terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Para errar de novo
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Por que Lula deve ter pressa para reformar seu ministério? As reservas do país estão perto de U$ 100 bilhões. A inflação, 3% ao ano. A entrada de capital estrangeiro bate recorde. O risco-Brasil é mínimo. Onze partidos apóiam o governo. A oposição está desarticulada. Baixa educação + sucesso econômico = aprovação popular. Para que pressa?
E, no entanto, não foi por falta de pressa que Lula adiou mais uma vez o anúncio dos seus novos ministros. Ele sabe direitinho quem quer manter, substituir ou convidar para entrar. E também sabe direitinho quem quer o quê e quem, mesmo contrariado, aceitará o que lhe for oferecido.
Na verdade, Lula adiou a reforma a pedido dos senadores José Sarney (PMDB-AP) e Renan Calheiros (PMDB-AL), interessados, tanto quanto ele, em influir na escolha do próximo presidente do PMDB.
É aí que mora o perigo de Lula reincidir no erro que o levou a ser derrotado quando Arlindo Chinaglia (PT-SP) se elegeu presidente da Câmara dos Deputados no início deste mês. Na ocasião, o candidato de Lula era Aldo Rebelo (PC do B-SP). O da dupla Sarney-Renan, também.
Lula foi convencido pela dupla a só fazer a reforma depois da eleição dos presidentes da Câmara e do Senado sob o pretexto de que o resultado dela deveria ser levado em conta na hora da escalação do novo ministério. O motivo, de fato, era outro.
Sarney e Renan achavam que Aldo teria mais chances de derrotar Chinaglia se a reforma ficasse para depois. Feita antes ela abriria espaço para que o PMDB da Câmara, comandado pelo deputado Michel Temer (SP), emplacasse dois ministros, como ainda pretende emplacar.
Afinal, dono da maior bancada de deputados, com direito, portanto, a indicar o presidente da Câmara, o partido preferira ceder a vez ao PT em troca do apoio dele à candidatura de Temer para suceder Chinaglia no cargo a partir de 2009.
Sarney quer presidir o Senado também a partir de 2009. É da tradição do Congresso que um mesmo partido não eleja simultaneamente os presidentes do Senado e da Câmara. Renan prometera apoiar Sarney caso se reelegesse presidente do Senado.
Era preciso, pois, eleger Aldo para melar o acordo Chinaglia-Temer. E, melando, pavimentar o caminho para que Sarney sucedesse Renan. De sua parte, Lula queria Aldo para não ter que lidar com um PT fortalecido com a eventual eleição de Chinaglia.
Deu errado. Renan ganhou, como queriam Sarney e Lula. Mas Chinaglia também, como eles não queriam. Então o PT e o PMDB de Temer começaram a engrossar a voz exigindo mais espaço dentro do governo.
No próximo dia 12, o PMDB se reunirá em convenção para reeleger Temer presidente. Ou para eleger Nelson Jobim, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, candidato da dupla Sarney-Renan. Lula quis Jobim para ser seu vice. Jobim largou o Supremo e se filiou ao PMDB.
Dividido, o partido não lançou candidato próprio à sucessão de Lula como planejavam Temer e sua turma, nem apoiou Lula com Jobim de vice como desejavam Sarney, Renan e a turma deles. Lula, agora, quer Jobim na presidência do PMDB. Detesta Temer.
Em 2003, Temer estava disposto a apoiar Luiz Eduardo Greenhalg, candidato do PT à presidência da Câmara. Esperou apenas que Lula lhe pedisse isso. Greenhalg pediu a Lula para que pedisse a Temer. Lula negou-se. Venceu Severino Cavalcanti (PP-PE).
Ganhe Temer ou Jobim, pela primeira vez desde o fim da ditadura militar de 64 o PMDB parece unido em torno de algo – no caso Lula.
Mas por birra com Temer, para atender a dupla Sarney-Renan, e subtrair parte do gás obtido pelo PT com a eleição de Chinaglia, Lula se arrisca a perder novamente caso Jobim perca.
Poderia passar sem essa. E estava dispensado de fingir que existe em Brasília um governo a todo vapor. Não existe. Existe um governo provisório e quase parado.
Há ministros ex-ministros, ministros quase ministros e aspirantes a ministros que poderão chegar lá ou não.
Ricardo Noblat

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