quinta-feira, 12 de março de 2009

Globo censurou Diretas-Já, diz Boni - A ordem foi de Roberto Marinho

Globo censurou Diretas-Já, diz Boni - A ordem foi de Roberto Marinho

O ex-vice-presidente das Organizações Globo e um dos responsáveis pelo "padrão Globo de qualidade", José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, disse em entrevista ao jornalista Roberto Dávila que Roberto Marinho, fundador da emissora, determinou a censura ao primeiro grande comício da campanha pelas Diretas-Já em janeiro de 1984, em São Paulo.

Segundo Boni, àquela altura "o doutor Roberto não queria que se falasse em Diretas-Já" e decidiu que o evento da praça da Sé fosse transmitido "sem nenhuma participação de nenhum dos discursantes" -"quer dizer, a palavra, o que se dizia, o conteúdo estava censurado". O programa "Conexão Roberto Dávila" foi transmitido na última quarta-feira à noite pela TV Cultura.

Boni falava a respeito da pressão dos diversos governos militares sobre o jornalismo da emissora, quando, questionado especificamente sobre a campanha das Diretas, disse que nela ocorreu "uma censura dupla". "Primeiro, uma censura da censura; depois, uma censura do doutor Roberto", declarou Boni.

O que motivou a decisão, segundo ele, foi o temor de que os militares cassassem a concessão da TV Globo caso os comícios fossem noticiados. "No momento das Diretas-Já, [os militares] ameaçaram claramente a Globo de perder a concessão", ele disse.

A versão é diferente da que aparece no livro "Jornal Nacional - A Notícia Faz História", publicado pela Jorge Zahar em 2004, e que representa a versão da própria Globo para a história de seu jornalismo. O texto ali publicado não faz nenhuma referência a uma intervenção direta de censura por parte de Roberto Marinho.

Segundo o texto, "a matéria [transmitida no dia do comício em São Paulo] provocou polêmicas". "Com o passar dos anos, fatos misturaram-se a mitos até que uma versão falsa ganhasse as páginas de muitos livros sobre o assunto: a Globo teria omitido que o comício era uma manifestação pelas Diretas."

A versão oficial, no entanto, afirma que a TV Globo vinha sendo "pressionada pelos militares a simplesmente não cobrir os eventos" e cita o próprio Boni, que declara não ter sido possível "fazer a cobertura de maneira adequada".

Tanto o livro quanto Boni disse na entrevista transmitida nesta semana afirmam que a cobertura mudou depois daquele comício de São Paulo.
O texto oficial diz que, quando "crescem os comícios, a cobertura se fortalece". Segundo Boni, a Globo entrou atrasada na "campanha pelas Diretas", mas a censura inicial de Roberto Marinho foi contornada.

A Folha não conseguiu falar ontem com Boni. A assessoria da TV Globo, procurada pela reportagem, disse que a versão contida no livro corresponde à opinião da emissora sobre o fato.

Da Folha de SP

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