quinta-feira, 2 de fevereiro de 2006

O PSOL E AS ELEIÇÕES 2006



Reflexões sobre a campanha eleitoral de 2006
Plínio de Arruda Sampaio
De dois em dois anos realizam-se eleições no Brasil. Nesta etapa do processo político, a construção do socialismo exige a participação nessas eleições. Mas constitui uma dentre as muitas tarefas desta construção. Em algumas situações, nem é mesma a tarefa principal.
Qual o lugar da eleição de 2006 no processo de construção do PSOL?
Para responder a esta questão, é preciso situar a eleição do próximo ano na atual conjuntura política do país. O aspeto essencial desta conjuntura é a capitulação do PT à política de ajuste estrutural promovida pelos centros do capitalismo mundial. Este fato mudou a polarização do debate eleitoral que vinha se travando entre os partidos da ordem e os partidos da transformação socialista da nossa sociedade. Em 2006, esta polarização não se dará, porque os partidos que monopolizarão os veículos de comunicação social têm todos uma posição favorável à ordem burguesa.
Não fora o PSOL e o PSTU correríamos até o risco de que não houvesse propostas socialistas na agenda eleitoral. Cabe a eles impedir tamanho retrocesso. Mas, para que se consiga esse resultado é indispensável estruturar a campanha eleitoral corretamente.
Manter a campanha eleitoral na agenda política significa levar a cabo uma campanha com objetivos completamente distintos das campanhas que se orientam para a vitória eleitoral de um candidato que disponha de condições e meios indispensáveis para ter mais votos que seus adversários.
Esta diferenciação, que decorre do mais puro bom senso, não costuma ser facilmente aceita, porque, a cultura política tradicional associa a campanha eleitoral a uma competição pelo voto dos eleitores.
Se o que realmente importa é vencer, estamos a um passo do objetivo de vencer a qualquer custo. A crise do PT mostra a que extremos pode levar essa distorção. Porém, mesmo que não se chegue a esse ponto, a campanha montada unicamente com o propósito de angariar votos é extremamente prejudicial a um partido socialista, porque inibe as outras tarefas que esse tipo de partido precisa cumprir a fim de transformar a ordem social. Como as eleições realizam-se a intervalos de dois anos, não chega nunca a hora de realizar as outras tarefas essenciais para criar a base de poder sem a qual o exercício do governo não passa de uma farsa.
Uma eleição para ganhar e uma eleição para acumular forças diferem entre si: no discurso, nas alianças; nas atividades da campanha.
O discurso clássico do candidato, cuja imitação constitui recurso fácil de todo humorista sem assunto, consiste fundamentalmente em passar uma impressão de autoridade, autoconfiança, certeza da vitória, e em explicitar as medidas que adotará ao assumir o cargo pleiteado: “No meu governo....” Quando a perspectiva do governo tem alguma probabilidade, esse discurso tem sentido; quando não tem, é um discurso patético.
As alianças políticas obedecem a critérios distintos, quando o objetivo é ganhar a eleição a todo custo ou usar o debate eleitoral para acumular força. Neste caso, a nitidez ideológica da chapa que se apresenta ao eleitorado torna-se o critério básico de seleção dos aliados.
Finalmente, a programação das atividades também é distinta num e noutro caso. Se o objetivo for somente o de ganhar, é preciso “catar votos” onde eles estejam. O partido inteirinho é mobilizado, tanto em termos de recursos humanos como em termos de recursos materiais e financeiros para divulgar o nome do candidato e fazê-lo percorrer todos os locais onde possa haver potencial de votos – uma atividade vertiginosa, que consome todas as energias da agremiação e paralisa todas as outras atividades. O partido sai da campanha em estado de total exaustão, o que, no contexto da política burguesa pouco importa, porque, vencido o pleito, o partido muda-se para a máquina do Estado e ganha quatro anos para refazer-se. No caso dos partidos da transformação da ordem burguesa, essa tática é simplesmente desastrosa, como, a experiência do PT o demonstra cabalmente.
O objetivo de acumular força para construir o socialismo exige um discurso claro, nítido. Não se trata de usar o discurso falso do marketing eleitoral para conquistar a simpatia de consciências ingênuas, mas de usar a palavra para transforma-las em consciências críticas. Falar a verdade sobre o país e sobre as possibilidades da própria candidatura e mostrar aos eleitores o potencial e o preço dos avanços que o povo pode conseguir formam o discurso que permite acumular força – o único apropriado ao candidato socialista.
Não há necessidade absoluta de que o candidato socialista faça aliança unicamente com forças socialistas. É possível compor alianças úteis com nacionalistas, ambientalistas, humanistas, democratas, desde que a companhia não confunda o povo.
Para construir o socialismo, é necessário realizar atividades de formação política; organização de núcleos socialistas; criação de instrumentos de informação e de divulgação do pensamento; montagem de um sistema de arrecadação financeira eficaz e transparente. Tudo isto exige trabalho dos militantes e recursos materiais. Não é possível deslocar todos os militantes para a busca de voto, porque isto significa a paralisação das outras atividades.
Se os recursos humanos e materiais forem limitados, é preferível realizar menos atividades, porém, bem preparadas do que iludir-se com uma enorme agenda de atividades de pouca eficácia.
O desafio posto para os socialistas nas eleições de 2006 consiste em levar a discussão do socialismo até o limite de suas possibilidades sem esgotar o partido para retomar a tarefa, com animo e determinação, no dia seguinte do pleito.
SocialismoLiberdade

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