O PT aloprado ganhou - Lula perdeu
.
Lula vai tentar tirar de letra a vitória de Arlindo Chinaglia (PT-SP) para presidente da Câmara dos Deputados. Em 2005, quando Severino Cavalcanti, o Rei do Baixo Clero, derrotou dois candidatos do PT, Lula teve a cara de pau de mandar dizer por meio de porta-vozes oficiais que o governo vencera. Afinal, Severino era do PP. E o PP apoiava o governo. Portanto, será moleza dizer outra vez que o governo venceu pois Chinaglia apóia o governo como Severino apoiava e como Aldo Rebelo (PC do B), derrotado ontem, também apóia.
O governo pode até ter vencido. Há muitos ministros do PT - e parte deles, discretamente, se envolveu na eleição do presidente da Câmara pedindo votos para Chinaglia e prometendo favores a possíveis eleitores dele. Mas Lula, não. Lula perdeu. E por um monte de razões.
Primeiro porque estimulou Aldo a se lançar candidato e disse que o apoiaria. Segundo porque informou a vários aliados - entre eles governadores eleitos em outubro último - que Aldo era seu candidato - e eles acreditaram. Terceiro porque repetiu a mesma coisa à direção do PT e a advertiu para o risco de provocar a divisão da base aliada do governo com o patrocínio a um candidato do partido. Quarto porque o PT pouco se lixou para a vontade dele e bancou mesmo assim a candidatura de Chinaglia. E quinto porque a base aliada do governo saiu rachada da eleição.
Lula preferia Aldo a Chinaglia ou a qualquer outro porque Aldo sempre foi um aliado incondicional dele. Nunca lhe criou problemas. Queria ser ministro no início do governo - contentou-se em ser líder do governo na Câmara. Virou ministro das Relações Institucionais e suportou durante pouco mais de um ano a oposição do PT empenhado em subtrair-lhe o cargo. Por fim perdeu o cargo. Foi escalado por Lula para disputar a sucessão de Severino. Na época, o PT amargaria uma derrota certa se lançasse um candidato próprio. Aldo venceu por meia dúzia de votos - um sufoco.
Como Aldo disse ontem, na maior parte do tempo que passou no cargo não presidiu a Câmara - presidiu a crise. Triturou todos os pedidos de impeachment de Lula. E ajudou o PT e os partidos aliados do governo a salvarem seus deputados ameaçados de ser cassados. Mesmo assim conquistou o respeito da oposição. E contou com o apoio da maior parte dela para ganhar um novo mandato. Quer dizer: o candidato do coração de Lula seria eleito com o apoio dos adversários de Lula. Poderia haver situação mais confortável para Lula?
Poderá haver situação mais desconfortável do que ter agora um presidente da Câmara que não lhe deve a vitória? E um ex-presidente, aliado em crise, que acha que lhe deve a derrota?
A vitória de Chinaglia representaria a vitória do PT. E mais especificamente de um PT que Lula desejava ver enfraquecido - o PT aloprado que só lhe criou problemas desde a eleição em 2002. Foi esse PT que celebrou, ontem, eufórico a eleição de Chinaglia - o PT do professor Luizinho, ex-mensaleiro; de João Paulo Cunha, ex-mensaleiro; de Paulo Rocha, ex-mensaleiro, de José Mentor, ex-mensaleiro, e de José Dirceu, cassado para que Lula sobrevivesse à crise do mensalão. Ex-mensaleiros e ex-sanguessugas de outros partidos fecharam com Chinaglia. Por que?
Confirmou-se mais uma vez o que restou provado em outros episódios: Lula tem os votos, mas a autoridade dele sobre o PT é relativa. Em muitas ocasiões, é nula. O PT deve a ele sua chegada ao poder. Mas Lula deve ao PT a construção do mito Lula. Estão juntos há muito tempo. E quando Lula ensaia se distanciar do PT por conveniência, o PT não deixa. Porque Lula pensa que tem o poder. Mas o poder de fato é compartilhado por ele com o PT. E assim continuará sendo. A eleição de Chinaglia é o mais ontensivo sinal de que o PT não deixará Lula leve e solto como ele queria.
