À procura de uma vitrine na Esplanada
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No imbróglio da reforma ministerial, há também aturma dos que sonham suceder a Lula na Presidência
Otávio Cabral, Sergio Castro/AE
Desde que conquistou o segundo mandato, há quatro meses, o presidente Lula, os partidos da base governista, petistas e oportunistas de todas as cores tentam conciliar os múltiplos interesses que cercam a escolha do novo ministério. Na semana passada, o presidente adiou mais uma vez o anúncio de sua equipe de governo. Oficialmente, ele quer esperar o resultado da eleição dos novos dirigentes do PMDB antes de iniciar a distribuição dos cargos. Na realidade, o problema é mais abrangente. O projeto do novo ministério já estava praticamente concluído, até o aparecimento das exigências de um novo grupo de interesse: a turma da vitrine. São políticos que querem ocupar um ministério importante para ganhar visibilidade e, desse modo, cacifar-se com vista também à sucessão de Lula em 2010. A estrela desse grupo é a ex-prefeita Marta Suplicy. Os petistas de São Paulo enxergam na ex-prefeita a melhor alternativa que o partido tem para permanecer mais alguns anos no poder e pressionam para que ela seja nomeada para chefiar um ministério. Mas não um ministério qualquer. Exigem que seja o das Cidades, dotado de um megaorçamento de 5 bilhões de reais, a ser aplicado em obras de saneamento, habitação e transporte urbano. É, sem dúvida, um belo PAC – Plano de Aceleração de Candidatura.
Ocupar um ministério de ponta é mesmo um excelente instrumento para um político catapultar sua carreira e, por que não, uma candidatura à Presidência da República. Fernando Henrique Cardoso utilizou sua passagem pelo Ministério da Fazenda, na qual criou o Plano Real, para alavancar sua candidatura presidencial. Oito anos depois, José Serra tentou seguir o mesmo caminho, só que no Ministério da Saúde, para se lançar à sucessão de FHC. Para o cientista político Murillo de Aragão, a estratégia de usar um ministério como arma de promoção política é eficiente. "Os principais ministros têm muita força, conseguem se manter de maneira quase permanente na mídia e costumam ser donos de um orçamento gigantesco, o que lhes permite fazer obras e desenvolver projetos", explica. Não é só isso. Os grandes ministérios são dotados de ramificações em todo o país, o que significa milhares e milhares de cargos. Uma nomeação no interior de qualquer cidade brasileira resulta quase sempre em um comitê eleitoral avançado.
"O nome de Marta é colocado por si próprio, pela história dela como prefeita e como coordenadora da campanha de Lula. É um nome que não pode ficar de fora do governo, independentemente da disputa presidencial de 2010", afirma a deputada federal gaúcha Maria do Rosário, vice-presidente do PT. Marta Suplicy já anunciou até alguns projetos para sua gestão à frente do Ministério das Cidades. Em conversa com aliados, a ex-prefeita disse que sua prioridade será promover uma reforma fundiária nos grandes centros urbanos. Sua idéia é distribuir títulos de posse a moradores de favela, a exemplo de um programa similar adotado com sucesso na Cidade do México. Só na Grande São Paulo, cerca de 3 milhões de pessoas seriam beneficiadas, passando de moradores de áreas irregulares a proprietários de seus imóveis e, é claro, tornando-se potenciais eleitores da autora do projeto. Na avaliação do grupo político que apóia a ex-prefeita, que tem o ex-ministro José Dirceu como líder supremo, a reforma fundiária aqueceria a economia e teria potencial de reduzir significativamente o desemprego nas áreas metropolitanas. O problema é que Lula não está certo dos bons resultados políticos que a nomeação de Marta Suplicy poderia provocar no início de uma nova etapa do governo. Sua indicação para o Ministério das Cidades, além de desencadear precocemente a discussão sucessória, poderia ser interpretada como um sinal de que o próprio Lula já escolheu seu candidato.
Na quinta-feira passada, o presidente reuniu-se com a cúpula do PSB. O tema do encontro, como não poderia deixar de ser, foi a reforma ministerial. Os socialistas também querem fazer parte da turma da vitrine e também estão de olho na sucessão do presidente. O partido pediu a Lula a manutenção de seus correligionários no comando do Ministério da Integração Nacional. Sonha em ter novamente Ciro Gomes como titular da pasta, embora o deputado já tenha dito que não pretende voltar ao governo. "Boa parte da direção do partido o quer no ministério. Ciro tem condições de se viabilizar como o herdeiro do lulismo fora do PT", diz o líder do PSB no Senado, Renato Casagrande. Na reunião, para o deleite dos interlocutores socialistas, Lula admitiu que está com dificuldade para encontrar espaço para Marta Suplicy no ministério. "Estou em uma sinuca de bico", reclamou o presidente aos dirigentes do PSB. "É difícil encaixar a Marta no ministério. O PT está pressionando, mas ainda preciso conversar com o partido para definir essa situação." Isso não quer dizer que Marta não será ministra. Lula sempre fala o que o interlocutor gostaria de ouvir.
