sábado, 14 de julho de 2007

Editorial do Jornal do Brasil

Editorial: Armadilha de um piquete solidário
O presidente da República cedeu à tentação da generosidade pessoal de Luiz Inácio da Silva e à solidariedade sindical de Lula ao apoiar o indivíduo Renan Calheiros, que se aferra ao cargo de presidente do Senado, apesar da investigação sobre quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética. A declaração do chefe da nação sobre a necessidade de a Polícia Federal ser cuidadosa quando investiga os cidadãos ou são óbvias ou se constituem num desastrado recado de apoio ao agora amigo senador.
O presidente Lula tem sabedoria política, caso contrário não teria construído um partido político nem seria reeleito, mas caiu na armadilha preparada por Calheiros quando considerou as denúncias como jogo da oposição ao qual o Planalto não pode ceder. Mesmo que o presidente tenha usado de moderação incomum na tentativa de não dizer mais do que pensa, venceu o desejo pessoal de confortar e o hábito de sindicalista de abrir um piquete de solidariedade.
Engana-se o presidente se imagina que o país, a Presidência da República e o Senado ficaram melhores depois que interveio, por enquanto pela retórica.
Do episódio, saem todos perdendo, exceto o senador Renan Calheiros. Sabe o líder sindical que não se faz bom acordo com patrão intransigente. E não se conhece intransigência maior do que a do comandante do Congresso em campanha para sair ileso da trapalhada em que se meteu sozinho.
Sabe o político petista que não se dá trégua ao poder, seja de que partido for. E não se nota uma oposição tão desorientada desde que o Congresso se reergueu da ditadura militar. Deveria saber o ocupante do principal gabinete do Planalto que a instituição está acima de circunstâncias passageiras que não são obstáculos reais à democracia nem aos melhores planos do governo.
O presidente também prestou um desserviço às missões da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, embora ninguém vá dar-se por achado. Claro que as duas instituições não podem julgar, mas também não cabe a um integrante do Executivo absolver. A questão é de uma clareza atroz: se o senador Renan Calheiros é inocente ou culpado das acusações, que seja julgado. Em ambos os casos, que se afaste da presidência do Senado e deixe a Casa trabalhar em paz.

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