Finalmente o aquecimento global foi reconhecido como fenômeno causado pela ação humana. Mas, é preciso apontar os verdadeiros responsáveis. São os capitalistas e seus governos. Os mesmos que já estão querendo transformar o problema em fonte de lucro.
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No início de fevereiro, um documento do Painel Intergovernamental de Mudança Climática (IPCC), da ONU, foi parar nas manchetes de jornal. “O aquecimento global é culpa da humanidade”, dizia a grande imprensa comentando a conclusão do relatório. Virou moda falar de aumento da temperatura e inundação de cidades costeiras. Virou obrigação “cada um fazer sua parte”, plantando árvores, evitando andar de automóvel e suspendendo os churrascos de fim-de-semana.
Os ambientalistas em geral comemoram a vitória de suas advertências. Há, pelo menos, 15 anos, eles vinham alertando para o aumento do efeito-estufa devido à queima de petróleo e outros combustíveis fosseis. Os governos em geral, o dos Estados Unidos, em particular, negavam. Agora, sentem-se vingados. Não deveriam.
É que o relatório somente admitiu o que muitos ambientalistas afirmavam há décadas porque a situação climática vem afetando gravemente o futuro dos investimentos capitalistas. Antes, sofriam apenas as populações pobres. Eram enchentes nas periferias das grandes cidades, perda de safras para pequenos agricultores, comunidades costeiras invadidas pelas águas do mar. Agora, são estudos de governo, bancos e empresas preocupados com os prejuízos que as mudanças climáticas devem causar. É o caso do relatório do economista-chefe do governo Blair, Richard Stern, que prevê prejuízos mínimos anuais de 5% da produção mundial devido a problemas climáticos. Ou dos bilhões de prejuízos já amargados por seguradoras devido a furacões e tufões em regiões em que eles jamais aconteciam. Não é à toa, portanto, que muitos economistas da grande imprensa se viram na obrigação de falar sobre questões ambientalistas. Coisas que eram consideradas “frescuras de ecochatos”.
Por outro lado, as soluções apontadas pelos novos preocupados só pioram o problema. Em primeiro lugar, responsabilizam a humanidade e não o sistema capitalista e seus gerentes. Cobram medidas sem efeito prático dos cidadãos comuns, enquanto os grandes empresários continuam a desmatar, destruir rios, sujar o ar com suas chaminés, incentivar o consumo exagerado e o uso individual de automóveis. Em segundo lugar, viraram fãs do Protocolo de Kyoto. Na verdade, um acordo que transformou a preocupação ambiental em negócio lucrativo. Afinal, um de seus mecanismos negocia “créditos de carbono”. Através deles, os capitalistas das nações poluidoras podem continuar sujando o meio-ambiente desde que invistam em fontes de “energia limpa” em países que poluem menos. Seriam pequenas hidrelétricas, usinas que retiram gás de bagaço de cana, casca de arroz e madeira e energia gerada por raios solares e por ventos. O Brasil é considerado pioneiro nesse tipo de operação, oferecendo seu território para esse tipo de empreendimento. O problema é que para compensar somente o que os Estados Unidos poluem seria necessário construir tantos “empreendimentos limpos”, que milhões de quilômetros de matas e rios acabariam destruídos. Sem falar nas populações nativas, nos indígenas e quilombolas.
Ou seja, demorou, mas o ar também virou mercadoria. E manter a lógica da mercadoria significa manter a busca do lucro acima de tudo. Inclusive, da sobrevivência do planeta.
Um exemplo que seria estranho, se não fosse terrível, é a criação de uma bolsa que negocia os efeitos de tragédias climáticas. Trata-se da “Chicago Climate Exchange”, que tem entre suas áreas de atuação a venda de ações relacionadas a possíveis desastres climáticos em áreas de risco do planeta. Ou seja, os mecanismos Capital seguem tentando transformar tudo em lucro. O problema é que tais mecanismos são cegos e suicidas, ainda que as mortes venham primeiro e sejam garantidas para os mais pobres.
A verdade é que soluções podem e devem partir da população. Mas não na forma de ações individuais e dispersas. Os movimentos sociais, partidos de esquerda e sindicatos estão atrasados nessa importante batalha. A questão ambiental é fundamental na luta por uma sociedade justa e livre. Temos que combater abertamente os principais causadores da destruição do meio-ambiente. São as grandes empresas, o consumismo incentivado pela grande mídia e os governos. Inclusive os governo que são apoiados por setores da esquerda. Afinal, tanto Lula, como Kirchner, Chávez e Tabaré Vázquez, apostam num desenvolvimento à base de petróleo, fontes de energia e formas de produção que destroem a natureza, atacam as condições de vida dos mais pobres e expulsam comunidades indígenas e quilombolas. Um exemplo claro é o etanol brasileiro, que sai de plantações que estragam a terra, monopolizam grandes extensões territoriais e exploram força-de-trabalho em condições desumanas que beiram a escravidão. Outro exemplo é o biodiesel, que seria uma alternativa interessante se o controle de sua produção não estivesse sendo entregue para o agronegócio. Não bastasse tudo isso, ainda teremos a “parceria” do governo Bush!
