sexta-feira, 24 de maio de 2013

Ernesto Geisel e o autoritarismo nacionalista

Originário da pequena classe média colonial rio-grandense, nascido na cidade de Bento Gonçalves em 8 de agosto 1908, de pai alemão emigrado e mãe nascida na cidadezinha de Estrela, Ernesto Geisel, indicado como presidente do Brasil em 1973, ao seu modo foi um exemplo da mobilidade social brasileira. Porém, o único voto que ele recebeu para alcançar a presidência do Brasil, exercida entre 1974-1978, foi dado pelo general Médici. seu antecessor e exclusivo eleitor. Geisel saíra ainda jovem da colônia italo-alemã para chegar homem maduro ao palácio da Alvorada.
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O alemão e a abertura

O general Geisel enquanto ministro do Supremo Tribunal Militar, 1965 Paradoxalmente, foi a ele, ao “Alemão”, como seus companheiros de farda o chamavam, um homem ideologicamente comprometido com a ditadura militar e de forte inclinação filofascista, de inspiração mussolineana, quem terminou por conduzir o regime militar ao seu fim. Desde o discurso da posse, proferido em 15 de janeiro de 1974, seu nome passou a ser identificado com a “abertura”, isto é a estratégia de gradativa recuperação das liberdades democráticas, suprimidas da vida republicana desde a publicação do AI-5 (o Ato Institucional nº 5), ocorrida em 13 de dezembro de 1969, por obra do general Arthur da Costa e Silva. Secundado pelo seu escudeiro, o general Golbery do Couto e Silva, ex-chefe e mentor do SNI (Serviço Nacional de Informações), entendeu que o sistema sufocante e paranóico que os serviços de segurança (SNI, CIE, CISA, CENIMAR e dos DOI-CODIs, entre outros) haviam imposto ao país, e ao próprio govenro ditatorial, era intolerável. A “abertura” porém, articulada por quem Elio Gaspari chamou (A ditadura derrotada, Cia das Letras, SP, 2003) de “sacerdote” (o general Geisel) e seu companheiro , o “feiticeiro” (o general Golbery do Couto e Silva), não se faria de supetão. Fato, tratou-se de uma retirada milimetricamente calculada e executada que se estendeu por dez anos (de 1974 até 1984), até que o regime militar, desgastado, finalmente foi obrigado a aceitar a vitória no Colégio Eleitoral de um candidato civil à presidência: Tancredo Neves.
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O grande eleitor

A escolha do general Geisel para suceder o general Emílio Garrastazu Médici (1969-1974), na condução suprema do regime militar foi um tanto sui generis. Num país de 150 milhões de habitantes, a indicação do maior mandatário da nação, se bem que gozando da aprovação dos demais líderes militares, foi feita apenas por um voto: o do próprio general Médici. Grande parte disso devia-se ao sucesso do governo ditatorial, pois na Era Médici, época do Milagre Econômico, a repressão brutal convivia com taxas de crescimento de mais de 11% ao ano. Foi o prestígio amealhado pelo presidente-ditador que fez com que ele, tornando-se o Grande Eleitor, dispensasse a necessidade de realizar amplas consultas aos comandante das forças armadas ou ter que convocar um consistório de generais para encontrar um nome consensual para a sua sucessão. Para ele era o “Alemão” e fim de conversa.
Segundo Élio Gaspari, o único registo, mais ou menos público, de inconformidade com aquele procedimento eleitoral sui generis partiu de um cidadão norte-americano. Estando a aparar o cabelo no Salão Vogue, no centro do Rio de Janeiro, um executivo de uma empresa petrolífera americana, manifestou para o barbeiro a sua estranheza e o seu desagrado com aquele tipo de “sufrágio”, processo absolutamente inusitado para um americano. Teve a infelicidade de ter sido escutado por um major do exército que terminou por levá-lo preso, intimando-o depois a ter que dar esclarecimentos a uma agência do SNI.
Igualmente pesou na escolha do nome do general Ernesto Geisel o fato do seu irmão mais velho, o general Orlando Geisel, ser o todo-poderoso Ministro do Exército do regime. Estava numa posição que lhe permitia remover qualquer obstáculo vindo das casernas que ameaçasse a promoção final de Ernesto Geisel à presidência. Aos políticos civis, aos desprezados “casacas” que davam sustentação ao regime militar, os integrantes da ARENA (Aliança Renovadora Nacional), só lhes restou coonestar e aplaudir o nome do ungido.
Voltaire Schilling

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