sexta-feira, 20 de abril de 2007

SANDÁLIAS DA HUMILDADE

Paixão - este é, sem dúvida o maior sentimento que faz alguém escolher o magistério como profissão... Se não houver paixão, o melhor mesmo é imprimir um currículo, colocar debaixo do braço e procurar emprego em outra área que melhor lhe identifique, pois na verdade, o que move um professor é o amor pelo que faz... Não é salário, condições de trabalho, ou instabilidade... Se a gente não gosta do que faz, se machuca todo dia e a vida torna-se uma tortura em tempo integral, contando as horas para acabar o turno, para se livrar de determinada turma... contando os dias para as férias, os anos para a aposentadoria... Ou seja, a escola que deveria educar, simplesmente “deseduca”, quando torna-se um local repleto de pessoas mal resolvidas, deixando fluir um ambiente desagradável para os profissionais da educação e sobretudo para os alunos.
Foi em cima deste aspecto que o Professor Mestre Mário Bandiera proferiu sua palestra na primeira etapa do curso de capacitação oferecido aos professores das escolas Wanda Krieger Gomes, Maria Luiza Barbosa, Esperança e Ulysses Guimarães na última segunda-feira (16/04), celebrando assim a união das redes estaduais e municipais de ensino do bairro Martello. O admirável evento: uma iniciativa inédita da equipe pedagógica da escola Wanda Krieger Gomes, só não foi melhor em virtude da ausência dos professores de uma das escolas municipais convidadas: Bem que havia vontade e disponibilidade o suficiente por parte dos educadores, mas por parte dos gestores (certamente mal resolvidos), nem tanto, que barraram o evento para os funcionários daquela escola, levando em conta uma concorrência medíocre, fétida e desnecessária na educação pública de Caçador.
Agora eu sei porque dizem que a educação pública “vai mal”: não são professores nem alunos os piores comparados às instituições particulares, mas sim o próprio sistema, que usa de critérios político-partidários para a escolha dos gestores, que não têm, obrigatoriamente compromisso com a escola, mas com as siglas... Enquanto se discute quem roubou aluno de quem, os alunos buscam simplesmente o direito à educação de qualidade e ao livre arbítrio para escolher o educandário que julgar melhor...
Por favor, colegas!... Eu suplico: vamos trabalhar por uma educação melhor e unir forças a exemplo destas quatro escolas que realizaram este evento em conjunto, mostrando união, cidadania e acima de tudo, amor pela educação... Vamos dar as mãos e juntos dar uma “tapa” nas estatísticas que insistem em dizer que a escola pública não tem qualidade... Já não basta a situação precária de nossas escolas na parte física! Agora, vamos destruir a moral também?... Certamente tem alunos o suficiente para todas as escolas do “Martellão”, que estão sedentos de conhecimento... Que exemplo de relacionamento estamos dando a estes pequenos gêneos?... Como esperamos que eles respondam a estes fatos?... Com que moral cobraremos de nossos alunos a ética e a cidadania?... Estamos educando ou deseducando?...
Não sou perfeito, tenho muito a aprender com meus colegas, mas gostaria de arrematar meu “protesto”, com dois pensamentos por mim anotados durante a palestra, que vêm a calhar neste momento:
Um deles, faz uma breve referência ao “mito da caverna” de Platão: “O professor deve ser humilde e libertar-se de sua caverna”, olhar para trás e perceber que a vida não é só as sombras de seu mundinho medíocre e egoísta... a educação vai além dos muros da escola ou das “faixas de Gaza” da política partidária.
Por fim, o outro é um ditado indígena norte-americano (ou estadosunidense, melhor dizendo): “Antes de julgar outro índio, calce as sandálias dele por sete luas”.
Márcio Roberto Goes
Descalço e ainda desarmado

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