terça-feira, 3 de outubro de 2006

Do que Lula é feito?
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Devo reconhecer que os institutos de pesquisa foram bem, sim, no que tange a eleição presidencial, apesar de não terem conseguido acertar seu resultado. Mas se subestimaram a candidatura de Lula, fizeram o mesmo com a de Alckmin. Agora fica a pergunta: esses institutos foram honestos desde o começo ou divulgações de pesquisas manipuladas que eles podem ter feito anteriormente lograram provocar um efeito manada?

Eu disse muito sobre o processo de venezuelização da política brasileira que acredito que está em pleno curso no Brasil, do que são provas as similitudes de comportamento da imprensa e da oposição brasileiras e venezuelanas. Os insultos ao presidente, as ridicularizações etc. Porém, eu não contava com um fator que não houve na crise venezuelana, mas que houve no Brasil, ou seja, o presentão dado pelo PT à mídia e à oposição. Se na época do referendo revogatório que pretendeu tirar Chávez do poder a imprensa tivesse conseguido flagrar aliados dele portando malas cheias de grana, certamente que ele também teria perdido (?).

Enfim, vejo que o PT não terá outro jeito além de radicalizar. Se Lula ficar na paz e no amor enquanto Alckmin o espanca na TV, vai virar bolsa. Infelizmente, a receita do adversário parece que funciona e, portanto, talvez seja o caso, não de fabricar dossiês ou comprar delegados para infringirem a lei, mas de levar o assunto imprensa para a propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV, pois a estratégia denuncista tucana precisa da imprensa e, como Lula não a tem, deve anular essa vantagem do adversário. Ele tem peito de fazer isso? Tenho minhas dúvidas... E, se não o fizer, pode ganhar assim mesmo? Duvido muito.

Infelizmente, se Lula quiser mesmo se reeleger terá que transformar em confronto a divisão política que há hoje no Brasil. Um confronto de classes e com a imprensa. Terá que levar às ruas a população pobre, os movimentos sociais, os sindicatos etc. Vale a pena? Para mim, não. Sou de classe média, nada me falta (ao menos o que é básico), então não me interessa ver o país conflagrado, dividido, convulsionado. Agora, àqueles que perderão com a vitória de Alckmin, as classes pobres, miseráveis e negras, só resta lutarem pelo presidente que é muito mais deles do que meu.

Que será que Lula prefere? Abandonar seu povo e ir descansar, consciente de ter completado sua obra importantíssima na política brasileira? Ou lutar de verdade e, com isso, criar uma divisão e um acirramento de espíritos no Brasil que, por necessário que seja para os desvalidos, poderá ter conseqüências imprevisíveis? Dura decisão. Os que conseguem enxergar além do véu de seus preconceitos verão, agora, do que Lula é feito. Só espero que seja daquilo que sempre acreditei que fosse.
Eduardo Guimarães

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