quinta-feira, 22 de novembro de 2007

PSDB: de fato, não de foto

Eliane Cantanhêde


Antes mesmo de assumir a presidência do PSDB, o senador pernambucano Sérgio Guerra já foi logo avisando, em entrevista à Folha de S.Paulo de hoje, que "não será árbitro dessa briga". Briga de quem com quem? Dos governadores José Serra, de São Paulo, e Aécio Neves, de Minas.
Desculpe, senador, mas pode ir tirando o cavalinho da chuva porque o sr. vai, sim, passar o tempo todo arbitrando a disputa entre Serra e Aécio pela candidatura à Presidência da República em 2010. Porque os dois são evidentemente pretendentes e, se eles não se acertam, o partido racha na hora crucial da campanha, o candidato afunda e Lula vence de novo. Um filme tucano, aliás, que todo mundo já viu e que já cansou.
Em 2002, Serra foi candidato contra Lula, o que já era um desafio e tanto, mas ficou pior, muito pior, pelo descaso do PSDB com a própria candidatura. Lá pelas tantas, quando ele olhou em volta, estava entregue às moscas. Aécio deu uma ajuda claramente formal, um comício aqui, outro ali, para não ser acusado de nada. O resto dos caciques, nem isso.
Veio 2006, o partido foi contra a corrente e escolheu, inexplicavelmente, Geraldo Alckmin para enfrentar a reeleição de Lula. Mais uma vez, Alckmin se debateu praticamente sozinho para enfrentar uma campanha já naturalmente difícil e conseguiu chegar a duras penas ao segundo turno, no qual produziu uma seqüência incrível de erros. E onde estavam os tucanos? Repetindo 2002, assoviando e lavando as mãos. Onde estava Serra? Repetindo Aécio e cumprindo a formalidade de fotos, sorrisos e discursos meramente formais - uma formalidade menos para o eleitor, mais para boi dormir.
Em 2010, quando muitos dão de barato que Serra está eleito, é bom desconfiar. Lula tem a máquina, mais de 60% de popularidade, uma economia que venta a favor e, por fim, tudo o que ele diz "cola". A única chance de os tucanos voltarem ao poder é uma união - -de fato, não de foto -- entre Serra, Aécio e os novos líderes que emergem no partido. Senão, não.
E a únicas bandeiras que a tucanada de fato tem são os governos de São Paulo e de Minas, bem avaliados pelas pesquisas, e o governo Fernando Henrique Cardoso, com a estabilidade da economia e as bases de muitos dos êxitos do sucessor Lula. Ou a campanha encampa esse discurso solidamente, ou não vai para frente. Senão, não.
E mais: as composições políticas e partidárias são fundamentais, de preferência com aliados sólidos, bem enraizados pelo país e sem candidatos visíveis para disputar a Presidência. Digamos que o DEM, apesar do discurso dos "demos" em contrário, de que vão ter candidato nem que a vaca tussa. Para ter chances reais, o PSDB precisa ser suprapartidário. Senão, não de novo.
São senões fortes. Sérgio Guerra sabe muito bem disso, tanto que deixou bem claro na entrevista à Folha a importância da união Serra-Aécio, a defesa dos governos FHC, de São Paulo e de Minas e o elogio ao DEM. Certamente, aliás, a entrevista serve como recado para o congresso e para a convenção do PSDB, que serão em Brasília na quinta, 22/11, e na sexta, 23/11, quando Sérgio Guerra será "eleito" presidente da sigla.
Na oposição, o partido tem sido um fiasco completo e absoluto, com disputas internas, idas ao Planalto num dia, rechaço ao Planalto no outro, cada um dizendo o que bem entende. E todos, claro, falando mal de todos. Se o PSDB for para 2010 com o mesmo passo desengonçado com que se move em searas delicadas, como a prorrogação ou não da CPMF, está lascado. Como o PT também não está com essa bola toda, o lulismo é que vai ficando...
E-mail: elianec@uol.com.br

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