sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

MATÉRIA DA REVISTA ÉPOCA
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As lições da Colômbia para o Brasil
Como um país com dilemas maiores que os nossos reduziu drasticamente os índices de criminalidade nas grandes cidades em pouco mais de uma década
Ruth de Aquino, de Bogotá
ESPECIAIS
Blog da semana - Segurança Pública e Violência Urbana

"Edição 457 - 19/02/2007";

Confira a seguir um trecho desta reportagem, que pode ser lida na íntegrana edição da revista ÉPOCA de 19/fevereiro/2007Assinantes têm acesso à íntegra no leia mais no final da página.
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POLICIAMENTO OSTENSIVO
Diante da Catedral de Bogotá, policial controla um dos acessos ao Congresso e ao Palácio da Justiça. A presença maciça de policiais nas ruas não intimida a população
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"Chévere" é a saudação que mais se escuta na Colômbia. Significa cool, legal, tudo de bom. Reforça um sentimento visível e impensável até 15 anos atrás: o orgulho de ser colombiano. Quando o governador do Rio de Janeiro, Sergio Cabral, for recebido em março, em Bogotá, pelo presidente Álvaro Uribe, terá, primeiro, de se acostumar ao ar rarefeito. E, depois, aos paradoxos. Não são somente os 2.600 metros de altitude que deixam a respiração ofegante na primeira noite em Bogotá, uma cidade de nuvens cercada por montanhas. O desafio é estar num país historicamente associado a confrontos armados e alianças suspeitas entre narcotráfico, guerrilheiros de esquerda, paramilitares de direita e congressistas. E, ao mesmo tempo, conhecer cidades civilizadas que se tornaram, em pouco mais de uma década, cartões de visita. Os índices de homicídio podem até ainda estar perto dos de São Paulo (19 homicídios por 100 mil habitantes em 2006) e Rio de Janeiro (39 por 100 mil, em 2006), mas a sensação de segurança nas ruas é incomparável. Bogotá e Medellín atraem hoje cartéis do bem: urbanistas, arquitetos, sociólogos do mundo todo. Cabral irá em visita oficial, com assessores, para ouvir dos prefeitos das duas cidades (os homens mais poderosos no país depois do presidente) um segredo: como conseguiram reduzir de forma radical a criminalidade num país com dilemas mais complexos que os do Brasil. Qual a fórmula de segurança deles? Como argumentar que no Brasil falta dinheiro para a segurança, se o PIB da Colômbia equivale ao do Estado do Paraná (US$ 98 bilhões) e o PIB do Brasil é oito vezes maior, US$ 796 bilhões?
Nas ruas da capital colombiana, o ambiente é de Primeiro Mundo, à exceção de alguns bairros como o Bronx, povoado por indigentes. A impressão é de cordialidade, limpeza, educação, generosidade. Carros freiam para o pedestre passar. Praticamente não há mendigos. O policiamento é maciço. A cavalo, de moto, a pé, de bicicleta, com uniformes variados, e armas leves e pesadas. Uma família pede para posar para uma foto junto com a polícia montada. Todos abrem, solícitos, bolsas e mochilas para as requisas (revistas). Uma surpresa na chegada: ao entrar com um carro de diplomata num hotel cinco-estrelas, para almoçar com uma representante do Ministério Público, o policial armado pede para abrir a mala do carro, revista os bancos e convoca seu cachorro para farejar tudo. Imaginei algum figurão no Brasil sendo revistado. Ninguém tem imunidade na Colômbia.

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