Renan e as teorias conspiratórias
Muita gente com vasta experiência em análise política estranha o processo que está abatendo Renan Calheiros (PMDB-AL) da presidência do Senado. A pergunta clássica – a quem interessa (a queda de Renan)? – não tem, até o momento, respostas conclusivas.
O governo federal tem no presidente do Senado um aliado até bastante fiel, a se considerar o índice de traição na amplíssima base que sustenta o presidente Lula. O PT tem defendido Calheiros de forma bastante elegante, talvez com mais contundência até do que o apoio dos peemedebistas, correligionários de Renan. O PSDB também ficou na muda, nada faz contra Calheiros, até pela estreita relação do presidente do Senado com o governador de Alagoas, o tucano Teo Vilela. No antigo PFL, repaginado para Democratas, há um ou outro senador fazendo bravatas, mais interessado em dar show para a opinião pública do que propriamente condenar Renan Calheiros.
Oposição de verdade, o presidente do Senado só encontra no PSOL, PV e PPS. É muito pouco para um enredo que envolve Polícia Federal, TV Globo, uma suposta chantagem no valor de R$ 20 milhões e a exposição pública da vida íntima do senador.
A teoria conspiratória clássica diz que há sempre um grande jogo de interesses por trás deste tipo de operação, ainda que não fique claro para a opinião pública quem são os interessados na jogada. Os renanzistas já vazaram que o principal articulador das denúncias foi o usineiro João Lyra, candidato derrotado por Teo Vilela ao governo de Alagoas. Nesta versão, tratar-se-ia de uma vingança política, a velha guerra regional de coronéis – Renan entrou de cabeça na campanha de Teo e, pouco antes do pleito, a dupla teria dado uma série de golpes baixos em Lyra, incluindo aí a acusação ao usineiro de sabotagem a um helicóptero em que os dois, Teo e Renan, viajavam. O fato é que Lyra liderava as pesquisas e assistiu a Teo Vilela virar nas últimas duas semanas de campanha.
A versão renanzista faz algum sentido, mas há pontos obscuros: João Lyra pode ser um homem influente, rico e vingativo, mas não tem poder para convencer a TV Globo de entrar na cruzada contra Calheiros. Lyra poderia ter até "comprado" os serviços da ex-amante de Calheiros e a reportagem de Veja, como espalham os aliados do senador alagoano, mas convencer a direção da maior emissora do país a derrubar o presidente do Senado parece uma tarefa bem mais complicada.
Assim, é certo que alguém tenha se juntado a Lyra no desenrolar dos acontecimentos, talvez após perceber que Calheiros se fragilizou em demasia? É possível, mas não é certo. Também pode ser que a teoria conspiratória não se aplique neste caso específico e tudo não passe de uma guerra local que ganhou dimensão nacional pelo cargo ocupado por um dos contendores, por acaso presidente do Senado. Em breve, será possível entender melhor o episódio.
Luiz Antônio Magalhães é editor de política do DCI e editor-assistente do Observatório da Imprensa (www.observatoriodaimprensa.com.br).
Blog do autor: www.blogentrelinhas.blogspot.com
Muita gente com vasta experiência em análise política estranha o processo que está abatendo Renan Calheiros (PMDB-AL) da presidência do Senado. A pergunta clássica – a quem interessa (a queda de Renan)? – não tem, até o momento, respostas conclusivas.
O governo federal tem no presidente do Senado um aliado até bastante fiel, a se considerar o índice de traição na amplíssima base que sustenta o presidente Lula. O PT tem defendido Calheiros de forma bastante elegante, talvez com mais contundência até do que o apoio dos peemedebistas, correligionários de Renan. O PSDB também ficou na muda, nada faz contra Calheiros, até pela estreita relação do presidente do Senado com o governador de Alagoas, o tucano Teo Vilela. No antigo PFL, repaginado para Democratas, há um ou outro senador fazendo bravatas, mais interessado em dar show para a opinião pública do que propriamente condenar Renan Calheiros.
Oposição de verdade, o presidente do Senado só encontra no PSOL, PV e PPS. É muito pouco para um enredo que envolve Polícia Federal, TV Globo, uma suposta chantagem no valor de R$ 20 milhões e a exposição pública da vida íntima do senador.
A teoria conspiratória clássica diz que há sempre um grande jogo de interesses por trás deste tipo de operação, ainda que não fique claro para a opinião pública quem são os interessados na jogada. Os renanzistas já vazaram que o principal articulador das denúncias foi o usineiro João Lyra, candidato derrotado por Teo Vilela ao governo de Alagoas. Nesta versão, tratar-se-ia de uma vingança política, a velha guerra regional de coronéis – Renan entrou de cabeça na campanha de Teo e, pouco antes do pleito, a dupla teria dado uma série de golpes baixos em Lyra, incluindo aí a acusação ao usineiro de sabotagem a um helicóptero em que os dois, Teo e Renan, viajavam. O fato é que Lyra liderava as pesquisas e assistiu a Teo Vilela virar nas últimas duas semanas de campanha.
A versão renanzista faz algum sentido, mas há pontos obscuros: João Lyra pode ser um homem influente, rico e vingativo, mas não tem poder para convencer a TV Globo de entrar na cruzada contra Calheiros. Lyra poderia ter até "comprado" os serviços da ex-amante de Calheiros e a reportagem de Veja, como espalham os aliados do senador alagoano, mas convencer a direção da maior emissora do país a derrubar o presidente do Senado parece uma tarefa bem mais complicada.
Assim, é certo que alguém tenha se juntado a Lyra no desenrolar dos acontecimentos, talvez após perceber que Calheiros se fragilizou em demasia? É possível, mas não é certo. Também pode ser que a teoria conspiratória não se aplique neste caso específico e tudo não passe de uma guerra local que ganhou dimensão nacional pelo cargo ocupado por um dos contendores, por acaso presidente do Senado. Em breve, será possível entender melhor o episódio.
Luiz Antônio Magalhães é editor de política do DCI e editor-assistente do Observatório da Imprensa (www.observatoriodaimprensa.com.br).
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