo econômico, cujo único atrativo eram as palavras... nenhum apelo visual extra, nenhuma promessa de recompensa para quem ficasse “quieto”, nenhum pedido de “silêncio por favor”, enfim, nenhuma exigência... Todos movidos pela curiosidade de ver os escritos de seu professor.
Se eu soubesse, teria usado antes meus rabiscos pelo bem da educação, afinal a mudança mais impactante que pode acontecer, parte de nós mesmos, e a partir dela, mudamos também o meio em que vivemos: a maior prova disso é que além da leitura, alguns alunos estão despertando também o gosto e a vontade de pôr no papel as suas idéias, ou seja: a vontade de ser escritor... Não é maravilhoso?... Não sou perfeito, nem quero ser, mas descobri o verdadeiro sentido de outro ditado: “As palavras convencem. Os exemplos arrastam”. Sabe-se lá quantos “rabiscos” maravilhosos de nossos professores não se encontram lá no fundo da gaveta, privando seus alunos de uma leitura agradável e concreta?
Não existe deleite maior para um professor, do que ver seu aluno seguindo seu exemplo... E para o aluno, o fato de ver uma obra de seu “mestre”, desperta nele o ímpeto de ser também protagonista do conhecimento.
Márcio Roberto Goes
Rabiscado e rebuscado

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