domingo, 22 de junho de 2008

DE QUEM É A VACA?

Era uma vez, uma vaca jovem, bonita, gostosa e safada que gostava muito de pular cerca... Que vida boa levava ela! Cada dia era um touro diferente... Apesar dos conselhos de sua mãe, mansa, velha, experiente e chifruda, ela continuava a viver uma vida perigosa e depravada. Até que se apaixonou por um touro jovem, sarado e viril de uma propriedade vizinha, entregou-se a ele de corpo, alma e chifres... Foi uma paixão avassaladora que a deixou de quatro, orelhas murchas e cola erguida pelo bonitão. Só que, ao erguer a cola, esqueceu-se do preservativo, fato que rendeu-lhe uma gravidez indesejada e muito preocupante.
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Temendo a reação da “vaca véia”, a pobre rês apaixonada e embuchada foge com seu príncipe taurino para a propriedade vizinha. O corno reprodutor desconfia de sua amada chifruda, mas mesmo “com uma pata atrás”, aceita aquela pobre ninfeta bovina e passam a viver juntos.
Mas, mesmo para os bovinos, a vida de casado não é nada fácil, principalmente se o marido é um renomado reprodutor e tem, por obrigação “traçar” todas as suas companheiras de curral, se não ele é quem será traçado por um espeto. Vendo seus chifres crescerem, a miserável rês, agora não tão apaixonada assim, fica indignada, mas não pode fazer nada, pois precisa de um pai para seus filhotinhos.
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Nascem duas adoráveis vaquinhas: uma puxou o pai, a outra não se sabe... Ocorrência que deixou o bonitão reprodutor cego de cólera e expulsou a vaca safada e o filhote cuja paternidade era duvidosa. A única solução, depois de levar uma patada no traseiro, era baixar a cola e pedir asilo a sua mãe, que provavelmente a perdoaria e aceitaria de volta, porque no coração materno não cabe ódio...
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A mãe perdoou e a recebeu de patas abertas, mas o proprietário da fazenda não gostou nem um pouco da situação... E quando os humanos se metem nos problemas dos animais, procuram a justiça humana... Foi o que o fazendeiro fez, levou o caso para a justiça, que achou por bem, fazer o exame de DNA para saber de quem é o animal, já que a rês voltou marcada pelo outro proprietário (soluções modernas para problemas arcaicos).
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Enquanto o resultado do DNA não sai, vaca véia, vaca nova e netinha vivem felizes; e o chifrudo bonitão continua exercendo sua função de reprodutor, esperando sua filhotinha crescer para “traçá-la” também.
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Animais com animais se entendem perfeitamente, mesmo em linhas tortas, porque entre eles ainda existem o instinto materno e o perdão. Uma patada de luva nos humanos...
Márcio Roberto Goes
Quase humano

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