domingo, 20 de junho de 2010

A casa azul

Já faz tempo que não escrevo sobre meu personagem preferido. Estava até com saudades dele e de seu fusquinha azul da cor do céu, da cor de seus sonhos... Pois bem, João dos sonhos Azuis está de volta e de casa nova.

Acontece que nosso protagonista, como qualquer sonhador, espera ansiosamente pela casa própria e enquanto ela não chega, seja pelos planos de habitação do governo, ou por condições próprias, ele vai morando de aluguel.

João morava com sua esposa numa casa há quinze degraus do chão, bonita, confortável, cimento bruto por fora, rosa por dentro, num bairro abandonado, “martellado” e esquecido pelas autoridades, estrada de chão, onde a patrola passa a cada aparição do cometa Halley, sem saneamento básico e castigada pela erosão... Porém, o local o agradava muito, estava feliz, gostava da vizinhança, do ambiente e da solidariedade que sempre é uma constante no povão dos bairros, pois lá não se tem os mesmos direitos da nobreza central que a cada instante é agraciada por novas melhorias...

E eis que um dia, desses que parecem ter uma nuvem de maus presságios, ao cobrar o aluguel, sempre pago em dia, a dona do imóvel dá uma notícia que nenhum inquilino gosta de receber: Deveria desocupar a casa num prazo máximo de trinta dias, pois precisaria ser ocupada por uma pessoa da família...

Triste, cabisbaixo e desolado, nosso sonhador de sonhos azuis parte a procura de uma nova residência para alugar, já que seu cadastro para a casa própria ainda não havia sido aprovado... Não foi preciso procurar muito, logo encontrou a casa a uma esquina de seu trabalho, azul, da cor de seu fusquinha, da cor de seus sonhos. Seria alugada a princípio, com grandes possibilidades de compra. Mais um sonho azul na vida de um sonhador de sonhos azuis...

Nosso sonhador “sem-teto” contratou então o caminhão e reuniu os amigos para ajudá-lo nesta missão. A equipe estava lá, na hora marcada, transportando os móveis para fora até que se deram conta de que faltava um pequeno detalhe: o caminhão... Já passavam sessenta minutos do combinado e nada do veículo aparecer na esquina. Não havia nenhuma explicação plausível para tal fato, até então não se tinha conhecimento de nenhum imprevisto, nem “jogo da seleção” que justificasse a ausência do transporte naquele momento tão importante e conturbado na vida de um sonhador de sonhos azuis...

Até que um de seus amigos, o menor em tamanho, mas com um enorme coração, liga para um conhecido que vem prontamente com uma caminhonete a fim de salvar nosso sonhador daquela angústia... Foram quatro viagens a bordo da D20 lotada de móveis que salvaram João daquela espera ansiosa com a mobilha a céu aberto...

O fato juntou gente, na maioria populares que não contribuem em nada, a não ser para aumentar a multidão de curiosos que sempre aparecem nos momentos hilários e angustiantes de nossa vida. Porém, sete deles arregaçaram as mangas e se bolearam no trabalho para ajudá-lo: eram seus amigos, convidados anteriormente para aquela missão. Sete é o número da plenitude, da perfeição... E uma amizade plena se comprova nos momentos mais difíceis da vida de um sonhador de sonhos azuis, cor do seu fusquinha, cor do céu, cor de sua casa nova... A casa dos sonhos do João dos Sonhos Azuis...


Márcio Roberto Goes

www.marciogoes.com.br

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