sexta-feira, 22 de setembro de 2006

Blog do NOBLAT

Golpe é conversa de quem está acuado

Lula disse esta manhã em entrevista à rádio CBN o que dissera pela primeira vez no início da semana quando viajou para participar em Nova Iorque de mais uma Assembléia Geral da ONU: que a oposição aproveita o escândalo do dossiê contra José Serra, candidato do PSDB ao governo de São Paulo, para tentar melar a eleição presidencial.

- Eu não acho. Eu vejo isso todo dia. Parece-me que algumas pessoas da oposição não gostam do jogo democrático - acusou.

Há pouco, em reunião com prefeitos em Brasília, insinuou que pode ser retirado do poder à força.

Ao invés da oposição, o ministro Tarso Genro, das Relações Institucionais, preferiu atirar nas “elites” que não admitem mudanças de baixo para cima. Pelo mesmo motivo, oposição e elites foram alvos do manifesto assinado por representantes de 55 movimentos sociais

O que significa para essa gente melar a eleição?

Por acaso Lula está informado de que a oposição planeja um golpe para suspender a eleição do próximo dia 1 de outubro? Ou de que conspira com o ministro Marco Aurélio de Mello, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, para que ele arranje algum pretexto e anuncie o adiamento da eleição?

Sem militares não se aplicam golpes. Não há militares dispostos a aplicar um - nem condições políticas para que um golpe seja bem-sucedido. O ministro Marco Aurélio, o mais recente desafeto do governo, não teria o apoio dos seus pares para subverter o calendário eleitoral. Dos seus pares e de ninguém.

Então "melar a eleição" só pode significar bater duro em Lula para que ele perca pontos nas pesquisas eleitorais, para que a eleição se decida em segundo turno e para que Alckmin tenha chance de vencê-lo. Mas, ora, o papel da oposição em toda parte não é o de bater no governo para tentar virar governo?

Não foi assim que Lula chegou lá?

O que pode haver de errado nisso ou de desapreço pelo “jogo democrático"? A crítica contundente é peça essencial do jogo. Quem deu motivos para apanhar foi o PT, protagonista de tantos
escândalos memoráveis. Lula também deu com seu comportamento ambíguo ou cúmplice em relação a seus sócios.

Porque não basta que ele reprove, como fez, mais uma travessura dos seus "meninos", depois promovidos a "bandidos". Ou que a qualifique de "loucura". Ou que admita ter afastado o deputado Ricardo Berzoini (SP) do comando de sua campanha somente para poupá-lo de ficar se explicando sobre a ação amadora dos arapongas do PT. Berzoini, ali, causaria prejuízo à campanha.

Esperava-se de Lula que se indignasse com o episódio do dossiê pelo que ele de fato significa - uma tentativa de melar a eleição em São Paulo. Aqui, sim, a expressão cabe. Afinal, valendo-se da ajuda de um diretor do Banco do Brasil e de dinheiro irregular, o PT jogou sujo para calar quem lhe chantageava – os Vedoin. E, de quebra, provocar danos à candidatura Serra.

Mas quer mesmo saber a verdade? Nada de diferente se poderia esperar de Lula. Para ele, Delúbio Soares, o mentor do caixa 2 do PT, é o "nosso Delúbio". Depois de violar o sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, Antônio Palocci, ex-ministro da Fazenda, segue sendo "irmão" dele. E há lugar nos palanques de Lula para mensaleiros, vampiros e sanguessugas.

Berzoini não é culpado pelo crime cometido por aqueles que lhe deviam severa obediência. E Freud Godoy, segurança de Lula há 17 anos e suspeito de ter autorizado a operação do dossiê contra Serra, é inocente, inocentíssimo, segundo se apressaram a decretar Lula, o vice-presidente da República José Alencar e os ministros Márcio Thomaz Bastos, da Justiça, e Tarso Genro.

É tarefa da Justiça, e somente dela, julgar e condenar, repete Lula à exaustão. E ele está certo. É por isso que deve, no mínimo, desculpas públicas ao ex-presidente José Sarney a quem já chamou de ladrão, e ao ex-presidente Fernando Collor, absolvido pelo Supremo Tribunal Federal. No passado, Lula disse poucas e boas a respeito dele. E contribuiu para sua queda.

É tarefa do governante, e somente dele, escalar seus auxiliares de estrita confiança.

Parente não se escolhe - companheiro, sim. Churrasqueiro, também.

Na melhor das hipóteses, Lula não sabe escolher.

Na pior, sabe, mas tem dado um azar danado.


Ricardo Noblat

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