segunda-feira, 29 de outubro de 2007

ESTAGIÁRIO DE DEFUNTO

Já vi de tudo nesta vida, ou melhor, pensei que já tinha visto de tudo, pois esta semana, as manchetes dos jornais locais fizeram-me perceber, que ainda existe muita coisa jamais vista ou presenciada por mim e por tantos outros seres humanos.
Todos já devem saber desta história: Um homem resolve atravessar o Rio do Peixe a nado, mas infelizmente sua experiência acaba em tragédia. Depois de muito buscarem, os bombeiros voluntários encontram o corpo do fulano que já encontrava-se em decomposição... Cinco pessoas da mesma família o reconhecem como parente. Depois do choro e da comoção geral, realiza-se um velório e um enterro digno de uma pessoa direita e de família...(apesar que pessoas não tão direitas e não tão de família também ficam “santas” depois que morrem, na concepção dos sobreviventes...)... A família despede-se do defunto, indignada com o acontecido, afinal, não é justo uma pessoa jovem e gozando de boa saúde, nos deixar assim, de maneira tão trágica.
Passados três dias, o morto é encontrado “vivinho da silva” numa cidade vizinha, por alguns familiares... A primeira reação natural foi o susto, depois, perceberam que enterraram o homem errado e o ex-defunto tinha ido viajar, “bem bicudo”, sem avisar ninguém.
O acontecido, parte hilário, parte catastrófico me faz ficar apreensivo, pois moro perto do cemitério municipal, e tenho medo... Que tal que essa moda pega e os meus vizinhos ossudos resolvem levantar da sepultura e passear nas ruas do meu bairro tranquilamente?... Não tenho a mínima idéia de qual seria minha reação.
Além do mais, toda esta situação nos faz desenvolver um paradoxo de sentimentos: alegria pelo candidato a defunto ainda estar vivo, resignação por ter sido identificado e enterrado a pessoa errada, tristeza e desconsolo pelo verdadeiro cadáver, que até agora não foi reclamado por nenhum familiar, e por fim indignação, pois em pleno século XXI, ainda aceita-se um reconhecimento por “zóiometro” de um cadáver desfigurado pelos efeitos da morte por afogamento, mesmo com tecnologia suficiente para se fazer um simples exame de DNA, para descartar qualquer possibilidade de erro.
Que fazer agora?... Reabilitar o defunto vivo na sociedade e descobrir a identidade do verdadeiro morto, para que se faça justiça e não se “reze” pela alma errada.
Quanto ao cidadão que foi dado como morto e permanece com vida, este sim, pode dizer que nasceu de novo e viveu uma experiência muito rara: saber antecipadamente, como seria a vida dos seus familiares após a sua morte, agindo como estagiário de defunto.
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Márcio Roberto Goes
Ainda vivo, graças à Deus

Um comentário:

vilson disse...

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