quarta-feira, 13 de junho de 2007

Reage, Brasil!

Eu tive o cuidado, nestes dias, de reler os meus pronunciamentos, nos últimos 15 anos, sobre corrupção e desvios de recursos públicos. Fiquei, primeiramente, impressionado com a quantidade. Mas, o que mais me impressionou, nesta minha volta a um passado não tão recente, é a atualidade de todos os meus discursos, nos quais procurei, sempre, me aprofundar sobre as causas da corrupção no Brasil, embora as investigações tenham se preocupado, quase sempre, apenas, com as suas conseqüências.
Imagine-se a implantação, como eu defendi, já em 1995, da chamada “CPI dos Corruptores”. Na verdade, ela se confundia com uma “CPI das Empreiteiras”. A Comissão morreu no nascedouro, pela falta de vontade dos partidos e dos líderes partidários de investigar os desvios que, naqueles idos tempos, chamavam a atenção, principalmente dos recursos do orçamento da União. Se cumpridas as sugestões e as determinações que, certamente, seriam aprovadas, caso aquela Comissão tivesse sido instalada, não haveria, hoje, quem sabe, necessidade da Operação Navalha, nem das outras operações e CPIs anteriores, como a “das Sanguessugas”, “das ambulâncias”, “do Mensalão”, “dos Correios”, “Furacão”, “Gafanhoto”, “Matusalém”, “Anaconda”, e tantas outras, com suas respectivas, e criativas, nomenclaturas.
Não sei quantas operações ainda virão. Nem como se chamarão. Nem quantas CPIs ainda se instalarão. Nem como se comportarão. Espero que não se esgote a criatividade da Polícia Federal. Nem as minhas esperanças.
Não tenho qualquer expectativa de que as mudanças que a população tanto reclama, em termos de valores e referências, venha a ser concretizada de dentro para fora. As últimas pesquisas de opinião pública dão conta de que essa mesma população também não acredita mais nas suas instituições públicas. É que nunca, em nenhum momento da nossa história política, os três poderes da República estiveram tão contaminados pela corrupção. Há um poder paralelo, que se entranha no Congresso, no Executivo e no Judiciário, que faz com que as instituições públicas percam a legitimidade junto à sociedade civil. As pessoas não acreditam, mais, na sua representação política.
É por isso que, embora nossas melhores intenções, não há que se esperar, a partir do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, pelo menos no curto prazo, as mudanças políticas, obviamente no espaço democrático, que a sociedade tanto reclama. Ocorre que a realidade brasileira, hoje, tamanha a barbárie, não pode esperar mudanças além do curto prazo. E, aí, há que se ter uma imensa mobilização de fora para dentro. É preciso que o povo seja, de fato, senhor da história. Sujeito, e não objeto. É preciso que a sociedade brasileira volte a exercitar a força das ruas. Um movimento, que poderia orientar-se sob o lema “Reage, Brasil”. Ora, um país com tantas e tamanhas riquezas, como o nosso, não pode permanecer mergulhado na barbárie. Não pode conviver com a corrupção, com a miséria e com pobreza, com a violência, com o analfabetismo e com tão precárias condições de vida. No século passado, fomos o país que mais cresceu no mundo. Embora toda essa riqueza gerada pelo trabalho dos brasileiros, irrompemos o novo milênio como o país de pior distribuição de renda do planeta, mergulhado na violência e na corrupção.
Por isso, a conclamação. Que a população brasileira ocupe, de novo, de maneira pacífica e democrática, as ruas e exija mudanças de postura dos gestores da coisa pública, em todos os níveis. Que reclame por uma reforma política que legitime, verdadeiramente, as suas instituições democráticas. Que imponha o término da corrupção. Que obrigue o fim da impunidade, principalmente para quem se locupleta com o sagrado dinheiro público. Que se reconstrua um Estado em novas bases, verdadeiramente voltado para a democracia, a soberania e a cidadania. Que as leis busquem, de fato, o interesse coletivo, e não a sanha perversa de alguns. Que todos sejam iguais perante a lei, como determina a nossa Constituição.
Ainda está presente, na nossa memória, o movimento “Diretas-Já”, que, embora a subserviência ao poder deste Congresso Nacional, que negou, num primeiro momento, a lei que daria ao povo o direito de votar para presidente, marcou um dos momentos mais sublimes da nossa história, e deu suporte para a abertura política. Uma mudança também reclamada em todos os cantos e recantos do País, naqueles idos da década de oitenta.
Quem não se lembra dos jovens “cara-pintadas”, movimento democrático que, também, ocupou as ruas de todo o país, na luta contra a corrupção.
Quem não se lembra de tantos outros momentos em que a sociedade ditou, verdadeiramente, os melhores rumos para o País.
É hora da sociedade organizada reagir. A partir dos movimentos das igrejas, das escolas, das famílias, dos sindicatos, das organizações de classe.
Reagir, em todos os sentidos da palavra, e da ação: de demonstrar reação, de protestar, de se opor, de lutar, de resistir. De agir, de novo.
A decência vai, onde o povo está.
* Senador Pedro Simon

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