sábado, 21 de abril de 2007

Pimenta

Editorial: Desfile de suspeitas

Em meio às estarrecedoras revelações divulgadas pela Operação Furacão, nenhuma causou tanta comoção entre certos setores da sociedade quanto a suposta compra de jurados do carnaval carioca, em favor da escola Beija-Flor de Nilópolis. A marcha criminosa que uniu num mesmo enredo bicheiros e desembargadores na execução de uma dezena de crimes parece ter ficado em compasso de espera no imaginário popular, diante da possibilidade de fraude no desfile momesco.

A revelação do esquema, ainda sob investigação da Polícia Federal, desnuda o que até os postes da Praça da Apoteose já sabiam: os resultados dos desfiles têm mais a ver com o poderio econômico dos contraventores patronos das agremiações que com o esforço dos passistas, ritmistas e foliões. E informam que mais uma instituição popular - abastecida por maciço investimento estatal - sucumbiu à roubalheira.

Na cadência frenética de um samba-enredo, o prefeito Cesar Maia saiu em defesa da lisura do processo de apuração do desfile. Alegou que a manipulação dos resultados seria impossível. A autoridade municipal confia totalmente na promotora do evento, a Liga Independente das Escolas de Samba, espécie de campeã de moralidade e idoneidade, comandada por Aílton Guimarães Jorge - um dos 25 detidos na Operação Furacão.

Um tom acima, a Câmara Municipal do Rio promete pôr fim ao desfile de suspeitas por meio de uma Comissão Parlamentar de Inquérito. A história promete dar samba.

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