terça-feira, 3 de agosto de 2010

O terceiro elemento

Ela está chegando... Até onde, ainda não dá para saber. De quem estou falando? Da terceira colocada na corrida eleitoral: Marina Silva. A propaganda gratuita no rádio e televisão começa dia 17 de agosto e será veiculada até 30 de setembro. As próximas pesquisas talvez ainda não reflitam o que passa no inconsciente de muitos eleitores. Tipo, como essa mulher pertinaz vai conseguir votos com pouco mais de 1 minuto?

E é aí que mora o perigo da imprevisibilidade. Não para Marina, preparada para qualquer resultado. Mas para seus concorrentes com muito mais tempo e visibilidade de graça na mídia. Sim, porque, de repente, tamanha desvantagem da candidata verde poderá se tornar atrativo. De que jeito? Ah. A ousadia em competir com tanta coragem despertaria no público a curiosidade de assistir sua performance num tempo mínimo.

Tem quem ainda insista em rotulá-la como uma "pobre coitadinha ingênua". Embora alguns sejam sinceros em pensar assim, por incapacidade de reconhecerem sua trajetória de crescimento intelectual e social. Entretanto, o que importa salientar é o seguinte: com pouco mais de um minuto, o risco de desagradar é menor.

Imaginem se esse tempinho for criativo, inovador... Terá aprovação instantânea, literalmente. E acompanhar essa competição assimétrica poderá se tornar emocionante. Afinal, um elemento imprevisível teria desarmado um jogo político que pretendia transformar esta eleição presidencial em plebiscito; empobrecendo a democracia. Plebiscito só faz sentido para uma proposta específica para a qual caiba à sociedade apenas decidir: sim ou não.

A candidatura de Marina surpreende até pela escolha do seu vice. Filho de um funcionário público, o empresário Guilherme Leal é um dos donos da Natura; uma indústria de cosméticos produzidos principalmente para as mulheres, vendidos de porta em porta. Portanto, a candidata não tem problema com cosméticos, apenas com sua alergia a certos tipos de maquiagem.

Tampouco Leal caiu de paraquedas. Atua, há anos, em projetos sociais e ambientais no chamado terceiro setor. Quando fundou a Natura, com seu sócio Luiz Seabra, optou por matérias-primas de fontes renováveis, demonstrando, já na década de 1980, uma visão de futuro. Em sua vida fica evidente a vocação de empreendedor e a competência para administrar negócios. Não foi à toa que a revista americana Forbes incluiu seu nome na lista das mil maiores fortunas do planeta.

Nem é de hoje que Marina e Leal se conhecem. Após se demitir do Ministério do Meio Ambiente, ela vem participando, a convite dele, de encontros organizados por um grupo de grandes empresários engajados em causas ambientais, decididos a se envolverem com política, para o bem do país e das próximas gerações. Nesses encontros há intelectuais, economistas...

Marina Silva foi a primeira candidata nesta campanha eleitoral a alertar não apenas para a mudança global do clima, mas também para a necessidade de educação de qualidade, conhecimento científico e tecnologia. Tudo em defesa de um desenvolvimento sustentado, que passa pela estabilidade econômica. Claro.

Não dá para esquecer. Há um terceiro elemento neste jogo político!


Ateneia Feijó é jornalista

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