segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Entrevista

Leonardo Boff: o Vaticano está alienado da realidade da Igreja.
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Para o teólogo, condenação do jesuíta Jon Sobrino abre o caminho para a visita do Papa Bento XVI ao Brasil 26/03/2007
Eduardo Sales Lima,da redaçãoEm entrevista, Leonardo Boff, téologo e o colunista do Brasil de Fato, avalia que a decisão do Vaticano de condenar o jesuíta salvadorenho Jon Sobrino no começo de março se relaciona com a visita do Papa Bento XVI ao Brasil. Segundo o religioso, um grupo de Igreja Católica guarda rancor da Teologia da Libertação e o Vaticano preocupa-se apenas com a hierarquia.
Brasil de Fato: A condenação a Jon Sobrino é um recado da ala conservadora da igreja?
Leonardo Boff: Para mim é uma reação dos grupos no Vaticano que guardam rancor à teologia da libertação porque ela continua viva em todos os continentes, embora menos visível que antigamente. Provavelmente está por detrás o grupo da Colômbia com os Cardeais Alfonso Lopez Trujillo, Dario Castrillon Hoyos, e o Cardeal Barragan do México bem como o brasileiro que trabalha com eles, o bispo Dom Karl Josef Romer que montou o processo judicial contra mim. Eles querem limpar o caminho para a chegada do Papa ao Brasil. Só que puseram pedras demais e o efeito poderá ser contrário. Provavelmente o Papa deverá dar explicações ou então piorar ainda mais a condenação. Será um teste se ele pretende manter a paz e a unidade no campo teológico ou se prefere a ruptura dilaceradora em nome de uma ortodoxia rígida e distanciada do bom senso e do sentido da história de nossos provos crucificados pela injustiça.
BF: Os argumentos dados pelo Vaticano para a condenação têm fundamento?
Boff: Os argumentos não se sustentam quando lemos os textos de Jon Sobrino. Ele mesmo, submeteu a vários especialistas na area da cristologia, seus vários livros, a Sesboué da França, a Gonzáles Faus da Espanha, a Carlos Palacio do Brasil e a outros. Ninguém deles achou qualquer erro ou risco para os fiéis.Mas quando existe previamente o "furor condenatório" não valem as razões mas a vontade arbitrária das autoridades que se regem pelo autoritarismo patriarcal que preside as relações internas da Igreja. Sua condenação é uma ameaça a todos os teólogos que pretendem fazer teologia a partir dos pobres, ou como prefere Jon Sobrino, a partir das vítimas e dos povos crucificados.
BF: O Vaticano sufoca as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs)?
Boff: Para o Vatincano as CEBs não existem. Eles se orientam pelo direito canônico. Este não prevê nada para elas. Talvez "pias associações" coisa que eles efetivamente não são. Em razão disso, nenhum representante das CEBs seja leigos, seja padres, religiosos/as ou bispos foram escolhidos para estarem presentes na V Conferência Espiscopal da América Latina e Caribe (Celam) em Aparecida. Isso mostra apenas o quanto o Vaticano está alienado da realidade concreta da Igreja. Para ele, na verdade, só conta a hierarquia. O resto são como "garis" da Igreja, simples leigos, frequeses de paróquias e consumidores de bens simbólicos que eles, os padres e hierarcas somente produzem.
BF: Como a Teologia da Libertação aborda temas atuais como trangênicos e aquecimento global?
Boff: A teologia da libertação há muito vinha denunciando que a exploração que se move contra as pessoas, as classes, os países, os ecossistemas, se dirige também contra a Terra como um todo. Na opção preferencial pelos pobres, marca registrada da Teologia da Libertação, deve entrar a Terra, pois é o grande pobre, oprimido e devastado. O aquecimento global é resultado desta agressão sistemática da Casa Comum. A Teologia da Libertação tem elaborado toda uma ética do cuidado, da responsabilidade, da proteção e salvaguarda da herança que recebemos da Terra e do universo e uma verdadeira mistica do respeito e da reverência para com o Mistério da Criação, chamado a ser o Corpo da Trindade. Agora nos resta cuidarmos mais ainda, adaptarmo-nos às mudanças inevitáveis e minorar os efeitos maléficos.
Brasil de Fato
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PUBLICADO ORIGINALMENTE NESTE BLOG EM 13 DE JUNHO DE 2007

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