Blog do Murillo de Aragão
Otávio Cabral, Sergio Castro/AE
Desde que conquistou o segundo mandato, há quatro meses, o presidente Lula, os partidos da base governista, petistas e oportunistas de todas as cores tentam conciliar os múltiplos interesses que cercam a escolha do novo ministério. Na semana passada, o presidente adiou mais uma vez o anúncio de sua equipe de governo. Oficialmente, ele quer esperar o resultado da eleição dos novos dirigentes do PMDB antes de iniciar a distribuição dos cargos. Na realidade, o problema é mais abrangente. O projeto do novo ministério já estava praticamente concluído, até o aparecimento das exigências de um novo grupo de interesse: a turma da vitrine. São políticos que querem ocupar um ministério importante para ganhar visibilidade e, desse modo, cacifar-se com vista também à sucessão de Lula em 2010. A estrela desse grupo é a ex-prefeita Marta Suplicy. Os petistas de São Paulo enxergam na ex-prefeita a melhor alternativa que o partido tem para permanecer mais alguns anos no poder e pressionam para que ela seja nomeada para chefiar um ministério. Mas não um ministério qualquer. Exigem que seja o das Cidades, dotado de um megaorçamento de 5 bilhões de reais, a ser aplicado em obras de saneamento, habitação e transporte urbano. É, sem dúvida, um belo PAC – Plano de Aceleração de Candidatura.
Ocupar um ministério de ponta é mesmo um excelente instrumento para um político catapultar sua carreira e, por que não, uma candidatura à Presidência da República. Fernando Henrique Cardoso utilizou sua passagem pelo Ministério da Fazenda, na qual criou o Plano Real, para alavancar sua candidatura presidencial. Oito anos depois, José Serra tentou seguir o mesmo caminho, só que no Ministério da Saúde, para se lançar à sucessão de FHC. Para o cientista político Murillo de Aragão, a estratégia de usar um ministério como arma de promoção política é eficiente. "Os principais ministros têm muita força, conseguem se manter de maneira quase permanente na mídia e costumam ser donos de um orçamento gigantesco, o que lhes permite fazer obras e desenvolver projetos", explica. Não é só isso. Os grandes ministérios são dotados de ramificações em todo o país, o que significa milhares e milhares de cargos. Uma nomeação no interior de qualquer cidade brasileira resulta quase sempre em um comitê eleitoral avançado.
"O nome de Marta é colocado por si próprio, pela história dela como prefeita e como coordenadora da campanha de Lula. É um nome que não pode ficar de fora do governo, independentemente da disputa presidencial de 2010", afirma a deputada federal gaúcha Maria do Rosário, vice-presidente do PT. Marta Suplicy já anunciou até alguns projetos para sua gestão à frente do Ministério das Cidades. Em conversa com aliados, a ex-prefeita disse que sua prioridade será promover uma reforma fundiária nos grandes centros urbanos. Sua idéia é distribuir títulos de posse a moradores de favela, a exemplo de um programa similar adotado com sucesso na Cidade do México. Só na Grande São Paulo, cerca de 3 milhões de pessoas seriam beneficiadas, passando de moradores de áreas irregulares a proprietários de seus imóveis e, é claro, tornando-se potenciais eleitores da autora do projeto. Na avaliação do grupo político que apóia a ex-prefeita, que tem o ex-ministro José Dirceu como líder supremo, a reforma fundiária aqueceria a economia e teria potencial de reduzir significativamente o desemprego nas áreas metropolitanas. O problema é que Lula não está certo dos bons resultados políticos que a nomeação de Marta Suplicy poderia provocar no início de uma nova etapa do governo. Sua indicação para o Ministério das Cidades, além de desencadear precocemente a discussão sucessória, poderia ser interpretada como um sinal de que o próprio Lula já escolheu seu candidato.
Na quinta-feira passada, o presidente reuniu-se com a cúpula do PSB. O tema do encontro, como não poderia deixar de ser, foi a reforma ministerial. Os socialistas também querem fazer parte da turma da vitrine e também estão de olho na sucessão do presidente. O partido pediu a Lula a manutenção de seus correligionários no comando do Ministério da Integração Nacional. Sonha em ter novamente Ciro Gomes como titular da pasta, embora o deputado já tenha dito que não pretende voltar ao governo. "Boa parte da direção do partido o quer no ministério. Ciro tem condições de se viabilizar como o herdeiro do lulismo fora do PT", diz o líder do PSB no Senado, Renato Casagrande. Na reunião, para o deleite dos interlocutores socialistas, Lula admitiu que está com dificuldade para encontrar espaço para Marta Suplicy no ministério. "Estou em uma sinuca de bico", reclamou o presidente aos dirigentes do PSB. "É difícil encaixar a Marta no ministério. O PT está pressionando, mas ainda preciso conversar com o partido para definir essa situação." Isso não quer dizer que Marta não será ministra. Lula sempre fala o que o interlocutor gostaria de ouvir.
Blog do Murillo de Aragão
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