segunda-feira, 27 de agosto de 2007

O Eterno Palanque

O Presidente Lula da Silva precisa descer do palanque, e rápido. Não sei se é por falta de escadas ou se há algum problema de locomoção, mas o dado concreto é que Sua Excelência está no palanque desde meados de 2002! É talvez um recorde histórico.
Ontem, 16 de agosto de 2007, o mundo acordou assustado com a queda das bolsas, com o tumulto nos mercados financeiros. Mal sabíamos nós que o palanque ambulante nos preparava emoções igualmente fortes. Começou em Contagem, MG, quando, entusiasmado com as próprias palavras, o presidente deu vazão ao tremendo incômodo que sente diante de doutores: fez uma breve e pífia comparação entre o programa Bolsa-Família e o programa de bolsas de pós-graduação no exterior.
De Minas, veio para o estado do Rio e, em Campos dos Goytacazes, ao inaugurar uma escola técnica, ao lado do governador do Rio, Sergio Cabral Fº, o palanque tremeu... Parte da meninada ali presente resolveu exercer seu direito e manifestou-se a plenos pulmões. Vaia sonora. Forte. Sincera.
O primeiro a reagir foi o governador. E o que fez esse jovem senhor? Vaiou os estudantes! E mais: convocou a platéia a vaiar junto com ele o ‘pequeno grupo’, segundo ele, de ‘pequenos burgueses exercendo o mau humor de barriga cheia’. Claro está que as vaias recrudesceram. O dono do palanque, querendo demonstrar sua vasta sabedoria em relação aos descontentes, pega do microfone e alerta o governador para não se incomodar com as vaias. E disse mais: que os estudantes, além de não terem a menor consciência política, ainda usam narizes de palhaço, ou de ‘palácio’, conforme o desenrolar do discurso. Todos percebemos no que aquilo ia dar e deu: maiores e melhores vaias...
Ainda restava uma oportunidade para o palanque se manifestar. Aliás, a mais gloriosa fala do dia. Em Realengo, por ocasião da inauguração da ampliação de uma unidade do Colégio Pedro II, o presidente Lula, momentaneamente esquecido que governa este país há mais de quatro anos e meio, confessou o seguinte:
“Esse povo, por mais humilde que seja, por mais que more num lugar degradado do país, ele só vira bandido e uma menina só vira prostituta porque o Estado até agora não ofereceu outro caminho para os jovens seguirem. Depois fica mais caro cuidar de um delinqüente e de uma menina grávida precocemente”.
Ele disse isso. E, nessa festa, melhor organizada por Cabral e sua turma, não houve vaias, mas uma charanga, música, aplausos, tudo para agradar ao chefe. A falta de vaias foi lastimável, mas, pelo menos, não foi necessário outro mico do governador.
Aqui no blog houve quem sugerisse, como o meu amigo Coronel, que deveríamos trocar o nariz de palhaço por um de pinóquio, quando fossemos nos reunir em volta do palanque ou mesmo em reuniões sem palanque. Discordo. Acho esse nariz de palhaço perfeito: caracteriza o que somos, nós, o povo ‘destepaíz’. Palhaços. Com lindos narizes vermelhos e livres para pensar e dizer o que quisermos, dando cambalhotas, fazendo piruetas e distribuindo tapas de mentirinha, mas estalados.
Esses somos nós. Exagero? O presidente Lula lá em cima do palanque diz o que quer, agride e ofende nossa inteligência, nos desrespeita de mil maneiras. O nariz é para ele? Não, o nariz vermelho é para nós mesmos. Povo fora do banquete, onde só entram dois brinquedos: João Bobo e Soldadinho de Chumbo.
João Bobo para quem não se lembra, é aquele boneco engraçado que balança, balança, vai quase ao chão, mas volta a ficar em pé. Ninguém o derruba. É encontrado em todo o Brasil, mas é mais numeroso em Brasília. Já os Soldadinhos de Chumbo, uniforme vermelho (cuidado: tinta tóxica), esses têm um grito em uníssono, como convém a uma tropa de recrutas bem treinada: ‘É preconceito! Querem ganhar na vaia o que não ganharam nas urnas’.
Da minha parte, não quero desrespeitar as urnas. Mas também não cansei de dizer o que penso e de pensar o que vou dizer. Portanto não canso de pedir, onde quer que vá: Vaiar é Preciso! De nariz de palhaço, sem nariz de palhaço, de cara limpa ou pintada, Vaiar é Preciso! É mesmo fundamental, se quisermos continuar a nos considerar cidadãos.
Podemos nos cansar de muitas coisas, menos de vaiar. É nosso direito, inalienável.
Vaiar é Preciso!

Maria Helena Rubinato

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