Universidade: sorteio ou azar?
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A universidade existe para estimular o pensamento reflexivo. Para desenvolver o espírito científico. Para formar/aperfeiçoar profissionais em diferentes áreas do saber. Para ensinar pessoas a atuarem como professores. Para estimular a pesquisa. Para sistematizar e divulgar o conhecimento. Para oferecer soluções criativas a problemas que afligem a humanidade, em nível local e planetário.
Têm sido estas as missões da universidade brasileira, conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 1996.
Desde os anos 1970, ingressar na universidade tornou-se o sonho de um número cada vez maior de pessoas. Com ensino médio pior ou melhor, tenha estudado em colégio particular ou em escola pública, tenha feito cursinho ou não, nosso jovem busca a universidade. Não só ele. Muitos adultos, já no mercado de trabalho, aspiram ao diploma universitário.
Mas não há vagas suficientes nas universidades públicas (gratuitas). Daí a necessidade dos exames de seleção. E quem não for aprovado... procurará uma instituição particular, com ou sem ProUni.Segundo o MEC, a maior parte das matrículas (73%) está, hoje, no setor privado. Três terços dos universitários brasileiros, com ajuda ou não do Estado, freqüentam faculdades privadas, onde, por vezes, encontram professores que também lecionam nas públicas.
Para ingressar em instituições gratuitas é preciso acertar as questões, fazer uma boa redação. Os diferentes modelos de vestibular são imperfeitos, mas são os que existem. O fato é que o ensino superior privado expandiu-se, e é ele que acolhe. Acolhe milhares de alunos (mediante processos seletivos mais ou menos sérios), e acolhe professores que não têm espaço para lecionar nas públicas.Enquanto o ensino superior público não voltar a crescer, as instituições particulares continuarão, com maior ou menor qualidade, formando advogados, médicos, administradores de empresa, pedagogos etc.
Mas o que me surpreendeu outro dia foi descobrir a saída que o senador Sibá Machado sugeriu para esta situação. Seu projeto de lei propõe que os vestibulares sejam abolidos. Em seu lugar, o sorteio. Como se já não bastassem as loterias todas!
Ao argumentar, o senador recorre a Ruben Alves (e erra na ortografia, “Rubem” é o certo). Sim, Rubem Alves ataca a perversidade do vestibular-decoreba. E, com ironia, em seus artigos, recomenda o sorteio como critério de seleção, injusto também, mas ao menos põe em xeque a falha do sistema.
O senador não entendeu que era pura ironia... Que azar!
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Gabriel Perissé é doutor em educação pela USP e escritor.Web Site: http://www.perisse.com.br/
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