Escândalos são como os gatos e gatunos do Brasil de hoje: têm sete vidas. Quando se pensa que a vergonha de "hoje" será a última, eis que uma nova desonra, um novo opróbrio surge no universo político do Brasil - como um furúnculo perpétuo. A máfia especializada em drenar recursos públicos vale-se de nomes quase onomatopaicos - nomes cujo som imita aquilo que deixam transparecer: falo dessa inacreditável empreiteira chamada "Gautama", que há anos vicia licitações e molha as mãos desonradas de altos funcionários do Brasil, aí incluindo um ex-governador e um atual ministro.
Gautama tem o "radical" de "gato" e o sufixo de "gaturama", parece, enfim, o nome perfeito para esconder uma sociedade de ladrões. O dono da caverna não se chama Ali Babá, mas Zuleido Veras, um empreiteiro paraibano que há pelo menos duas gerações domina o tabuleiro dos contratos de obras públicas em Brasília.
Zuleido, com esse nome de fétida rima, se diz um budista autêntico. O nome de sua quadrilha é uma "homenagem" ao fundador do budismo, Siddarta Gautama. Não poderia haver blasfêmia maior. Gautama pregava o despojamento total dos bens materiais, e sustentava que o sofrimento humano era o veículo capaz de depurar o homem para a sua superação existencial.
O "Nirvana", paraíso dos budistas, somente será alcançado com a honestidade dos que não enganam, não chantageiam, não roubam. Esses alcançam a bem-aventurança integral. Zuleido, com perdão da má palavra, encontra o seu "Nirvana" no assalto aos cofres públicos, com a escabrosa conivência dos potentados de Brasília e de muitos Estados brasileiros.
Quando um ministro recebe propina em seu próprio gabinete, o que teria acontecido com o ministro Silas Rondeau, segundo a "Operação Navalha", está descoberta a metástase que se espalhou pelo ambiente da administração pública brasileira e dado o sinal de que o câncer chegou aos escalões mais elevados da República. A bem da verdade, diga-se que é a Polícia Federal do próprio governo que lidera uma "Operação Asseio" e que revela a "gatunagem" desses novos "budistas".
Mas ainda há um longo caminho a ser percorrido pela "banda sadia" da administração, até que se instale uma "Operação Mãos Limpas". O primeiro sinal deveria vir da Justiça brasileira, tão necessária, mas tão abalada pelos recentes escândalos. Ameaçados em sua credibilidade, os tribunais superiores geralmente desfazem, em nome de um licencioso "democratismo", o que a Polícia Federal se empenha em desmascarar.
Todos os excessos que a Polícia comete - principalmente no "set" espetaculoso de sua atuação - devem mesmo ser moderados pelo Poder Judiciário. Mas, respeitado o devido processo legal, os gatunos flagrados em "expropriação" do dinheiro público não deveriam ser tão favorecidos, apenas em nome do posto de representação que eventualmente desfrutem, como governadores ou ministros.
Autoridades que detenham o "munus" público, e que em razão de sua função tenham favorecido o peculato, desonrando a "fé pública" de que eram depositários, não deveriam ser tratados com a frouxidão da leniência, mas com o rigor da lei. Vivemos tempos duros e maniqueístas. Os agentes públicos precisam se decidir: ou são "do Bem", ou "do Mal".
O Brasil saudará o dia em que uma referência a um "juiz ladrão" se reporte, como sempre, a algum daqueles "desatentos" magistrados das quatro linhas do futebol. Hoje, infelizmente, a expressão começa a se aplicar, com naturalidade, às ovelhas negras que, sob a toga da Justiça, trazem os olhos vendados para uma vida ilibada. O Brasil, contudo, sabe que a "redenção" somente acontecerá através de uma Justiça sem mácula e de um Legislativo honesto.
Até que o Bem prevaleça, pedimos a proteção do Siddarta Gautama: - Meu caro Buda, exorcize esses gatunos que se apropriaram do teu nome!
sergio.ramos@diario.com.br
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