quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

GOVERNO LULA II: DE ONDE VEM TANTA POPULARIDADE?
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por Paulo G. M. de Moura, cientista político
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A pesquisa Datafolha avaliando a percepção da opinião pública sobre o governo nesse momento, revelou números sorridentes para Lula. O índice de aprovação do presidente atingiu a marca dos 52%, o maior de um presidente da República desde que o Datafolha começou a fazer pesquisas de avaliação do governo Federal, em 1990. A pesquisa revela, também, que 35% dos entrevistados consideram Lula o melhor presidente que o Brasil já teve. Finalmente, o Datafolha mostra, ainda, que as expectativas dos brasileiros em relação ao desempenho da economia são otimistas. Lula, sob essas circunstâncias, vive sua segunda “lua de mel” com a opinião pública. No jargão político essa expressão define o período de bonança normalmente experimentado pelos mandatários de postos executivos recém eleitos, embalado pelo resultado da eleição, quando o desejo pragmático da população de que o novo governo dê certo, em seu (da população) próprio benefício, costuma turbinar estatísticas das pesquisas de opinião em favor do governante recém ungido pelas urnas.O presidente FHC, com 35% de aprovação no período equivalente não se beneficiou desse efeito nas mesmas proporções de Lula. Por quê? Creio que pelo menos por duas razões co-relacionadas. A primeira delas foi a desvalorização do Real logo após a reeleição. Com essa medida todo o ganho de renda que a população havia recebido em função da estabilização da moeda e da equiparação do Real ao dólar se converteu em perda acentuada e repentina.Essa medida foi necessária em função de o ex-presidente ter trocado o compromisso com a reforma do Estado pela batalha pela aprovação da emenda da reeleição. O argumento de FHC para pedir a aprovação da reeleição, era de que ele precisaria de mais um mandato para completar seu trabalho e fazer o país voltar a gerar empregos. O presidente sofreu enorme desgaste de imagem ao envolver-se na barganha da reeleição, cuja emenda tramitou lentamente desde agosto de 1995 até ser aprovada em dezembro de 1997. Reelegeu-se, mas não teve força política para avançar na agenda da mão das reformas, pois, a reforma do Estado é que pode, efetivamente, garantir o tão desejado desenvolvimento sustentado da economia brasileira. Em 1994, FHC se elegeu em primeiro turno ao acabar a inflação. Em 1998, usando a confiança adquirida com a estabilização da moeda, FHC prometeu que traria empregos. Não os trouxe devido aos impasses que criou para si mesmo com medidas compensatórias de caráter recessivo, necessárias à preservação da estabilidade sem a reforma do Estado. A volta dos empregos com o aumento das exportações demorou, e terminou beneficiando Lula. Na prática, ficou a sensação das pessoas de que FHC não cumpriu a expectativa gerada. Resultado: não elegeu Serra e terminou com sua popularidade em baixa.E Lula? Sem entrar no mérito da qualidade das políticas públicas do governo, o fato é que, na percepção da opinião pública, Lula está cumprindo a expectativa que gerou ao longo de 25 anos de oposição. A de que, se eleito, seria um presidente que, finalmente, daria prioridade ao social. Lula fez isso por duas vias. Por um lado, através da manutenção da estabilidade econômica e da recuperação parcial do poder de compra da população pela via da valorização do Real, ainda que com crescimento econômico medíocre. Por outro lado, distribuindo dinheiro para os pobres.Sob esse ponto de vista, portanto, mantendo essas duas balizas em vigor (Real valorizado e distribuição de dinheiro aos pobres), a perspectiva de que Lula mantenha seus índices de popularidade em alta são grandes, desde que nenhum escândalo atinja sua pessoa, diretamente. No primeiro mandato ele conseguiu, ajudado por Roberto Jefferson e pela covardia de oposição de rabo preso.Mas, essa é apenas uma das dimensões sobre o novo mandato de Lula a levar-se em consideração para projetar-se seu segundo mandato. A preservação dos índices de popularidade do presidente, no comando de um governo marcado por escândalos de corrupção, não é garantia de que o padrão desastroso da condução política do primeiro mandato será sanado, mesmo com a prioridade dada por Lula à aliança com o PMDB.O novo governo ainda nem se instalou. Seus novos inquilinos ainda não tiveram tempo e oportunidade de dar vazão aos novos escândalos, que virão. Não há razão para crer-se que o que se viu no primeiro mandato de Lula não vá se repetir agora, talvez em maior proporção. Afinal, os parlamentares envolvidos em escândalos se autoperdoaram e querem aumento de 91% dos salários; os eleitores avalizaram a roubalheira nas urnas e elegeram grande bancada do PT (da qual fazem parte Palocci e Genoino, dentre outros), e reelegeram vários mensaleiros e sanguessugas. Operando dentro ou fora do governo, como fazem Zé Dirceu e Severino Cavalcanti, os atores desse esquemão continuam vivos e ativos. É só esperar para ver.

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