Há duas semanas, o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) completou 85 anos. A República tinha apenas 33 anos e a Abolição, 34, quando o partido foi criado, carregando a certeza da utopia comunista e uma estratégia revolucionária: tomar o poder e estatizar os meios de produção para construir uma sociedade igualitária.
Em torno dessa utopia e dessa revolução, o Brasil teve uma militância atuante. Graças à utopia e à militância, o PCdoB, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e os grupos de esquerda ligados a Igreja Católica foram decisivos na formação política de gerações inteiras de brasileiros, mesmo daqueles que não concordavam com aquelas idéias.
Foi por meio desses sonhos e dessa combatividade que uma geração conheceu e se posicionou a favor ou contra o marxismo, a teologia da libertação, o desenvolvimentismo e até, por oposição, ao capitalismo global que hoje prevalece.
Mas a utopia deu lugar à perplexidade e a revolução, ao acomodamento. No começo do século XXI, os heróis se fizeram funcionários, a militância se transformou em filiação, a trincheira virou cargo, os partidos tornaram-se siglas, a história ficou presa à política. Os filiados de hoje em partidos chamados de esquerda caíram na perplexidade e no acomodamento. Nas comemorações de seus 85 heróicos anos, o PCdoB não é exceção: PT, PPS, PSB e o meu PDT também caímos na perplexidade e no acomodamento.
Nosso grau de desafio é retirar a juventude da indiferença, dar-lhe outra vez uma utopia e uma revolução. Tirá-la do desencanto ou, pior, da briga mesquinha, limitada a cargos e salários ou, ainda pior, da droga e da criminalidade.
A utopia não é mais o socialismo ou o comunismo. Nem é tampouco a simples continuidade do desenvolvimento econômico, que hoje aquece o planeta e é responsável pela apartação: depredador da natureza e concentrador de oportunidades e renda.
Na nossa realidade, a máxima utopia é a garantia de “mesma chance” para cada brasileiro: sonho de que todo cidadão, ao nascer, receberá oportunidade igual para desenvolver seu potencial. Utilizar o seu esforço com a mesma chance, independente da renda da família em que nasceu, do gênero, da raça, até mesmo de deficiências físicas e mentais que possam ser compensadas.
Alguns terão mais sucesso que outros, graças à vocação, ao talento e à persistência. Mas todos terão a mesma chance. O caminho para esta utopia é a educação: uma revolução na educação capaz de fazer, em pouco tempo, com que as escolas dos pobres nas favelas sejam equivalentes em qualidade às escolas dos ricos em condomínios. Quando isso acontecer, as favelas já não serão pobres e os condomínios não precisarão de muros. O Brasil terá derrubado o muro da sua desigualdade interna e o muro do atraso em relação aos países desenvolvidos.
Ainda mais. Será a escola que conseguirá garantir a mesma chance entre a geração de hoje e as gerações futuras, educando para impedir a monumental tragédia do aquecimento global. É a educação que permitirá mudanças nos hábitos de consumo e oferecerá as técnicas para a revolução científica e tecnológica que poderá reverter o desastre ecológico.
A mesma chance, pela educação. Essa é a única utopia e uma boa utopia, democraticamente realizada, sem exigir irresponsabilidade econômica ou fiscal, sem autoritarismo, sem quebra de regras. Possível, mas difícil por causa do vício das velhas utopias, abandonadas pelo acomodamento da militância, mas ainda alardeadas em teorias como forma de iludir o acomodamento. Palavras antigas escondendo a passividade.
Nós já enganamos nossos filhos com as promessas da igualdade comunista, já jogamos nossos filhos na desesperança e no acomodamento. Talvez ainda haja esperança de despertar nossos netos para a luta por uma revolução educacional que ofereça a utopia da mesma chance para todos.
Cristovam Buarque é senador pelo PDT-DF
Em torno dessa utopia e dessa revolução, o Brasil teve uma militância atuante. Graças à utopia e à militância, o PCdoB, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e os grupos de esquerda ligados a Igreja Católica foram decisivos na formação política de gerações inteiras de brasileiros, mesmo daqueles que não concordavam com aquelas idéias.
Foi por meio desses sonhos e dessa combatividade que uma geração conheceu e se posicionou a favor ou contra o marxismo, a teologia da libertação, o desenvolvimentismo e até, por oposição, ao capitalismo global que hoje prevalece.
Mas a utopia deu lugar à perplexidade e a revolução, ao acomodamento. No começo do século XXI, os heróis se fizeram funcionários, a militância se transformou em filiação, a trincheira virou cargo, os partidos tornaram-se siglas, a história ficou presa à política. Os filiados de hoje em partidos chamados de esquerda caíram na perplexidade e no acomodamento. Nas comemorações de seus 85 heróicos anos, o PCdoB não é exceção: PT, PPS, PSB e o meu PDT também caímos na perplexidade e no acomodamento.
Nosso grau de desafio é retirar a juventude da indiferença, dar-lhe outra vez uma utopia e uma revolução. Tirá-la do desencanto ou, pior, da briga mesquinha, limitada a cargos e salários ou, ainda pior, da droga e da criminalidade.
A utopia não é mais o socialismo ou o comunismo. Nem é tampouco a simples continuidade do desenvolvimento econômico, que hoje aquece o planeta e é responsável pela apartação: depredador da natureza e concentrador de oportunidades e renda.
Na nossa realidade, a máxima utopia é a garantia de “mesma chance” para cada brasileiro: sonho de que todo cidadão, ao nascer, receberá oportunidade igual para desenvolver seu potencial. Utilizar o seu esforço com a mesma chance, independente da renda da família em que nasceu, do gênero, da raça, até mesmo de deficiências físicas e mentais que possam ser compensadas.
Alguns terão mais sucesso que outros, graças à vocação, ao talento e à persistência. Mas todos terão a mesma chance. O caminho para esta utopia é a educação: uma revolução na educação capaz de fazer, em pouco tempo, com que as escolas dos pobres nas favelas sejam equivalentes em qualidade às escolas dos ricos em condomínios. Quando isso acontecer, as favelas já não serão pobres e os condomínios não precisarão de muros. O Brasil terá derrubado o muro da sua desigualdade interna e o muro do atraso em relação aos países desenvolvidos.
Ainda mais. Será a escola que conseguirá garantir a mesma chance entre a geração de hoje e as gerações futuras, educando para impedir a monumental tragédia do aquecimento global. É a educação que permitirá mudanças nos hábitos de consumo e oferecerá as técnicas para a revolução científica e tecnológica que poderá reverter o desastre ecológico.
A mesma chance, pela educação. Essa é a única utopia e uma boa utopia, democraticamente realizada, sem exigir irresponsabilidade econômica ou fiscal, sem autoritarismo, sem quebra de regras. Possível, mas difícil por causa do vício das velhas utopias, abandonadas pelo acomodamento da militância, mas ainda alardeadas em teorias como forma de iludir o acomodamento. Palavras antigas escondendo a passividade.
Nós já enganamos nossos filhos com as promessas da igualdade comunista, já jogamos nossos filhos na desesperança e no acomodamento. Talvez ainda haja esperança de despertar nossos netos para a luta por uma revolução educacional que ofereça a utopia da mesma chance para todos.
Cristovam Buarque é senador pelo PDT-DF
Nenhum comentário:
Postar um comentário