terça-feira, 28 de maio de 2013

Quais empresas financiaram a tortura?, por Carlos Tautz

A mais recente onda de recuperação da história corrente do Brasil foi cumprida há cerca de uma semana, quando se completou o primeiro ano de funcionamento da Comissão Nacional da Verdade (CNV).

Apesar de muito do que a CNV ter levantado já constasse há décadas de outros arquivos, como o do Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro, o grande mérito da Comissão é fomentar o que golpistas ainda queriam deixar na penumbra: a crítica ao uso da tortura como instrumento do Estado.

Estimuladas pelo aparecimento da CNV, outras comissões estaduais, municipais e institucionais foram criadas, em um esforço da sociedade brasileira para reescrever a sua própria história.

Mas, agora, é necessário essa rede da verdade dar um corajoso passo adiante. É urgente investigar os nomes de empresários e das empresas que financiaram e participaram da repressão política e fazê-los depor em público.

Ter esses nomes facilita entender como se deu ao longo dos anos o planejamento do golpe civil e militar de 64 e identificar planejadores e operadores, para muito além do que já foi tornado público até hoje.

Afinal, nomes de generais, presidentes e ministros é de conhecimento amplo, mas ainda está por ser revelado quem, nos diversos setores da economia, tramou para dar o golpe e se ajeitou com o Estado brasileiro para aprofundar um padrão de acumulação que é um dos mais concentradores do planeta.

Como exemplo, cite-se o papel destacado que o ex-governador de Minas e dono do extinto Banco Nacional, Magalhães Pinto, teve no planejamento da deposição de Jango e na condução da política econômica do regime ditatorial. Certamente ele não foi o único dono de banco a participar desse banquete do Erário.

É necessário saber muito mais da dimensão empresarial do golpe. Em fevereiro, o Arquivo Público de São Paulo já avançou nesse sentido e entregou à Comissão paulista seis livros de registro de entradas e saídas do prédio do Dops, notório centro de torturas, datados dos anos 1970.

Constam dos livros entradas de Geraldo Resende de Matos, mencionado como Fiesp, e do então cônsul dos EUA, Claris Rowney Halliwell, reforçando a hipótese de que a repressão se consultava com o governo dos EUA sobre métodos e estratégias de tortura.

Hoje, o Brasil lidera com os EUA a Parceria por Governo Aberto, de transparência nas contas públicas. Mas, se de fato quer ser transparente, o Estado brasileiro necessita abrir a contabilidade paralela, inclusive de décadas passadas, da relação entre governos e empresas – entre elas, as do setor de comunicação. Mesmo que seja uma tortura para o Estado e para as corporações.



Carlos Tautz, jornalista, coordenador do Instituto Mais Democracia – Transparência e controle cidadão de governos e empresas.

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