terça-feira, 31 de agosto de 2010

Os bundões da campanha

Estou indo pra minha sexta eleição consecutiva em 10 anos. Participei da municipal de 2000, da geral de 2002, da municipal de 2004, da geral de 2006, da municipal de 2008 e agora mais uma vez da geral. Sinto-me confortável pra comentar sobre campanhas. Até porque, em todas estas eleições, eu estava sempre em um campo político diferente. Da extrema esquerda em que fui parar em 2002, voltando pra esquerda em 2004, migrando pra centro-esquerda em 2006, hoje me encontro em uma moderada posição de conservador de direita.

Com tanto tempo de campanhas eleitorais e em tantos lugares diferentes, fui catalogando os mais variados tipos que participam destes processos. Mas hoje vou tratar de um típico específico, que pra ser sincero só encontrei na atual campanha de José Serra: o do bundão.

Já fiz campanha pro PT, pro PSTU e pro PMDB. Nesta, finalmente encontrando meu rumo, faço campanha para um Democrata do mais alto nível para o governo do estado, o senador Raimundo Colombo. Em todas as eleições que eu mencionei, mesmo com pouca idade (casos especialmente de 2000, 2002 e 2004), eu estava na coordenação. Em nenhuma campanha anterior consegui encontrar tantos bundões reunidos quanto entre aqueles que nos mais variados lugares, ambientes e mídias, faz campanha pra José Serra.

Se você está lendo este texto muito provavelmente não seja um bundão. Porque os bundões, ao virem o título utilizando a palavra bundões, já se convenceram que sou um grosseiro, sem boas maneiras, sem cultura, sem educação. Que não pode andar no meio deles. Meninos e meninas limpinhos, queridos, bem educados e chiquetésimos. Falar palavrão é feio e o anjinho chora.

Pros bundões, o bloguismo chapa-branca está certo quando acusa alguns de nossos militantes que ousam confrontar o petralhismo em seu próprio campo de trolls. Os bundões fogem dos “trolls” da nossa campanha mais do que de petralhas. Com petralhas eles gostam de debater e tentar convencê-los. Em suma, os bundões chegam a ser fofinhos, com o perdão do trocadalho. Perdem tempo com petralhas, perdem tempo com campanhas absurdas (como a campanha do voto nulo, a de libertação de Shakineh, a retroatividade de leis (dio Santo, sacramento e mais todos os palavrões que meu saudoso vovô falava em italiano, até nisso se equivalem aos petralhas, se a lei é bonitinha ás favas com a Constituição) dentre outros absurdos completamente inúteis).


Mas bundões também tem seus inimigos, que costumam em ordem ser o Reinaldo Azevedo (ele é um radicalóide de direita que só é assim por ser ex-trotskysta), o Olavo de Carvalho e todos que orbitem em sua área de influência intelectual (afinal Olavo é um monstro, um perigosíssimo radical de direita que ainda implantará o fascismo, o nazismo e o neoliberalismo no Brasil a força de um golpe macabro que ele dará sabe-se Deus como) e por último o vice de José Serra, o corajoso e nada bundão deputado Democrata Índio da Costa.

Notaram as semelhanças com os petralhas? Eu também. O sonho de todos os bundões era ter um PSDB liderado pelo Lula. Lula adquiriria o glamour do PSDB, toda sua boa educação e finesse e o PSDB teria um líder popular.

Essa gente não se emenda nunca.

Tente explicar pra eles que política é confronto, que o confronto é da natureza e a essência mesma do processo político e fatalmente vão te classificar de grosseiro, mau educado e radical. Um radical que perde votos. Um radical que só atrapalha. Que fica falando um amontoado de bobagens sectárias, reacionárias e sem sentido. Que só quer atrapalhá-los em sua cruzada para mostrar a excelência do Cidade Limpa, da imbecil Lei Anti-Fumo, do Mãe Brasileira e dos Genéricos.

É gente que nunca disputou pra valer sequer eleição de Grêmio Estudantil. E se disputou foi em um colégio chiquetésimo contra outros bundões iguazinhos a eles.

Chamar Dilma de terrorista é falta de ética, maldade e radicalismo para um bundão. Mas aí, quando vem o PT e viola sigilos bancários a torto e a direito, desde um humilde caseiro até os maiores dirigentes do principal partido da oposição, fazem biquinho e carinha de freiras no puteiro, dizendo-se extremamente consternados com tamanha agressividade no processo eleitoral.

Lembrar que Dilma, a que foi (?) terorrista, apóia o MST, um movimento que qualquer país civilizado caracterizaria como terrorista, é outra coisa de radicais da direita.

Reagir? Devolver? Ir pra porrada? São coisas que não passam e jamais passarão pela cabeça (???) de um bundão. Seria pedir demais de mentes que pensam usando o mesmo tipo de substâncias, reagentes e células que produzem a expulsão das substâncias não aproveitáveis do corpo.

Há pouco mais de um ano José Serra variava com índices de intenção de voto nas pesquisas superiores a 45%. Entretanto, quem lia as pesquisas com cuidado (como o tio Rei cansou de escrever em seu blog) notava de cara que Dilma se tornaria uma candidata competitiva. Enquanto Lula cometia uma lista infindável de ilegalidades para promover sua candidata, a oposição, composta em sua grossa maioria por bundões ficava quietinha, sem o menor sinal de reação, fazendo exatamente aquilo que os militantes bundões mais gostam: esperar a vitória cair no colo por inércia, como se política não fosse justamente a arte do confronto de posições. Verdadeira guerra continuada por outros meios como já ensinava o saudoso Von Clausewitz.

Algumas vezes, quando estou de mau humor, com sono ou acordo da pá virada, torço pra Serra tomar uma tunda antológica e sepultar de vez a Era dos Bundões na oposição.

Mas aí lembro que isso seria mais um passo na segura marcha pro desaparecimento da democracia no país.

E volto a escrever, volto a lutar, volto a tentar, dentro das minhas possibilidades, ajudar a eleger José Serra.

Mesmo a despeito dos bundões.
Eduardo Bisotto

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