Lula vai tentar tirar de letra a vitória de Arlindo Chinaglia (PT-SP) para presidente da Câmara dos Deputados. Em 2005, quando Severino Cavalcanti, o Rei do Baixo Clero, derrotou dois candidatos do PT, Lula teve a cara de pau de mandar dizer por meio de porta-vozes oficiais que o governo vencera. Afinal, Severino era do PP. E o PP apoiava o governo. Portanto, será moleza dizer outra vez que o governo venceu pois Chinaglia apóia o governo como Severino apoiava e como Aldo Rebelo (PC do B), derrotado ontem, também apóia.
O governo pode até ter vencido. Há muitos ministros do PT - e parte deles, discretamente, se envolveu na eleição do presidente da Câmara pedindo votos para Chinaglia e prometendo favores a possíveis eleitores dele. Mas Lula, não. Lula perdeu. E por um monte de razões.
Primeiro porque estimulou Aldo a se lançar candidato e disse que o apoiaria. Segundo porque informou a vários aliados - entre eles governadores eleitos em outubro último - que Aldo era seu candidato - e eles acreditaram. Terceiro porque repetiu a mesma coisa à direção do PT e a advertiu para o risco de provocar a divisão da base aliada do governo com o patrocínio a um candidato do partido. Quarto porque o PT pouco se lixou para a vontade dele e bancou mesmo assim a candidatura de Chinaglia. E quinto porque a base aliada do governo saiu rachada da eleição.
Lula preferia Aldo a Chinaglia ou a qualquer outro porque Aldo sempre foi um aliado incondicional dele. Nunca lhe criou problemas. Queria ser ministro no início do governo - contentou-se em ser líder do governo na Câmara. Virou ministro das Relações Institucionais e suportou durante pouco mais de um ano a oposição do PT empenhado em subtrair-lhe o cargo. Por fim perdeu o cargo. Foi escalado por Lula para disputar a sucessão de Severino. Na época, o PT amargaria uma derrota certa se lançasse um candidato próprio. Aldo venceu por meia dúzia de votos - um sufoco.
Como Aldo disse ontem, na maior parte do tempo que passou no cargo não presidiu a Câmara - presidiu a crise. Triturou todos os pedidos de impeachment de Lula. E ajudou o PT e os partidos aliados do governo a salvarem seus deputados ameaçados de ser cassados. Mesmo assim conquistou o respeito da oposição. E contou com o apoio da maior parte dela para ganhar um novo mandato. Quer dizer: o candidato do coração de Lula seria eleito com o apoio dos adversários de Lula. Poderia haver situação mais confortável para Lula?
Poderá haver situação mais desconfortável do que ter agora um presidente da Câmara que não lhe deve a vitória? E um ex-presidente, aliado em crise, que acha que lhe deve a derrota?
A vitória de Chinaglia representaria a vitória do PT. E mais especificamente de um PT que Lula desejava ver enfraquecido - o PT aloprado que só lhe criou problemas desde a eleição em 2002. Foi esse PT que celebrou, ontem, eufórico a eleição de Chinaglia - o PT do professor Luizinho, ex-mensaleiro; de João Paulo Cunha, ex-mensaleiro; de Paulo Rocha, ex-mensaleiro, de José Mentor, ex-mensaleiro, e de José Dirceu, cassado para que Lula sobrevivesse à crise do mensalão. Ex-mensaleiros e ex-sanguessugas de outros partidos fecharam com Chinaglia. Por que?
Confirmou-se mais uma vez o que restou provado em outros episódios: Lula tem os votos, mas a autoridade dele sobre o PT é relativa. Em muitas ocasiões, é nula. O PT deve a ele sua chegada ao poder. Mas Lula deve ao PT a construção do mito Lula. Estão juntos há muito tempo. E quando Lula ensaia se distanciar do PT por conveniência, o PT não deixa. Porque Lula pensa que tem o poder. Mas o poder de fato é compartilhado por ele com o PT. E assim continuará sendo. A eleição de Chinaglia é o mais ontensivo sinal de que o PT não deixará Lula leve e solto como ele queria.
.
Ricardo Noblat

Nenhum comentário:
Postar um comentário