quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

MAIOR PROBLEMA DO MUNDO
(uma crônica irônica)
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Qual é o maior problema do mundo?...

É o meu!

O meu problema, é daqueles de deixar qualquer fofoqueiro de plantão “com a pulga atrás da orelha” querendo saber detalhes... Sim, porque a vida da gente é igual a motor de fusca: todo mundo acha que entende e tem a solução... Por que então ninguém resolve o problema do meu pobre, seco e miserável fusca?!... Será que sou a única criatura neste mundo globalizado, poluído, capitalista selvagem, egoísta e destruído que não consegue resolver problema algum, inclusive o meu que é o maior do mundo?... Céus! Vivo rodeado de gênios que não fazem outra coisa a não ser tentar provar constantemente pra eles e pra mim mesmo que o único burro sou eu...

Quando vivi o drama de uma separação, quase todos do meu círculo social já estavam prevendo, menos eu... Quando bati o carro pela primeira vez (que por coincidência era um fusquinha azul), todo mundo sabia no que ia dar antecipadamente, menos eu... Quando reprovei na sexta série, até minha mãe sabia antes de mim... Quando apanhei na escola, todos já previam (porque fui me meter com o líder da gangue?)... Todos sabem, todos entendem da minha vida... Menos eu!... Contudo, tenho certeza, que ainda não sou o único ingênuo a sofrer o julgamento dos gênios.

Mas tenho um problema ainda maior, que ninguém sabe e nem tem a solução... O maior do mundo, que deixa “no chinelo”, a violência urbana, ou mesmo o aquecimento global, do qual minha hipocrisia não me deixa sentir culpa cada vez que acelero meu 1.6 a gasolina, não contribuo com a reciclagem, tomo banho egoisticamente demorado, deixo torneiras e luzes ligadas durante muito tempo, sem a menor utilidade; ou ainda queimo, além do necessário, lenha e gás...

Por que pensar nestes fatores globais, se o mundo não tem noção do meu problema, que é mais grave do que a fome de alguns países africanos (sem falar na fome brasileira que também é um problemão), representada por imagens que correm a Internet, do tipo que mostra um abutre a espera do último suspiro de uma criança esquelética, já sem forças para levantar apoiando o rosto no chão miserável e sujo daquele continente, esquecido pelo planeta e por mim, que não tenho nada com isso. Fato que não gera a menor culpa em mim, que por muitas vezes tive minha mesa farta ao ponto de passar mal de tanto comer, sem o menor remorso de exclamar: “Ai meu Deus! Comi demais!”...

Afinal, meu problema é maior que a seca no nordeste, os furacões, enchentes e desastres ecológicos do centro-oeste, as mudanças bruscas de temperatura no Brasil e no restante do planeta... É muito maior que a cratera que se rendeu à cobiça dos homens, não contentes em dominar a Terra, agora buscam o subterrâneo e em nome do progresso e do conforto do metrô abreviam a vida de inocentes...

É triste, mas é verdade. Vivo num planeta que tem um “lesado” que fala inglês e pensa que é dono deste mundo, da vida e da morte daqueles seus opositores que não falam seu idioma, não cultuam sua religião ou não deixam o “miseravinho” explorar seu petróleo ou sua água potável e supérflua (para os outros, não para ele que até já tem bases militares na nossa Amazônia)...

Mas, o que são estes desconfortos globais perto do meu problema?... Aliás, problema não: um problemão. Simplesmente o maior do mundo, que o próprio mundo não quer e nem precisa saber. Contudo, o meu egoísmo garante: Para mim, o maior problema do mundo é o meu!... Por quê?... Ora!... Simplesmente porque é meu!

Márcio Roberto Goes
Irônico, mas solidário...


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