quinta-feira, 16 de agosto de 2007

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A arte de calar
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É sinal de inteligência e sabedoria falar pouco, falar bem e não falar mal de ninguém.Contudo, calar-se é ainda mais importante, quando calar-se é dizer tudo.
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Há quem se cale por não ter realmente nada para nos dizer, mas há também quem se cale por omissão, quando seria um dever falar, escrever, gritar, colocar a boca no trombone, como se dizia antigamente.
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Calar-se na hora certa e pelos motivos certos é uma verdadeira arte cujas regras um pequeno livro do Abade Dinouart quer nos transmitir. Autor francês do século XVIII, suas admoestações para que façamos silêncio ainda hoje são pertinentes.
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Sutileza não lhe falta. Ao mesmo tempo que recomenda o silêncio, lembra que há silêncios falsos, aqueles que simulam uma sabedoria que, de fato, inexiste. Nem sempre calar-se significa profundidade de pensamentos. Pelo contrário, é camada de verniz que recobre um vazio sepulcral.
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Mas há ainda outros silêncios, e alguns deles diabólicos. Há o silêncio manipulador, o silêncio torturante, o silêncio chantagista, o silêncio rancoroso, o silêncio conivente, o silêncio da zombaria, o silêncio imbecil, o silêncio do desprezo. Há pessoas que matam com seu silêncio.
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Há silêncios que esmagam a justiça e a bondade, na calada da noite. Por isso o silêncio rico de significado é ainda mais apreciável e luminoso.
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Falo do silêncio que prenuncia novas palavras.
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Falo do silêncio que é solidariedade na dor.
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Falo do silêncio que soluciona cisões.
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Falo do silêncio que pergunta.
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Falo do silêncio que perdoa.
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Falo do silêncio que ama.
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O silêncio mais puro é aquele que guarda a confidência. Este silêncio jamais é excessivo. Não se deve apregoar aos quatro ventos o que foi murmurado na intimidade da amizade e do amor.
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O silêncio mais sábio é aquele que fazemos diante dos impertinentes, intolerantes e desbocados. É o silêncio do Cristo inocente diante dos acusadores, o silêncio dos espaços infinitos diante da quase infinita capacidade nossa de falar ou escrever sem razão.
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Calar da maneira certa é deixar que uma voz mais profunda seja ouvida. A voz severa, a voz serena, a voz suave e firme da verdade.O verdadeiro silêncio diz a verdade que não se pode calar.
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O verdadeiro silêncio nunca será cedo demais.Quero ouvir o silêncio que tudo explica.
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A arte de calar, Martins Fontes, 2001, 80 páginas.Gabriel Perissé
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Publicado originalmente no dia 21 de dezembro de 2006 neste Blog

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro Professor Atílio
eu trabalho para a Editora Lettera.doc, que acaba de lançar o livro "Estado de Direito Já - 30 anos da Carta aos brasileiros. O livro reúne depoimentos relevantes sobre a Carta aos brasileiros, documento fundamental na luta contra a ditadura que costuma ser ignorado pela historiografia oficial. 23 personalidades deram seus depoimentos não apenas sobre a Carta, sobre todo o período em questão ( Almino Affonso, Antonio Candido, Antonio Dimas, Carlos Chagas, Carlos Guilherme Mota, Celso Antônio Bandeira de Mello, Celso Lafer, Dalmo Dallari, Eugênio Bucci, Flávio Bierrenbach, José Afonso da Silva, José Carlos Dias, José Eduardo Faria, José Gregori, José Ignácio Botelho de Mesquita, Maria Victoria Benevides, Miguel Reale Jr., Otavio Frias Filho, Paulo Bomfim, Plínio de Arruda Sampaio, Rubens Approbato Machado, Sérgio Resende de Barros e Tércio Sampaio Ferraz Jr)

Gostaria de saber se lhes interessa divulgar este livro em seu blog, que já está obtendo grande repercussão nas mídias tardicionais.
Tenho material de realese, com capa e outras informações, que posso enviar por e-mail: ivan_hegen@yahoo.com.br

Abraço,
Ivan