Sérgio Domingues – março de 2007
Os ambientalistas em geral comemoram a vitória de suas advertências. Há, pelo menos, 15 anos, eles vinham alertando para o aumento do efeito-estufa devido à queima de petróleo e outros combustíveis fosseis. Os governos em geral, o dos Estados Unidos, em particular, negavam. Agora, sentem-se vingados. Não deveriam.
É que o relatório somente admitiu o que muitos ambientalistas afirmavam há décadas porque a situação climática vem afetando gravemente o futuro dos investimentos capitalistas. Antes, sofriam apenas as populações pobres. Eram enchentes nas periferias das grandes cidades, perda de safras para pequenos agricultores, comunidades costeiras invadidas pelas águas do mar. Agora, são estudos de governo, bancos e empresas preocupados com os prejuízos que as mudanças climáticas devem causar. É o caso do relatório do economista-chefe do governo Blair, Richard Stern, que prevê prejuízos mínimos anuais de 5% da produção mundial devido a problemas climáticos. Ou dos bilhões de prejuízos já amargados por seguradoras devido a furacões e tufões em regiões em que eles jamais aconteciam. Não é à toa, portanto, que muitos economistas da grande imprensa se viram na obrigação de falar sobre questões ambientalistas. Coisas que eram consideradas “frescuras de ecochatos”.
Por outro lado, as soluções apontadas pelos novos preocupados só pioram o problema. Em primeiro lugar, responsabilizam a humanidade e não o sistema capitalista e seus gerentes. Cobram medidas sem efeito prático dos cidadãos comuns, enquanto os grandes empresários continuam a desmatar, destruir rios, sujar o ar com suas chaminés, incentivar o consumo exagerado e o uso individual de automóveis. Em segundo lugar, viraram fãs do Protocolo de Kyoto. Na verdade, um acordo que transformou a preocupação ambiental em negócio lucrativo. Afinal, um de seus mecanismos negocia “créditos de carbono”. Através deles, os capitalistas das nações poluidoras podem continuar sujando o meio-ambiente desde que invistam em fontes de “energia limpa” em países que poluem menos. Seriam pequenas hidrelétricas, usinas que retiram gás de bagaço de cana, casca de arroz e madeira e energia gerada por raios solares e por ventos. O Brasil é considerado pioneiro nesse tipo de operação, oferecendo seu território para esse tipo de empreendimento. O problema é que para compensar somente o que os Estados Unidos poluem seria necessário construir tantos “empreendimentos limpos”, que milhões de quilômetros de matas e rios acabariam destruídos. Sem falar nas populações nativas, nos indígenas e quilombolas.
Ou seja, demorou, mas o ar também virou mercadoria. E manter a lógica da mercadoria significa manter a busca do lucro acima de tudo. Inclusive, da sobrevivência do planeta.
Um exemplo que seria estranho, se não fosse terrível, é a criação de uma bolsa que negocia os efeitos de tragédias climáticas. Trata-se da “Chicago Climate Exchange”, que tem entre suas áreas de atuação a venda de ações relacionadas a possíveis desastres climáticos em áreas de risco do planeta. Ou seja, os mecanismos Capital seguem tentando transformar tudo em lucro. O problema é que tais mecanismos são cegos e suicidas, ainda que as mortes venham primeiro e sejam garantidas para os mais pobres.
A verdade é que soluções podem e devem partir da população. Mas não na forma de ações individuais e dispersas. Os movimentos sociais, partidos de esquerda e sindicatos estão atrasados nessa importante batalha. A questão ambiental é fundamental na luta por uma sociedade justa e livre. Temos que combater abertamente os principais causadores da destruição do meio-ambiente. São as grandes empresas, o consumismo incentivado pela grande mídia e os governos. Inclusive os governo que são apoiados por setores da esquerda. Afinal, tanto Lula, como Kirchner, Chávez e Tabaré Vázquez, apostam num desenvolvimento à base de petróleo, fontes de energia e formas de produção que destroem a natureza, atacam as condições de vida dos mais pobres e expulsam comunidades indígenas e quilombolas. Um exemplo claro é o etanol brasileiro, que sai de plantações que estragam a terra, monopolizam grandes extensões territoriais e exploram força-de-trabalho em condições desumanas que beiram a escravidão. Outro exemplo é o biodiesel, que seria uma alternativa interessante se o controle de sua produção não estivesse sendo entregue para o agronegócio. Não bastasse tudo isso, ainda teremos a “parceria” do governo Bush!
Sérgio Domingues – março de 2007
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