domingo, 24 de dezembro de 2006

Os movimentos sociais irão, de fato, defender os interesses dos trabalhadores?
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Há uma postura da CUT que, se levada a sério, merece respeito. Trata-se da manifestação ao presidente de que a entidade se opõe a eventuais alterações na Previdência: “Queremos uma reforma para incluir quem está fora, não para tirar direitos de quem está dentro”, afirmou João Felício, secretário de Relações Internacionais da central. Se for pra valer, bravos!Em meio a tantas notícias e fatos desagradáveis, chega ao meu conhecimento um documento que indica mudanças na postura de movimentos e entidades que defenderam Lula em seu primeiro mandato. Se isto acontecer merecerá todo apoio do povo brasileiro. Em reunião com Lula, no Palácio do Planalto, representantes de vários movimentos sociais apresentaram documento cujo conteúdo aponta para a necessidade urgente de que Lula, finalmente, se alie ao povo que o elegeu, mudando as prioridades políticas e econômicas seguidas até hoje.
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Além de elencar uma série básica de áreas a receber investimentos significativos, gerando desenvolvimento econômico sustentável com inclusão social, os presentes afirmaram que “os movimentos sociais se mobilizarão para garantir que todos os direitos sociais sejam garantidos e ampliados”. Esta fala franca demonstra uma significativa mudança na postura adotada até hoje pelos movimentos que compõem a CMS (Coordenação dos Movimentos Sociais), constituída ainda em 2003 com o objetivo de apresentar proposta de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento interno, sem amarras com o capital internacional.
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Após a constituição da CMS, com medo de enfraquecer o governo Lula, várias entidades que a compõem recuaram em sua decisão de ir para o enfrentamento, em que deveriam se opor às ações dos setores empresariais que já pressionavam o governo a atender às suas reivindicações. Tal recuo foi catastrófico para o conjunto do povo brasileiro, especialmente para os trabalhadores. As reformas exigidas pelo capital entraram em pauta e muitas delas foram aprovadas em detrimento dos direitos trabalhistas, como no caso da reforma da Previdência, que onera trabalhadores e alivia a folha de pagamento das empresas. Além dessa, a nova Lei de Falências e a reforma tributária se tornaram instrumentos que fazem aumentar os lucros empresariais e esvaziam o bolso do trabalhador e do consumidor.
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O que podemos esperar é que essa postura da CMS não seja apenas um jogo de cena, que seja, de fato, a determinação em defender com “unhas e dentes” os interesses dos seus integrantes e do povo brasileiro, aos quais dizem representar. Tal atitude implicará na determinação de deixarem de ser “movimentos chapa branca” como o foram alguns nos primeiros quatro anos do governo Lula, agindo contra a mobilização popular.
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Da parte do presidente, o que se tem de informação quanto à sua postura nessa reunião, é de que continua com sua fala dúbia, não se expressando claramente, diferentemente do que faz quando se reúne com os setores empresariais. Além do mais, suas palavras reforçam o que tem dito quanto à sua determinação de levar adiante mais uma reforma previdenciária, aprofundando o assalto aos direitos dos trabalhadores que contribuem compulsoriamente com a Previdência Social, enquanto deveria punir as grandes e médias empresas sonegadoras da mesma Previdência. Ainda que garanta que irá submeter tal projeto à discussão com os setores sociais, de fato demonstra pretensão de reduzir essa discussão ao Fórum Nacional do Trabalho, um organismo “tripartite”, composto por pessoas por ele mesmo majoritariamente indicadas e que fazem parte do seu mundo de relações pessoais, portanto extremamente viciado.
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Nesse contexto, há uma postura da CUT que, se levada a sério, merece respeito. Trata-se da manifestação ao presidente de que a entidade se opõe a eventuais alterações na Previdência: “Queremos uma reforma para incluir quem está fora, não para tirar direitos de quem está dentro”, afirmou João Felício, secretário de Relações Internacionais da central.
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Se for pra valer, bravos! Contando com os meios que a entidade dispõe, esclareça, oriente e convoque os trabalhadores a uma verdadeira mobilização - que não deve descartar a possibilidade de uma grave geral -, que iremos ocupar as ruas das grandes cidades, constituindo um amplo Mutirão Por Mudanças Estruturais neste país, em busca da justiça social e da eliminação das desigualdades brutais que marcam criminosamente a sociedade brasileira.
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Esperamos que isso realmente aconteça, que não seja mais uma embromação, para o bem da nação!
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Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.

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