Para Chico Alencar, 1º Congresso representa vitória política do Psol
Luís Brasilino,
da redação
Em entrevista por correio eletrônico, o deputado federal Chico Alencar (RJ) faz um balanço sobre o 1º Congresso Nacional do Partido Socialismo e Liberdade (Psol), encerrado domingo (10). Ele opina sobre as principais definições do encontro, o programa, o formato e a política de alianças do partido e faz um chamado: “[ocupar o espaço deixado pelo PT] é o grande desafio apresentado aos que apostam na incontestável necessidade da construção de uma sociedade radicalmente democrática, igualitária e promotora da emancipação humana”.
Brasil de Fato – Qual o seu balanço sobre o Congresso? Para que serviu, quais aspectos merecem ser destacados e para onde ele aponta?
O primeiro congresso do Psol foi uma vitória política do partido e mais um passo na consolidação da sua proposta. Apesar da precariedade da estrutura (os militantes trouxeram colchonetes e dormiram no próprio local, bem nos moldes dos lutadores do povo que o MST conhece), o clima do encontro foi marcado por um fantástico entusiasmo, nível respeitoso no tratamento das polêmicas, presença juvenil forte e ruidosa participação de representantes dos movimentos populares, da luta por terra e teto. Aos mais de 740 delegados de todo o Brasil, se somaram outros tantos observadores, lotando a lona armada no campus da UFRJ, na Praia Vermelha. Foram três dias, um dia inteiro dedicado ao debate em grupos, de intensa discussão política com elevado nível de qualidade.
Além de definir a linha programática do partido, o Congresso elegeu pelo voto dos delegados, escolhidos diretamente em núcleos ou plenárias de base, a primeira direção nacional que sucederá àquela constituída no pacto de fundação. Entre os aspectos que merecem ser destacados, estão os seguintes:
1) a opção pela direção colegiada onde os setores ditos mais "amplos", defensores de uma oposição programática de esquerda ao governo Lula e da combinação equilibrada entre o empenho nas lutas populares e a presença nos espaços institucionais são clara maioria, com cerca de 75%;
2) um partido nacional, com direções em interlocução permanente com os núcleos de base, cuja constituição e ampliação será estimulada desde já, inclusive como preparação para os Congressos estaduais, que se realizarão dentro de um mês, em todos os estados da Federação e no Distrito Federal;
3) um partido que denunciará a corrupção sistêmica e endêmica, reveladora de que se tornou rotineiro o envolvimento direto da base aliada do governo com os escândalos de desvio de recursos e da promiscuidade entre o público e o privado;
4) um partido atento aos riscos dos desvios comuns aos partidos de esquerda: à direita, quando se adapta à ordem vigente; para o "esquerdismo infantil", quando desconsidera a correlação de forças, a necessidade da disputa no parlamento e nos executivos, as tarefas mínimas como primeiros passos para as reformas estruturais;
5) um partido ecossocialista, libertário e necessário no Brasil de hoje para ocupar o vazio deixado pela guinada ideológica do PT. Ocupar esse espaço é o grande desafio apresentado aos que apostam na incontestável necessidade da construção de uma sociedade radicalmente democrática, igualitária e promotora da emancipação humana.
Como o senhor avalia o programa definido no Congresso? Pode-se chamá-lo de democrático popular? Como casar a luta eleitoral com a mobilização social?
O partido traz no nome a senha de identidade da sua definição programática: o socialismo e a liberdade. Os socialistas libertários querem acertar o passo com a dinâmica que, em nossa América Latina, tem feito avançar a mobilização popular na busca de saídas para a crise estrutural de nossas sociedades. Nesse sentido, se coloca a tarefa de incorporar e superar, nas lutas concretas que amadurecem nos movimentos sociais, aquelas bandeiras que no passado recente estiveram articuladas pelo programa que se denominou como democrático popular. O que se define como radicalmente democrático e se ancora na mobilização popular, ao mesmo tempo deve trazer para a ordem do dia a luta pelo socialismo no Brasil. Esse é um processo articulado que implica em avançar na mobilização social e, ao mesmo tempo, disputar eleições com programas de contraponto radical ao sistema dominante. Em tal contexto, não cabe colocar uma muralha separando mobilização social e disputa eleitoral. São momentos distintos de um mesmo esforço conjunto. São os movimentos na base social que definem régua e compasso, apresentam demanda e fornecem proteína política para que a proposta de mudança e ruptura possa ganhar força nas disputas do poder institucional.
Qual sua opinião sobre a política de alianças?
Quem se propõe a construir um movimento político capaz de mudar a correlação de forças na política, sem sombra de dúvidas, precisa falar aos diferentes e até aos indiferentes. Daí a importância da política de alianças que, no quadro de desagregação dos partidos, que hoje no Brasil são mais ajuntamentos sem qualquer definição programática, precisa buscar interlocutores além dos partidos, nas forças que se rearticulam na própria base da sociedade. Alianças baseadas na nitidez programática e não um ajuntamento com meros fins eleitorais. Todo e qualquer agrupamento, partido, segmento de partido, movimentos sociais que se mobilizem contra o ideário neoliberal e o continuísmo da ordem social injusta, devem estar na pauta desses esforços de construção da alternativa nova.
Por que a preferência por um partido de núcleos e de massa?
Os núcleos, desde que vivos e atuantes, são a presença da proposta de mudança no dia-a-dia das lutas do povo. São eles que conferem ao partido a possibilidade de acertar o passo com o dinamismo da luta social. Um partido de massas, comprometido com um projeto transformador da sociedade e, ao mesmo tempo, capaz de chegar junto nas disputas institucionais, será sempre um partido de núcleos. Com vida interna intensa e plural, voltada para construir no livre debate das idéias a unidade de ação política indispensável ao projeto transformador.
