quarta-feira, 11 de julho de 2007

Criatividade

Eles também querem uma pensão de Renan

Pensão paga por senador leva corredores de Brasília a fazerem bem-humoradas faixas de protesto
Soraia Costa *
A divulgação de que o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), pagava R$ 12 mil de pensão alimentícia à jornalista Mônica Veloso, mãe da filha de três anos do senador, por meio de um lobista da empreiteira Mendes Júnior gerou indignação nos brasileiros, mas também causou uma pontinha de inveja em muitos.
Ao participar da 7ª Corrida de Rua de Taguatinga (DF), a administradora de empresas Graça Melo, 55 anos, viu a faixa “Come eu Renan” (assim mesmo, sem a vírgula), feita por um grupo de corredores que tradicionalmente faz chacota sobre questões políticas e sociais, e decidiu tirar uma foto. Foi um sucesso. Ela colocou a foto em seu Orkut e a imagem começou a circular pela internet, indo parar em diversos blogs.
“As pessoas estão mais preocupadas em participar mais e cobrar mais da política, nem que seja com uma simples faixa”, disse Graça ao Congresso em Foco.
Ela explicou que é separada, mãe de quatro filhos e que nenhum deles recebe tanto dinheiro quanto a filha de Renan. Por isso, quando viu a faixa, logo teve a idéia de tirar a foto. “Se por um lado ele agiu errado com relação à origem do dinheiro e à maneira como foi feita a negociação, por outro ele foi muito correto com a moça”, disse, referindo-se à assistência dispensada por Renan a Mônica Veloso.
Graça, no entanto, garantiu que a explicação dada pelo presidente do Congresso não a convenceu. “E isso ainda está atrasando o trabalho da Câmara e do Senado”, acrescentou.
Para ela, esse tipo de protesto, mesmo que bem-humorado, é uma forma de a população mostrar que está atenta ao que acontece no Legislativo. “É uma forma de o povo mostrar que está acompanhando o comportamento daqueles que receberam votos e de cobrar esses votos que deram. Mas acho que está muito perto da população ir para as ruas mesmo e dar um basta, porque estão todos muito indignados”, defendeu Graça Melo, que é funcionária pública federal.
Assim, até eu!
Um dos autores da frase, o também servidor público Geraldo Custódio, 53 anos, era quem segurava a faixa no momento em que ela foi vista por Graça. "Na corrida, foi a maior gozação", conta ele. "Quando me perguntavam como assim 'come eu Renan', eu respondia que por uma pensão daquelas até eu queria ser a Mônica Veloso".
O grupo do qual Geraldo faz parte não tem nome definido, mas começou a levar faixas para eventos esportivos na época em que estouraram as denúncias do mensalão. Ele e um grupo com mais dez amigos passaram a fazer os protestos durante corridas em diferentes cidades do país.
“Tudo começou na meia-maratona do Rio de Janeiro, quando corremos os 21 km carregando malas de isopor. Na época, ficamos conhecidos como ‘os malas de Brasília’, mas a cada corrida escolhemos o tema a partir do que está em evidência. Não necessariamente são questões políticas, mas com essas crises constantes, os temas políticos estão sendo predominantes”, explicou ele.
Na 7ª Corrida de Rua de Taguatinga (DF), além da faixa fotografada com Graça Melo, o grupo fez outras duas: “Renan é um paizão” e “Vavá é um amigão”. A segunda delas, em referência ao pedido de prisão do irmão do presidente Lula, solicitado pela Polícia Federal e negado pela Justiça por falta de provas. “Corremos por prazer, e nossa idéia é fazer chacota com o noticiário do dia. Por mais que seja brincadeira, fazemos as pessoas pensar”, acredita Geraldo.
Sr. ladrão, desculpe
Além das faixas, o grupo é conhecido por usar camisetas dizendo “Não roube”. “Elas geram várias interpretações, mas sempre levam à reflexão. E é isso que é importante”, argumenta Geraldo. “Gosto de brincar com as palavras para chamar a atenção para os problemas. Quando roubaram o som do meu carro três vezes em um mesmo mês, escrevi no vidro: ‘Sr. ladrão, o CD já foi roubado este mês, desculpe!’”, exemplifica o funcionário público. Além de estampar diversos blogs, a foto de Graça também passou a ser o tema de três comunidades do Orkut. O criador de uma delas, o analista de sistema Josimar Lopes, justificou sua idéia escrevendo:
“Considerando que a política nacional virou um lixo há muito tempo; que não se conta nos dedos das mãos o número de políticos honestos no país; que as leis não funcionam; que justiça é coisa para pobre; que o povo não ajuda; e que não vou acertar na Mega Sena; eu também quero uma filha do Renan. Renan, come eu!!! Este é um protesto de um brasileiro que se cansou do maior puteiro que virou este país!”
Como na frase daquela piada clássica do homem que insiste em manter o humor, mesmo tendo um punhal atravessando seu corpo de lado a lado, o Brasil segue daquele jeito que todos sabemos: "só dói quando eu rio".* Colaborou Lucas Ferraz
Congresso em Foco

Nenhum comentário: