A América Latina vive protestos de rua cada vez mais acirrados na Venezuela e na Bolívia, dois países que passam por complexas e polêmicas revisões constitucionais. Por mais que o Planalto e o Itamaraty digam que não e que as Forças Armadas calem a boca, o Brasil, evidentemente, está preocupado. Até porque não vêem essa efervescência como exclusivas de um ou outro país, mas sim como um movimento articulado.
O centro da preocupação está em Hugo Chávez, que arma a Venezuela com submarinos nucleares, tanques, aviões e rifles russos. Antes, a inteligência brasileira julgava que ele poderia até fazer pressão contra a Guiana, já que os dois países têm disputas territoriais históricas, mas não se meteria a besta com a Colômbia, porque isso seria bater de frente com os EUA.
Agora, porém, setores militares acham que Chávez é, sim, capaz de virar as baterias para a Colômbia, desde que se meteu a intermediar negociações entre o governo colombiano e as Farc (grupos armados e vinculados às drogas no país vizinho). A intermediação não deu certo, e militares brasileiros enxergam interesses perigosos por trás de tudo isso.
Na avaliação desses setores, Chávez sabia desde o início que não tinha condições de intermediar coisa nenhuma e só se meteu no conflito colombiano para meter os pés --e as mãos-- no país mais diretamente aliado aos EUA na América do Sul. Não custa lembrar que há tropas americanas na Colômbia, para fortalecer e treinar o governo Álvaro Uribe contra a guerrilha e o tráfico de drogas.
O Brasil não gosta. Aliás, não gostava desde o governo Fernando Henrique Cardoso, ao considerar que a ingerência militar --e, portanto, política-- de Washington na Colômbia é um precedente perigoso para toda a região. Mas, se o Brasil não gosta, trata a questão diplomática e politicamente. Manifesta discordância, mas não afronta.
Já a Venezuela parte para cima e se mete, tanto quanto se meteu em todas as eleições internas à sua volta, no Peru, no Equador, na Bolívia, para ficar nos casos mais evidentes. Agora, pode estar preparando o caminho e as condições para interferir também nas eleições da Colômbia, contra Uribe e a favor de seus adversários que, sejam quem forem, certamente terão algum tipo de elo com as Farc.
Para a inteligência militar brasileira, isso tudo é explosivo: um Chávez armado até os dentes, fechado com Evo Morales na Bolívia e com Rafael Corrêa no Equador, com vínculos diretos e estratégicos com Cuba e... com a possibilidade de ajudar a eleger alguém das Farc na Colômbia.]
Nessa hipótese, Chávez estará dando um soco no estômago de Washington e somando esforços e recursos do petróleo venezuelano com os das drogas colombianas. Como resultado, deixando o Brasil com o cabelo em pé.
Ninguém entende até onde Chávez quer chegar com sua beligerância verbal, com seu projeto continuísta e com seu armamento. Na visão do Planalto e do Itamaraty, ele apenas quer demonstrar força e poder, até para se defender da ganância dos EUA. Mas na visão de setores militares e de inteligência do Brasil, Chávez pretende dominar o continente e enfrentar os EUA. Se for assim, o que o Brasil deverá fazer?
Se o Planalto e o Itamaraty estão sempre passando panos quentes e minimizando a questão, é bom pelo menos raciocinar com cenários, desde o melhor até o pior. Para não ser pego de surpresa depois, num continente manipulado por Chávez e em chamas.
Eliane Cantanhêde é colunista da Folha.
O centro da preocupação está em Hugo Chávez, que arma a Venezuela com submarinos nucleares, tanques, aviões e rifles russos. Antes, a inteligência brasileira julgava que ele poderia até fazer pressão contra a Guiana, já que os dois países têm disputas territoriais históricas, mas não se meteria a besta com a Colômbia, porque isso seria bater de frente com os EUA.
Agora, porém, setores militares acham que Chávez é, sim, capaz de virar as baterias para a Colômbia, desde que se meteu a intermediar negociações entre o governo colombiano e as Farc (grupos armados e vinculados às drogas no país vizinho). A intermediação não deu certo, e militares brasileiros enxergam interesses perigosos por trás de tudo isso.
Na avaliação desses setores, Chávez sabia desde o início que não tinha condições de intermediar coisa nenhuma e só se meteu no conflito colombiano para meter os pés --e as mãos-- no país mais diretamente aliado aos EUA na América do Sul. Não custa lembrar que há tropas americanas na Colômbia, para fortalecer e treinar o governo Álvaro Uribe contra a guerrilha e o tráfico de drogas.
O Brasil não gosta. Aliás, não gostava desde o governo Fernando Henrique Cardoso, ao considerar que a ingerência militar --e, portanto, política-- de Washington na Colômbia é um precedente perigoso para toda a região. Mas, se o Brasil não gosta, trata a questão diplomática e politicamente. Manifesta discordância, mas não afronta.
Já a Venezuela parte para cima e se mete, tanto quanto se meteu em todas as eleições internas à sua volta, no Peru, no Equador, na Bolívia, para ficar nos casos mais evidentes. Agora, pode estar preparando o caminho e as condições para interferir também nas eleições da Colômbia, contra Uribe e a favor de seus adversários que, sejam quem forem, certamente terão algum tipo de elo com as Farc.
Para a inteligência militar brasileira, isso tudo é explosivo: um Chávez armado até os dentes, fechado com Evo Morales na Bolívia e com Rafael Corrêa no Equador, com vínculos diretos e estratégicos com Cuba e... com a possibilidade de ajudar a eleger alguém das Farc na Colômbia.]
Nessa hipótese, Chávez estará dando um soco no estômago de Washington e somando esforços e recursos do petróleo venezuelano com os das drogas colombianas. Como resultado, deixando o Brasil com o cabelo em pé.
Ninguém entende até onde Chávez quer chegar com sua beligerância verbal, com seu projeto continuísta e com seu armamento. Na visão do Planalto e do Itamaraty, ele apenas quer demonstrar força e poder, até para se defender da ganância dos EUA. Mas na visão de setores militares e de inteligência do Brasil, Chávez pretende dominar o continente e enfrentar os EUA. Se for assim, o que o Brasil deverá fazer?
Se o Planalto e o Itamaraty estão sempre passando panos quentes e minimizando a questão, é bom pelo menos raciocinar com cenários, desde o melhor até o pior. Para não ser pego de surpresa depois, num continente manipulado por Chávez e em chamas.
Eliane Cantanhêde é colunista da Folha.
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