Luís Brasilino,
da redação
Em entrevista por correio eletrônico, o deputado federal Chico Alencar (RJ) faz um balanço sobre o 1º Congresso Nacional do Partido Socialismo e Liberdade (Psol), encerrado domingo (10). Ele opina sobre as principais definições do encontro, o programa, o formato e a política de alianças do partido e faz um chamado: “[ocupar o espaço deixado pelo PT] é o grande desafio apresentado aos que apostam na incontestável necessidade da construção de uma sociedade radicalmente democrática, igualitária e promotora da emancipação humana”.
Brasil de Fato – Qual o seu balanço sobre o Congresso? Para que serviu, quais aspectos merecem ser destacados e para onde ele aponta?
O primeiro congresso do Psol foi uma vitória política do partido e mais um passo na consolidação da sua proposta. Apesar da precariedade da estrutura (os militantes trouxeram colchonetes e dormiram no próprio local, bem nos moldes dos lutadores do povo que o MST conhece), o clima do encontro foi marcado por um fantástico entusiasmo, nível respeitoso no tratamento das polêmicas, presença juvenil forte e ruidosa participação de representantes dos movimentos populares, da luta por terra e teto. Aos mais de 740 delegados de todo o Brasil, se somaram outros tantos observadores, lotando a lona armada no campus da UFRJ, na Praia Vermelha. Foram três dias, um dia inteiro dedicado ao debate em grupos, de intensa discussão política com elevado nível de qualidade.
Além de definir a linha programática do partido, o Congresso elegeu pelo voto dos delegados, escolhidos diretamente em núcleos ou plenárias de base, a primeira direção nacional que sucederá àquela constituída no pacto de fundação. Entre os aspectos que merecem ser destacados, estão os seguintes:
1) a opção pela direção colegiada onde os setores ditos mais "amplos", defensores de uma oposição programática de esquerda ao governo Lula e da combinação equilibrada entre o empenho nas lutas populares e a presença nos espaços institucionais são clara maioria, com cerca de 75%;
2) um partido nacional, com direções em interlocução permanente com os núcleos de base, cuja constituição e ampliação será estimulada desde já, inclusive como preparação para os Congressos estaduais, que se realizarão dentro de um mês, em todos os estados da Federação e no Distrito Federal;
3) um partido que denunciará a corrupção sistêmica e endêmica, reveladora de que se tornou rotineiro o envolvimento direto da base aliada do governo com os escândalos de desvio de recursos e da promiscuidade entre o público e o privado;
4) um partido atento aos riscos dos desvios comuns aos partidos de esquerda: à direita, quando se adapta à ordem vigente; para o "esquerdismo infantil", quando desconsidera a correlação de forças, a necessidade da disputa no parlamento e nos executivos, as tarefas mínimas como primeiros passos para as reformas estruturais;
5) um partido ecossocialista, libertário e necessário no Brasil de hoje para ocupar o vazio deixado pela guinada ideológica do PT. Ocupar esse espaço é o grande desafio apresentado aos que apostam na incontestável necessidade da construção de uma sociedade radicalmente democrática, igualitária e promotora da emancipação humana.
Como o senhor avalia o programa definido no Congresso? Pode-se chamá-lo de democrático popular? Como casar a luta eleitoral com a mobilização social?
O partido traz no nome a senha de identidade da sua definição programática: o socialismo e a liberdade. Os socialistas libertários querem acertar o passo com a dinâmica que, em nossa América Latina, tem feito avançar a mobilização popular na busca de saídas para a crise estrutural de nossas sociedades. Nesse sentido, se coloca a tarefa de incorporar e superar, nas lutas concretas que amadurecem nos movimentos sociais, aquelas bandeiras que no passado recente estiveram articuladas pelo programa que se denominou como democrático popular. O que se define como radicalmente democrático e se ancora na mobilização popular, ao mesmo tempo deve trazer para a ordem do dia a luta pelo socialismo no Brasil. Esse é um processo articulado que implica em avançar na mobilização social e, ao mesmo tempo, disputar eleições com programas de contraponto radical ao sistema dominante. Em tal contexto, não cabe colocar uma muralha separando mobilização social e disputa eleitoral. São momentos distintos de um mesmo esforço conjunto. São os movimentos na base social que definem régua e compasso, apresentam demanda e fornecem proteína política para que a proposta de mudança e ruptura possa ganhar força nas disputas do poder institucional.
Qual sua opinião sobre a política de alianças?
Quem se propõe a construir um movimento político capaz de mudar a correlação de forças na política, sem sombra de dúvidas, precisa falar aos diferentes e até aos indiferentes. Daí a importância da política de alianças que, no quadro de desagregação dos partidos, que hoje no Brasil são mais ajuntamentos sem qualquer definição programática, precisa buscar interlocutores além dos partidos, nas forças que se rearticulam na própria base da sociedade. Alianças baseadas na nitidez programática e não um ajuntamento com meros fins eleitorais. Todo e qualquer agrupamento, partido, segmento de partido, movimentos sociais que se mobilizem contra o ideário neoliberal e o continuísmo da ordem social injusta, devem estar na pauta desses esforços de construção da alternativa nova.
Por que a preferência por um partido de núcleos e de massa?
Os núcleos, desde que vivos e atuantes, são a presença da proposta de mudança no dia-a-dia das lutas do povo. São eles que conferem ao partido a possibilidade de acertar o passo com o dinamismo da luta social. Um partido de massas, comprometido com um projeto transformador da sociedade e, ao mesmo tempo, capaz de chegar junto nas disputas institucionais, será sempre um partido de núcleos. Com vida interna intensa e plural, voltada para construir no livre debate das idéias a unidade de ação política indispensável ao projeto transformador.
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