domingo, 9 de março de 2008

Entrevista

Presidente do Conselho Indigenista Missionário denuncia o avanço agronegócio como um dos principais fatores para o desmatamento da floresta

21/02/2008

"Parem com isso! Chega! Não há meio termo! Já estamos no limite! Não se pode mais dar concessões!”. A indignação é manifestada por dom Erwin Kräutler, bispo do Xingu e presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Segundo dom Erwin até recentemente “desmatar significava beneficiar, valorizar a área. Coisa espantosa!”, exclama ele. “Assim aconteceu – continua o seu raciocínio - que fazendeiros simplesmente mandaram derrubar a mata em larga escala, só para mostrar que estão beneficiando a terra com a finalidade de conseguir vultosos créditos de bancos que favorecem o desenvolvimento”.

Sobre a ação da ministra Marina Silva, do Meio Ambiente, dom Erwin Kräutler comenta: “O pobre Ministério do Meio Ambiente me é simpático. Infelizmente este ministério é a ‘Geni da história’, longe de ter os poderes e os recursos financeiros para desempenhar adequadamente suas atribuições. A ministra Marina sempre me pareceu uma ‘enteada’ do governo, magérrima, símbolo vivo da desnutrição da pasta que ocupa”.

Muito já se disse sobre o aumento do desmatamento na Amazônia, sobre a falta de fiscalização, o avanço dos madeireiros, etc. Ao mesmo tempo, o próprio governo federal dizia que nunca o desmatamento havia diminuído tanto na região. Agora, novos dados do Inpe surpreendem até o presidente da República. Como o senhor avalia essa situação? Quão grave é realmente o desmatamento na região amazônica?

Não adianta fazer apenas comparações com os anos passados. Comemorava-se, por exemplo, a redução da taxa de desmatamento em 25% entre agosto de 2005 e julho de 2006. Resultou em uma sensação equivocada. Parecia vitória, mas na realidade não tínhamos nenhum motivo de festejar. Esse tipo de notícia aparentemente alvissareira me lembra a macabra constatação nos meios de comunicação que em determinada época morreram menos índios que em outra, dando assim a idéia que tudo está sob controle. Ora, se morre apenas um índio assassinado ou vítima do descaso da FUNASA é sempre um demais. Se há apenas um foco de incêndio na selva amazônica, é um demais!

Agora somos informados de que segundo um levantamento do Inpe, de agosto a dezembro de 2007, foram derrubados 3.233 quilômetros quadrados de floresta, dos quais 1.922 quilômetros quadrados em novembro e dezembro, quando normalmente não há desmate por causa das chuvas. É o governo que afirma que pode ser, no entanto, muito maior“.

Segundo Carta Maior, o Ministro Nelson Jobim, da Defesa, após sobrevoar em Rondônia regiões de fronteira com a Bolívia ao lado dos comandantes do 6º Batalhão de Infantaria de Selva, classificou de “escandaloso” o desmatamento que viu com os próprios olhos: “Eu achava que era exagero da mídia, mas não imaginava ver o que vi. Há um completo desconhecimento no resto do país sobre o que está acontecendo em Rondônia”, disse o Ministro. De volta à Brasília, Jobim anunciou que vai elaborar um relatório sobre o que viu na Amazônia.


Importa verificar uma vez a extensão da floresta tropical que já tombou nos últimos anos e décadas e cedeu lugar a vastas pastagens ou ao monocultivo da soja. E dessas áreas seria ainda mais interessante publicar a percentagem já deteriorada. Mais cedo o mais tarde áreas que serviram ou servem hoje para a pecuária são abandonadas pois são totalmente esgotadas e logo mais a ameaça paira sobre outras terras da Amazônia.


A marcha dos incendiários continua e se dirige à Terra do Meio. O final melancólico é aqui e acolá uma placa com oferta de venda de uma área que já não vale nada, produzindo apenas uma vegetação rasteira de ”espinhos e abrolhos“ (cf. Gn 3,18).

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